quinta-feira, 17 de julho de 2008

SHE'S A RAINBOW


DECCA P-F 22706 - edição portuguesa

She’s a Rainbow – 2.000 Light Years From Home

O saudável terramoto que, nos últimos dias, desabou sobre o “Ié-Ié” permitiu-me, uma vez mais, concluir que é abissal a minha ignorância musical.

Sobre Dylan, sobre Neil Young, sobre os Stones, sobre os Beatles, sobre os Beach Boys, li agora coisas, colhi detalhes de que jamais me apercebera. Não sei bem o que se passou durante alguns desses anos, mas algo de estranho foi.

Mr. “Ié-Ié” diz que, em vez de ficar em casa a estudar e a aprender, andei a caminhar vezes demais para o Estádio da Luz, e estou tentado a dar-lhe razão.

Mas todo este saudável ruído fez-me lembrar um velho single que é relíquia da casa, que está dentro daquelas mãos cheias de discos que me acompanharão sempre, “She’s a Rainbow” pelos Rolling Stones.

O que eu gosto deste disco, as vezes e vezes que andei a trautear she’s like a rainbow coming colors in the air, oh everywhere she comes in colors, as memórias que tudo isso traz.

Comprei-o por 1968, ter-me-á custado, na velha moeda, 35$00 e sei que isso terá representado sacrifícios de ordem vária. Aliás como todos os discos e livros que, até um certo tempo, fui comprando.

Durante uma semana, ao almoço, terei ficado a bifana, sopa, penalty tinto, naquele tasco na Travessa do Cotovelo. Não dava para mais. Lá para a tarde “bica” e bola de Berlim na “Brasília”, ali ao Cais do Sodré.

Lisboa anos 60.

Apesar da luz branca, do Tejo, do golo aos domingos no estádio, Lisboa era uma cidade triste, cinzenta, diria monstruosa – uma juventude, na Rocha Conde d’Obidos, a embarcar para África, movimentos sitiados, conversas vigiadas, uma mordaça opressora.

A momentânea alegria de comprar um disco como este, bengala para o caminhar dos dias difíceis.
Mas o que é que esta conversa da treta, a cheirar a miserabilismo pacóvio por todos os poros, tem a ver com os Rolling Stones?

Eis uma pertinente pergunta.

A poetisa polaca Wislaya Szymborska deixou escrito, num dos seus poemas, preferir o ridículo de escrever poemas ao ridículo de não os escrever. Entendo o mesmo em relação às histórias à volta de alguns dos meus discos, este, e que tantos outros são.

Desculpem qualquer coisinha.

Colaboração de Gin-Tonic

6 comentários:

filhote disse...

Sou profundo admirador das suas dissertações, Hugo. Leio-as até várias vezes, para saborear as palavras, ou a forma como elas são utilizadas, para melhor apreender os deliciosos detalhes que deixa escapar ao sabor da pena (neste caso, dos dedos).

E não concordo com o Ié-Ié... ir ao Estádio da Luz nunca foi tempo perdido... tal como ouvir e trautear "She's a Rainbow", ou gostar de Hank Williams, sempre serão sinais de bom gosto e sapiência!

Começo a achar ridículo que o Hugo não escreva mais do que aquilo que nos dá a ler aqui. Ou será que escreve?

Rato disse...

Faço coro da ridiculidade apontada pelo filhote.

Jack Kerouac disse...

Obviamente o Iéié inveja o facto de não ser adepto do clube que rivaliza com os Beatles em popularidade, os tais B´s.....se uns foram a maior Banda do mundo, o Glorioso é o maior clube do Mundo, certificado pelo Guiness Book of Records ;)

josé disse...

Relatos na primeira pessoa, geralmente dão autenticidade e interesse à escrita.

Os anos sessenta da minha meninice não foram bem assim, mas gosto de ouvir contar outras histórias da vida de quem os viveu.

Quanto ao She´s like a rainbow, não o ouvi na época, mas apenas alguns anos depois, nem sei quando, exactamente.

No entanto, essa canção dos Stones, para mim, exama o mesmo perfume de antiguidade, com menos dez anos. Terá sido em 78? É capaz.

1978, foi um ano fantástico, para mim. Em 1988, era outra coisa. E em 2008, já estou a recordar, o que é significativo, mas com uma novidade: é uma recordação que traz uma benéfica nostaligia, aquela que permite ainda reviver o tempo, porque alguma coisa sobrou de essencial.

josé disse...

Em 2018, se Deus quiser, a recordação a recuperar será esta, de estarmos aqui nesta charla interessante de reviver velhas canções de melodias e harmonias encantadoras.

Le temp! Avec le temp...

cruz disse...

Irrita-me cada vez mais a atitude de muitos Benfiquistas considerarem, de uma forma arrogante/"snob", que o seu clube é superior aos outros e de julgarem que apenas eles são adeptos de verdade

Nota: não me estou a referir expressamente aos amigos do ié-ié

(Estive agora a ouvir uma entrevista a uns adeptos do Benfica e apeteceu-me colocar este comentário)