segunda-feira, 10 de agosto de 2009

FIRST WE TAKE MANHATTAN 04


59 Canções de Amor e Ódio e Um Poema Sobre Portugal", apresentação e tradução de José Alfredo Marques, Fenda/Centelha, Coimbra, 1985

Há dias, a propósito de um texto do Luís Mira, andou-se à volta para saber se os discos do Cohen rodaram, ou não, nos bailes de garagem. Mr. Mouse não lembra que rodassem. JC, também não. Por ele recorda que os seus bailes são anteriores aos de garagem e Cohen ainda não se fazia ouvir naquele pedaço de rua da cidade, os tempos que ainda iriam correr para que isso acontecesse. Os discos que rodavam eram mais Renato Carosone, Marino Marini, Vartan, Hardy, Alberto Cortez.

Mas José Alfredo Marques, na apresentação desta antologia, lembra-se e escreve:

“Nos bailes, quando aquela música lenta, estranhamente bela ( e longa…) chegava ao fim… púnhamos outra vez no principio aquele velho álbum negro…”

Talvez não saibam que Leonard Cohen em “The Warrior Boats” deixou “uma das mais impressionantes, belas e terríveis histórias de Portugal e do seu destino”, poema incluído no seu primeiro livro “Let Us Compare Mythologies”, de 1956.

José Alfredo Marques traduziu-o e apresentou-o nesta antologia:

“Os Barcos de Guerra”

De Portugal os barcos de guerra
contorcem-se no cais,
expondo seus vigamentos.
Gerações de gaivotas caem
através dos esqueletos de madeira.

Na cidade
os belos marinheiros mortos,
intacta a sua paixão,
vagueiam pelos becos
desbaratando poemas e moedas gastas.

Garbosos bastardos !
Que lhes interessa o Império
reduzido a metade de uma península,
A Rainha tendo o conselheiro régio
como sétimo e último amante ?

Os seus mapas não mudaram.
As coxas ainda são brancas e quentes.
Novas fronteiras não alteraram
a maravilhosa paisagem de seios.
Nenhum congresso relegou a boca rubra

Por isso deixai os barcos
apodrecer nos limites da terra !
As gaivotas hão-de encontrar outro sítio para morrer.
Deixai as metrópoles portuárias vestir luto
e insignificantes funcionários
que preencham os papéis necessários.
para um distrito longínquo.

Mas, vós, fazei as malas
meus inimigos marinheiros !
Ide vagueando pelos becos
desbaratando os vossos poemas e moedas gastas.
Ide batendo em todas as janelas da cidade.

Em algum lugar encontrareis o meu amor,
adormecida e esperando.

E mal posso saber há quanto
ela sonha com todos vós.

Levantai suavemente o meu casaco
dos seus ombros.

Colaboração de Gin-Tonic

5 comentários:

Anónimo disse...

Já tinha sido referido no blog

http://guedelhudos.blogspot.com/2008/08/poema-sobre-portugal.html

Gin-tonic disse...

É uma vaerdade, caro anónimo, e o editor teve o cuidado de logo na primeira linha do "post" fazer o respectivo "link" para essa publicação. Com tanta coisa pra divulgar, sente-se na obrigação de dizer que, de modo algum, é adepto de repetições. Mas algumas merecem que isso aconteça. Esta é uma delas e terá que confidenciar que a primeira publicação do poema de Cohen no "Ié-Ié" lhe passou completamente ao lado.
Um abraço

ié-ié disse...

Também nada tenho contra as repetições, sobretudo quando os comentários são bem mais interessantes do que o próprio post...

Mas sim, repetições sem comentários podem evitar-se. Confio nos meus reguladores!

LT

Anónimo disse...

Como o blog é nosso :)

Anónimo disse...

Neste caso não é repetição :)

Escrevi "Já tinha sido referido no blog"

e não "Repetido !!!"