terça-feira, 7 de outubro de 2008

WHISKY A GO GO


Em toda a minha vida de "amante de música" houve salas de espectáculos que tiveram sempre para mim uma aura mística: as duas Filmore, East e West, o Carnegie Hall, o Scalla, o Radio City Music Hall, o ApolloTheatre, o Village Gate, o Birdland, o Blue Note, o Sands, o Hollywood Bowl, o Royal Albert Hall, o London Palladium, o Ronnie Scott's, o Ryman de Nashville, eu sei lá...

Dessas, algumas visitei-as por fora, outras pude vê-las por dentro e outras ainda (muito poucas, infelizmente...) tive a sorte de poder frequentar em dia de espectáculo normal. E outras há em que nunca pus a vista em cima...

Mas mentir-vos-ia se não dissesse que, de todas elas, a mais mítica para mim era o "Whisky A Go Go", de Los Angeles.

Não pela estranheza do nome, mas devido a um senhor chamado Johnny Rivers, que lá gravou aquele que, em minha opinião, é um dos melhores discos "Ao Vivo" que conheço. Não me lembro de sentir tanto em disco a vibração de uma sala como nesse disco. Não tenho o disco à mão para vos garantir, mas parece-me ser uma gravação de 1964 ou 1965 (1964, ano da inauguração do Whisky A GoGo - nota do editor).

Mas tenho à mão o venenoso artigo que o então jovem jornalista, Peter Bogdanovich, escreveu em Fevereiro de 1965 e que incluiu, mais tarde, na sua colectânea "Pices of Time". Com o título "Nacos de Tempo - Crónicas de Cinema", essa colectânea teve direito a edição portuguesa nos Livros Horizonte, na saudosa colecção "Horizontes de Cinema", dirigida pelo Salvato Teles de Menezes.

Bogdanovich teve vergonha de lá ter ido e avisa-nos, muitos anos depois, que "inclui o artigo neste livro porque descreve uma parte da cena hollywoodiana da qual sempre conseguiu manter-se afastado". Não vá o diabo tecê-las...

E o que é que diz Bogdanovich? Diz que o "Whisky" se "tornou, rapidamente, no clube mais quente da América" e descreve-nos assim o seu ambiente: "Homens e mulheres sem conta abanam-se, contorcem-se, saracoteiam-se, giram e chocam numa compacta orgia de movimento. Ninguém poderia pensar que fosse possível, mas o ruído efectivamente aumenta. O nosso espírito procura selvaticamente um bom cliché descritivo: A jaula dos leões? O circo romano? O poço das serpentes? Não, mais do que isso; chegámos à conclusão de que nos faz lembrar a descrição que se costuma fazer do dia antes da Bomba".

E termina assim: "Por agora os outros clubes estão meio cheios ou vazios enquanto as paredes do Whisky A Go Go tremem e se dilatam cinco vezes mais do que as suas capacidades. É mais divertido? É melhor? É mais barato? Não pá, está na moda. Go, go".

Resta-me explicar-vos que Bogdanovich passou por lá no dia de um dos espectáculos do Johnny Rivers...!

Depois desse, lembro-me de ter visto outros discos gravados ao vivo no"Whisky A GoGo", mas nenhum deles me despertou interesse. E lembro-me, também, de ter lido àcerca de concertos memoráveis que lá deram os Doors, os Byrds, e tantos outros.

Quando passei agora por LA, não pude deixar de lá ir, sem saber muito bem se ela ainda existia, ou não. Mas lá está, na sua esquina da Clark Street com a Sunset Boulevard.

E com espectáculo nesse dia à noite, com gente completamente desconhecida para mim...

Colaboração de Luís Mira

3 comentários:

josé disse...

Isto faz-me lembar os textos de Phillipe Garnier.

Era o que gostava de ler na Rock & Folk, as crónicas americanas da California.

Mais. Venham mais.

Rato disse...

GRANDE, GRANDE ALBUM ESTE!
Foi uma das minhas primeiras iniciações ao Rock americano e ainda hoje conservo um grande carinho por ele.

ié-ié disse...

Que me perdoem os meus doutos comparsas, mas semprei achei o Johnny Rivers um pouco pró apimbalhado. Só fui atrás dele por causa das versões dos Beatles.

LT