This is the end, my beautiful friends, the end…!
Faz amanhã, 19 de Setembro, precisamente um ano que vos enviei a primeira destas “crónicas”, uma brincadeira a propósito do Gram Parsons. Nunca me passou pela cabeça ficar um ano agarrado a isto, mas estas coisas são como as cerejas…
Tinha prometido a mim próprio acabar no dia em que passasse um ano sobre o final da viagem (1 de Agosto), mas Junho e Julho foram meses complicados e muita coisa iria ficar pendurada. Decidi, então, que a data do fim de festa iria ser 19 de Setembro. Mas vai calhar num Sábado e eu não escrevo ao Sábado, muito menos em dia de piquenique…
Se a contabilidade não me falha, ao longo destes 365 dias enviei-vos, contando com esta, 43 “crónicas”, acompanhadas por 421 fotografias. Dá uma média de quase 4 por mês, nada desprezível nos tempos que correm…
Já confidenciei a alguns de vós que esta minha febre da escrita teve, também, motivações egoístas… Eu tinha decidido que, desta vez, iria escrever um “diário de viagem” nos Estados Unidos, e até cheguei a comprar um bonito livrinho para esse efeito. Nos primeiros tempos ainda a coisa foi…. Mas os dias eram cansativos e a força na mão foi-me faltando… Dos longos textos iniciais passei a grandes sínteses, daí a meras anotações para completar mais tarde e depois a …. rigorosamente nada! Daí que a feitura destes textos me tenha proporcionado uma excelente oportunidade para organizar toda essa memória. E vocês foram as minhas simpáticas cobaias, que aguentaram estoicamente o embate sem qualquer recriminação, pelo menos pública…! Não tenho dúvidas que daqui a uns anos, se cá estiver, ao reler esses textos irei sentir o prazer de reviver este passado e relembrar a vossa companhia…
O que é que se escreve numa última “crónica”…? Diz-se do prazer que se teve em aqui estar e alvitra-se que, quem sabe, um dia voltaremos… Mas o meu prazer foram-no vocês testemunhando ao longo dos tempos e, quanto ao resto, não faço tenções de aqui voltar por idênticos motivos, tanto mais que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes…
Decidi então falar, por último, das pessoas e da “Stars and Stripes”, a célebre bandeira dos Estados Unidos. O que é que uma coisa tem a ver com a outra, perguntar-me-ão vocês…? Lá iremos…
Constato que falei muito pouco das pessoas ao longo destas “crónicas”, o que não fica nada bem a um sociólogo…Uma boa parte das pessoas que conheço não gosta muito dos americanos. Chamam-lhes isto, aquilo e aqueloutro, tipo povo imbecil que se alimenta de hamburguers e panquecas e elege políticos incompetentes…
Mas tenho eu o direito de odiar os alemães por mergulharem em gorduras e terem posto o Hitler no poder…? Ou os espanhóis pelo Franco e por comerem pão de plástico…? E os italianos por Mussolini, Berlusconi e pela pizza…? Os franceses por Vichy e por não saberem fazer café…? Os portugueses por Salazar e pelo cozido à portuguesa…? É claro que não…. Então porque raio hei-de odiar os americanos por esses motivos…!!??
Durante um mês tive provas de solidariedade e entreajuda que duvido que tivesse em Portugal, nas mesmas circunstâncias: em Sausalito, um fulano parou o carro, deu-me luzes e mudou-me ele próprio, sozinho, um pneu furado, sem que lhe tivesse feito um único gesto a pedir ajuda; em San Francisco conduziram-me a uma garagem de recauchutagem de pneus quando perceberam que dificilmente lá chegaria sozinho; perto de Point Reys um carro patrulha da polícia viu-me em dificuldades e conduziu-me, sirene ligada, ao posto de gasolina mais próximo; no Grand Canyon, um simpático “motard” disponibilizou-se para me emprestar a sua bela Harlet-Davidson para dar uma voltinha; e por aí fora, já sem falar da simpatia que, em geral, sempre encontrámos nos contactos quotidianos. E comi lindamente em todos os Estados, tal como vos fui contando….
