Seria com certeza muitíssimo interessante e altamente revelador que muita gente voltasse a ler os disparates que escreveu há um ano quando da entrada em vigor da nova lei do tabaco. Desde as falências em cadeia no negócio da restauração até aos atentados às liberdades, valeu tudo. Será que não se envergonham?
JC em “O Gato Maltês”, 30.12.2008
Eu, por acaso, penso que é preciso ser bastante estúpido para fumar. Mas não tenho a certeza sobre se devemos tirar esse direito às pessoas.
Michael Blomberg, Mayor de Nova Iorque, 2002
Os ex-fumadores, sobretudo, têm a obrigação moral de velar pelos direitos daqueles que ainda fumam. Ou virão a fumar. Nem que seja pelo seguinte; verdadeira guerra não é entre fumadores e não fumadores mas entre proibidores e não-proibidores. Há por aí muita coisa agradável cuja proibição facilmente se justificaria médico-socialmente. Se o tabaco for proibido, os proibidores avançarão para outras coisas. E depois de conseguirem proibir as mais óbvias (como o álcool), passarão às mais íntimas.Pense numa coisa que gosta de fazer e que talvez possa fazer mal (ou somente não fazer bem) a si e/ou aos outros e/ou ao Planeta. Também há-de haver quem a queira proibir. Hoje é o tabaco; amanhã será isso tudo.
Miguel Esteves Cardoso, “Expresso”, s/d
Cavalgando esta onda do MEC, e não querendo ser exaustivo, lembra-se que há hotéis que não aceitam clientes acompanhados pelos seus filhos. O barulho das crianças ofende a serenidade dos hóspedes.
Há condomínios de luxo que não aceitam africanos, asiáticos, etc, mesmo que usem gravata e cheirem a “Paco Rabanne”.
Discriminações várias que descambam na mais sórdida abjecção.
Face a isto, outras coisas, vem sempre à memória aquele poema, atribuído a Brecht, para o qual há diversas traduções, mas utiliza esta que encontrou no blogue do Samuel “Cantigueiro”:
Quando levaram os comunistas, calei-me. Eu não era comunista.
Quando levaram os judeus, calei-me. Eu não era judeu.
Quando levaram os primeiros católicos, calei-me. Eu não era católico.
Quando me vieram buscar, já não estava lá ninguém, cuja voz por mim se erguesse.
Colaboração de Gin-Tonic
JC em “O Gato Maltês”, 30.12.2008
Eu, por acaso, penso que é preciso ser bastante estúpido para fumar. Mas não tenho a certeza sobre se devemos tirar esse direito às pessoas.
Michael Blomberg, Mayor de Nova Iorque, 2002
Os ex-fumadores, sobretudo, têm a obrigação moral de velar pelos direitos daqueles que ainda fumam. Ou virão a fumar. Nem que seja pelo seguinte; verdadeira guerra não é entre fumadores e não fumadores mas entre proibidores e não-proibidores. Há por aí muita coisa agradável cuja proibição facilmente se justificaria médico-socialmente. Se o tabaco for proibido, os proibidores avançarão para outras coisas. E depois de conseguirem proibir as mais óbvias (como o álcool), passarão às mais íntimas.Pense numa coisa que gosta de fazer e que talvez possa fazer mal (ou somente não fazer bem) a si e/ou aos outros e/ou ao Planeta. Também há-de haver quem a queira proibir. Hoje é o tabaco; amanhã será isso tudo.
Miguel Esteves Cardoso, “Expresso”, s/d
Cavalgando esta onda do MEC, e não querendo ser exaustivo, lembra-se que há hotéis que não aceitam clientes acompanhados pelos seus filhos. O barulho das crianças ofende a serenidade dos hóspedes.
Há condomínios de luxo que não aceitam africanos, asiáticos, etc, mesmo que usem gravata e cheirem a “Paco Rabanne”.
Discriminações várias que descambam na mais sórdida abjecção.
