sábado, 10 de outubro de 2009

NACIONAL-CANÇONETISMO


MONITOR - MEP 5003 - s/data

Mais Vale Um Pássaro Na Mão - Fado do Resto - Fado Livre - O Rei Que Vai Nú

Pior do que os conjuntos de baile eram os cançonetistas, retrógrados e arcaicos, sem qualquer pingo de modernidade, de inovação.

João Paulo Guerra baptizou a arena de nacional-cançonetismo: Tony de Matos, António Calvário, Gabriel Cardoso, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias, Artur Garcia...

Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e music-hall de exportação.

Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiriamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair.

Foi essa a intenção que orientou a génese de "Vampiros", entidades destinadas ao desempenho duma função essencialmente laxante ao contrário do que poderá supor o ouvinte menos atento.

A fauna hiper-nutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório.

Descarreguei a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas.

José Afonso.

5 comentários:

Abel Rosa disse...

Que saudades do Zeca e do seu discurso PURO, neste espírito recordo um dos últimos espectáculos que assisti do Zeca, na Voz do Operario, em Lisboa, num concerto de apoio ao Povo de El Salvador, ser solidário para muitos dos presentes significava copos e mais copos e gargalhadas no bar, o Zeca interrompe a actuação com um Micro na mão, chama as consciências pelos nomes, sempre lúcido e frontal critica na cara os revolucionários de faz de conta e no seu estilo de quem acreditava na força das palavras deu-lhes forte e feio.

Anónimo disse...

Traduzidas muitas letras de canções ié-ié,(p.e.Beatles - She Loves You, Mchael Jackson, etc. etc.) e mesmo as letras das modernas que têm vindo a ocupar os tops e a passar na rádio, não são melhores que as do chamado "nacional-cançonetismo".
O problema é que, para muita gente, o que é nacional é mau e, qualquer balada anglo-saxónica com um "cheirinho" de Fender ou Gibson é sempre bom.
Carlos Paredes poucos apreciam mas Jimmy Page, Eri Clapton, Hendrix são deuses.
Mas destes, não será Carlos Paredes melhor executante de instrumento de cordas?
JR

Abel Rosa disse...

Por AMor de DEuses....Não comparar o Hendrix com o Paredes, nem os Beatles com o Gabriel Cardoso...tudo tem o seu conteúdo tudo e todos têm a sua estética e o seu lugar seja na história do RocknRoll ou na música popular e étnica, gosto de uma fender, de uma gibson, e de uma guitarra portuguesa e também do yé - Yé que me lembra o primeiro beijo e do coração do Paredes quando abraçava a guitarra com a alma e nos fazia vibrar gosto de todos até dos que não gosto....são artistas, fazem alguem sonhar, é esse o mistério.

Anónimo disse...

Consulte-se os tops actuais, as letras das respectivas músicas, atente-se aos conteúdos de origem anglo-saxónica que tanto passam nas rádios lusas em detrimento de idênticos ou até melhores conteúdos lusos. Porém, nos países anglo-saxónicos os seus artistas são respeitados, a começar nos da contry, folk, pop, silly love songs ,and so on... cujas líricas não diferem muito dos nacionais populares.
Porém, em Portugal são pimbas, "nacional-cançonetistas", retrógrados e todos os epítetos que se queiram. Mas são aquilo que o povo gostu e gosta de ouvir, pois também tem o drireito a sonhar.A título de exemplo o Tony de Matos deste post foi um "crooner" bem popular e dos poucos que alcançou sucesso além-fronteiras(Brasil).Com alguém afirmou "se queres ser universal mostra a tua aldeia", pois que, de prédios altos cinzentos, MacDonalds e Pizza Hut, está o mundo cheio!Foi mostrando a sua aldeia que Amália, Madrdeus, Mariza, também tiveram sucesso universal e não como meras cópias de tonalidades anglo-saxónicas tidas como modelo de aferição da modernidade!
JR

xtc disse...

Já vi edições estrangeis com a editora Monitor. Estará ligada à editora Estúdio ou a outra?