Se a semana tem 7 dias, a passada foi inteiramente dedicada aos meus queridos “animais do antigamente”, aka, The Rolling Stones.
Celebrei os 45 anos da banda como mandam as regras de conduta de um verdadeiro fã.
Na sexta-feira 4, a estreia – em simultâneo com os Estados Unidos – do filme-concerto de Martin Scorcese, Shine A Light.
No dia seguinte, segundo visionamento da fita. Sozinho, para que nenhum comentário lateral desviasse a atenção.
No Domingo, recuperei das emoções fortes, ouvindo quatro belíssimos LPs: Some Girls, Between the Buttons, Beggar’s Banquet e Let It Bleed.
De segunda ao sábado seguinte, dividi o tempo entre mais umas quantas peregrinações à mesma sala de cinema e os ensaios da minha banda de tributo aos Stones, Like A Rolling Stone.
Uma celebração, o filme. De uma vida cujos detalhes, vincados nos rostos de Jagger, Richards, Watts e Wood, as câmaras não escondem. De um punhado de extraordinárias canções. De um som sublime ou caótico – dependendo do ponto de vista. De uma energia indecifrável.
As cores, a iluminação e o cenário remetem para outro filme rock de Scorcese, The Last Waltz. Falamos de Cinema clássico americano, portanto. Músicos transformados em personagens quase de ficção, numa narrativa épica onde não falta o vilão, o pirata, o galã, a Diva, e outros tantos heróis.
Sem revelar o enredo, não resisto a eleger as melhores cenas de acção: She Was Hot, As Tears Go By, Far Away Eyes, Champagne And Reefer (com a participação de Buddy Guy)e You Got The Silvere Brown Sugar.
Champagne And Reefer e You Got the Silver ultrapassam a fronteira que separa o simples entretenimento do Cinema Arte. E na mesa de edição e mistura sonora, Scorcese inova. A cada plano fechado sobre um músico-protagonista, o som do instrumento em causa destaca-se dos restantes como se fosse uma frase determinante na narrativa.
Na estreia, quando o filme acabou, fixando-se no grande ecrã a imagem do falecido Ahmet Ertegun – homenagem ao fundador da Atlantic Records –, os cariocas aplaudiram como nas sessões de outros tempos…
Pedro de Freitas Branco, no Rio de Janeiro
Celebrei os 45 anos da banda como mandam as regras de conduta de um verdadeiro fã.
Na sexta-feira 4, a estreia – em simultâneo com os Estados Unidos – do filme-concerto de Martin Scorcese, Shine A Light.
No dia seguinte, segundo visionamento da fita. Sozinho, para que nenhum comentário lateral desviasse a atenção.
No Domingo, recuperei das emoções fortes, ouvindo quatro belíssimos LPs: Some Girls, Between the Buttons, Beggar’s Banquet e Let It Bleed.
De segunda ao sábado seguinte, dividi o tempo entre mais umas quantas peregrinações à mesma sala de cinema e os ensaios da minha banda de tributo aos Stones, Like A Rolling Stone.
Uma celebração, o filme. De uma vida cujos detalhes, vincados nos rostos de Jagger, Richards, Watts e Wood, as câmaras não escondem. De um punhado de extraordinárias canções. De um som sublime ou caótico – dependendo do ponto de vista. De uma energia indecifrável.
As cores, a iluminação e o cenário remetem para outro filme rock de Scorcese, The Last Waltz. Falamos de Cinema clássico americano, portanto. Músicos transformados em personagens quase de ficção, numa narrativa épica onde não falta o vilão, o pirata, o galã, a Diva, e outros tantos heróis.
Sem revelar o enredo, não resisto a eleger as melhores cenas de acção: She Was Hot, As Tears Go By, Far Away Eyes, Champagne And Reefer (com a participação de Buddy Guy)e You Got The Silvere Brown Sugar.
Champagne And Reefer e You Got the Silver ultrapassam a fronteira que separa o simples entretenimento do Cinema Arte. E na mesa de edição e mistura sonora, Scorcese inova. A cada plano fechado sobre um músico-protagonista, o som do instrumento em causa destaca-se dos restantes como se fosse uma frase determinante na narrativa.
