domingo, 2 de agosto de 2009

MÃOS RIGOROSAMENTE VIGIADAS 01


(imagem de Rita Carmo/Espanta Espíritos - BLITZ)

It’s four in the morning, the end of July, I’m writing you now just to say that you’re fine…!

Há muitos, muitos anos atrás a minha masculinidade foi posta em causa pelos meus amigos, por culpa do Leonard Cohen…

Eu explico-me melhor…

Naqueles tempos (finais dos anos sessenta…) era habitual organizarem-se as festinhas de Sábado à tarde nas caves, sótãos ou garagens de amigos. As mães tratavam dos sumos, das sandes e dos bolinhos secos, arrebanhavam-se umas miúdas amigas e amigas de amigas e montava-se a festa…

A estratégia era começar por agitar a malta, e por isso era habitual serem os Creedence, os Doors ou os Ten Years After os primeiros a saltar para arena. Mas quando se punha Leonard Cohen no gira-discos (ou em fita pré-gravada, como era habitual) a mensagem de código estava dada: reduziam-se ao máximo as fontes de luz, as persianas desciam para lá do mínimo imposto pelas mães e sabíamos todos que era chegada à hora do “apertanço”, tacitamente aceite ou deitando-se o barro à parede, que depois se veria…

Para todos menos para mim, que sempre me recusei a utilizar o Cohen para essas operações. Ficava sentado de pernas estendidas a contemplar o vazio (já na altura…) e a beber sofregamente essa música que parecia surgir das brumas e das sombras. Enfeitiçado por aquela voz, aquele tom único do dedilhar da viola. E nem o facto de só a muito esforço ir conseguindo desbravar o sentido daquelas letras me preocupava minimamente. Aquele som bastava-me, tal como me bastava o som de muitas canções irlandesas cujo dialecto próprio as tornava, para mim, absolutamente intraduzíveis. Ou como me bastaria, muitos anos mais tarde, o mistério das vozes búlgaras…

Em boa verdade, não conseguia ouvir Cohen de outra maneira, o que dava azo a alguns comentários sarcásticos por parte do resto da maralha. Não que não me soubesse bem ouvi-lo com uma boa companhia ao lado… Mas com mãos rigorosamente vigiadas. Uma simples festa no cabelo seria mais que suficiente…

Quarenta anos se passaram e eu não mudei em nada. Continuo sentado no meu lugar a escutar. À minha volta as pessoas agitam-se. Há um bambolear de ancas, pezinhos que se mexem… Palminhas, gritinhos estridentes, braços esvoaçando pelo ar em sinal de grande satisfação…. E os antigos isqueiros na escuridão são agora substituídos pelos telemóveis e pelos irritantes flashes das modernas máquinas de filmar/fotografar. Pobre Leonard!

LC faz parte daquele muito reduzido grupo de pessoas que são absolutamente indispensáveis na minha vida, e cujo desaparecimento, um dia, me deixará um profundo vazio. Como aqueles Amigos que, estando longe, estão sempre bem dentro de nós, mesmo quando damos a sensação de os acolher sem grande afectividade. Chorarei, com certeza, no dia em que partir...

E durante muito tempo se pensou que LC tinha, de facto, partido. Não da vida, porque o sabíamos ocupado com outras coisas. Mas das lides… Ao ponto de, a determinada altura, eu próprio ter dado comigo a imaginar a sedutora teoria de que Cohen, esse homem de palavras, se tinha despedido de nós com um instrumental: o belíssimo “Tacoma Trailer”, última faixa de “The Future”. Como se a sua voz se tivesse desvanecido no piano/cravo e o pudéssemos imaginar de costas a sair de cena pela estrada fora, como no final de um filme do Charlot. É que entre “The Future” (1992) e “Ten New Songs” (2001) passaram nove anos, uma eternidade que nunca antes se tinha verificado entre discos.

