segunda-feira, 30 de junho de 2008

"FEITO POR TODOS, DITO POR MIM"



RCA VICTOR - TP 328 - edição portuguesa

Dedicated To The One I Love (Bass/Pauling) - Free Advice (M. Gilliam/John Phillips) - Even If I Could (John Phillips) - Once Was A Time I Thought (John Phillips)

Se uma modificação profunda se processou no gosto musical de uma geração, isso deve-se ao "Em Órbita". Raros foram os dias em que o não ouvi no velho “Blaupunkt”, de olho verde à esquerda,” de casa do meu pai.

Isso até Junho de 1967 porque por esses dias assentei praça em Tavira e chegou um tempo em que o FM do Rádio Clube Português não chegava às ondas do transístor de fancaria que ouvia na caserna do CISMI.

Quando passados tempos regressei, o “Em Órbita”, entrara em novas aventuras e deixara de ser o programa que conhecera.

Quem não o ouviu não sabe o que foi e não dá para explicar, se isso, naturalmente, fosse possível – "Um programa feito por todos e dito por mim", como dizia o Cândido Mota, em minha modesta opinião, a melhor voz que o “Em Órbita” teve. (estou de acordo! - nota do editor).

Este disco, com esta bonita capa, Made in Portugal, é um dos muitos que comprei por causa do “Em Órbita” e escolho este porque “Dedicated to the One I Love” se tornou uma das canções das minhas diversas vidas.

“While I'm far away from you, my baby
I know it's hard for you, my baby
Because it's hard for me, my baby
And the darkest hour is just before dawn".

Como diria o Tom Waits, esta é do fundo do coração e como a vida nunca é exactamente o que queremos, transportamos, por vezes, algumas canções que associamos a memórias mágicas.

Mas isto já está a resvalar para a lamechice e por aqui me fecho. Até porque os silêncios são mais precisos que as palavras e eu só queria lembrar o “Em Órbita”, mostrar esta capa e concluir que, como dizia alguém que agora não lembro o nome, é preciso chegar aos sessenta anos para se ver que aos vinte é que se teve tudo.

Colaboração de Gin-Tonic

6 comentários:

JC disse...

Feito por nos (este computadoe n tem acentos) e dito "por" mim e nao para mim, caro Hugo. Quanto ao resto, ja nao se fazem programa assim

josé disse...

Nunca ouvi o Em Órbita antigo, mas depois de ouvir tanto falar nele, é como se ouvisse.

Falta, porém, uma coisa nessa sensação postiça: a memória pessoal dos eventos,fenómenos e experiências de vida, torna-se intransmissível.

Gosto de ouvor relatos na primeira pessoa de acontecimentos vividos, para tentar descobrir algo que existiu e deixou de ser.

A música do Em Órbita antigo ainda existe e está disponível a qualquer um, mesmo em boa aparelhagem de som que nem se compara aos transístores em monofonia degradada, do rádio de então.

Ainda assim, recuperar a memória da audição de I call your name, no Em Órbita, deve naturalmente trazer associações de ideias e experiências passadas que são inerentes a quem as viveu, mas que apenas se podem transmitir numa pequena fracção de intensidade.
Ora é essa pequena fracção que procuro ler, em quem escreve sobre isso.

Por exemplo, no meu caso, há uma ( há muitas, mas agora lembro esta) canção que ouvi num transistor a pilhas e que me ficou sempre no ouvido: It doesn´t matter, do álbum Manassas de Stephen Stills.

Mesmo em dvd ( e há um excelente com uma versão de luxo), mesmo em estereofonia a muitos KhZ, não é exactamente a mesma coisa ouvir agora e dantes e agora, só se torna interessante porque se ouviu antes desse modo.

É o mistério da música e da imaginação.

DANIEL BACELAR disse...

