Vous Les Copains Je Ne Vous Oublierai Jamais (Do Wah Diddy) - Oui, Il Faut Croire (I Just Don't Know What To Do With Myself) - À La Fin De La Soirée (We Were Lovers) - Écoute Ce Disque
Quando o tempo era muito lento, apaixonávamos pelas professoras de inglês.
Foi também o tempo em que todos os rapazes da rua suspiraram por Sheila, esta cara, esta capa, esta canção, “Ecoute Ce Disque”.
O Dudu dizia que quando aparecia aquele serrote de palhaço, lá pelo meio, a marcar o tempo em que Sheila não estava a cantar, era de um tipo ficar todo pele de galinha.
Dudu: onde quer que estejas, digo-te que estive, agora, a (re)ouvir o disco e aquilo ainda arrepia.
As canções do primeiro amor, mesmo que não houvesse amores e antes jogos de sedução, patéticas ternuras. A idade da inocência, como lhe chamou quem destas coisas sabia.
O disco era do Vidrinhos que também era o dono do gira-discos. A Amélia dizia sempre: “ porque é que os gajos que têm dinheiro são todos feios?”.
Não sendo coleccionador de discos, dir-vos-ei que passei alguns anos à procura deste disco. Um dia, na Rua Edith Cavel, ali para os lados da Morais Soares (em Lisboa), num daqueles vãos de escada que vendiam tudo, fui dar com ele entre livros da “Colecção Vampiro”, romances cor-de-rosa da Agência Portuguesa de Revistas, “Crónicas Femininas”.
Era marca deste tipo de negócio, os preços não estarem marcados e serem feitos na ocasião, consoante padrões do vendedor: se era, ou não, cliente habitual, aspecto, coisas assim, padrões que só eles dominavam. O homem sabia que se lhe dessem cem escudos pelo disco já era bom negócio, mas eu devia ter estampado, bem na cara, que não iria sair dali sem o disco. A experiência do “métier” dava-lhe razão. Pediu-me mil escudos (ao cambio de hoje cinco euros) nem discuti e saí com a Sheila debaixo do braço.
Que é feito da Sheila, do Dudu, do Vidrinhos, dos outros rapazes da rua, os que se perderam nos dias de fuga, as razões são tristes, também os que não voltaram de Angola, ou de Moçambique, ou da Guiné.
Que é feito da Amélia e das outras raparigas da rua, saias plissadas, soquetes, cabelos com virgulas, lavados em casa porque, naquele lado da cidade, o cabeleireiro era luxo, que não percebiam bem, não percebiam nada, das paixões assolapadas dos rapazes pela Sheila.
Visto assim à distância, rapazes e raparigas, éramos de uma ingenuidade inenarrável, de um pudor, dito pela malta dos dias que agora correm, completamente obsoleto.
“Écoute se disque e il te dirá que l’ amour existe et je pense à toi.”
Caramba! Não há-de um gajo estar velho!
Colaboração de Gin-Tonic
Foi também o tempo em que todos os rapazes da rua suspiraram por Sheila, esta cara, esta capa, esta canção, “Ecoute Ce Disque”.
O Dudu dizia que quando aparecia aquele serrote de palhaço, lá pelo meio, a marcar o tempo em que Sheila não estava a cantar, era de um tipo ficar todo pele de galinha.
Dudu: onde quer que estejas, digo-te que estive, agora, a (re)ouvir o disco e aquilo ainda arrepia.
As canções do primeiro amor, mesmo que não houvesse amores e antes jogos de sedução, patéticas ternuras. A idade da inocência, como lhe chamou quem destas coisas sabia.
O disco era do Vidrinhos que também era o dono do gira-discos. A Amélia dizia sempre: “ porque é que os gajos que têm dinheiro são todos feios?”.
Não sendo coleccionador de discos, dir-vos-ei que passei alguns anos à procura deste disco. Um dia, na Rua Edith Cavel, ali para os lados da Morais Soares (em Lisboa), num daqueles vãos de escada que vendiam tudo, fui dar com ele entre livros da “Colecção Vampiro”, romances cor-de-rosa da Agência Portuguesa de Revistas, “Crónicas Femininas”.
Era marca deste tipo de negócio, os preços não estarem marcados e serem feitos na ocasião, consoante padrões do vendedor: se era, ou não, cliente habitual, aspecto, coisas assim, padrões que só eles dominavam. O homem sabia que se lhe dessem cem escudos pelo disco já era bom negócio, mas eu devia ter estampado, bem na cara, que não iria sair dali sem o disco. A experiência do “métier” dava-lhe razão. Pediu-me mil escudos (ao cambio de hoje cinco euros) nem discuti e saí com a Sheila debaixo do braço.
Que é feito da Sheila, do Dudu, do Vidrinhos, dos outros rapazes da rua, os que se perderam nos dias de fuga, as razões são tristes, também os que não voltaram de Angola, ou de Moçambique, ou da Guiné.
Que é feito da Amélia e das outras raparigas da rua, saias plissadas, soquetes, cabelos com virgulas, lavados em casa porque, naquele lado da cidade, o cabeleireiro era luxo, que não percebiam bem, não percebiam nada, das paixões assolapadas dos rapazes pela Sheila.
Visto assim à distância, rapazes e raparigas, éramos de uma ingenuidade inenarrável, de um pudor, dito pela malta dos dias que agora correm, completamente obsoleto.
“Écoute se disque e il te dirá que l’ amour existe et je pense à toi.”
Caramba! Não há-de um gajo estar velho!
Colaboração de Gin-Tonic
8 comentários:
Mais um excelente texto do Hugo Santos, impregnado de boa nostalgia. Sim, porque também existe a má, aquela que quando olha para o passado só sabe carpir. Esta não, faz-nos flutuar de prazer, da (re)descoberta de modas e vidas passadas. Vidas essas que são um pouco de todos nós.
Ou muito me engano ou, a este ritmo, qualquer dia o Luís vai começar a pensar a sério na publicação em livro dos melhores textos deste blog.
*aplausos*
Ná, ná! Eu vou é desistir do blog e entregá-lo ao Hugo!
PS- Havia um Vidrinhos na Comercial, acho eu.
LT
nao, o vidrinhos era recepcionista/telefonista na renascença.....
ao pé do jardim (na alvares cabral) tb havia um vendedor de livros e revistas usadas do género de que o hugo fala. comprava-lhe os falcões e os vampiros usados e quando queria revender, depois de ter lido os falcoes, o tipo dava muito, muito menos........ este texto do hugo é mesmo digno de uma antologia, ó Luís Titá!!!!!!!!!!
quando falo em jardim era o jardim cinema (tambem conhecido por palhinhas) onde mais tarde foi o loucuras e agora nem sei o que é
Por causa deste post encomendei ontem na Amazon francesa os dois primeiros albuns originais da Sheila (até agora só tinha um CD compilação com 40 temas e alguns EP's em vinil) que foram reeditados em mono e stereo, cada um deles. Tás a ver, Hugo? Só me fazes entrar em despesas, carago!
Junta-te ao clube. Vocês falam em coisas, verifica-se a sua ausência doméstica e pimba! - lá vai barão!. Agora mesmo estou a ouvir "Les Années Yé-Yé".
LT
Gosto muito da Sheila.
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