O Pavilhão Atlântico recebeu, no dia 18 de Abril, cerca de 10.000 pessoas para o mais arrojado concerto dos GNR (Grupo Novo Rock) desde Alvalade a solo. Em palco, GNR e banda sinfónica da GNR fizeram as pazes de uma “guerra” de 30 anos. Mas, o mais importante: ofereceram um concerto inesquecível.
Corriam os últimos anos da década de 70, na voracidade da descoberta dos novos mundos de que parecíamos estar cada vez mais próximos, depois de Abril, ainda tão fresco. Na música, de entre as primeiras experiências mais “audazes” ou “modernas”, destacavam-se uns tais de GNR, Grupo Novo Rock, correcta designação, mas não isenta de polémica pela fácil comparação com os outros, os de farda, para muitos de má memória.
Os novos GNR (Alexandre Soares na guitarra, Vítor Rua na guitarra e voz, Toli César Machado na bateria) caíram na nossa cena social, musical e de costumes qual pedrada no charco.
Em 81, lançaram “Portugal na CEE”, visão que apenas se concretizaria cinco anos mais tarde. Foi dos primeiros singles que entraram na minha discoteca. No mesmo ano surgem ainda “Espelho Meu”, sucesso que perdura 27 anos depois, e “Sê um GNR”.
Em 82, o primeiro LP – “Independança” – incluindo temas como “Hardcore 1º escalão” (outro exemplo de longevidade) e “Agente Único”. A partir daí, e entre diversas alterações internas, culminando com o cisma entre o grupo e Vítor Rua, que só seria apaziguada cerca de 25 anos mais tarde, e a entrada de Rui Reininho, GNR e história social de Portugal são indissociáveis.
No passado dia 18 de Abril, num Pavilhão Atlântico repleto, tivemos a prova dessa fatal relação.
Os GNR continuam donos e senhores de uma postura musical inigualável, e para a qual o cabo dos 50 (anos de idade) de Rui Reininho está como o tempo para o Vinho do Porto. Na assistência, cruzavam-se três gerações de portugueses. Não admira. Em palco, com os GNR de Reininho, Toli e Jorge Romão, a banda sinfónica da GNR, com os seus 115 elementos (114 homens e uma mulher, na flauta), sob a batuta do Ten. Coronel Jacinto Montezo, realizaram o antes impensável. Com toda a glória e mérito.
Provavelmente, alvitro, a actual composição da banda, mais jovem, e as suas excelência e polivalência musicais, contribuíram bastante para este sucesso. Alguns dos músicos, não obstante o aprumo, não resistiram a acompanhar o ritmo de vários dos temas co-interpretados com o movimento de perna/pescoço sincopado em sintonia. Foi bonito de ver. E fez-me pensar, numa altura em que alguns pretendem questionar a justificação de bandas musicais nas forças armadas ou paramilitares, se estarão a partir dos pressupostos correctos…
Voltando ao espectáculo: no alinhamento de quase duas horas de um grande espectáculo estiveram temas tão distintos como, entre outros, “Espelho Meu”, “Hardcore 1º escalão”, “Efectivamente”, “Pronúncia do Norte”, “Bellevue”, “Sangue Oculto”, “Sub 16”, “Vídeo Maria” (que em 1988 mudou mesmo o latim…), “Morte ao Sol”, “Asas” (“Amo-te Teresa”, lembram-se?), “Tirana”, “Mais vale nunca”, o twist de “Quero que vá tudo p’ró Inferno”, e, claro, “Dunas”. Sem novidades. Mas não fizeram falta. De novo, sim, e um dos pilares deste concerto, os novos arranjos e orquestrações que o “dueto” GNR&GNR impunham. Roupas novas que “só” fizeram com que os “velhinhos” temas ficassem a ganhar.
No final desta grande noite, volto para casa feliz, com um q.b. de boa nostalgia, a pensar que este teria sido um espectáculo que gostaria de ver também noutras festas, quiçá num palco ao ar livre em Belém, para toda a grei, e com as palavras do próprio Reininho a ecoarem-me o interior: “Já são muitos anos juntos” e “façam o favor de ser felizes”.
P.S. – Começo desde já por referir que o problema é meu, reles mortal. Detesto pipocas. Mais do que as ditas, abomino com todos os fígados o cheiro enjoativo-adocicado que se entranha em todos os espaços e deixa o (meu) ar irrespirável. Por isso, já há muito que me recuso a ir ao cinema. Ou melhor, aos “cine-pipocas” que destruíram o (meu) ritual da ida ao cinema de outros tempos. O “chomp-chomp” da pipoca e o “grunch-grunch” do refrigerante associado, se são letais no cinema, admito que num Pavilhão Atlântico se percam na imensidão do espaço e na maior informalidade de costumes do divertimento. Mas o cheiro!... Ó inclemência, Ó martírio!!! Será mesmo necessário que o PA se renda e este “vil metal”? Se assim for, pensarei duas (ou mais) vezes antes de lá voltar…. Com muita pena.
Colaboração de Helena Pais Costa
Duas notas do editor: a primeira para se congratular por esta colaboração, esbeltamente escrita, muito melhor do que muitos textos de jornal. É o contraponto ao demolidor texto de Gim. Haja equilíbrio. A segunda nota para sublinhar que o problema não é só de Helena Pais Costa, reles mortal. Aquela entrada do Atlântico é mesmo para vomitar!
Corriam os últimos anos da década de 70, na voracidade da descoberta dos novos mundos de que parecíamos estar cada vez mais próximos, depois de Abril, ainda tão fresco. Na música, de entre as primeiras experiências mais “audazes” ou “modernas”, destacavam-se uns tais de GNR, Grupo Novo Rock, correcta designação, mas não isenta de polémica pela fácil comparação com os outros, os de farda, para muitos de má memória.