CARO HUGO
De vêz em quando,como é agradável lermos um comentário que nos transporta a tempos longinquos da nossa juventude e que nos fazem sentir bem.
Que saudades do velho EM ÓRBITA e da sua voz carismática,o CÃNDIDO MOTA.
O meu querido Cãndido com quem eu e toda a malta da AA60 passou momentos tão agradáveis testemunhando a sua contagiante e constante bõa disposição.
Não o vejo há uns tempos,mas julgo que será mais uma das muitas vitimas desta nossa mentalidade de que a pretexto de dar lugar a gente nova,os velhos são postos de parte.
Num pais civilizado e como todos sabemos há sempre lugar para toda a gente,sómente cá "e como somos todos muito porreiros"esquecemos esses pequenos pormenores e há que destruir!!!!.
Cãndido Mota,ao lado de Artur Agostinho,Júlio Izidro e Pedro Moutinho,que infelizmente já não se encontra entre nós,eram as vozes marcantes da nossa rádio,e além disso,senhores de uma enorme cultura,coisa que hoje em dia não abunda nos nossos pseudo-apresentadores e então de apresentadoras,....não lhes digo nada!!!!!
É TRISTE MAS É O PAIS QUE TEMOS A TODOS OS NÍVEIS!!!!
OLHA O PRECIPIIIIIIIIIIII......CIO!!!

gin-tonic disse...

Do que fui perdendo ao longo da vida, possivelmente, a Rádio é aquilo de que sinto mais a falta: o "Em Órbita", e outros programas, o burburinho dos relatos de futebol, pelas tardes de domingo, no chiar da onda média da Emissora Nacional. Emoções do tamanho do mundo. Hoje é uma perfeita degradação, submetida às "play lists", animada (?) por humores parvos e risinhos idiotas, de jovens completamente incultos.
Como diz JC, a frase correcta do “Em Órbita” é: “feito por todos e dito por mim”, como, aliás, se lê no título. O resto é descuido de revisão.
Já que estamos a falar de rádio, talvez haja espaço para este pequeno texto do Sam Shepard: “Conheci um guitarrista que dizia «a minha amiga rádio». Sentia um parentesco menos com a música do que com a voz da rádio. A sua qualidade sintética. A sua voz única, distinta das vozes que a atravessam. A sua capacidade de transmitir a ilusão de gente a grande distância. Dormia com a rádio. Falava para a rádio. Discordava da rádio. Acreditava numa Terra Longínqua da rádio da Rádio. Como achava que nunca encontraria esta terra, reconciliou-se consigo mesmo a ouvir a rádio. Acreditava que tinha sido banido da Terra da Rádio e condenado a errar eternamente pelas ondas sonoras, ansiando por um posto mágico que o devolvesse à sua herança há muito perdida”.

Bobbyzé disse...

E muito dificil descrever o que vivêmos com o "Em Orbita".Eu perdi o 5°ano do Liceu, a ouvir todas as noites essa Biblia Musical e que tanto me ajudaria mais tarde, quando comecei a frequentar o showbusiness!Mas nao cometemos o erro de entrar em comparaçoes com o que se faz actualmente!!O proprio JOE COCKER diz numa das suas ultimas cançoes "Each generation has his own way"!!!Don't forget that Hugo and brothers!

Blogger disse...

Cândido Mota é filho da popular cantora Maria Albertina:

Roubei no Lisboanoguiness

"Maria Albertina Soares de Paiva, nasceu em Ovar no ano de 1909.

Maria Albertina quando jovem ainda na terra natal cantava Fado de Coimbra.

É em Lisboa que inicia a sua carreira artística, descoberta pelo Maestro Macedo de Brito, que apadrinhou a sua entrada no Teatro Maria Vitória, onde se estreou em 1931 na opereta “História do Fado”, ao lado de Berta Cardoso e Maria das Neves."
(...)
"Mãe do popular locutor de rádio e televisivo Cândido Mota, que é decerto um dos nossos mais brilhantes locutores, o Cândido não canta o Fado, mas tem uma “Alma Fadista”

Maria Albertina, faleceu em Lisboa a 27 de Março de 1985"

http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/62489.html