Na estreia, quando o filme acabou, fixando-se no grande ecrã a imagem do falecido Ahmet Ertegun – homenagem ao fundador da Atlantic Records –, os cariocas aplaudiram como nas sessões de outros tempos…
Pedro de Freitas Branco, no Rio de Janeiro
13 comentários:
Visualmente notável, como seria de esperar de Martin Scorsese.
Musicalmente, Jack White para dar uma caução de modernidade, Buddy Guy para a legitimação bluesy, Christina Aguilera (quem...?) para o toque pop. Alguma vez os Stones dos tempos áureos precisariam deste tipo de truques ?
E do casal Clinton?
O Filhote resume tudo de maneira exemplar ao chamar-lhes "animais do antigamente".
Quem é que disse que os Stones desde há muito se tornaram musicalmente irrelevantes ?
Caro Queirosiano, permita-me a natural reacção de fã.
Tentando ser racional:
1. É sempre discutível afirmar "musicalmente irrelevantes". Quem escreveu isso? Foi um crítico musical e está tudo dito. O trabalho do crítico é escrever e o do músico é fazer música. E os Stones fazem-na. São músicos profissionais. Sempre foram. Acima de tudo. E serão eles e o público a ditar a sua própria reforma. Não os críticos. Para mim, é notável como conseguem que o seu som permaneça tão actual...
2. Sou fã incondicional de Jack White. Tenho todos os discos dos White Stripes e os dois dos Raconteurs. Jack White é considerado "musicalmente relevante" por todos os críticos. No entanto, ao lado dos Stones, como se vê no filme, trata-se de um músico verdadeiramente medíocre. Foi uma chocante desilusão para mim. O "rapaz" não afinou uma frase... lastimável!
Estamos a falar de música, Queirosiano, não de revoluções culturais, sociais, etc. Essas, os Stones deixam para os novos revolucionários (onde estão?).
(continua)
3. Os Stones sempre precisaram dessa tal legitimação bluesy. O fenómeno não é de agora. Logo em 1964, correram para os estúdios da Chess em Chicago para tentar capturar o tal som. Em 1965, convidaram Howlin' Wolf para uma actuação da banda filmada pela BBC. Em 1968, para o "Rock'n'Roll Circus", convidaram Taj Mahal. E também foram convidados por Muddy Waters, B.B.King, Johnny Johnson, Howlin' Wolf... originalmente, como sabe, os Stones são uma banda britânica de Blues...
4. A utilização de Clinton foi ideia de Scorcese e não dos Stones. Eles cederam, claro. Apenas por razões políticas anti-Bush... o Macca fez o mesmo no seu último DVD... e o Neil Young também...
(continua)
5. Para mim, o filme tem três "senões" que o impedem de estar ao nível da obra-prima "The Last Waltz": Cristina Aguilera; Jack White; escassa utilização de footage histórico da banda. Cristina Aguilera foi ideia de Jagger e da sua visão mercantilista mercantilista, impedindo Lisa Fisher de merecidamente brilhar no grande écrã com um qualquer "Gimme Shelter" da vida. A sequência de Jack White parecia boa ideia, mas devia ter sido cortada da edição final. As imagens de arquivo souberam a pouco...
6. "Animais do Antigamente", sim. Mas que outros animais do Pop-Rock de hoje são capazes de ascender ao nível artístico dos Stones? Os Arctic Monkeys???? Estamos a falar de uma banda de Rock'n'Roll vocacionada para entreter as massas, não estamos? Os Stones não são o Dylan nem o Cohen. A sua música é adolescente, primitiva, básica, sexual, cómica... para dançar, para curtir... sempre foi e sempre será... e ainda bem!
(uma pergunta: o Buddy Guy é "musicalmente irrelevante"?)
Caro Filhote, nada a opor à reacção de fan. Mas penso que se pode responder brevemente:
1. Começando pelo fim: a prova de que o Buddy Guy não é uma irrelevância - coisa que não foi afirmada em momento algum -é precisamente o facto de ter sido convidado para caucionar a "pureza bluesy" dos Stones. E de tal modo caucionou que os deixa a anos-luz...
