Por estranho que possa parecer aos distintos melómanos que frequentam este blogue, a música não foi certamente a primeira razão que me levou a Vilar de Mouros, em 1971.
Para um "jovem inconciente" de 19 anos como eu, a maior curiosidade na altura tinha mais a ver com tudo o que permitia a ida ao festival e menos com a música em si.
Daí que, em resposta ao repto lançado pelo ié-ié, as minhas longínquas memórias retenham já pouco dos concertos.
Para além da actuação de Elton John, a viver um período criativo ajudado pelas soberbas líricas de Bernie Taupin, da atenção que me mereceram as virtualidades musicais dos Manfred Mann, para lá do "hit" da altura "Mighty Quinn", e do esforço que os Pop Five ou os Sindicato faziam para apresentar uma sonoridade contemporânea, pouco mais me aparece agora no registo da memória.
Em compensação, as imagens dessa viagem, feita com o José Cerejeira, têm-me acompanhado todos estes anos.
Primeiro, de comboio até ao Porto, onde pernoitámos algures numas casas em ruínas (não havia dinheiro para mais) junto ao então já imponente edifício do Jornal de Notícias, e depois, à boleia até ao Alto Minho sendo o percurso final feito, novamente, de comboio.
Na estação de Caminha, onde chegámos de madrugada, lembro-me de ficar a ler, à luz dos candeeiros, o livro que levava na mochila e cuja capa reproduzo acima.
A prosa tinha tudo a ver com aquilo que estava a viver. O discurso libertário deste professor em Harvard, pioneiro dos estudos sobre a contracultura, e com influências de Herbert Marcuse, Allen Ginsberg, Alan Watts e Timothy Leary colava perfeitamente com a realidade circundante: a contestação à tecnocracia, a "dissidência" juvenil e a revolta contra uma sociedade asfixiante sem que isso se traduzisse necessariamente numa opção por doutrinas políticas precisas.
Colaboração de Vítor Soares
Para um "jovem inconciente" de 19 anos como eu, a maior curiosidade na altura tinha mais a ver com tudo o que permitia a ida ao festival e menos com a música em si.
Daí que, em resposta ao repto lançado pelo ié-ié, as minhas longínquas memórias retenham já pouco dos concertos.
Para além da actuação de Elton John, a viver um período criativo ajudado pelas soberbas líricas de Bernie Taupin, da atenção que me mereceram as virtualidades musicais dos Manfred Mann, para lá do "hit" da altura "Mighty Quinn", e do esforço que os Pop Five ou os Sindicato faziam para apresentar uma sonoridade contemporânea, pouco mais me aparece agora no registo da memória.
Em compensação, as imagens dessa viagem, feita com o José Cerejeira, têm-me acompanhado todos estes anos.
Primeiro, de comboio até ao Porto, onde pernoitámos algures numas casas em ruínas (não havia dinheiro para mais) junto ao então já imponente edifício do Jornal de Notícias, e depois, à boleia até ao Alto Minho sendo o percurso final feito, novamente, de comboio.
Na estação de Caminha, onde chegámos de madrugada, lembro-me de ficar a ler, à luz dos candeeiros, o livro que levava na mochila e cuja capa reproduzo acima.
A prosa tinha tudo a ver com aquilo que estava a viver. O discurso libertário deste professor em Harvard, pioneiro dos estudos sobre a contracultura, e com influências de Herbert Marcuse, Allen Ginsberg, Alan Watts e Timothy Leary colava perfeitamente com a realidade circundante: a contestação à tecnocracia, a "dissidência" juvenil e a revolta contra uma sociedade asfixiante sem que isso se traduzisse necessariamente numa opção por doutrinas políticas precisas.
Colaboração de Vítor Soares
7 comentários:
Prosa interessante, sem dúvida e que resume o espírito de época.
Tem que se lhe diga, portanto.
Primo: O livro em causa, era leitura de algum modo subversiva e na mesma época, de certeza absoluta que não poderia ser lido na URSS ou em Cuba, por exemplo, para irmos mais longe e não citarmos a Alemanha Democrática ou a Hungria, onde o ambiente era mais desanuviado.
Portanto, no Portugal de 1971, lia-se Marcuse e outros libertários, livremente. Editados pela D. Quixote, salvo erro.
Secundo: um jovem saído do ensino secundário, nessa altura, lia mais do que hoje os mesmos jovens lêem. E liam coisas que os jovens de hoje não lêem. E sabiam coisas que agora não sabem.
Eu vejo pela minha filha mais velha que até é de leituras difíceis e um dias destes pode dizer que já leu mais do que eu tinha lido na idade dela.
Mas costumo perguntar se os colegas também lêem. Que não, diz-me.
Tertio:
Também um dia destes faço um relato do meu tempo, na época de Vilar de Mouros, até porque vi passar os viajantes e peregrinos em demanda do nosso Woodstock à moda do Minho e sei onde e como ficou hospedado o Elton John e as exigências bizarras que então fez aos responsáveis.
Aliás, vem descritas num número do Mundo da Canção, salvo o erro ( ou o Disco) e lembro-me de na época já serem comentadas.
E Elton ainda nem tinha publicado HonkY Chateau ou mesmo Madman Across The Water, nem cantado Tiny Dancer, uma das mais perfeitas cações que conheço, todos os géneros confundidos.
Também estive acampado em Vilar de Mouros. Em 1971. Tinha apenas 4 anos, a minha mãe levou-me... obviamente, não me lembro de nada. Mesmo nada.
Nessa época, Portugal era o fim do mundo - ainda é. O "Mighty Quinn" dos Manfred Mann e o livro do Roszak eram ouvidos e lidos com vários anos de atraso.
Mesmo assim, belíssimo testemunho, este aqui apresentado...
Há uns 5 anos atrás assisti em Vilar de Mouros a um dos melhores shows de Rock da minha vida. Neil Young e os Crazy Horse (não esquecendo a abertura do Beck). Foi transcendente. Inesquecível aquele devastador "Like a Hurricane", tocado sob a chuva de Verão...
E, José, partilho consigo a paixão por "Tiny Dancer". Desde criança. E quando um dia assisti ao filme "Almost Famous" de Cameron Crowe, e a canção irrompeu naquela emocionante cena do autocarro, não contive as lágrimas!
eu sou um aluno do 12º ano da Escola Secundária Infanta Dona Maria e estou a realizar um trabalho, no âmbito da disciplina de Área Projecto, sobre Woodstock e os festivais.Tendo esta temática não podia obviamente deixar de referir Vilar de Mouros "O Woodstock Português". Queria portanto saber se algum de vocês me podia dar alguma informação sobre o festival e se poderiam responder a algumas questões
Não costumo responder a anónimos (mas como é de Coimbra), mas o meu amigo tem de comprar (ou consultar) a belíssima obra de Fernando Zamith sobre Vilar de Mouros:
"Vilar de Mouros - 35 Anos de Festivais", Fernando Zamith, Edições Afrontamento, 2003.
Fiz muitas esperas às miúdas do Liceu Feminino, como era conhecido nos anos 60.
LT
Boa tarde ié-ié!
O meu nome é Tiago e estou a fazer um trabalho de investigação sobre O Vilar de Mouros 71, especificamente o fim de semana dedicado à música " para a juventude". O trabalho está a ser realizado no âmbito de Mestrado em História Contemporânea. Já consultei a obra do Fernando Zamith, mas gostaria de entrevistar presencialmente alguém que vivenciou o festival? É possível?
Atenciosamente
T
Envie-me o seu contacto para luistita@gmail.com para lhe dar, por sua vez, um contacto...
LT
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