Vítor Soares lembrou o evento de que foi feliz testemunha há 38 anos e eu fui, agora, à procura de mais informações.
Salazar tinha morrido há um mês – mas não vejo aí qualquer relação causa/efeito -, quando José Cid idealizou um festival pop em Portugal, em 1970, à semelhança do que se fazia lá fora.
Para o organizar, José Cid recolheu o apoio da Junta de Turismo da Costa do Sol que no ano anterior tinha promovido, com sucesso, o I Festival de Conjuntos Modernos, de que os Musica Novarum tinham saído vencedores.
Já não se compreende, actualmente, um festival tipo-corrida-de-cavalos, em que o que conta é o prémio. Por isso, sugeri à Junta de Turismo da Costa do Sol que se realizasse um festival, é certo, mas liberto de ideias de competição (José Cid, Diário de Popular, 17 de Agosto de 1970).
Na mesma altura, o Diário Popular tinha enviado um jornalista, Jorge Ribeiro, ao Festival da Ilha de Wight, em Inglaterra, demonstrando assim o seu interesse pelas manifestações culturais juvenis.
O mesmo jornal dava também, por exemplo, relevo às contestações dos hippies holandeses ao sistema estabelecido do seu país.
Em Portugal, era o deserto, como sabem e/ou devem calcular.
Após o anúncio do Festival nos jornais portugueses, que ocorre no dia 15 de Agosto de 1970, a concha volta a fechar-se, hermeticamente, não havendo muito mais informação nos dias subsequentes.
No dia 17 de Agosto, o Diário Popular publica uma reportagem sobre o Festival, com chamada de 1º página. O DP é, aliás, o único jornal português que dá importância à matéria:
Esperamos que este Festival seja o primeiro passo para a realização, em anos próximos, de encontros internacionais de agrupamentos de pop-music (in Diário Popular, 17 de Agosto de 1968).
Pouco mais dizem os jornais. Tenho para mim, que o regime, ou melhor, a Censura (Exame Prévio) não sabe, no entanto, como agir, já que íamos tendo informação sobre o Festival de Wight e sobre a ocupação dos hippies holandeses da praça Dam, em Amesterdão, mas nada sobre o que seria o primeiro grande Festival português.
Como quer que seja, o “Diário de Notícias”, no dia 24, e a “República”, no dia 26, ainda ensaiam o alinhamento do Festival:
- Turma 6
- Jeuns Vitae
- A1
- Samuel e os Bárbaros
- Nomos
- José Jorge Letria
- Padre Fanhais
- Ruy Mingas
- Nuno Filipe e Teresa Paula Brito (única presença feminina, como se salienta)
- Chinchilas
- Pedro Osório, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo
- Vanguarda
- Quarteto 1111
- Psico
- Objectivo
Neste alinhamento, já não entram os Wallace Collection, belgas, de que tanto se tinha falado. Desistiram à última hora?
No dia do concerto, a 26, “O Século” ainda chama a atenção para o assunto, com destaque na última página: “Acontece Hoje O 1º Festival Português À Procura de Autenticidade de Woodstock Ao Estoril Sob O Signo Da Juventude”.
O primeiro parágrafo da notícia reza assim:
Com um atraso de dez meses em relação à Europa continental – o que se pode considerar notável – os festivais pop chegam até nós. Como as senhorinhas da “nossa melhor sociedade”, o “pop” português “debura” no Estoril, mais precisamente na mata dos Salesianos, entre as 15 e as 24 horas de hoje. Um conjunto estrangeiro, Wallace Collection, apadrinha o acto. Nove agrupamentos estarão no “podium”: Objectivo, Pop Five Music Incorporated, Psico, Chinchilas, Nomos, Evolução, Sindicato, 1111 e os Sheiks.
E depois?
Se não fora o relato de Vítor Soares e do blogue Vilar de Mouros 1971, presumo que publicamente nada mais se saberia.
É que os jornais portugueses, todos, assobiaram para o lado. Não nos esqueçamos da Censura!
O mais divertido, é que no dia 27, meras 24 horas depois do abortado Festival e da investida da Polícia de Choque (provavelmente comandada pelo capitão Maltês, não?) que os jornais não noticiaram, foi publicado um lacónico comunicado:
A Junta de Turismo da Costa do Sol lamenta informar que por não ter solicitado a respectiva legalização para o espectáculo de música moderna que deveria ter tido lugar na mata da Escola Salesiana do Estoril, o mesmo não se pôde realizar.
Salazar tinha morrido há um mês – mas não vejo aí qualquer relação causa/efeito -, quando José Cid idealizou um festival pop em Portugal, em 1970, à semelhança do que se fazia lá fora.
Para o organizar, José Cid recolheu o apoio da Junta de Turismo da Costa do Sol que no ano anterior tinha promovido, com sucesso, o I Festival de Conjuntos Modernos, de que os Musica Novarum tinham saído vencedores.
