terça-feira, 22 de setembro de 2009

AS CIDADES DO OURO E DA PRATA 01


Jesse James was a lad that killed many man
He robbed the Glendale train
He took from the rich and he gave it to the poor
But they laid Jesse James in his grave.

Well it was Robert Ford, that dirty little coward
I wonder how he feel,
For he ate of Jesse’s bread and he slept in Jesse’s bed
Then he laid poor Jesse in his grave


Tradicional

Em anterior “crónica” falei-vos da “Gold Rush” e disse-vos que ela tinha sido determinante para um mais acelerado povoamento da Costa Oeste. Na verdade, com o “boom” do ouro e da prata, as cidades cresceram como cogumelos e o cortejo que as acompanhava era sempre o mesmo: proprietários de “saloons”, “outlaws”, aventureiros, jogadores de cartas, prostitutas, artistas de teatro e de “vaudeville”, cangalheiros, … Para ficarem com uma ideia, uma cidadezinha como Virgínia City que hoje tem 1.000 habitantes, chegou a ter 25.000 e mais de 100 “saloons” nos seus tempos áureos…

Muitas dessas cidades desapareciam do mapa quando se esgotava o filão. Transformavam-se em “cidades fantasma”, como a “Yellow Stone” do filme do William Welman.

Outras, como é o caso de Sacramento, que teve a sua origem no Forte do “Coronel” Sutter, sobreviveram, expandiram-se e transformaram-se em grandes cidades. Sacramento manteve uma parte da cidade a que chama “Old Sacramento” e que é suposto ser uma réplica da velha cidade da segunda metade do Séc. XIX. Aí poderemos ver o tribunal, a estação dos comboios, o Eagle Theatre que passa por ser o teatro mais antigo da Califórnia e também uma estátua de homenagem ao “Pony Express”, cuja viagem terminava precisamente aqui. Em desesperada corrida pela sobrevivência ainda conseguiu resistir aos primeiros comboios, mas foi sol de pouca dura…

Outras ainda, como Nevada City, não renegaram o seu passado histórico mas mantiveram a sua reduzida dimensão, conseguiram proteger-se do turismo selvagem e são, hoje, autênticos lugares de charme. Pequenos museus, lojas de muito bom aspecto, galerias de arte e bons restaurantes fazem apelo a um turismo de qualidade, que não se cansa de fotografar as belas fachadas das sua velhas casas perfeitamente recuperadas, como é o caso desta casinha branca, hoje um museu, que se diz ser uma das mais fotografadas da Califórnia. E quem pensar que o fenómeno da “neo-folk” deste Séc. XXI se limita a Devendra Banhart e aos seus amigos das montanhas de Woodstock, está muito enganado…. Figuras de proa como Joanna Newsom e Alela Diane vivem e gravam precisamente aqui em, Nevada City, tal como, antes delas, Utah Phillips.

Outras, finalmente, transformaram-se em enormes feiras algo abandalhadas, como é o caso de Virgínia City, onde Mark Twain chegou a viver nos seus tempos de jornalista. Aqui, a História do Oeste é-nos lembrada em cada esquina. A encenação do “Gunfight at OK Corral” passa 6 vezes por dia… Como também passam Pat Garret a matar Billy The Kid e Jesse James a subir a um banquinho para endireitar um quadro e a ser morto pelas costas pelo cobarde Robert Ford.

Parêntesis para vos lembrar que, naquelas décadas da segunda metade do Séc. XIX, a “comunicação social” começava a ditar as suas leis... Era habitual a actividade dos ditos “fora-da-lei” ser acompanhada, de perto, por “jornalistas”, que publicavam os seus relatos em jornais ou em folhetins dispersos. E quando a lenda suplantava a realidade, publicava-se a lenda, que era aquilo que as pessoas queriam ouvir... Não é, assim, de estranhar que pouco tempo após a morte de Jesse James já fosse se cantada pelos bares a canção que citei no início. E as músicas sobre “Outlaws” passaram a ocupar, ao longo dos tempos, um lugar importante no cancioneiro “Folk” (“Jesse James”, “John Hardy”, “Sam Bass”, “Pretty Boy Floyd”, e outros patifes menores como Tom Dooley….)

Quanto a mim, I’m a poor lonesome cowboy, and a long way from home… Vou-me daqui embora antes que estes tipos acordem, comecem a disparar uns contra os outros e me apanhem pelo meio…!

Colaboração de Luís Mira

12 comentários:

josé disse...

E agora venhmas as músicas sobre desperados.

A começar por Dylan, of course. E Johnny Cash. E Eagles. E New Riders of the Purple Sage. E muita mais country.

Esta história do Oeste, em diacronia, deveria ter sido escrita no Tintin de 1971, altura em que comecei a ler Blueberry e Comanche por causa disto. E na altura não havia bibliografia acessível sobre este assunto, pelo que qualquer foto, ilustração ou artigo sobre cowboys & indians era um iguaria intelectual.
O sucedâneo eram os filmes, claro.

filhote disse...