2. Claro que as pessoas vão vê-los, é divertido, rememoram-se momentos únicos da vida de todos nós, recordam-se os velhos hinos, mas a urgência, a criatividade, aquilo que fazia deles um fenómeno único, desapareceu há muito. Estou de acordo consigo: enquanto as pessoas quiserem pagar para os ver, estão à vontade para continuar. Mas a capacidade de atracção comercial e a qualidade musical não são necessariamente sinónimos. Os Stones são uma máquina de fazer dinheiro e fazem bem em aproveitar.
3. Estamos de facto a falar de música e não de revoluções culturais, embora os Stones - o Jagger, para sermos mais precisos - tenha em determinado momento querido fazer passar a ideia de que era um dos porta-estandartes da contra-cultura. Provavelmente a mesma veia oportunista que o levou a convidar a Christina Aguilera.
4. Reparei que, a seguir a ver o filme pela primeira vez, foi "revisitar" os Stones. Com quê ? O disco mais recente mencionado, Some Girls, tem 30 anos. Os outros três, Between the Buttons, Beggar's Banquet e Let It Bleed, têm 40. Parece-me que está tudo dito.
Já agora, e como o filme acaba com uma homenagem ao Ahmet Ertegun: a caixa "Ray Charles - Pure Genius, The Cpmplete Atlantic Recordings (1952-1959), que devia ser de audição obrigatória nas escolas, tem um DVD com uma entrevista ao Ahmet Ertegun realizada pelo Taylor Hackford.Se alguém percebia de música era ele!
Hum, vou procurar essa caixa do Ray Charles...
No resto, caro Queirosiano, penso que estaremos de acordo.
Só me incomoda o facto de os jornalistas estarem cronicamente a criticar os Stones pela longevidade e falta de inovação. Leio essas críticas desde 1980, pelo menos. Ora nessa altura "eles" eram mais novos do que eu (hoje)!
É verdade que o último suspiro verdadeiramente criativo dos Stones data de 1997 com o LP "Bridges to Babylon" - considero "A Bigger Bang" muito fraco.
Mas a verdade é que outros gigantes da música, como os citados Ray Charles e Buddy Guy, mas também BB King, Chuck Berry, Little Richard, nunca se preocuparam em renovar a sua obra. E ninguém os critica por isso...
Para quem não é músico, compreendo que faça confusão, mas interpretar as suas canções ou de outros ao vivo, ou seja, tocar música, é já um processo criativo e eminentemente artístico. E neste caso, ser-se músico/artista não compreende diferenciação de estilos. Quando falamos dos Stones serem "musicalmente irrelevantes", falamos de quem? Do Charlie Watts? Do Keith Richards? Ou daquele exército inteiro de músicos? Não é verdade que um músico se renova todas as noites no palco tal como o actor de Teatro?
Qual a inovação e a criatividade numa artista como Maria João Pires?... Amália?... Elvis Presley?... Buddy Guy (outra vez)?... para mim, são, ou foram, músicos extremamente criativos!
É tudo muito discutível... acho que a dimensão dos negócios dos Stones incomoda a imprensa e a imprensa por sua vez forma uma imagem deturpada da realidade stoniana.
Se reparar, Queirosiano, é raro o crítico Rock que sabe de música. O que me leva a perguntar: como pode escrever sobre uma coisa que não entende???
Só duas coisas:
1. O que se pode dizer é que os Stones não dominam tão bem a sua arte como já dominaram. A idade não perdoa. Aqui não falamos de falta de criatividade, mas sim, de limitação física e mental. Bom exemplo disso, a situação dramática em que se encontra Keith Richards...
2. Quando nomeei Ray Charles e os outros, foi no sentido de que nos 3concertos que vi de Ray (distanciados no tempo em 15 anos) ouvi precisamente as mesmas canções... e digo-lhe, Queirosiano, chorei de emoção nos 3 concertos!!!!
Estou livre desse pecado original. Não sou jornalista nem crítico. Tenho talvez a pretensão de saber alguma coisa de música, mas isso são outras histórias.
Quando falamos de os Stones serem agora musicalmente irrelevantes - e para não deixar dúvidas assumo pessoalmente a opinião - estamos a falar do facto de eles não trazerem nada de novo nem de interessante desde há muito tempo.
