sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

JOHNNY GUITAR


O meu avô era um tipo assaz curioso, patusco mesmo. Por chalaça, por um certo gosto anarquista, apresentava-se às pessoas como: “Mário Santos – benfiquista, republicano histórico e anticlerical”. Ficava depois a gozar o efeito das palavras.

Tinha um “béguin” pelo “Johnny Guitar” de Nicholas Ray, aquele diálogo fabuloso em que Vienna pede a Johnny para lhe contar mentiras, que ainda a ama como ela o ama e o velho vaqueiro, a filosofar sobre Johnny: “tal como ele disse, só precisa de um café e de uma boa cigarrada”.

A última vez que o viu terá sido para aí em 1965 no “Chiado Terrasse” e essa foi a minha segunda vez. Hoje já levo mais algumas mas, obviamente, não tantas como o Sr. João Bénard da Costa.

Este disco existe porque o meu avô pediu ao meu pai que lhe arranjasse a canção tema do filme.

Naqueles tempos a oferta de bandas sonoras era quase nula, o meu pai não encontrou a interpretação da Peggy Lee e comprou esta versão em espanhol cantada pela Juanita Cuenca, uma soberba capa amarela, uma fotografia como mandavam as regras e que até poderia ser uma das capas da série amarela de “Mr. Ié-Ié”.

O meu avô morreu com 85 anos e nunca conseguiu entender-se com o “pick-up”. Quando lhe dava a saudade dizia-nos: “eh pá! Põe a tocar o Johnny Guitar”.

E uma nostalgia do tamanho do mundo invade a prosa.

Na estante onde estão os LPs, puxei ligeiramente 5 ou 6 para fora e pendurei lá o boné – “Donegal Tweed Woven in Ireland” – que foi o último que o meu pai usou.

Tem dias, mas principalmente noites, que sinto que o meu pai anda por aí a dizer” Eh! Pá põe lá o “Johnyy Guitar” para o teu avô ouvir”:

“Play the guitar, play it again, my Johnny, maybe you're cold, but you're so warm inside.”

E uma nostalgia do tamanho do mundo apodera-se da prosa.

“Johnny Guitar” é cantado em espanhol e está identificado como sendo um “bolero afrocubano” e o disco tem ainda: “Mis Manos”, que é a versão espanhola de uma velha canção do Gilbert Bécaud, um fado fox, “Lejana Lisboa”, assinado por A. Angel e Garcia Cote, e “Faustina”, um baião que no antigamente, muito no antigamente, era tocado, dezenas de vezes na mesma noite, nos bailes lá de casa.

Colaboração de Gin-Tonic

1 comentário:

JC disse...

O que vale é que lá pelo meu "Gato Maltês" há de tudo como na "botica" (não é verdade, mas deixem-me lá entrar numa de "fishing for compliments"). Pois, meu caro Ié-Ié, aqui está (tan, tan, tan, tan) a Joan Crawford e o Sterling Hayden http://eusouogatomaltes.blogspot.com/2007/03/clssicos-do-cinema-28.html