Mas ainda bem que a minha brilhante teoria saiu furada. Tanto “Ten New Songs” como “Dear Heather” são bons discos - talvez mais aquele do que este – embora não cheguem aos calcanhares das minhas jóias da coroa, que são os três primeiros. Os seus críticos acusaram LC de se ter deixado manietar pelas mulheres (Sharon Robison no primeiro caso, Anjani Thomas no segundo), como já antes o fora por Phil Spector no “Death of a Ladies’ Man”. E de ter deixado a sua música ser invadida por uma batida jazzy de elevador e por coros femininos delicodoces. Mas esqueceram-se de duas coisas: que manietado pelas “ladies” sempre ele o fora; e que magníficas vozes femininas existem desde o seu primeiro disco, nesse longínquo ano de 1967. Muito antes dos tempos da Jennifer Warnes…

Se as minhas contas não falham, é a quarta vez que LC se apresenta em Portugal. Cascais primeiro, depois no Coliseu nos finais dos anos oitenta e no ano passado em Algés. Só este último falhei, porque valores mais alto se levantaram.

Dos dois primeiros concertos guardo a excelente memória de um LC em grande forma e de uma muito ligeira e agradável tonalidade “Country” dada a muitas das canções dos primeiros tempos, como se Cohen se tivesse lembrado que foi precisamente num grupo “Country” – os “Buckskin Boys” – que começou a sua aventura musical. Ainda andei, na altura, à procura de “discos pirata” que o tivessem captado ao vivo nessa fase, mas não encontrei nada, embora essa batida se sinta de passagem em algumas músicas do documentário da BBC “Songs From The Life of Leonard Cogen” (1988), que teve edição em vídeo entre nós.

Para o concerto de ontem, as minhas expectativas eram muito baixas. Bastava-me ter visto que o recente “Live in London” tem apenas cinco músicas (num total de vinte e seis…) anteriores a “New Skin….” para ter percebido que não faço parte do “público alvo” deste espectáculo…

O que é que eu hei-de dizer…? Que o concerto seguiu, quase na integra, o alinhamento do de Londres? Que esteve a milhas dos dois concertos anteriores que tinha visto? Que a voz de Cohen, lá do alto dos seus quase 75 anos, já não está, propriamente, “like it was before”? Que as tais vozes femininas nem sempre me apareceram tão afinadinhas como se poderia esperar? Que os seis músicos que o acompanharam me pareceram competentes mas, por vezes, demasiado exuberantes (mas havia que fazer descansar a voz de LC…)? Que algumas canções foram completamente assassinadas (“Suzanne”, por exemplo …)? Que o Pavilhão Atlântico não é local onde mais desejaríamos assistir a um concerto de LC? Que os urros da assistência me irritaram solenemente? Mas não sejamos assim tão derrotistas, porque momentos bons também os houve: ver LC em tão boa fora, aos saltinhos pelo palco; “Tower of Song”, com o coro a funcionar na perfeição, em especial a menina da boina com os cabelos (des)cuidadamente espalhados pela face, que também toca harpa; “Take This Waltz”; “Boogey Street”, mas aqui os créditos vão, inteirinhos, para a excelente voz de Sharon Robison.

Mas, em boa verdade, borrifo-me em tudo isso. O que eu queria mesmo era poder rever LC, antes de morrermos os dois… E não posso, egoisticamente, deixar de reconhecer que foi bom que tivessem continuado na penumbra, e não assim devassadas em público, algumas das pérolas mais escondidas da minha especial predilecção: “The Stranger Song”, “One of Us Cant Not be Wrong”, “The Old Revolution”, “Why Don’t You Try”, cujo final é o melhor pedaço instrumental da obra de Cohen, para além da referida “Tacoma Trailer”; “If it Be Your Will”, “The Guests” …

E sabe tão bem ver Leonard Cohen …

I guess that I’ll miss you, Leonard, e por isso vou ter de ser muito mauzinho… Desejo que, algures, um produtor, um manager ou um simples contabilista te volte a ir à carteira e te obrigue a voltar à estrada. Sei bem que só assim poderei ter o prazer de te rever…

Not for just an hour
Not for just a day
Not for just a year
But always

Sincerely,

Luís Mira

PS: Nestes tristes tempos, já nem sequer os bilhetes dos espectáculos têm a personalidade dos do antigamente…!

PS do editor: perto de 10 mil pessoas viram este concerto.

26 comentários:

(S)LB disse...

Ora aí está, LT, a 'estória' que te contei sobre a razão desta digressão de LC.

Foi enganado, tal como o Makukula!

P.S. Bela prosa! Parabéns, LM!

Teresa disse...

Eu costumo dizer que a seguir a Leonard Cohen só se pode ou pôe música clássica ou... mais Leonard Cohen.

