domingo, 5 de outubro de 2008

LIBERDADE ECONÓMICA


GUILDA DA MÚSICA - 2000/009/S - 1975

A Boca do Lobo (Sérgio Godinho) - Liberdade Económica (José Mário Branco/Fausto)

Curiosamente, durante o período revolucionário, com o país transformado num caldeirão de ideias e emoções, pouca ou quase nenhuma música popular com qualidade se terá composto e editado.

Terá sido mesmo dos períodos mais negros nessa matéria, talvez porque as prioridades fossem outras e a inenarrável "Gaivota Que Voava", o "one hit wonder" de Ermelinda Duarte que elegeria sem grande esforço como o pior tema de sempre da música portuguesa (claro que haverá piores, mas estas coisas revestem-se sempre um carácter muito particular), é um bom exemplo disso mesmo.

Que me lembre, por excepção, apenas os singles iniciais do GAC, com a tentativa de ligação entre a música e as chamadas "lutas populares", merecem alguma atenção, mais pela inovação do que pela qualidade musical em si.

Os seus LPs dos anos seguintes, já limados do imediatismo inicial, iriam confirmar e amplificar as primeiras impressões como o que de melhor se fez no período pós 25 de Abril.

Tendo dito isto, até dos lados de Sérgio Godinho, que, por vezes, faz coisas muitos boas e raramente as faz muito más, vieram notícias negativas.

Este "Na Boca do Lobo", que concorreu ao Festival da TV de 1975 pela voz de Carlos Cavalheiro e ficou em 2º lugar, é uma dessas infelizes raridades.

No lado B tem uma composição de J. Mário Branco e Fausto chamada "Liberdade Económica" e o disco, editado pela Sassetti, tem arranjos de Pedro Osório e José Fortes como técnico de som.

Colaboração de JC

8 comentários:

josé disse...

Então o primeiro LP da Banda do Casaco, Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios e o Lp de José Afonso, Coro dos tribunais, que tem uma das melhores composições do músico - O Homem voltou?

E até o disco de Fausto?

Isto do período mesmo de PREC ( 1974-Novembro 75).

JC disse...

1. A Banda do Casaco, que por aqui entusiasma mtª gente (eu sei), nunca me entusiasmou. Feitios...
2. "Coro dos Tribunais" está longe de ser um dos melhores discos de José Afonso. Se compararmos com o anterior "Cantigas de Maio"...
3. "Pró Que der e Vier"? Muito longe do Fausto que realmente vale a pena, o de "Por Este Rio Acima".
Abraço, José

Rato disse...

"Cantigas do Maio" é de 71. Depois dele, e antes do 25, surgiram ainda "Eu Vou Ser Como a Toupeira" (72) e "Venham Mais Cinco" (73). De qualquer modo, e concordo com o jc, a fase clássica (e melhor) do José Afonso vai de 1970 a 1973. E até é comprensível - as mordaças soltam a imaginação e a criatividade que usualmente necessitam de condições adversas para resplandecerem.

gin-tonic disse...

De acordo, Rato: o melhor de José Afonso é o que vai até 1974. É estranho mas é assim e isto daria pano para mangas e não um comentário. Passa-se o mesmo com os escritores: enchiam-nos os ouvidos de que tinham as gavetas cheias de originais, que só não publicavam por causa da censura e veio depois a verificar-se, que, não só não tinham nada como os que tinham e publicaram, e o que de novo fizeram não chegou aos calcanhares do que até aí tinham escrito. Há uma excepção - haverá mais mas, como não sou "magister" falo apenas do que sei - Alexandre Pinheiro Torres. Tinha realmente a gaveta cheia de originais e quando os publicou percecebu-se logo que a censura não o permitiria, apreendendo-os de imediato, e é se houvesse algum editor que os publicasse. Refiro-me essencialmente "A Nau de Quixibá", "O Adeus às Virgens", "A Quarta Invasão Francesa".
Em relação aso restantes escritores foi, com escassas excepções, uma desilusão, grande ou pequena consoante as circunstâncias. Mais umas achegas: Lobo Antunes só surge depois de Abril e José Saramago, toda a sua produção depois de Abril não é de gaveta. Tem, no entanto, um livro de antes de 25 de Abril que poucos conhecem mas é um belissimo livro: "Manual de Pintura e Caligrafia"
Já agora dizer que Saramago tem alguns livros de que não gosto mesmo nada.

JC disse...

Correcta e pertinente a observação, Rato. Mas eu disse anterior e não "imediatamente anterior". Apenas referi o "Cantigas de Maio" e não os dois subsequentes por ser o melhor de José Afonso (e não só). Mas, já agora, senão o melhor pelo menos um dos melhores de Sérgio Godinho ("Coincidências") e já bem posterior ao 25A.

gin-tonic disse...

Caro JC: permita-me dizer que o caso do Sérgio Godinho pós-25 de Abril não tem nada a ver com os autore/cantores restantes da MPP. outros da MPP. É quase um processo ao contrário do José Afonso. ou do Adriano, se bem que também tenha boas coisas antes de Abril Tirando algum tempo do PREC, o Sregio Godinho tem coisas muito interessantes. Opinião minha mas, por vezes, a ignrância é aaatrevida.

JC disse...

De acordo, gin-tonic.

rapaz disse...

‘Sérgio Godinho, que, por vezes, faz coisas muitos boas’, nas tuas palavras, esse 'por vezes' parece-me mal, muito mal. Conheço toda a discografia do Sérgio, de 1971 a 2008. Raros são, no mundo inteiro, os países que tem um cidadão que tão bem o observa, descreve, critica e eleva. Como músico, é só perguntar a um outro músico, como poeta, aceito que haja quem não goste, pela sua eloquência. Cumprimento, Francisco