sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
MALDITA CARESTIA
Face 1
“Maldita Carestia” – Ary dos Santos/Fernando Tordo
Face 2
“O Regresso dos Patrões” – Ary dos Santos e Joaquim Pessoa/Fernando Tordo
Intérpretes: Fernando Tordo, Carlos Mendes
Coordenador de Produção: Luiz Vilas-Boas
Orquestração: José Luís Simões
Som: Equipa Musicorde
Produção: “Toma Lá Disco
Colaboração de Gin-Tonic
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7 comentários:
Tordo nunca teve grande ou pequeno talento. Não teve talento algum. Mas Ary dos Santos,mtº longe de ser um génio, foi um razoável poeta e um excelente publicitário. Por vezes panfletário, é certo, excessivo no mau sentido,mas ainda assim, aqui e ali, com algumas coisas interessantes e, principalmente, com um contributo inegável para a renovação da música ligeira portuguesa nos anos do marcelismo. É triste ver ao que chegou nos anos do pós revolução. Toda esta série da "Toma Lá Disco", muito interessante em termos históricos (obrigado, Ié- Ié) só merece um comentário em termos musicais e como música de intervenção política: lamentável.
Aqui discordo completamente: basta ouvir os discos do Fernando Tordo para perceber o inegável talento de composição que sempre teve. É, aliás, dos grandes compositores da música popular portuguesa.
Quanto ao catálogo Toma Lá Disco, se há um ou outro disco mais fraco, a grande maioria são de facto discos muito bons:
- "Amor Combate", de Carlos Mendes
- "Canções de Ex-Cravo e Malviver", tb de Carlos Mendes
- os 3 LP's de Fernando Tordo: "Feito Cá P'ra Nós", "Estamos Vivos!" e "Fazer Futuro"
- o LP colectivo "Operários do Natal"
- o surpreendente "Classicamente Amadores", do Quarteto Zimarlino, onde são tocadas obras de Scarlatti, Telemann e Mozart em bandolim, bandola e bandoloncelo
- o single "Brothers of the Sun / Yes I Know", do Very Nice/Fernando Girão, num registo musical próximo do jazz rock
Enfim, e a lista continua... Acho que essa apreciação sobre o catálogo da Toma Lá Disco foi bastante precipitada - infelizmente, a música não está aí para o provar, porque nenhum destes discos conheceu até hoje edição digital...
A faceta, dita panfletária, de José Carlos Ary dos Santos não deverá fazer esquecer que Ary foi um grande poeta da língua portuguesa, e que mais não é, porque a determinada altura preferiu oferecer poemas para canções em vez de burilar a sua poesia. Foi uma opção discutível, que deu os seus frutos, mas perdeu-se o resto.
Natália Correia tem do Ary certeira definição: “era um vulcão de afectividade”. Mas decididamente a vida para Ary não foi um mar de rosas. O Partido nunca digeriu a sua declarada homossexualidade, os académicos olharam-no sempre de soslaio, o jornalismo cultural tratou-o com desdém apenas se preocupando com os seus “fait-divers”. Numa entrevista citou Óscar Wilde: “Digo sempre, não o que deveria dizer mas o que na verdade penso.”
José Afonso, para o álbum “Contos Velhos Rumos Novos”, musicou um poema de Ary, “A Cidade” e disso fez uma balada lindíssima. De parceria com Tordo fez coisas muito interssantes, de repente lembro-me de “Tourada” e “Estrela da Tarde”.
Mas é importante ler os seus livros de poesia. Por vezes aparecem nessas feiras ocasionais de livros.
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Não gosto nem um bocadinho dos discos que o Bissaide indica, mas também não sou tão radical como JC.
O grande talento de Fernando Tordo foi o de mostrar, musicando, Ary dos Santos (a propósito, trabalhei com ele na Latina). Tordo teve a sua importância antes do 25 de Abril, que é inegável. Depois da Revolução, desatinou em excesso (como muitos outros). Basta ver os discos da "Toma Lá Disco".
LT
Subscrevo inteiramento o texto do gin-tonic. Há pouco só não falei do Ary porque achei revoltantes as duas frases iniciais do texto do jc.
A carreira de Fernando Tordo não pode ser circunscrita à fase em que trabalhou com Ary dos Santos, entre 1969 e 1982, nem ao mero facto de ter trabalhado com Ary. A poesia de Ary encontrou outros bons compositores (Nuno Nazareth Fernandes, por exemplo) e a música de Tordo nunca ficou refém da escrita daquele, como muito bom o mostram os excelentes "Anticiclone" e "A Ilha do Canto". Isto para não falar de todos os excelentes discos dos anos 90, como "Lisboa de Feira", "Calendário" e "Peninsular". Enfim, muito boa música para todos.
Bom, caro Bissaide, a ideia era mesmo essa - ser radical - já que em Portugal existe a tendência para tudo ser excelente, serem todos génios,fantásticos, etc e assim se perde a noção da realidade. Olhe, é como as avaliações na Função Pública e depois é o que se vê! Sejamos claros: há excentes, mtº bons, bons, médios, medíocres, maus e mtº maus e, na música ligeira e na música popular, excelentes, nos últimos 100 anos, contam-se pelos dedos de uma mão. Existem alguns mtºs bons e bons e a maioria é medíocre ou má. Algum rigor e exigência só nos fica bem.
Claro, aí totalmente de acordo: a exigência é bem necessária e o elogio da mediocridade tem-nos trazido ao momento actual. Mas entre o excelente e o muito mau vai um grande espectro, e o Fernando Tordo, quer se goste ou não, está mais próximo do primeiro que do segundo. Basta ouvir. Em relação à grande maioria dos músicos ligeiros/populares ser medíocre ou má, também não posso concordar: temos de tudo, como em qualquer outro país.
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