Foi assim que vivi o concerto de 1985 (com retrato com bilhete e tudo):
http://gotaderantanplan.blogspot.com/2008/02/o-concerto-da-minha-vida-leonard-cohen.html

Rato disse...

Também eu participei (mais ou menos activamente) nas festinhas de garagem (no meu caso eram mais de sótão) dos anos 60 e, que me lembre, nunca ouve a ousadia de incluir Cohen no molhe de discos a fazer girar no 45 portátil. Até porque o conhecimento das músicas do "canadiano errante" veio um pouco tarde, já nos anos 70. E também porque LC é para ser ouvido a sós ou então em grande cumplicidade. Os slows para a "marmelada" vinham de outros nomes, como por exemplo os Bee Gees ou Percy Sledge.

JC disse...

"Eu costumo dizer que a seguir a Leonard Cohen só se pode ou pôe música clássica..."
Confesso, cara Teresa, que essa história de considerar assim a música erudita (dita "clássica")como um todo alternativo a uma tal "música ligeira", como se uma sinfonia de Mahler, um divertimento de WAM, uma ópera de Wagner ou uma peça de Ligeti ou Schöneberg fossem tudo a mesma coisa (idem para Rolling Stones ou Amália;Brel ou Beatles) me deixa os nervos em franja. Será que alguma vez diz que lhe apetece ouvir música ligeira, seja lá o que isso fôr?Desculpe, mas acho essa sua expressão contém em si um misto de pedantismo e sacralização da música erudita totalmente a despropósito, para além de uma classificação obsoleta c/ a sua quota parte de responsabilidade na limitada divulgação daquilo que importa: a boa música.

JC disse...

Para o "roça, roça que já o Jean Jacques Rousseau", Rato. Mas de acordo: não me lembro do LC em festas de sotão ou garagem, o LM que me desculpe.

J G disse...

foi sublime;

http://grandesons.blogspot.com/2009/07/leonard-cohen-no-pavilhao-atlantico.html

ié-ié disse...

Perdoai-lhes, Senhor, que não sabem o que dizem!

Tenham tento: o Bob Dylan não tem voz e acaso Leonard Cohen tem?

E o que Cohen tem que Dylan não tem?

Nunca entendi esta excitação pelo Cohen!

Só se fôe pela "marmelada", que também aproveitei em "Suzanne", "So Long Marianne"...

Mas isso também Dylan me proporcionou com mais-valia, "Lay Lady Lay", etc e tal!

LT

filhote disse...

Para mim, Cohen nada tem a ver com Dylan. Não vislumbro a ligação.

Ao contrário de Cohen, Dylan sempre foi um "Rock'n'Roll Star" - mesmo quando "folkie".

JC disse...

Peço desculpa, LT, mas para além de não entender o teu comentário (alguém falou em Dylan ou comparou as respectivas capacidades interpretativas? Para além de "voz" que é uma coisa que desconheço o que seja e nos remete para a música da era pré-rock n' roll...)não acho Dylan e Cohen tenham mtº em comum. Dylan mergulha as raizes da sua música na música popular americana, no "blues", no "folk", no "country" (o LM sabe disso bem mais do que eu) e, de uma maneira ou outra, integra-se no movimento político, social e musical da América dos anos 60. Cohen está um pouco à margem de tudo isso. Diria que está mais perto da canção de texto europeia, mas com todo o "background" da cultura norte-americana do pós-guerra, incluindo a da Beat Generation e também (acho) a da chamada escola de NY (Frank O'Hara, p. ex.). Por alguma razão Dylan "nasce" da música e Cohen da poesia.

Teresa disse...

Caro JC,
Não há qualquer espécie de pedantismo naquilo que escrevi.
Se não percebeu o que eu quis dizer, o problema não está em mim, e não vou perder tempo a explicar-lho.
Parece-me que todos os mais perceberam.

JC disse...

Bad temper, Teresa, bad temper. Olhe, depois de uma resposta como a sua apetece-me ouvir música ligeira. Que acha do "É o bicho, é o bicho"?

Teresa disse...

JC,
Agora teve graça e fez-me rir, e eu perdoo tudo (ou quase tudo) a quem me faça rir. Achei a sua resposta agressiva e empoleirei-me nas minhas tamanquinhas, que quer.
Mas isso que sugere não, por amor de Deus!
Eu sugeria uma coisa mesmo muito ligeirinha (e deliciosa). Que tal Something Is Happenning, dos Herman's Hermits? Mais ligeiro não pode haver.

