terça-feira, 20 de outubro de 2009

A ESSÊNCIA DO SÉC. XXI, SEGUNDO LUÍS MIRA



Há uns dias atrás, vi aqui um post sobre a edição de Novembro da revista “Uncut”, que prometia uma lista com os 150 melhores discos deste século (so far…).

Por falta de tempo para as ler, nos últimos anos deixei de comprar, com regularidade, revistas de Música e de Cinema, e quase que só o faço quando viajo, como pretexto para leitura no avião e nas salas de espera dos aeroportos.

Foi assim que conheci a “Uncut”. Hoje compro-a de vez em quando, quando o CD gentilmente oferecido e/ou o tema de fundo me suscitam interesse, o que também não sucede assim tantas vezes…

Desta vez fui no engodo da tal lista dos “150”. Para apanhar alguma coisa que me tivesse escapado e para ver como se situava o meu gosto face ao da revista, embora saiba bem que ela não vai muito à bola com as sonoridades que eu mais aprecio.

Concluí, sem espanto nenhum, que da referida lista dos “150 melhores” eu não tinha, na minha discoteca, mais do que uns míseros 23. Mas não pude, também, deixar de pensar em tantos discos que me fizeram boa companhia nestes últimos anos, aos quais não era feita qualquer referência. Seriam ainda do século passado, interroguei-me…? Apeteceu-me ir confirmar nas prateleiras e, de facto, encontrei muitos que já são bem deste século. Parei ao chegar aos trinta…

O curioso é que, desta minha lista, alguns até obtiveram, por altura do seu lançamento, uma avaliação muito honrosa por parte da revista. Mas quando chega a altura da verdade, são esquecidos….

Há largos anos que se conhecem este tipo de listas e elas valem o que valem. É claro que não sou eu que estou certo e a “Uncut” errada…. É tudo uma questão de gosto pessoal, ou então de outros valores que mais alto se levantam…

Aqui vos deixo, por brincadeira, a lista dos tais discos de que eu gostei e a “Uncut” não gostou.

Certamente que não serão, todos, dos melhores discos do século e muitos deles, sobretudo os de sonoridades mais 4AD, até aguentaram mal a passagem do tempo. Mas, pela amostra dos tais outros 23 que estão na lista, não têm nada de se envergonhar, bem pelo contrário…

- JONI MITCHEL: Both Sides Now (2000)
- LUCINDA WILLIAMS: Essence (2001)
- SPAIN: I Believe (2001)
- MARK KOZELEK: If You Want Bllod (2001)
- NICK CAVE AND THE BAD SEEDS: No More Shall We Part (2001)
- ANNE SOFIE VON OTTER (MEETS ELVIS COSTELLO): For The Stars (2001)
- MARK EITZEL The Invisible Man (2001)
- THE OPIATES: Anywhen (2001)
- HOPE SANDOVAL & THE WARM INVENTIONS: Bavarian Fruit Bread (2001)
- NICK LOWE: The Convincer (2001)
- CATHERINE IRWIN: Cut Yourself a switch (2002)
- AIMEE MANN: Lost in Space (2002)
- JOSH ROUSE: Under Cold Blue Stars (2002)
- PAULA FRAZER: A Place Where I Know (2003)
- CHRISTINA ROPENVINGE: Foreig Land (2003)
- ELVIS COSTELLO: North (2003)
- MARK OLSON & THE CREEKDIPPERS: Creekdippin’ for the First Time (2003)
- BONNIE “PRINCE” BILLY: Sings Great Palace Music (2004)
- THE CZARS: Goddbye (2004)
- K.D. LANG: Hymns of the 49th Parallel (2004)
- RICKIE LEE JONES: The Evening of my Best Day (2004)
- PERRY BLAKE: The Crying Room (2006)
- SPARKLEHORSE: Drean for Night Years in the Belly of a Mountain (2006)
- ANJANI THOMAS: Blue Alert
- AU REVOIR SIMONE: The Bird of Music (2006)
- BERT JANSCH: The Black Swan (2006)
- LINDA THOMPSON: Versatile Heart (2007)
- LAVENDER DIAMOND: Imagine Our Love (2007)
- AMERICAN MUSIC CLUB: The Golden Age (2008)
- FOTHERINGAY: Fotheringay 2 (2008)

PS: escolhi para ilustrar este texto uma fotografia do disco da Lucinda Williams por me parecer que a sua ausência da lista da “Uncut” é, dentro do seu género (chamemos-lhe “Austin Country”, que é um excelente cartão de visita…), uma das mais flagrantes injustiças. E logo um disco que tem na capa um selo com uma recomendação da própria “Uncut”...!!!

Colaboração de Luís Mira

24 comentários:

Anónimo disse...

Andaste por aqui a misturar originais com reedições.

António

Luis Mira disse...

Não me parece, Caro Anónimo... Quais, por exemplo?

