quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PRAZERES QUE MATAM 18


O “Daily Telegraph” oferece às cogitações do público britânico, um difícil problema, qual o de averiguar se as mulheres devem fumar ou não.

Chovem cartas è redacção do “Daily Telegraph”, na maioria opinando que visto ser o tabaco um excitante intelectivo, e equipararem-se actualmente os dois sexos na concorrência à luta pela vida, quer por via da ciência, quer por via da indústria, quer por via da arte, nenhuma razão plausível d’oravante impedirá que a mulher fume.

Completamente d’acôrdo. Sòmente na prática de mais êste vício, nós quiséramos que ele não feminilizasse o tabaco, atenuando-lhe os efeitos por meio de macerações mui prolongadas, e só levando aos lábios, por pura pose, de quando em quando, uma paliativa e magra cigarrilha. Esta prática, que vem perturbar a pureza do hálito às senhoras, nem sequer ao menos lhes facilita, pela estesia nervosa, as lucubrações do pensamento. Por consequência, madamas, ou V. Exas esquecen o tabaco, ou então passam a fumar só charutos de homens.

Fialho d’Almeida em “Os Gatos”, 1º volume, Agosto de 1889

Nota: Manteve-se a ortografia original.

2 comentários:

filhote disse...

De "Os Gatos" foram extraídos textos para duas peças do Grupo de Teatro Maizum, nas quais participei como actor. A saber: "Lisboa Monumental" e "Um Demónio na Vitrine".

gin-tonic disse...

Caro Filhote: tens que me contar essa história na próxima sessão de tremoços. Acho bonito que malta nova tenha pegado no Fialho d'Almeida, em que nem os velhos pegam e a maioria deles nem sabe quem foi...
Um abraço