Aos Luíses, Titá (anfitrião) e Mira (correspondente): esqueci-me de dizer que esta entrada foi hoje de manhã bem cedo para o meu Gota de Ran Tan Plan, como entrada da semana.

É que gostei mesmo muito, revi-me na maneira como sempre senti LC. Não vivi as festas de sótãos e garagens, nasci em 60 e tive uma adolescência muito austera,saídas à noite só quando o rei fazia anos, mas confesso que achei a observação do Rato muitíssimo pertinente: não estou a vê-lo tocar nessas festas. Mas é a tal coisa, não as vivi.
Grande proeza minha já era, nos anos 80, fazer com que ele tocasse no Stone's (ele e outras maravilhas, nas noites de semana, em que éramos só nós e os empregados).

Na noite de 18 de Fevereiro de 85, data do concerto de Cascais, recusei-me a sair a seguir. Queria ir para casa ouvir Leonard Cohen. E até escrevi sobre isso, deve estar algures em casa da minha Mãe.

Uma santa noite a todos :)

JC: Cachimbo da paz?

Gin-tonic disse...

Na eventualidade de o silêncio do Luis Mira causar alguma estranheza: encontra-se em férias e voltará depois do dia 15 de Agosto.

JC disse...

Needless to say, Teresa. Tem poder de encaixe e sentido de humor, o que revela inteligência! No hard feelings, portanto. Claro que o meu comentário foi propositadamente agressivo. Mas há algum mal nisso, neste país de brandos costumes? E olhe, quanto aos HH, que acha, em vez deles, antes o "Simon Says" da 1910 Fruitgum Company? Bubblegum do autêntico!
Já agora, o LC em Cascais não foi antes de 85? É que tb lá estive e pelas companhias do momento fico c/ essa ideia.
Cumprimentos

JC disse...

Gin-Tonic: tb estou de férias, excepto que virei no sábado à Catedral. Mas, que raio, nas férias o LM não tem acesso à net?
Abraço

ié-ié disse...

Desculpa, Gin-Tonic, mas não há desculpa! Também o teu amigo Cavaco Silva foi de férias, mas levou um "jeep" carregado de diplomas...

Que diacho!

LT

Gin-tonic disse...

Caro JC: O Luis Mira odei-a a net. Se pudesse ainda escrevia em ardósia e mandava mensagens por pombo correio. Me too!
Também um abraço

JC disse...

Como diria o Humpá Pá em relação ao "irmão cavalo", o pombo correio tem pelo menos uma utilidade: em caso de necessidade podemos comê-lo!

Teresa disse...

JC,
«I think this is the beginning of a beautiful friendship», pegando nas palavras finais de Bogart em Casablanca :)

O Simon Says de que fala poderá ser uma coisa que conheço como Simple Simon Says? Agora vejo que não tenho isso, amanhã procuro, que agora tenho de ir dormir (os meus dias começam cedo).

Muito bem. Vamos avacalhar ainda mais. Aqui ficam as minhas propostas:

a) Lilly the Pink - Scaffold
b) Mademoiselle Ninette - Soulful Dynamics

It doesn't get better (worse) than this! :)

A não ser que me provoque muito, e eu acabo mesmo por sugerir Mar de Rosas, a versão brasileira de Rose Garden, por uns tais Fevers. O meu caro amigo nem sonha como eu posso ser perversa! :)

Uma noite descansada para todos.

Teresa disse...

P.S. para o JC:
O bilhete do concerto de 85 está digitalizado e aparece na link que dei lá em cima. E eu tenho uma memória doentia para datas. Foi 85, sim. E andei anos à procura de Tennessee Waltz, que cantou nessa noite e eu não conhecia. Contou que era a música favorita dos pais. Mais alguém se lembrava disto?

Já o concerto de 88 no Coliseu desapontou-me muito (o que julgo que digo nas respostas aos comentários). Nunca lhe perdoarei a maneira como cantou Bird on the Wire, para mim a que melhor o conta. Foi a música de abertura e de fecho do concerto de 85, não pode ter sido imaginação minha, pois não?

(S)LB disse...