Quanto ao tal neo-folk deste século, Luís Mira, é preciso não esquecer que o expoente máximo do "movimento" tem berço em Seattle, e dá pelo nome de Fleet Foxes.

Volto a frisar aqui que o disco de estreia dos Fleet Foxes ("Fleet Foxes", Sub Pop Records, 2008) foi a obra mais surpreendente que ouvi depois da época dourada da música popular (anos 60). Trabalho de génios.

A propósito de "outlaws", o último saiu da pena do senhor Bruce Springsteen, na canção "Outlaw Pete" ("Working on a Dream", Columbia/Sony, 2009).

No resto, aprendi mais umas coisas com esta crónica...

Luis Mira disse...

José,
Tal como já escrevi num outro texto que ainda deve levar alguns meses a cá chegar, a música chama-nos para estes sítios e estes sítios apelam à música. E como já falámos de comboios, também podiamos evocar o "Desperados Waiting for a Train"...

Filhote,
Como gosto muito de "Folk Music" e não quero ficar eternamente agarrado aos meus idolos do passado, tenho feito algum esforço de actualização de conhecimentos... Mas como não oiço rádio nem sei se esse tipo de música passa, hoje, nalgum sítio, tenho comprado muitos discos um pouco "às escuras"... E, infelizmente, as decepções têm sido mais do que as alegrias.

Quanto aos "Fleet Foxes", encontrei-me com uma música deles numa colectânea do "Uncut" (salvo erro...) e considerei-a pura e simplesmente intragável...! Penso que era do primeiro disco e abstive-me, por isso, de o comprar, não obstante todo o bem dele que por aí disseram...

Mas se quer um exemplo de música Folk destes tempos de que gosto muito, posso referir-lhe a Gillian Welsh...

Luis MIra disse...

... e atenção Filhote: Devendra Banhart é muitíssimo anterior aos "Fleet Foxes"!

filhote disse...

Eu sei, Luís Mira, que esses artistas são anteriores aos Fleet Foxes. Bem anteriores. E por isso mesmo, os Fleet Foxes, como colectivo muito jovem, "lideram" a nova vaga.

A diferença nos Fleet Foxes está no facto de serem uma banda no verdadeiro sentido do termo. Não só na instrumentação, mas também na composição e arranjos das canções. E que canções, senhores!

Não sei que canção dos Fleet Foxes foi incluída nesse CD da Uncut. Porém, sei que só podia ser extraído do primeiro LP da banda, ou de um EP, "Sun Giant", editado antes. Isto, por que a discografia dos Fleet Foxes resume-se a estas duas edições.

É sempre possível não gostarmos de uma grande obra. A nossa reacção à música será sempre individual, emocionante, e subjectiva. Todavia, parece-me impossível que não goste do disco dos Fleet Foxes.

Gosta dos Beach Boys circa "Pet Sounds"? Ou dos Crosby/Stills/Nash&Young? Então tente ouvir o disco dos Fleet Foxes, na íntegra, e com calma...

Grande abraço!

filhote disse...

Errata: no 3º parágrafo do post anterior, em vez de "sei que só podia ser extraído" ler "sei que só podia ser extraída."

E acrescento: "Gosta dos Beach Boys circa Pet Sounds? Ou dos Crosby/Stills/Nash&Young? Então imagine essas referências musicais misturadas com os sons que vêm da profundeza das florestas..."

Luis Mira disse...

Filhote,
Agora em casa posso dar-lhe a informação: a tal canção chama-se "Mykonos" (e eu que gosto tanto da ilha...!) e está incluida numa colectânea da Uncut que se chama "Long Time Gone - 15 All-New American Music Classics. Foi retirada do EP "Sun Giant".

Não é que ela faça muito mal a alguém mas, Filhote, isto é "Folk Music"...!? Tal como os Beach Boys e CSN&Y que refere... Só se o forem na velha acepção do Big Bill Bronzy: "I guess all songs are folk music. I never heard no horse sing 'em"!!!

Um abraço!

filhote disse...

De acordo, Luís Mira, a minha concepção de Folk Music é bastante alargada.

No caso dos Fleet Foxes, pressinto-lhes uma forte componente Folk devido às sonoridades bucólicas, e às melodias (e harmonias vocais) inspiradas numa certa estética ancestral.

Quanto a "Mykonos", é uma cançoneta interessante - tenho o single em vinil. Todavia, o EP "Sun Giant", na verdade um punhado de demos, não atinge o nível do LP posterior.

Luis Mira disse...

Ok, Filhote...
Como prova de confiança no seu (habitual) bom gosto, convenceu-me a dar uma oportunidade ao disco, sabendo agora que não tenho, necessariamente, de entrar pela porta da Folk.
Depois lhe contarei como foi...

Teresa Rebotim disse...

Sim senhor , meu caro Irmão!!
Li atentamente tudo .. de fio a pavio....descobri ocasionalmente, e , é interessante esta partilha.
*bjs e bons projectos p ambos.
teresa rebotim

filhote disse...

Luís Mira, fico então a aguardar o veredicto...

Luis Mira disse...

Obrigado, Mana!
E igualmente...