sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

PRAZERES QUE MATAM 19


Ouviu e não lhe soou que fosse provocação: sem vícios não se sobrevive com o mínimo de dignidade.

Almeida Garrett não deixou de dizer que Portugal “é país de cigarro livre” e, nas primeiras páginas de “Viagens na Minha Terra”, quando o barco começa a subir o Tejo, fala do prazer de, contemplando a bela paisagem, se acenderam charutos.

“Pois num dia destes, sentir na face e nos cabelos a brisa refrigeradora que passou por cima da água, enquanto se aspiram molemente as narcóticas exalações de um bom cigarro da Havana, é uma das poucas coisas sinceramente boas que há neste mundo”. O velho Fernando Pessoa, melancolicamente, como seu conhecido timbre, a dizer-nos, para não restarem dúvidas “enquanto a vida mo permitir continuarei fumando".

Ou será que é mais estimulante esta provocação de Miguel Esteves Cardoso publicada da “Kapa” s/d:?

“Se fossem precisas mais provas de que Auberon Waugh é um dos maiores colunistas do mundo, bastava ler a sua secção “Rage” na cada vez melhor “The Oldie”.

Na edição de 16 de Outubro, aparece a melhor defesa dos fumadores que se conhece. Mas as melhores palavras são as dele:

“Os fumadores morrem, em média, dois a três anos mais novos do que os não fumadores – mas qual é o mal disso? (…) Os fumadores morrem mais jovens e mais lúcidos do que o resto, sem empecilharem os serviços sociais ou prejudicarem a economia com anos de dependência improdutiva. Os fumadores deveriam ver-se como os heróis da nossa sociedade, mesmo que mais ninguém pense assim".

E para acabar em grande:

“Nunca nos são mostradas as visões patéticas e horríveis dos nossos asilos geriátricos, onde filas e filas de doentes jazem, durante meses e anos. Indefesos e confusos, muitas vezes insensíveis. Este é o escândalo médico do nosso tempo, e não o facto de que alguns escolhem uma vida mais curta e agradável fumando”.

E mai’nada"!

Colaboração de Gin-Tonic

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