Agora que foram oficialmente decretadas as tréguas (uffff!) venho cá só reatear o fogo e dar no côco do latinista LT, esse guardião-mor da pátria do Caetano Veloso ("minha Pátria é minha Língua"), para lhe relembrar que já existe um palavra em Português, para "jeep", que é ..."jipe"!

Mas compreende-se a falha, devido à época estival, onde abundam os termos derivados dos estrangeirismos, sejam anglicismos, ou galicismos.

Um "hugh, deste "friend"!

JC disse...

É essa mesmo do "Simple Simon Says", Teresa. E se vamos por musiquinhas do género, faço-lhe uma lista. Mas eu gosto de Bubblegum Music. Assumo, pronto, e não acho defeito mtº menos incompatível c/ Wagner. Quanto ao Cohen, como sou mtº radical fico-me pelos três 1ºs álbuns e recomendo alguma poesia. "The Energy of Slaves", p. ex (ouviste, Gin-Tonic?)
E tem razão quanto á data de Cascais: 18.03.85. Foi um excelente concerto. Não o tornei a ver, pois a sua música depois desses 1ºs 3 álbuns desilude-me um pouco.
All the best.

ié-ié disse...

Peço desculpa, caro (S)LB, mas erraste o alvo! Completamente!

Um "jeep" é um "jipe", mas um "jipe" pode não ser "jeep".

Poderia ter sido Fernando Pessoa a dizê-lo!

LT

(S)LB disse...

"To be or not to be..."

Deduzo, pelas suas palavras, que o Senhor Aníbal anda agora a fazer publicidade automóvel!

Na mosca (mouche), mesmo!

Mas, calculo que para o Sr. Dr., "pepper in the other guys' ass, for you, it's softdrink!" (pimenta na bunda dos outros, para si é refresco!)

filhote disse...

Que bela crónica do Luís Mira, senhores!!!

(isso é que importa)

Luis Mira disse...

Caro LPA, Caro JC, Caro Rato!

Pois não levo o PC a banhos, embora o cenário de me ver estendido à beira de uma piscina, charuto na mão direita e uma bela "Marguerita" na mão esquerda a ler os textos dos vossos blogues não seja nada desprezível...

Não sou, de facto, um animal informático e, sempre que posso, o computador fica de castigo no quarto escuro. 90% das minhas utilizações são estritamente profissionais e, dos 10% que restam, 90% são utilizados em compras e pesquisas para as ditas. Nunca criei o hábito de navegar pelos blogues e, se por aqui ando, isso deveu-se a motivos alheios à minha inicial vontade que já tive oportunidade de explicar.

É claro que isto não contem nenhum juizo de valor sobre os referidos blogues, tanto mais que aqueles que os amigos têm a amabilidade de me recomendar (incluindo os vossos) são, quse sempre, de elevadíssima qualidade. Mas não consigo encontrar o tempo e o reflexo condicionado para os frequentar com maior regularidade.

E confesso que me chateiam estas maquinetas, que estão sempre a emperrar...

Por isso, sou daqueles que preferem um bom livro ao colo e se tenho alguma dúvida a esclarecer, o meu maior prazer é conseguir fazê-lo na minha própria estante, e não em qualquer Wikipedia de acesso universal. Manias...

Talvez quando me reformar esse tempo surja. Mas já tenho tanto coisa para fazer: centenas de filmes para ver, aprender a cozinhar, eu sei lá...

O texto do Cohen era uma brincadeira privada, tal como tantos outros que tenho feito, e não se destinava a publicação. Mas não é grave, embora tenha um pendor demasiado intímo.

Quanto às festinhas dos finais dos anos 60, eu abandonei essas lides relativamente cedo porque comecei a acompanhar gente de uma outra geração, quatro ou cinco anos mais velhos do que eu, o que, naquela altura, era muito... Mas não tenho a mais pequena dúvida da passagem do Cohen por essas bandas. Mas muita coisa deve ter pesado nessas escolhas, a começar pelos gostos e conhecimentos de quem as organizava e a possibilidade de acesso aos discos. No nosso caso (meu e de um "small circle of friends") ela foi relativamente precoce e não apenas a partir dos anos 70, como refere o Rato. E até me lembro de ter visto o Tim Buckley do "Goodbye and Hello" por lá passar, que também era um disco da nossa especial predilecção...

Um abraço do

LM