Um dia recebi uma chamada de Bob Seidemann, que conhecera em São Francisco. Para além de fotógrafo, Bob era um homem vagamente excêntrico e muito engraçado.
Tínhamos passado grandes momentos juntos nos tempos do Pheasantry. Parecia uma personagem saída de um desenho de Robert Crumb, que também era amigo dele.
Era muito alto e tinha um cabelo comprido e encrespado, todo eriçado para trás, um nariz e um rosto muito grandes e umas pernas longas e delgadas.
Bob disse-me que tinha uma ideia para uma nova capa para nós. Não quis dizer o que era, mas ia concluí-la e mostrá-la quando estivesse pronta.
Quando finalmente a apresentou, lembro-me de pensar que era deliciosa.
Era uma fotografia de uma rapariga nova e pubescente de cabelos ruivos encaracolados, fotografada da cintura para cima, nua, segurando um avião prateado e bastante modernista que tinha sido desenhado pelo meu amigo joalheiro Micko Milligan.
Atrás dela via-se uma paisagem com uma colina verde, fazendo lembrar os Bershire Downs, e um céu azul com nuvens brancas a passar.
Eu adorei-a imediatamente porque achei que captava muito bem a definição do nome do nosso grupo - a justaposição da inocência, sob a forma de uma rapariga, e da experiência, da ciência e do futuro representados pelo avião.
Disse a Bob que não devíamos estragar a imagem com o nome da banda na capa e ele teve a ideia de o escrever no papel do invólucro. Quando retirávamos a capa, ficava uma fotografia imaculada.
Mas a capa causou um grande tumulto. As pessoas diziam que a representação da jovem era pornográfica e nos Estados Unidos os distribuidores ameaçaram boicotar o disco.
Como estávamos prestes a embarcar numa grande digressão pela América, não tivémos outro remédio senão substituí-la por uma fotografia nossa na sala de Hurtwood.
Colaboração de Eric Clapton (eheheh)
in "Autobiografia", Casa das Letras, 2008, pág. 129
Tínhamos passado grandes momentos juntos nos tempos do Pheasantry. Parecia uma personagem saída de um desenho de Robert Crumb, que também era amigo dele.
Era muito alto e tinha um cabelo comprido e encrespado, todo eriçado para trás, um nariz e um rosto muito grandes e umas pernas longas e delgadas.
Bob disse-me que tinha uma ideia para uma nova capa para nós. Não quis dizer o que era, mas ia concluí-la e mostrá-la quando estivesse pronta.
Quando finalmente a apresentou, lembro-me de pensar que era deliciosa.
Era uma fotografia de uma rapariga nova e pubescente de cabelos ruivos encaracolados, fotografada da cintura para cima, nua, segurando um avião prateado e bastante modernista que tinha sido desenhado pelo meu amigo joalheiro Micko Milligan.
Atrás dela via-se uma paisagem com uma colina verde, fazendo lembrar os Bershire Downs, e um céu azul com nuvens brancas a passar.
Eu adorei-a imediatamente porque achei que captava muito bem a definição do nome do nosso grupo - a justaposição da inocência, sob a forma de uma rapariga, e da experiência, da ciência e do futuro representados pelo avião.
Disse a Bob que não devíamos estragar a imagem com o nome da banda na capa e ele teve a ideia de o escrever no papel do invólucro. Quando retirávamos a capa, ficava uma fotografia imaculada.
Mas a capa causou um grande tumulto. As pessoas diziam que a representação da jovem era pornográfica e nos Estados Unidos os distribuidores ameaçaram boicotar o disco.
Como estávamos prestes a embarcar numa grande digressão pela América, não tivémos outro remédio senão substituí-la por uma fotografia nossa na sala de Hurtwood.
Colaboração de Eric Clapton (eheheh)
in "Autobiografia", Casa das Letras, 2008, pág. 129
7 comentários:
Também estou a ler a auto-biografia do EC. E a gostar, muito.
Quanto a esta capa só muito recentemente adquiri o vinil (americano) via ebay. Mas claro que ainda tenho o original censurado (julgo que por isso mesmo muito mais valioso), comprado na altura do lançamento do disco em Johannesburg. Além das várias edições saídas em CD - é que este album é uma das grandes referências do final dos sixties.
Se estás a ler (como eu) e alguma coisa te chamar a atenção para publicação, manda!
LT
Já li e gostei, embora seja literariamente pouco instigante. E do meio para o final, a narrativa vai perdendo interesse. Passa a ser um relato repetitivo de álcool e drogas, com pouca reflexão sobre a música propriamente dita.
Pudera! Segundo a Record Collector, Eric Clapton não escreveu uma linha! O texto foi construído a partir de horas e horas de entrevista passadas ao papel por um "ghost writer", alegadamente jornalista do "The Independent"...
Apesar desta desilusão, achei muito interessante a primeira parte do livro. Aquela que versa a infância e adolescência de Clapton.
Ó camarada! E desde quando é que um livro deste tipo interesa do ponto de vista literário?
O que me interessa são histórias, factos, escritos por Eric ou alguém mandato por outrém!
Qurem ler literatura? Vão ler outrém, né?
LT
Isso é verdade, Ié-Ié, não nego, mas, quanto à forma, há maneiras e maneiras de contar uma história.
Por exemplo, o Dave Marsh e o Peter Guralnick são mestres nessa arte, e o "Chronicles vol.1" do Dylan é notável.
Como gosto bastante do Clapton artista, acho que ele merecia melhor...
Aliás, alguns escribas das "nossas" Uncut e Mojo conseguem transformar meros artigos em peças muito bem escritas e inspiradoras. De tal forma que acabo sempre por ler com prazer textos sobre artistas que nem me interessam.
Neste capítulo, o meu jornalista musical favorito é Peter Dogget.
Também gosto desse, do Fred Dellar, mas tenho pouco apreço por um que escreve sobre Beatles, Spencer Leigh. Já tive uma chatice (resolvida) com ele.
LT
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