Todos os anos, pelo Natal, o Abílio oferece-lhe uma cassete (objecto em vias de extinção e o Abílio queixa-se que, cada vez mais, se torna difícil encontrá-las).
Grava-lhe coisas “fixes”, coisas “velhinhas”, diz ele.
Como não tem misturador, o Abílio perde horas para que a cassete não tenha “brancas” e as canções tenham um alinhamento.
De algumas das musiquinhas gosta, de outras não, mas isso é a velha história.
Poderia passar o Natal sem uma cassete do Abílio, mas não era bem a mesma coisa. Um pouco como aqueles tios amalucados que aparecem na Festa de Natal: incomodam quando estão; sentimos saudades quando faltam.
Foi a arrumar a cassete deste Natal em “su sitio”, onde há alguns anos alinha as cassetes, oferecidas pelo Abílio, que se lembrou de uma tirada do livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby.
Foi reler e não achou disparatado fazer a transcrição:
Passei horas a alinhar a cassete. Para mim, gravar uma cassete é como escrever uma carta – tenho de apagar muito, repensar e começar outra vez de início, e eu queria que a cassete ficasse boa, porque… para falar verdade, porque nunca tinha conhecido nenhuma mulher tão promissora como a Laura desde que tinha começado a pôr música, e conhecer mulheres promissoras era parte da profissão.
É difícil fazer uma boa cassete de compilação, tal como é difícil acabar uma relação. É preciso abrir com uma música surpreendente, para captar a atenção (comecei com “Got To Get You Off My Mind”, mas a seguir percebi que ela podia não passar da primeira faixa do lado A se eu desse logo tudo, por isso encaixei-a a meio do lado B), e depois sem se pôr uma mais enérgica ou mais calma, e não se pode misturar música branca com música negra, a menos que a música branca seja parecida com música negra, e não se pode pôr duas faixas do mesmo artista ao lado uma da outra, a menos que se tenha posto todas aos pares, e… oh, há imensas regras.
Seja como for, fartei-me de trabalhar, e ainda tenho meia dúzia de “demos” antigas espalhadas pela casa, cassetes-protótipo em relação às quais fui mudando de ideias. E na sexta-feira à noite, tirei-a do bolso do blusão quando ele veio ter comigo, e seguimos caminho a partir dai. Foi um bom início.
Colaboração de Gin-Tonic
Grava-lhe coisas “fixes”, coisas “velhinhas”, diz ele.
Como não tem misturador, o Abílio perde horas para que a cassete não tenha “brancas” e as canções tenham um alinhamento.
De algumas das musiquinhas gosta, de outras não, mas isso é a velha história.
Poderia passar o Natal sem uma cassete do Abílio, mas não era bem a mesma coisa. Um pouco como aqueles tios amalucados que aparecem na Festa de Natal: incomodam quando estão; sentimos saudades quando faltam.
Foi a arrumar a cassete deste Natal em “su sitio”, onde há alguns anos alinha as cassetes, oferecidas pelo Abílio, que se lembrou de uma tirada do livro “Alta Fidelidade”, de Nick Hornby.
Foi reler e não achou disparatado fazer a transcrição:
Passei horas a alinhar a cassete. Para mim, gravar uma cassete é como escrever uma carta – tenho de apagar muito, repensar e começar outra vez de início, e eu queria que a cassete ficasse boa, porque… para falar verdade, porque nunca tinha conhecido nenhuma mulher tão promissora como a Laura desde que tinha começado a pôr música, e conhecer mulheres promissoras era parte da profissão.
É difícil fazer uma boa cassete de compilação, tal como é difícil acabar uma relação. É preciso abrir com uma música surpreendente, para captar a atenção (comecei com “Got To Get You Off My Mind”, mas a seguir percebi que ela podia não passar da primeira faixa do lado A se eu desse logo tudo, por isso encaixei-a a meio do lado B), e depois sem se pôr uma mais enérgica ou mais calma, e não se pode misturar música branca com música negra, a menos que a música branca seja parecida com música negra, e não se pode pôr duas faixas do mesmo artista ao lado uma da outra, a menos que se tenha posto todas aos pares, e… oh, há imensas regras.
Seja como for, fartei-me de trabalhar, e ainda tenho meia dúzia de “demos” antigas espalhadas pela casa, cassetes-protótipo em relação às quais fui mudando de ideias. E na sexta-feira à noite, tirei-a do bolso do blusão quando ele veio ter comigo, e seguimos caminho a partir dai. Foi um bom início.
Colaboração de Gin-Tonic
2 comentários:
CARO HUGO
Dou-te os parabéns por ainda teres AMIGOS como o Abilio.
Não é todos os dias que temos o prazer em tomar conhecimento de gestos tão magnânimos como o deste AMIGO ABILIO que nunca se esquece todos os anos da sua cassetezinha.
Não tenho o prazer de conhecer o Abilio,mas caro Hugo quem tem amigos destes é um HOMEM RICO!!!
Obrigado, Hugo, por me teres feito lembrar do "High Fidelity", um dos filmes "recentes" (vai fazer 10 anos já - estreou-se cá no burgo, a 5 de Maio do ano 2000) que aqui o Rato arquivou no peito. Recomenda-se a todos aqueles que falam, ou numa certa altura das suas vidas falaram o verdadeiro esperanto: a música pop, uma linguagem indissociável dos assuntos do coração (o painel dos comentadores deste blog será sem dúvida um bom exemplo). Um filme que é uma radiografia perfeita do cérebro masculino e por isso mesmo dedicado a todos aqueles que pelo menos uma vez se perguntaram se ouviam música pop porque estavam infelizes, ou se estavam infelizes por ouvir música pop a mais ("Do I listen to pop music because I'm miserable? Or am I miserable because I listen to pop music?"); para todos os que já se julgaram membros de um clube exclusivo porque se sentiram senhores de um conhecimento exaustivamente enciclopédico, e dos gostos definitivos, sobre música pop, e os esgrimiram ferozmente com outros como eles; para os felizes nas escolhas musicais mas infelizes nas sentimentais; para todos cujas existências foram ou são obsessivamente tuteladas pelos valores da música pop; para os muitos que compram LPs e singles pela Internet e suspiram em um dia os poder adquirir numa loja recheada de vinil, e de raridades em vinil.
Enfim, e por todas estas razões, a haver um filme ilustrativo deste blog, "Alta Fidelidade" será certamente o eleito.
Graças a ti, Hugo, vou revê-lo ainda hoje e colocar a banda sonora no blog do Rato.
GRANDE ABRAÇO!
Enviar um comentário