Não sei se, como muita gente me diz, essa abertura ao outro é consequência psicológica do “11 de Setembro” ou se é um efeito “pré-Obama” (a minha viagem foi quatro meses antes das eleições), mas o certo é que senti este povo muito mais simpático agora do que quando por lá tinha passado há vinte e sete anos, em plena época “reaganiana”…
Os americanos gostam imenso da sua bandeira, e eu também. Sei muito bem que, em nome do ideal de Liberdade associado a essa bandeira, enormes atrocidades foram cometidas ao longo dos séculos por esse Mundo fora. E a minha costela pessimista diz-me que o continuarão a ser, passada esta lufada de ar fresco e de boa vontade… Mas não posso deixar de a achar bonita, a bandeira…
Encontrei-a por todo o lado, e a seguir vos deixo alguns exemplos:
É por isso que, depois de ter visto tanta coisa bonita, encontrado tanta gente simpática, comido e bebido tão bem, só posso juntar a minha voz à de Irvin Berlin e gritar também, bem alto
GOD BLESS AMERICA!
Keep on the sunny side of life!
Lisboa, 18 de Setembro de 2009
Colaboração de Luís Mira
PS1: Por iniciativa do Hugo Santos/Gin-Tonic e especial cortesia do Luís Pinheiro d'Almeida, a maior parte destas "crónicas americanas" foram também publicadas no "blog Ié-Ié". Um abraço de reconhecimento ao Luís e a toda essa comunidade bloguista que, com os seus comentários, me proporcionou momentos de agradável cavaqueira e de enriquecimento pessoal: a Karocha, a Teresa, o Camilo, o Daniel Bacelar, o Filhote, o Gouveia, o Jack Kerouac, o JC, o José, o Rato, o S(LB) e outros cujo nome me poderá escapar. Eu hei-de ir, hei-de voltar com o vento...
PS2: Se o texto não tivesse sido escrito a 18 de Setembro, poderia ter acrescentado outros nomes: as Teresas, a Maria Júlia, o Comendador "Despe T.Shirts"...
LM
Faz amanhã, 19 de Setembro, precisamente um ano que vos enviei a primeira destas “crónicas”, uma brincadeira a propósito do Gram Parsons. Nunca me passou pela cabeça ficar um ano agarrado a isto, mas estas coisas são como as cerejas…
Tinha prometido a mim próprio acabar no dia em que passasse um ano sobre o final da viagem (1 de Agosto), mas Junho e Julho foram meses complicados e muita coisa iria ficar pendurada. Decidi, então, que a data do fim de festa iria ser 19 de Setembro. Mas vai calhar num Sábado e eu não escrevo ao Sábado, muito menos em dia de piquenique…
Se a contabilidade não me falha, ao longo destes 365 dias enviei-vos, contando com esta, 43 “crónicas”, acompanhadas por 421 fotografias. Dá uma média de quase 4 por mês, nada desprezível nos tempos que correm…
Já confidenciei a alguns de vós que esta minha febre da escrita teve, também, motivações egoístas… Eu tinha decidido que, desta vez, iria escrever um “diário de viagem” nos Estados Unidos, e até cheguei a comprar um bonito livrinho para esse efeito. Nos primeiros tempos ainda a coisa foi…. Mas os dias eram cansativos e a força na mão foi-me faltando… Dos longos textos iniciais passei a grandes sínteses, daí a meras anotações para completar mais tarde e depois a …. rigorosamente nada! Daí que a feitura destes textos me tenha proporcionado uma excelente oportunidade para organizar toda essa memória. E vocês foram as minhas simpáticas cobaias, que aguentaram estoicamente o embate sem qualquer recriminação, pelo menos pública…! Não tenho dúvidas que daqui a uns anos, se cá estiver, ao reler esses textos irei sentir o prazer de reviver este passado e relembrar a vossa companhia…
O que é que se escreve numa última “crónica”…? Diz-se do prazer que se teve em aqui estar e alvitra-se que, quem sabe, um dia voltaremos… Mas o meu prazer foram-no vocês testemunhando ao longo dos tempos e, quanto ao resto, não faço tenções de aqui voltar por idênticos motivos, tanto mais que não devemos voltar aos sítios onde fomos felizes…
Decidi então falar, por último, das pessoas e da “Stars and Stripes”, a célebre bandeira dos Estados Unidos. O que é que uma coisa tem a ver com a outra, perguntar-me-ão vocês…? Lá iremos…
Constato que falei muito pouco das pessoas ao longo destas “crónicas”, o que não fica nada bem a um sociólogo…Uma boa parte das pessoas que conheço não gosta muito dos americanos. Chamam-lhes isto, aquilo e aqueloutro, tipo povo imbecil que se alimenta de hamburguers e panquecas e elege políticos incompetentes…
Mas tenho eu o direito de odiar os alemães por mergulharem em gorduras e terem posto o Hitler no poder…? Ou os espanhóis pelo Franco e por comerem pão de plástico…? E os italianos por Mussolini, Berlusconi e pela pizza…? Os franceses por Vichy e por não saberem fazer café…? Os portugueses por Salazar e pelo cozido à portuguesa…? É claro que não…. Então porque raio hei-de odiar os americanos por esses motivos…!!??