Face a isto, outras coisas, vem sempre à memória aquele poema, atribuído a Brecht, para o qual há diversas traduções, mas utiliza esta que encontrou no blogue do Samuel “Cantigueiro”:
Quando levaram os comunistas, calei-me. Eu não era comunista.
Quando levaram os judeus, calei-me. Eu não era judeu.
Quando levaram os primeiros católicos, calei-me. Eu não era católico.
Quando me vieram buscar, já não estava lá ninguém, cuja voz por mim se erguesse.
Colaboração de Gin-Tonic
16 comentários:
Nota: com a nova lei do tabaco não se não impediu ninguém de fumar: se assim fosse,seria o 1º a protestar (como decerto calculas, Gin-Tonic). Com essa lei, apenas se evitou que os não fumadores se vissem obrigados a inalar o fumo dos cigarros dos outros...
Já agora: no mundo que conheço - e é algum - nunca conheci (nunca fui à África do Sul do "apartheid" nem aos USA no tempo da segregação) hotéis ou condomínios de luxo que impeçam a entrada de crianças ou tenham restrições rácicas. Caso os conheças, agradeço uma listagem para nunca lá pôr os pés.
Abraço
Notável, o poema de Brecht. Define bem a dimensão pouco solidária da condição humana.
Não sou contra todas as restrições das leis anti-tabagistas - sou até a favor da maioria -, porém, é notório que caminhamos das sociedades disciplinadoras para as sociedades de controlo. E isso é aterrador!
Não estou de acordo, Filhote. Pelo menos no chamado mundo democrático ocidental, nunca as liberdades individuais foram tão grandes. Basta tomar como exemplo as "redes sociais", os "blogs", a internet 2.0 e a democratização que representam na comunicação e informação. Ou a proliferação de canais de TV. Mais ainda, a liberdade sexual e a nível dos costumes e da arte, por exemplo, tal como o próprio esbatimento da sociedade de classes (não estou a reduzir as classes apenas ao rendimento) e a maior mobilidade social. Penso que essa ideia das "sociedades de controlo" é um conceito difundido pelos ultra-liberais para justificar a ausência total de regulação das sociedades, que defendem, esparrela na qual muita gente bem intencionada tem caído.
Mais ainda, meus caros amigos. Hoje em dia, quando nas sociedades ocidentais mais avançadas, onde incluo Portugal (o menos rico dos ricos), dotadas de um estado-providência que proporciona saúde gratuíta ou a preços reduzidos aos seus cidadãos paga por todos, não deve o estado exigir em troca alguma contenção a esses mesmos cidadãos face a práticas, tais como o excesso de peso ou o tabaco, comprovadamente nocivas? Claro que não pode nem deve proibir a liberdade individual, de per si, o que seria intolerável. Mas pode e tem o direito de, através de campanhas (caso do excesso de peso e das campanhas anti-tabaco) ou da defesa de terceiros não-fumadores, chamar a atenção para o prejuízo social causado e limitar as doenças desnecessárias. Claro que o estado cobra impostos do tabaco ao mesmo tempo que faz campanha contra ele. mas que preferem? Que não cobre aí impostos para financiar a saúde ou, pura e simplesmente, proíba a venda de tabaco como o faz com a droga ou os USA faziam com o álcool no estúpido tempo da "prohibition"?
corroboro algumas das ideias aqui deixadas pelo jc. ninguém ficou proibido de fumar. podem queimar a "erva santa" desde que não incomodem e prejudiquem os não fumadores.
Uma sociedade baseada na negação do ócio (negócio) será sempre uma sociedade de controlo. Ou, no mínimo, disciplinadora. Para o bem e para o mal. O resto é conversa...
Não somos obrigados a trabalhar? A ter dinheiro na mão? A sermos, pelo menos, parecidos uns com os outros? Não comemos somente aquilo que nos servem? Não vemos apenas o que nos mostram? Não tiramos fotos uns dos outros para sabermos que existimos? Não tiram fotos e digitais nossas para nos registarem?
E a Internet, a TV, etc, também são instrumentos de controlo. Ou não são?