Os novos GNR (Alexandre Soares na guitarra, Vítor Rua na guitarra e voz, Toli César Machado na bateria) caíram na nossa cena social, musical e de costumes qual pedrada no charco.
Em 81, lançaram “Portugal na CEE”, visão que apenas se concretizaria cinco anos mais tarde. Foi dos primeiros singles que entraram na minha discoteca. No mesmo ano surgem ainda “Espelho Meu”, sucesso que perdura 27 anos depois, e “Sê um GNR”.
Em 82, o primeiro LP – “Independança” – incluindo temas como “Hardcore 1º escalão” (outro exemplo de longevidade) e “Agente Único”. A partir daí, e entre diversas alterações internas, culminando com o cisma entre o grupo e Vítor Rua, que só seria apaziguada cerca de 25 anos mais tarde, e a entrada de Rui Reininho, GNR e história social de Portugal são indissociáveis.
No passado dia 18 de Abril, num Pavilhão Atlântico repleto, tivemos a prova dessa fatal relação.
Os GNR continuam donos e senhores de uma postura musical inigualável, e para a qual o cabo dos 50 (anos de idade) de Rui Reininho está como o tempo para o Vinho do Porto. Na assistência, cruzavam-se três gerações de portugueses. Não admira. Em palco, com os GNR de Reininho, Toli e Jorge Romão, a banda sinfónica da GNR, com os seus 115 elementos (114 homens e uma mulher, na flauta), sob a batuta do Ten. Coronel Jacinto Montezo, realizaram o antes impensável. Com toda a glória e mérito.
Provavelmente, alvitro, a actual composição da banda, mais jovem, e as suas excelência e polivalência musicais, contribuíram bastante para este sucesso. Alguns dos músicos, não obstante o aprumo, não resistiram a acompanhar o ritmo de vários dos temas co-interpretados com o movimento de perna/pescoço sincopado em sintonia. Foi bonito de ver. E fez-me pensar, numa altura em que alguns pretendem questionar a justificação de bandas musicais nas forças armadas ou paramilitares, se estarão a partir dos pressupostos correctos…
Voltando ao espectáculo: no alinhamento de quase duas horas de um grande espectáculo estiveram temas tão distintos como, entre outros, “Espelho Meu”, “Hardcore 1º escalão”, “Efectivamente”, “Pronúncia do Norte”, “Bellevue”, “Sangue Oculto”, “Sub 16”, “Vídeo Maria” (que em 1988 mudou mesmo o latim…), “Morte ao Sol”, “Asas” (“Amo-te Teresa”, lembram-se?), “Tirana”, “Mais vale nunca”, o twist de “Quero que vá tudo p’ró Inferno”, e, claro, “Dunas”. Sem novidades. Mas não fizeram falta. De novo, sim, e um dos pilares deste concerto, os novos arranjos e orquestrações que o “dueto” GNR&GNR impunham. Roupas novas que “só” fizeram com que os “velhinhos” temas ficassem a ganhar.
No final desta grande noite, volto para casa feliz, com um q.b. de boa nostalgia, a pensar que este teria sido um espectáculo que gostaria de ver também noutras festas, quiçá num palco ao ar livre em Belém, para toda a grei, e com as palavras do próprio Reininho a ecoarem-me o interior: “Já são muitos anos juntos” e “façam o favor de ser felizes”.
P.S. – Começo desde já por referir que o problema é meu, reles mortal. Detesto pipocas. Mais do que as ditas, abomino com todos os fígados o cheiro enjoativo-adocicado que se entranha em todos os espaços e deixa o (meu) ar irrespirável. Por isso, já há muito que me recuso a ir ao cinema. Ou melhor, aos “cine-pipocas” que destruíram o (meu) ritual da ida ao cinema de outros tempos. O “chomp-chomp” da pipoca e o “grunch-grunch” do refrigerante associado, se são letais no cinema, admito que num Pavilhão Atlântico se percam na imensidão do espaço e na maior informalidade de costumes do divertimento. Mas o cheiro!... Ó inclemência, Ó martírio!!! Será mesmo necessário que o PA se renda e este “vil metal”? Se assim for, pensarei duas (ou mais) vezes antes de lá voltar…. Com muita pena.
Colaboração de Helena Pais Costa
Duas notas do editor: a primeira para se congratular por esta colaboração, esbeltamente escrita, muito melhor do que muitos textos de jornal. É o contraponto ao demolidor texto de Gim. Haja equilíbrio. A segunda nota para sublinhar que o problema não é só de Helena Pais Costa, reles mortal. Aquela entrada do Atlântico é mesmo para vomitar!
7 comentários:
Parabéns pelo texto.
G.N.R., sempre!!!!
Grande exposição sobre uma visão do espectáculo.
Mas é apenas uma opinião, evidentemente parcial de qualquer forma.
Quanto ao Pavilhão concordo integralmente. E aqueles preços dos produtos nos bares? São de assalto à mão desarmada.
Quem o feio ama, bonito lhe parece...
Oh Lena!!!
Com que então uma "BORLAZITA"!!!!(pelo menos é o que consta no bilhere €0.00).
Ora aqui temos a prova de que "não é com vinagre que se apanham moscas!!"
UM BEIJINHO
daniel bacelar
Calma, Daniel! A verdade acima de tudo: o bilhete é meu!
LT
Luis
Eu pecador me confesso!!
Tens todo o meu perdão!!!
VAI EM PAZ...MEU FILHO!!!
P.S. ONDE RAIO É QUE EU LI ISTO???
Não é a mim que tens de pedir desculpa, mas sim à autora do texto.
LT
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