domingo, 3 de agosto de 2008

POEMA SOBRE PORTUGAL


De Portugal os barcos de guerra
contorcem-se no cais,
expondo seus vigamentos.
Gerações de gaivotas caem
através dos esqueletos de madeira.

Na cidade
os belos marinheiros mortos,
intacta a sua paixão, vagueiam pelos becos
desbaratando poemas e moedas gastas.

Garbosos bastardos!
Que lhes interessa o Império
reduzido a ametade de uma península,
a Rainha tendo o conselheiro régio
como sétimo e último amante?

Os seus mapas não mudara.
As coxas ainda são brancas e quentes.
Novas fronteiras não alteraram
a maravilhosa paisagem de seios.
Nenhum congresso relegou a boca rubra
para um distrito longínquo.

Por isso deixai os barcos apodrecer
no limite da Terra!
As gaivotas hão-de encontrar outro sítio para morrer.
Deixai as metrópoles portuárias vestir luto
e insignificantes funcionários
que preencham os papéis necessários.

Mas, vós, fazei as malas
meus inimigos marinheiros!
Ide vagueando pelos becos
desbaratando os vossos poemas e moedas gastas.
Ide batendo em todas as janelas da cidade.

Em algum lugar encontraréis o meu amor,
adormecida e esperando.

E mal posso saber há quanto
ela sonha com todos vós.

Levantai suavemente o meu casaco
dos seus ombros.

"59 Canções de Amor E Ódio E Um Poema Sobre Portugal", Leonard Cohen, Fenda/Centelha, 1985, 128 págs.

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