Ou seja, JC, talvez não haja desacordo entre as nossas ideias. Apenas foram expostas em perspectivas diferentes...
endereço a visitar
http://adsoftheworld.com/media/print/coppt_confederacao_portuguesa_de_prevencao_do_tabagismo_national_no_smoking_day_chimney?size=_original
e para vos ajudar a deixar o vício http://adsoftheworld.com/media/tv/nicorette_gum_driving
Mais uma nota. Esta é uma embalagem de "High Life" já relativamente recente (anos 70 ou final dos 60?). Existe, que me lembre, pelo menos uma anterior. Não é assim, Gin-Tonic?
"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margems que o oprimem"
Bertold Brecht
Todos dias existem fumadores vitimizados por sérios problemas de saúde .É natural que fiquemos consternados com tal. Mas a principal preocupação deve situar-se na prevenção, isto é, evitar que o rio transborde suas margens.
A liberdade de fumar - que para mim é incontestável -não deve colidir com a liberdade de nao fumar por parte qualquer outro ser no mesmo recinto.
Daí que, a lei do tabaco esteja longe de constituir uma lei proibitiva.É antes uma lei consagradora da liberdade do não-fumador, e do fumador - se este o fizer sem prejuízo de outrém -. Permitir em condições adequadas e socialmente ajustadas não é proibir.
Não devemos esquecer os muitos exemplos históricos em que leis proibitivas, paradoxalmente, além de fomentarem o crime, tornando-se elas próprias criminogéneas, ainda fomentaram o próprio consumo ou prática daquilo daquilo que visavam impedir.
Foi o caso do feliz exemplo referido por JC, a "lei seca" americana, que teve na base do aparecimento do fenómenos "Al Capone" e outras personagens de má memória. Felizmente que não é o caso desta lei.
A lei que obriga a utilizar o cinto de segurança, já com uma longa vigência, infirmando a preocupação de MEC,pois que se saiba, não passou a coisas mais íntimas - p.e. ainda podemos ... namorar no carro-.Na verdade, esta obrigação do cinto de segurança tal como a que asseguraa liberdade do não fumador e do fumador, não são atentados à liberdade individual.
JR
E, acrescento,a proibição do consumo de drogas, que apenas aumentou o tráfico e encheu os bolsos de produtores e traficantes. Aliás, as políticas oficiais de combate à droga são um dos maiores fracassos do mundo contemporâneo: muito dinheiro e resultados mínimos ou inexistentes. Se fosse da responsabilidade de uma organização privada, já os responsáveis tinham sido todos despedidos.
Totalmente de acordo, JC.
Também me parece. Nos meus tempos, o "High-Life" era bem mais verde...
LT
No que toca às drogas leves estou completamente de acordo com JC. É de uma completa incoerência criminalizar estas e, ao mesmo tempo, permitir bebidas de alto teor alcoólico - vodka, aguardente, bagaço, etc. -, porventura ainda mais perigosas, encontráveis ao virar da esquina ao alcance de qualquer miúdo, em qualquer minimercado ou leitaria.
A referida proibição - esta sim, é uma proibição, ao contrário da da lei do tabaco - tem ainda a não menos ignóbil contradição de obrigar ao contacto do consumidor com traficantes, parte das vezes pouco escrupulosos ou recomendáveis,estes apenas interessados na proliferação do consumo e maximixação dos respectivos lucros.
Se a substância (leve) fosse fornecida por uma entidade desinteressada e licenciada para tal, em locais próprios, que ainda poderia, em alternativa, sugerir pedagogicamente uma prática substitutiva, e se, parte do produto da sua venda fosse encaminhada para campanhas de informação e sensibilização para os respectivos riscos e malefícios, seria um passo significativo para a resolução de um, cada vez mais ameaçador e tão complexo problema.
"Clear and Present Danger"
JR
Sim, também se lembra do outro maço dos High Life", mas a colecção só contempla esta versão, diga-se "remastirizada" e que deverá ser dos finais dos anos 60, começos dos 70. Houve um tempo em que uma série de marcas de tabaco que, com o aparecimento do filtro e dos extra-longos, sofreram alteração gráfica.
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