Já não se compreende, actualmente, um festival tipo-corrida-de-cavalos, em que o que conta é o prémio. Por isso, sugeri à Junta de Turismo da Costa do Sol que se realizasse um festival, é certo, mas liberto de ideias de competição (José Cid, Diário de Popular, 17 de Agosto de 1970).
Na mesma altura, o Diário Popular tinha enviado um jornalista, Jorge Ribeiro, ao Festival da Ilha de Wight, em Inglaterra, demonstrando assim o seu interesse pelas manifestações culturais juvenis.
O mesmo jornal dava também, por exemplo, relevo às contestações dos hippies holandeses ao sistema estabelecido do seu país.
Em Portugal, era o deserto, como sabem e/ou devem calcular.
Após o anúncio do Festival nos jornais portugueses, que ocorre no dia 15 de Agosto de 1970, a concha volta a fechar-se, hermeticamente, não havendo muito mais informação nos dias subsequentes.
No dia 17 de Agosto, o Diário Popular publica uma reportagem sobre o Festival, com chamada de 1º página. O DP é, aliás, o único jornal português que dá importância à matéria:
Esperamos que este Festival seja o primeiro passo para a realização, em anos próximos, de encontros internacionais de agrupamentos de pop-music (in Diário Popular, 17 de Agosto de 1968).
Pouco mais dizem os jornais. Tenho para mim, que o regime, ou melhor, a Censura (Exame Prévio) não sabe, no entanto, como agir, já que íamos tendo informação sobre o Festival de Wight e sobre a ocupação dos hippies holandeses da praça Dam, em Amesterdão, mas nada sobre o que seria o primeiro grande Festival português.
Como quer que seja, o “Diário de Notícias”, no dia 24, e a “República”, no dia 26, ainda ensaiam o alinhamento do Festival:
- Turma 6
- Jeuns Vitae
- A1
- Samuel e os Bárbaros
- Nomos
- José Jorge Letria
- Padre Fanhais
- Ruy Mingas
- Nuno Filipe e Teresa Paula Brito (única presença feminina, como se salienta)
- Chinchilas
- Pedro Osório, Paulo de Carvalho e Fernando Tordo
- Vanguarda
- Quarteto 1111
- Psico
- Objectivo
Neste alinhamento, já não entram os Wallace Collection, belgas, de que tanto se tinha falado. Desistiram à última hora?
No dia do concerto, a 26, “O Século” ainda chama a atenção para o assunto, com destaque na última página: “Acontece Hoje O 1º Festival Português À Procura de Autenticidade de Woodstock Ao Estoril Sob O Signo Da Juventude”.
O primeiro parágrafo da notícia reza assim:
Com um atraso de dez meses em relação à Europa continental – o que se pode considerar notável – os festivais pop chegam até nós. Como as senhorinhas da “nossa melhor sociedade”, o “pop” português “debura” no Estoril, mais precisamente na mata dos Salesianos, entre as 15 e as 24 horas de hoje. Um conjunto estrangeiro, Wallace Collection, apadrinha o acto. Nove agrupamentos estarão no “podium”: Objectivo, Pop Five Music Incorporated, Psico, Chinchilas, Nomos, Evolução, Sindicato, 1111 e os Sheiks.
E depois?
Se não fora o relato de Vítor Soares e do blogue Vilar de Mouros 1971, presumo que publicamente nada mais se saberia.
É que os jornais portugueses, todos, assobiaram para o lado. Não nos esqueçamos da Censura!
O mais divertido, é que no dia 27, meras 24 horas depois do abortado Festival e da investida da Polícia de Choque (provavelmente comandada pelo capitão Maltês, não?) que os jornais não noticiaram, foi publicado um lacónico comunicado:
A Junta de Turismo da Costa do Sol lamenta informar que por não ter solicitado a respectiva legalização para o espectáculo de música moderna que deveria ter tido lugar na mata da Escola Salesiana do Estoril, o mesmo não se pôde realizar.
Ué? Quem organiza diz depois que não pediu licença? História muito mal contada!
3 comentários:
Mr. Ié-Ié aprimorou-se nesta pesquisa de história contemporânea. Até agora, as fontes secundárias deitaram cá para fora tudo o que tinham. Já é tempo das fontes primárias, que ainda não secaram, abrirem a torneira!
É verdade, um belo texto! Teria sido um festival bem interessante, a julgar pelo elenco anunciado, todo de primeira água. Só uma dúvida: o que fazem os Sheiks no meio da lista como um dos grupos anunciados para o Festival? Em 1970? Terá sido erro ou houve alguma reformação momentânea?
Não, não é erro, é golpe de marketing! Anunciam Paulo de Carvalho e Fernando Tordo e proclamam logo o regresso dos Sheiks!
LT
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