Pessoalmente, acho que depois do assombroso "Beggar's Banquet" começaram a perder o gás. O último assomo (para mim, repito) terá sido o "Exile On Main Street". A partir daí, foi apenas, como dizem os ingleses, "going through the motions". E, se não fossem os jornalistas atentos veneradores e obrigados, provavelmente a produção deles a partir desse momento não teria a projecção que teve.
Portanto, a partir daí, em termos de criatividade, estamos conversados.
O essencial do seu outro argumento é que ainda hoje eles fazem muito bem o mesmo número. Pudera, está rodado há 40 anos. Mas isso é entretenimento, como fazem a outro nível velhas bandas que se reconverteram naquilo a que em Inglaterra se chama "cabaret". Ou as inúmeras cover-bands.
Claro que os músicos são o que são e não desaprendem, embora tenha para mim que o Ron Wood é mais boa pessoa que outra coisa. Mas os velhos Searchers andam também para aí a dar espectáculos para lavar e durar. Fazem competentemente o que fazem, o que não evita um bocejo ocasional.
E como estamos a falar de música, não entrarei na indústria-Stones, que vai a extremos de ridídulo como apagar a fotografia de Bill Wyman em colectâneas de músicas em que ele fazia parte do grupo.
Enfim, estamos conversados, Queirosiano. De acordo em inúmeras opiniões suas, discordante noutras.
Quanto aos LPs, para mim (convém frisar) o último assomo de grande criatividade foi historicamente o "Exile"... embora as excepções "Some Girls" (1978) e "Tattoo You" (1981) sejam estrondosos renascimentos, e até surpreendentes renovações... nesses dois Lps, os Stones alcançaram o que só outra banda sessentista (Kinks) conseguiu: adaptar o estilo à época em causa, influenciando até novas gerações. "Miss You", "Beast of Burden", "Heaven", "Shattered", ou "Start Me Up" são bons exemplos.
Eu sei que "Tattoo You" trata-se apenas de um conjunto de remisturas das sessões de "Exile", "Goat's" e "It´s Only" - os Stones só gravaram "Neighbours" e "Hang Fire" -, mas... oiçam o "Heaven", meus amigos, oiçam o "Heaven"!!!!!
Para acabar com esta polémica soft e amigável, claro, por favor Queirosiano, não comparemos os Stones com Searchers e afins. Os Searchers "morreram" em meados dos 60, os Stones tiveram o seu último disco em 1º lugar nos EUA (detesto o disco!) e acabam de estrear um filme dirigido por Martin Scorcese! Não tocam em cabarets... mas bem que seria curioso ver um show deles num local desses!!!
Não chegou a ser uma polémica, apenas uma troca de impressões entre pessoas que gostam de música e que vêm as coisas de maneira diferente. Já agora, não resisto a acrescentar duas linhas.
Se não fossem os "malefícios" da imprensa e da crítica e o temor reverencial que o nome inspira (criticar os Stones é unhip, quase politicamente incorrecto), acha que um disco tão lamentável como o último alguma vez chegaria a n° 1?
Aquilo a que os ingleses chamam "cabaret" não tem exactamente o mesmo sentido que nós lhe damos, é mais a ideia de um espectáculo para um público de certa idade. Muitas bandas que nos encheram as medidas há muitos anos andam nessas vidas. Os Searchers foram um dos exemplos que me vieram à ideia. Mas concordo que há de facto uma grande diferença de dimensão. Um espectáculo num estádio faz vender muito mais T-shirts que uma actuação para 200 pessoas.
Quanto a estar morto ou não... a definição do rigor mortis dos Stones obrigava-nos a reabrir a discussão. Talvez noutra ocasião...
De acordo com a sua opinião sobre "A Bigger Bang". Agora está na moda elogiar os Stones. Sem dúvida.
E claro que conheço a definição britânica para "Cabaret act". Incrivelmente, era por esse circuito que andavam os Kinks no auge da sua criatividade (1967/68).Como diria Van Morrison, faltava-lhes o management dos Stones...
Mas celebremos um facto. Pelo menos esse. Enquanto os Stones estiverem aí sentimo-nos todos mais jovens!
Excelente conclusão!
Um abraço
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