O que sucede é que alguns destes intérpretes retomam, a solo, algumas músicas de grupos a que anteriormwente pertenceram. É o caso de Mark Kozelek, no que respeita aos "Red House Painters", de Hope Sandoval no que toca aos "Mazzy Star" e a Paula Frazier, no que concerne aos "Tarnation".

E outros são de "covers", como é o caso de Joni Mitchel, Anne Sofie Von Otter e K.D. Lang.

E "Fotheringay 2" é, na verdade, muito mais antigo, mas nunca tinha tido edição anterior...

filhote disse...

De muito bom gosto, Luís Mira.

Acrescento que qualquer registo da Lucinda e da Aimee, deste mesmo período, merece menção e é candidato a figurar nos lugares cimeiros da minha lista.

Luis Mira disse...

Totalmente de acordo, Filhote. Mas eu não quis, deliberadamente, repetir intérpretes nesta lista...

Aliás, não quis também repetir qualquer intérprete que estivesse na lista da "Uncut" e só acabei por o fazer numa caso: o do Nick Cave, por me parecer que "No More...." é incomparavelmente melhor do que os outros dois que a "Uncut" escolheu.

Um abraço!

ié-ié disse...

Nunca consegui compreender a paixão por Nick Cave... Só mesmo em Portugal, como nos casos de Lloyd Cole, Jesus Loves Jezebel, Lamb, Nètinho...

LT

OF disse...

Gene Loves Jezebel :)
Jesus and Mary Chain :)

ié-ié disse...

"Gene", claro, sorry!, até à Covilhã vão tocar...

Peter Murphy...

LT

ié-ié disse...

Sem desprimor para a Covilhã, bem entendido!

LT

ié-ié disse...

Hope Sandoval é uma das minhas heroínas. Tive o privilégio de a ver ao vivo no Royal Albert Hall, em Londres, no dia 04 de Junho de 1994, no Festival da Creation - Undrugged - com Jim Reid, dos Jesus and Mary Chain!

Que coisa!

A propósito, que tal será o novo disco dela, "Through The Devil Softly"?

LT

ié-ié disse...

Curioso. Não estava nada a ver o Luís Mira dos textos a apreciar os nomes que indica.

Da lista, sou fã de Lucinda Williams, Spain, Hope Sandoval e/ou Mazzy Star, Aimee Mann, Josh Touse, Mark Olson e/ou Jayhawks, Czars (YES!!!), Au Revoir Simone, Bert Jansch, Linda Thompson, American Music Club, Fotheringay...

LT

filhote disse...

O Nick Cave não é fenómeno exclusivamente português, Ié-Ié. Longe disso. E, na minha opinião, tem excelentes discos. A primeira vez que o ouvi foi no filme "As Asas do Desejo" de Wim Wenders...

Quanto ao "meu querido" Lloyd Cole, esse sim foi fenómeno muito lusitano. Sou fã incondicional, especialmente dos 3 LPs com os Commotions, "Rattlesnakes" (Polydor, 1984), "Easy Pieces" (Polydor, 1985), "Mainstream" (Polydor, 1987), e do LP solo "Don't get Weird on me, Babe" (Polydor, 1991).

O LP "Rattlesnakes" considero mesmo obra-prima. Um dos melhores discos dos anos 80.

Tive o privilégio de entrevistar Lloyd Cole e de ter estado em todos, ou quase todos, os shows dele em Lisboa - não foram poucos.

Mr. Cole continua a gravar bons discos. Discretamente.

Luis MIra disse...

Caro Ié-Ié,

Eu não sou um incondicional de Nick Cave. Acho, até, que gosto do homem pelos motivos errados, quando comparado com a maioria dos seus fans. Gosto, apenas (mas muito...) da faceta diria mais "crooner" e "slow" de NC, em magníficos albuns como "Murder Ballads", "The Boatman's Call" e "No More Shall we Part". Há uns bons anos atrás vi NC ao vivo no Coliseu, num espectáculo memorável baseado, precisamente, neste último disco.

Ficas já a saber que vou pedir ao Hugo que te grave uma selecção pessoal minha dessas músicas, e depois vem cá dizer-me que não gostas...

Quanto à ligação do "Luis Mira dos textos" a estas músicas, que diabo... As intermináveis estradas da América tanto nos podem fazer apelo ao turbilhão de guitarras dos Byrds e dos Flying Burrito Brothers, como aos murmúrios de Hope Sandoval... E quantas vezes me sentei a admirar um belo pôr-do-Sol com a voz rouca de Lucinda Williamas dentro de mim:

" Blue, is the color of night,
when the red sun desapears from the sky"...

Mas eu também poderia devolver a afirmação... Não estava a imaginar um "maluquinho dos Beatles" (com o devido respeito...!) a gostar destas músicas...!

Um abraço.

ié-ié disse...

Ah! Ah!

Convenhamos, mr. Look, que é bem "consistente", como diria o inenarrável David Caruso, ser "maluquinho dos Beatles" e apreciar a voz celestial de Hope Sandoval ou as melodias intangíveis dos Czars ou dos Red Hot Painters.