Durante um mês tive provas de solidariedade e entreajuda que duvido que tivesse em Portugal, nas mesmas circunstâncias: em Sausalito, um fulano parou o carro, deu-me luzes e mudou-me ele próprio, sozinho, um pneu furado, sem que lhe tivesse feito um único gesto a pedir ajuda; em San Francisco conduziram-me a uma garagem de recauchutagem de pneus quando perceberam que dificilmente lá chegaria sozinho; perto de Point Reys um carro patrulha da polícia viu-me em dificuldades e conduziu-me, sirene ligada, ao posto de gasolina mais próximo; no Grand Canyon, um simpático “motard” disponibilizou-se para me emprestar a sua bela Harlet-Davidson para dar uma voltinha; e por aí fora, já sem falar da simpatia que, em geral, sempre encontrámos nos contactos quotidianos. E comi lindamente em todos os Estados, tal como vos fui contando….
Não sei se, como muita gente me diz, essa abertura ao outro é consequência psicológica do “11 de Setembro” ou se é um efeito “pré-Obama” (a minha viagem foi quatro meses antes das eleições), mas o certo é que senti este povo muito mais simpático agora do que quando por lá tinha passado há vinte e sete anos, em plena época “reaganiana”…
Os americanos gostam imenso da sua bandeira, e eu também. Sei muito bem que, em nome do ideal de Liberdade associado a essa bandeira, enormes atrocidades foram cometidas ao longo dos séculos por esse Mundo fora. E a minha costela pessimista diz-me que o continuarão a ser, passada esta lufada de ar fresco e de boa vontade… Mas não posso deixar de a achar bonita, a bandeira…
Encontrei-a por todo o lado, e a seguir vos deixo alguns exemplos:
É por isso que, depois de ter visto tanta coisa bonita, encontrado tanta gente simpática, comido e bebido tão bem, só posso juntar a minha voz à de Irvin Berlin e gritar também, bem alto
GOD BLESS AMERICA!
Keep on the sunny side of life!
Lisboa, 18 de Setembro de 2009
Colaboração de Luís Mira
PS1: Por iniciativa do Hugo Santos/Gin-Tonic e especial cortesia do Luís Pinheiro d'Almeida, a maior parte destas "crónicas americanas" foram também publicadas no "blog Ié-Ié". Um abraço de reconhecimento ao Luís e a toda essa comunidade bloguista que, com os seus comentários, me proporcionou momentos de agradável cavaqueira e de enriquecimento pessoal: a Karocha, a Teresa, o Camilo, o Daniel Bacelar, o Filhote, o Gouveia, o Jack Kerouac, o JC, o José, o Rato, o S(LB) e outros cujo nome me poderá escapar. Eu hei-de ir, hei-de voltar com o vento...
PS2: Se o texto não tivesse sido escrito a 18 de Setembro, poderia ter acrescentado outros nomes: as Teresas, a Maria Júlia, o Comendador "Despe T.Shirts"...
LM
15 comentários:
Pela minha parte gostaria que estas
"crónicas" continuassem. São muito
bem escritas e esta até me fez
repensar a opinião que tenho da
maioria dos americanos. Eu só não
lhes consigo perdoar as duas eleições em que elegeram Bush.
Dê-nos a conhecer mais coisas, pois
ficaremos mais ricos em saber.
Curiosamente, este meu último texto continha um "PS" que desapareceu, não sei bem porquê...
Vou ter de o incluir aqui porque, em boa verdade e com excepção dos comentários "avulso", foi a única vez que me dirigi directamente aos viajantes deste blogue.
