O Grande Prémio do Disco era uma espécie de top (por votação) existente em Portugal em 1965/66.
Foi organizado pela revista "Rádio & Televisão" e pelos programas (excelentes e emblemáticos) da Rádio Renascença, "Enquanto For Bom Dia" e "23ª Hora".
Basicamente, o top funcionava com os votos semanais dos leitores e dos ouvintes (gastei muito selo dos Correios, daqueles do cavalinho, D. Dinis).
Para a história, eis o 1º Grande Prémio do Disco, datado de 11 de Setembro de 1965:
1 - Help! - Beatles
2 - Esquece - Ekos
3 - Capri C'Est Fini - Hervé Vilard
4 - Chove - Conjunto Académico João Paulo
5 - House Without Windows - Cliff Richard
6 - C'Est La Première Fois - Felix Marten
7 - Trains And Boats And Planes - Burt Bacharach
8 - Quand Un Bateau Passe - Claude François
9 - With These Hands - Tom Jones
10 - De Homem Para Homem - Tony de Matos
Como é fácil de ver - aos olhos de hoje - o povo estava mesmo baralhado quanto às suas opções. Nem sequer a indústria discográfica se equipava com singles para as suas estratégias de promoção e de marketing.
Em suma, a indústria discográfica era naquela altura praticamente inexistente.
Os Beatles aguentaram 5 semanas no primeiro lugar (quem disse que os portugueses preferiam os Rolling Stones aos Beatles? Nesta lista de 50 canções, a melhor coisa que os Stones conseguem é um 14º lugar com "Satisfaction"), tendo sido substituídos no cimo, a 16 de Outubro de 1965, por "Hully Gully do Montanhês", do Conjunto Académico João Paulo ("Satisfaction" só tinha subido para 7º).
Como o povo precisava de arejar - para esquecer a guerra colonial e outras agruras do regime ditatorial - o Teatro Monumental, em Lisboa, graças à visão de Vasco Morgado, funcionava como uma espécie de catedral do ié-ié.
Naquela altura, desempenhou o mesmo papel que, anos mais tarde, pertenceu ao Coliseu ou ao Dramático de Cascais (este já foi abaixo).
Ainda antes do famoso Concurso Ié-Ié, de que os Claves sairiam vencedores, o Teatro Monumental, em Lisboa, abriu as suas portas à música no dia 02 de Fevereiro de 1966.
A ideia foi a de festejar o ano de 1965 em termos musicais, uma espécie de NME Pollwinners Concert (que, diga-se de passagem era sempre dominado pelos Beatles).
Segundo relato da época, a festa do Monumental foi um "autêntico espectáculo de ídolos, em que algumas das mais recentes e promissoras vedetas do disco colheram os aplausos delirantes de uma vasta e entusiasmada audiência".
Apresentado por João Martins e Carlos Cruz (então criança), o espectáculo foi uma "sucessão trepidante de quadros musicais, nas vozes e nos instrumentos de alguns dos nossos mais jovens e apreciados intérpretes".
Actuaram o Conjunto Mistério, os Claves, os Rocks e os Sheiks - "aplaudidos com igual calor" - mas a pena do repórter escorrega para os Rocks - uma "espectacular exibição do magnífico conjunto angolano, com um vocalista impressionante que electrizou a assistência".
Além destes ritmos modernos, cantaram também Teresa Tarouca e João Ferreira-Rosa.
Não percebo como não foram corridos do palco, mas o repórter no local dá conta de que "a plateia soube ouvir fado com silêncio e nostalgia, como antes tinha acompanhado com delirante vibração as canções yé-yé".
A segunda parte do espectáculo foi preenchida com a entrega de 18 prémios, 10 dos quais para o top 10 do Grande Prémio do Disco, 5 para editoras de discos portugueses, como agradecimento pela colaboração prestada ao referendum (sic), e que foram a Valentim de Carvalho, Rádio Triunfo, Arnaldo Trindade & Cª, Philips Portuguesa e Telectra, e os restantes aos autores e à orquestra da canção classificada em primeiro lugar ("Hully Gully do Montanhês", do Conjunto Académico João Paulo).