LT

gps disse...

Quanto ao comentário de LT

" Nick Cave... Só mesmo em Portugal, como nos casos de Lloyd Cole, Gene Loves Jezebel, Lamb, Nètinho... Peter Murphy"

1 - LLOYD COLE

Lloyd Cole teve sucesso em Inglaterra (principalmente) com os Commotions

1.1. Como os Commotions

a) Singles:

Perfect Skin (nº 19)
Brand New Friend (17)
Lost Weekend (38)
Cut Me Down (31)
Jennifer She Said (24)

b) Álbuns:

Rattlesnakes (nº 5)
Easy Pieces (9)
Mainstream (14)
1984-1989 (11)

1.2. A solo

a) Singles:

Like Lovers Do (24)

b) Álbuns:

Lloyd Cole (11)
Don't Get Weird On Me Babe (38)
Bad Vibes (27)
Love Story (24)
The Collection (24)

gps disse...

Quanto ao comentário de LT

" Nick Cave... Só mesmo em Portugal, como nos casos de Lloyd Cole, Gene Loves Jezebel, Lamb, Nètinho... Peter Murphy"

2 - NICK CAVE

Também Em Inglaterra

a) Álbuns

nº 40 - From Her To Eternity
nº 29 - Henry's Dream
nº 12 - Let Love In
nº 8 - Murder Ballads
nº 22 - The Boatman's Call
nº 11 - The Best Of Nick Cave And Bad Seeds
Nº 15 - No More Shall We Part
Nº 20 - Nocturama
Nº 11 - Abattoir Blues / The Lyre Of Orpheus
Nº 4 - Dig Lazarus Dig (em Março 2008)

gps disse...

Quanto ao comentário de LT

" Nick Cave... Só mesmo em Portugal, como nos casos de Lloyd Cole, Gene Loves Jezebel, Lamb, Nètinho... Peter Murphy"

3 - GENE LOVES JEZEBEL

O álbum "Discover" alcançou o nº 32 em Inglaterra

4 - LAMB

Tiveram pouco sucesso em Inglaterra

Um single no Top 30 (Gorecki)

E um álbum no nº 37

Eu pessoalmente adoro o tema "Gabriel"

(sempre tiveram maior sucesso que os Mazzy Star :) )

5- PETER MURPHY

Não teve sucessos a solo no top inglês, mas tinha bons temas "Indigo eyes", "Cuts you up", "Strange kind of love", ...

(O Martin Stephenson & the Daintees, de quem o LT já falou bem, não teve nenhum sucesso, o que não retira valor ao artista)

gps disse...

Quanto ao comentário

"até à Covilhã vão tocar..."

Ainda bem :)

gps disse...

E porque será que vão à Covilhã grupos como Gene Loves Jezebel, La Frontera,....

gps disse...

Esses grupos são agenciados pela Inter-musica, uma micro/pequena empresa de Almada que antigamente apenas representava artistas portugueses e 2 ou 3 estrangeiros (nos quais se incluíam Gene Loves Jezebel, La Frontera,...)

Por esse motivo é que esses grupos estavam sempre cá na "terrinha"

ié-ié disse...

A Inter-Música ainda existe? Boa! Conhecia bem o seu "patrão". Foi a Inter-Música que organizou em 1989uma excursão a Madrid para ver Paul McCartney.

LT

gps disse...

Alguns Destaques na página da Intermusica

http://www.inter-musica.net/en/details.asp?id=412

(Gene loves Jezebel)

http://www.inter-musica.net/en/details.asp?id=443

(La frontera)

Mas agora tem muito mais representações

gps disse...

Quanto ao Netinho, foi um "one-hit wonder" (ou pouco mais do que isso) quer em Portugal, quer no Brasil

Logo não é um fenómeno português :)

Segundo o wikipedia

Já em 1993, sua canção "Menina" (autoria de Paulinho Nogueira) torna-se um dos hits mais tocados no país, e nos anos seguintes sua carreira segue num crescendo, junto ao sucesso alcançado pela Axé Music - do qual sua "Preciso de Você" tornou-se um dos símbolos.

Em 1996 atinge o auge, com a canção "Milla", pois este CD foi o primeiro cd gravado diretamente de um show por cantores do axé music.

No ano seguinte ainda ganha um disco de platina com a canção "Fim de semana" capitaneando o novo disco.

Mas não consegue fazer a carreira voltar ao pico anterior, com as safras de sucessivos conjuntos e cantores que surgem todos os carnavais, na Bahia.

ié-ié disse...

Em 1999, numa entrevista em Dublin, pedi Lou Rhodes em casamento. Era linda de morrer! Levei sopa, é claro.

LT

gps disse...

Os Lamb tinham acabado, mas voltaram este ano

Quanto ao pedido de casamento, (Pensando bem) terá sido no Blitz ?