Rezava assim:
"PS:
Por iniciativa do Hugo Santos/Gin-Tonic e especial cortesia do Luis Pinheiro d'Almeida, a maior parte destas "crónicas americanas" foram também publicadas no "blog Ié-Ié". Um abraço de reconhecimento ao Luis e a toda essa comunidade bloguista que, com os seus comentários, me proporcionou momentos de agradável cavaqueira e de enriquecimento pessoal: a Karocha, a Teresa, o Camilo, o Daniel Bacelar, o Filhote, o Gouveia, o Jack Kerouac, o JC, o José, o Rato, o S(LB) e outros cujo nome me poderá escapar. Eu hei-de ir, hei-de voltar com o vento..."
Se o texto não tivesse sido escrito a 18 de Setembro, poderia ter acrescentado outros nomes: as Teresas, a Maria Júlia, o Comendador "Despe T.Shirts"...
Um Abraço!
Mea culpa!
Ao fazer o "transfer" para Mr. "Ié-Ié", o PS, que o Luís Mira agora transcreve, ficou por aqui agarrado.
Não havia qualquer motivo para não ser publicado. Bem pelo contrário!
Tufo o resto foi um enorme gosto.
Ah! Estava a ver que levava as culpas de mais esta!!!!
LT
Mais uma vez está demonstrado que o PS só serve para arranjar confusões. Belo texto, mais uma vez, como já disse anteriormente, gosto muito deste estilo de escrita.
Cheguei agora e leio isto.
Estes textos são fabulosos! Do melhor que pode haver em literatura de viagens.
Já escrevi várias vezes que me lembram os da/o Jan Morris da Rolling Stone e os do Philipe Garnier da Rock & Folk que também escrevia muito sobre cinema.
Keep on truckin´...por isso.
Gostei dos textos, aliás tenho um fascínio pelas grandes viagens e pelos bons contadores de histórias...confesso ,só não gostei da parte do Comendador "Despe T.Shirts" é uma imagem muito cruel
Comendador, Quadro Superior, enfim...
Obrigado pelo incentivo, Maria Júlia, mas "the end" é mesmo.... "the end"! As nostalgias de uma viagem só podem ser substituidas pelas saudades da próxima...
E, Caro Abel Rosa, não tive qualquer intenção de crueldade... Bem pelo contrário! Tal como a "mão de Maradona", o seu gesto foi um acto inolvidável que marcará, para sempre, a memória das nossas confraternizações!
Luis Mira
Ah AH ....Said the Clown...que grande ironia. Aquele " Despe T.SHirts" estava ali atiradito pro desprezo. é o que faz ser cavalheiro, um tipo ainda é gozado!
Vamos mas é a mais umas escriviagens e de prefrência com as referências cinéfilas.
Obrigado pela citação, Luís Mira. O enriquecimento pessoal foi, e continuará a ser (espero), recíproco.
Sem querer diminuir os méritos do nosso querido Mr. Ié-Ié, eu diria que a escrita do Luís Mira é uma das almas dos Guedelhudos, conferindo inesperada legitimidade literária ao blogue. A escrita dele, e de outros, claro (alô "transcendente" Gin-Tonic!)
43 crónicas?!? Não acredito... foram mesmo?... então soube a pouco, como tudo aquilo que realmente é bom!
Fico, ansioso, à espera do tal livro e de outras escritas.
Penetenciando-me pelo meu comentário tardio, naturalmente que não queria deixar passar este post sem agradecer ao Luís Mira, por me proporcionar inolvidáveis momentos de puro prazer e por me 'transportar' à 'Inner America', através das magníficas imagens captadas que ilustram o brilhantismo da sua pena!
Caro xará, pense no que lhe escrevi há dias porque, sem qualquer tipo de menosprezo por este estaminé do nosso amigo LT, estas pérolas merecem uma divulgação impressa e editada!
É só dizer qual o dia do seu lançamento, que lá estarei na fila!
Um abraço!
Só hoje voltei a poder entrar no computador, pelo que perdi uma parte da conversa e agora já é tarde....
Quanto a esse suposto livro, se houver novidades vocés não deixarão de as saber. Pelo menos dois compradores já há: o (S)LB e o José...!
Um abraço!
Três compradores, Luís Mira, três! Então e eu?
....tu não entras na lista como "Comprador"...! O teu é "Oferta", para compensar o CD!
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