A terceira e última parte do espectáculo foi preenchida por Nino Ferrer, "cançonetista-sucesso de França", que se apresentou com o seu "conjunto privativo Les Gottamou".
Para o escriba de serviço, foram o "corolário arrebatador de um espectáculo sensacional".
Para a história aqui fica o Top 10 da classificação final do Grande Prémio do Disco-1965:
1 - Hully Gully do Montanhês - Conjunto Académico João Paulo
2 - Não Sei De Ti - António Calvário
3 - Chove - Conjunto Académico João Paulo
4 - Help! - Beatles
5 - Esquece - Ekos
6 - Nem Eu Nem Vocês - Simone
7 - Sonha - Madalena Iglésias
8 - (I Can't Get No) Satisfaction - Rolling Stones
9 - Viens Ma Brune - Adamo
10 - Yesterday - Beatles
Colaboração de Luís Pinheiro de Almeida
Foi organizado pela revista "Rádio & Televisão" e pelos programas (excelentes e emblemáticos) da Rádio Renascença, "Enquanto For Bom Dia" e "23ª Hora".
Basicamente, o top funcionava com os votos semanais dos leitores e dos ouvintes (gastei muito selo dos Correios, daqueles do cavalinho, D. Dinis).
Para a história, eis o 1º Grande Prémio do Disco, datado de 11 de Setembro de 1965:
1 - Help! - Beatles
2 - Esquece - Ekos
3 - Capri C'Est Fini - Hervé Vilard
4 - Chove - Conjunto Académico João Paulo
5 - House Without Windows - Cliff Richard
6 - C'Est La Première Fois - Felix Marten
7 - Trains And Boats And Planes - Burt Bacharach
8 - Quand Un Bateau Passe - Claude François
9 - With These Hands - Tom Jones
10 - De Homem Para Homem - Tony de Matos
Como é fácil de ver - aos olhos de hoje - o povo estava mesmo baralhado quanto às suas opções. Nem sequer a indústria discográfica se equipava com singles para as suas estratégias de promoção e de marketing.
Em suma, a indústria discográfica era naquela altura praticamente inexistente.
Os Beatles aguentaram 5 semanas no primeiro lugar (quem disse que os portugueses preferiam os Rolling Stones aos Beatles? Nesta lista de 50 canções, a melhor coisa que os Stones conseguem é um 14º lugar com "Satisfaction"), tendo sido substituídos no cimo, a 16 de Outubro de 1965, por "Hully Gully do Montanhês", do Conjunto Académico João Paulo ("Satisfaction" só tinha subido para 7º).
Como o povo precisava de arejar - para esquecer a guerra colonial e outras agruras do regime ditatorial - o Teatro Monumental, em Lisboa, graças à visão de Vasco Morgado, funcionava como uma espécie de catedral do ié-ié.
Naquela altura, desempenhou o mesmo papel que, anos mais tarde, pertenceu ao Coliseu ou ao Dramático de Cascais (este já foi abaixo).
Ainda antes do famoso Concurso Ié-Ié, de que os Claves sairiam vencedores, o Teatro Monumental, em Lisboa, abriu as suas portas à música no dia 02 de Fevereiro de 1966.
A ideia foi a de festejar o ano de 1965 em termos musicais, uma espécie de NME Pollwinners Concert (que, diga-se de passagem era sempre dominado pelos Beatles).
Segundo relato da época, a festa do Monumental foi um "autêntico espectáculo de ídolos, em que algumas das mais recentes e promissoras vedetas do disco colheram os aplausos delirantes de uma vasta e entusiasmada audiência".
Apresentado por João Martins e Carlos Cruz (então criança), o espectáculo foi uma "sucessão trepidante de quadros musicais, nas vozes e nos instrumentos de alguns dos nossos mais jovens e apreciados intérpretes".
Actuaram o Conjunto Mistério, os Claves, os Rocks e os Sheiks - "aplaudidos com igual calor" - mas a pena do repórter escorrega para os Rocks - uma "espectacular exibição do magnífico conjunto angolano, com um vocalista impressionante que electrizou a assistência".
