domingo, 30 de agosto de 2009

MIKE SEEGER (1933-2009)


Um qualquer personagem do jet-set, em férias no Algarve, dá um peido e, de imediato, a notícia fica escarrapachada por aí, o Cristiano Ronaldo muda de brinco e a SIC faz um directo, um obscuro jogador espanhol morre num hotel em Itália e durante todo o dia é notícia nos telejornais.

Mike Seeger morreu no dia 7 de Agosto de 2009. Tinha 76 anos.

Mas apenas conseguiu saber a notícia, num curto obituário assinado por João Lisboa, no “Expresso” de 15 de Agosto, e que, espantosamente omitia que Mike Seeger tinha estado na Culturgest, em Fevereiro deste ano, no âmbito de um ciclo dedicado à Folk Music (“Hootenanny”) organizado por Ruben de Carvalho.

João Lisboa não é um qualquer estagiário de serviço, é um jornalista com tarimba e não se percebe a omissão. De modo algum gostaria de pensar que a omissão se deve ao facto de o ciclo ter sido organizado por esse perigoso comunista que dá pelo nome de Ruben de Carvalho, que tem o péssimo defeito de gostar de folk music, da história dos Estados Unidos, de “film noir”, de romances policiais.

Mike Seeger pertencia ao clã dos Seeger, era meio irmão de Pete Seeger e que, juntamente, com os Lommax, e tantos outros, dedicou toda uma vida à divulgação da história da América, a outra parte da história da América, a dos tempos tenebrosos do racismo, do mccarthysmo, da violação dos direitos humanos.

Fundou o grupo de música tradicional “The New Lost City Ramblers” e deixou gravados mais de 40 álbuns, a solo e em grupo.

Old-time rural music remains at the center of my life. It's a tactile, emotional, aural pleasure — the words are my Shakespeare and my mysteries, the music is my Bach, my pastime, and it makes me want to dance... Classic, timeless qualities in this music endure. For me, there ain't no way out but nature, and I'll make the most of it.

Tinha um cancro terminal e de, repente, tão só de repente, por motivos muito seus parou com os tratamentos.

"A pessoa preparar-se para a morte é a grande finalidade da vida", deixou escritoVictor Cunha Rego.

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

JC disse...

Então, Gin-Tonic, esqueceste a Hazel Dickens que tb está na capa. Tenho dela um excelente LP, "Hard Hitting Songs for Hard Hitting People", uma edição portuguesa da defunta Dargil.
Abraço

JC disse...

Já agora, Gin-Tonic, tb esqueceste de acrescentar que o "perigoso comunista" é um estudioso do fado, c/ obra publicada de indispensável leitura para quem gosta do fado de Lisboa.

gin-tonic disse...

O sapateiro não deve ir além da chinela e falta-me bagagem para me pronunciar sobre a obra de Mike Seeger e todas sa suas envolventes. O post outro intuito não tinha do que continuar a lamentar o nível de javardice a que a nossa imprensa, mesmo aquela que se intitula de referência, chegou. Hoje em dia apenas têm em vista - jornais e televisões - contemplar os gostos (?) daquilo que tu, com piada,, chamas o "povo da SIC". Era apenas isso. No more.
Ainda pensei ilustar o post com o bilhete do concerto que o Mike Seeger, numa chuvosa noite de 3 de Fevereiro, deu na Culturgest, mas decidi-me por recorrer à excelência da discoteca do Luis Mira mas, infelizmente, os discos de vinil e a solo do Mike Segger estão numa outra casa, assim um pouco como Mr. Ié-Ié ter discos por aqui e em Pinheiro de Lafões.
Em resumo: o Mike Seeger serviu apenas para denúncia do estado a que, culturalmente, chegámos. Como dizia o Guillevic é mau a gente habituar-se.