Além destes ritmos modernos, cantaram também Teresa Tarouca e João Ferreira-Rosa.
Não percebo como não foram corridos do palco, mas o repórter no local dá conta de que "a plateia soube ouvir fado com silêncio e nostalgia, como antes tinha acompanhado com delirante vibração as canções yé-yé".
A segunda parte do espectáculo foi preenchida com a entrega de 18 prémios, 10 dos quais para o top 10 do Grande Prémio do Disco, 5 para editoras de discos portugueses, como agradecimento pela colaboração prestada ao referendum (sic), e que foram a Valentim de Carvalho, Rádio Triunfo, Arnaldo Trindade & Cª, Philips Portuguesa e Telectra, e os restantes aos autores e à orquestra da canção classificada em primeiro lugar ("Hully Gully do Montanhês", do Conjunto Académico João Paulo).
A terceira e última parte do espectáculo foi preenchida por Nino Ferrer, "cançonetista-sucesso de França", que se apresentou com o seu "conjunto privativo Les Gottamou".
Para o escriba de serviço, foram o "corolário arrebatador de um espectáculo sensacional".
Para a história aqui fica o Top 10 da classificação final do Grande Prémio do Disco-1965:
1 - Hully Gully do Montanhês - Conjunto Académico João Paulo
2 - Não Sei De Ti - António Calvário
3 - Chove - Conjunto Académico João Paulo
4 - Help! - Beatles
5 - Esquece - Ekos
6 - Nem Eu Nem Vocês - Simone
7 - Sonha - Madalena Iglésias
8 - (I Can't Get No) Satisfaction - Rolling Stones
9 - Viens Ma Brune - Adamo
10 - Yesterday - Beatles
Colaboração de Luís Pinheiro de Almeida
10 comentários:
Bom texto, boa história, mais um bom contributo para dar a conhecer mais um pouco da história da música ligeira Portuguesa dos 60s. Mas também muito interessante é o DVD que serve de ilustração ao texto, onde arranjaste isso ?
Para te dizer a verdade, não sei onde o DVD pára...
LT
Óptimo texto para dar uma ideia a quem não viveu esse tempo, do que se passava.
O melhor, porém, seria repescar essas sonoridades em disco. As portuguesas, francesas e outras que não as anglo-saxónicas porque essas são bem conhecidas.
E repescar ainda uma palavra sensacional: exactamente, SENSACIONAL.
Era uma palavra dos anos sessenta e que merece represtinação no vocabulário corrente.
Mais uma vez pergunto:
Se os Beatles eram tão "mal amados" em Portugal como é que conseguem ter o nº 1 no primeiro top português
Quem é o autor da notícia ?
Presumo que não seja mr. ié ié pois não indica "Colaboração de LPA"
:)
Não fazia ideia deste TOP nem dos concertos lisboetas a la NME Poll Winners Awards Show.
Curiosamente, ontem conversava com o Gabriel dos Autoramas sobre os discos de Nino Ferrer... há bruxas...
Bravo, Ié-Ié! O blogue inicia o ano confirmando a sua relevância no firmamento cibernáutico (bela frase... eheheh...)!
O DVD, Kerouac? Também tenho. De antologia. O show dos Beatles em 1964 é demolidor!
Repristinação é que é.
Um termo jurídico, mas de significado preciso.
Do Direito, o que gosto é do "obnubilar" que ainda hoje utilizo...
Ou da "enfiteuse" que contraponho nas consultas médicas quando me vêm com todos aqueles termos médicos.
"E a srª drª sabe o que é a enfiteuse?". Trocam logo tudo por miúdos...
LT
Os Beatles não eram lá muito bem queridos, mas havia sempre uns fãs que exageravam nas missivas ou nas chamadas telefónicas...
LT
"sensacional", "bestial"...
curioso que, tal como o "robalo", o dicionário oficial da Academia das Ciências de Lisboa também não contempla "repristinação"... "obnubilar" está!
LT
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