Já aqui vos falei de tantos lugares e de tanta coisa, que é chegada a altura de vos contar uma história com “moral” no fim. Ou melhor, uma anedota…
Quando estava a preparar esta viagem li algures que as ostras californianas eram magníficas e que o melhor sítio para as comer era na região de Point Reys, a Norte de S. Francisco, de que já aqui vos falei a propósito do farol. E a “Hog Island Oyster Company” era um sítio especialmente recomendável para o fazer.
Vocês conhecem-me bem: saudoso das belas ostras francesas que, ultimamente, já não me passam pelo estreito com tanta regularidade, mal li isto comecei logo a salivar e sublinhei bem a vermelho para não me esquecer.
Quando já estava em S. Francisco, calhou ir visitar o Embarcadero, que era uma antiga estação fluvial que fica no porto e que estamos fartos de ver no cinema. O Embarcadero foi, entretanto, desactivado e alberga, hoje, uma quantidade enorme de lojas “gourmet” de excelente aspecto. Para tudo quanto possam imaginar existe uma loja da especialidade: peixe, carne, marisco, vinho, pão, fruta, doces, guloseimas, queijo, enchidos, legumes, cafés… Tudo rigorosamente limpo e arrumado. E existem, também, pequenos restaurantes onde se pode petiscar.
Por coincidência, reparei que um desses espaços era, precisamente, o da “Hog Island Oyster Co”., o tal das ostras. Era um balcão quadrado de excelente aspecto, não só pelas iguarias que estavam à vista, mas também pela própria limpeza geral e apresentação dos empregados. Estive quase a sentar-me, mas não o fiz: “Então eu vou perder o meu tempo a sentar a peida no balcão, quando dentro de dois ou três dias posso ir à Sede…!” Imaginei logo a “Sede” como uma espécie de pontão de madeira a entrar pelo mar adentro, com mesas protegidas do sol e cadeiras de lona. Empregados impecavelmente vestidos de branco e com uma toalha rigorosamente dobrada sobre o braço esquerdo vinham servir-me de ostras e de vinho branco fresquinho de Napa Valley de cada vez que lhes fizesse um sinal. E comecei a salivar ainda mais…
Já a caminho, mesmo junto à estrada, vejo surgir a magnífica Tomales Bay e tenho a certeza que as minhas melhores expectativas se confirmarão. O lugar é belíssimo… Só falta encontrar esse tal pontão de madeira…. Atravessa-se Marshal, que era a localidade indicada, sem que nada se veja mas, logo à frente, aparece à nossa esquerda um barracão com o nome da empresa. Nada de pânicos…! Trata-se, certamente, do armazém por onde entram e saem os camiões de transporte. A entrada principal não poderá deixar de ser mais à frente, num local selecto. Mas nada…. Entra-se então no “armazém” e pergunta-se. É mesmo ali, e …. só ali! Enquanto tentamos recompor o nosso estado de espírito, desfeito em pedaços, olha-se à volta e não se acredita… É mau demais para ser verdade…
A realidade é esta: o local funciona como um entreposto, mas quem quiser pode comprar as ostras que quiser, na quantidade e no tamanho que quiser, e ir comê-las para umas mesinhas de madeira num local reservado, junto à baia. Mas nada de vinho branco de Napa Valley nem o que quer que seja… No drinks! Nem sequer um Seven Up…
Foi assim que me vi com uma enorme luva de borracha na mão, um balde de ostras e um instrumentozeco para as abrir. Com algum sacrifício, lá consegui que me pusessem uns pedacinhos de limão dentro de um desses copos de plástico onde nos servem o café nos campos da bola. E toca a marchar…
Quem conhecer o “sistema” e trouxer de casa uma toalha, bebidas fresquinhas e tudo o mais que lhe aprouver é capaz de fazer um belo piquenique, porque o sítio onde se come não é desagradável de todo e as ostras são, de facto, excelentes… Mas, para mim, foi uma profunda decepção…
Moral da história: segue o conselho que há já quase 50 anos te dava o Cliff Richard e não esperes pelo dia de amanhã. Nunca deixes, por isso, de sentar a peida no primeiro balcão simpático que te aparecer pela frente. Seja ele qual for…!
Tomorrow,
why wait until tomorrow?
‘cause tomorrow,
Sometimes never comes…
Boas férias, para quem for o caso…! Estarei de volta dentro de quinze dias.
Luís Mira
Quando estava a preparar esta viagem li algures que as ostras californianas eram magníficas e que o melhor sítio para as comer era na região de Point Reys, a Norte de S. Francisco, de que já aqui vos falei a propósito do farol. E a “Hog Island Oyster Company” era um sítio especialmente recomendável para o fazer.
Vocês conhecem-me bem: saudoso das belas ostras francesas que, ultimamente, já não me passam pelo estreito com tanta regularidade, mal li isto comecei logo a salivar e sublinhei bem a vermelho para não me esquecer.
Quando já estava em S. Francisco, calhou ir visitar o Embarcadero, que era uma antiga estação fluvial que fica no porto e que estamos fartos de ver no cinema. O Embarcadero foi, entretanto, desactivado e alberga, hoje, uma quantidade enorme de lojas “gourmet” de excelente aspecto. Para tudo quanto possam imaginar existe uma loja da especialidade: peixe, carne, marisco, vinho, pão, fruta, doces, guloseimas, queijo, enchidos, legumes, cafés… Tudo rigorosamente limpo e arrumado. E existem, também, pequenos restaurantes onde se pode petiscar.
Por coincidência, reparei que um desses espaços era, precisamente, o da “Hog Island Oyster Co”., o tal das ostras. Era um balcão quadrado de excelente aspecto, não só pelas iguarias que estavam à vista, mas também pela própria limpeza geral e apresentação dos empregados. Estive quase a sentar-me, mas não o fiz: “Então eu vou perder o meu tempo a sentar a peida no balcão, quando dentro de dois ou três dias posso ir à Sede…!” Imaginei logo a “Sede” como uma espécie de pontão de madeira a entrar pelo mar adentro, com mesas protegidas do sol e cadeiras de lona. Empregados impecavelmente vestidos de branco e com uma toalha rigorosamente dobrada sobre o braço esquerdo vinham servir-me de ostras e de vinho branco fresquinho de Napa Valley de cada vez que lhes fizesse um sinal. E comecei a salivar ainda mais…
Já a caminho, mesmo junto à estrada, vejo surgir a magnífica Tomales Bay e tenho a certeza que as minhas melhores expectativas se confirmarão. O lugar é belíssimo… Só falta encontrar esse tal pontão de madeira…. Atravessa-se Marshal, que era a localidade indicada, sem que nada se veja mas, logo à frente, aparece à nossa esquerda um barracão com o nome da empresa. Nada de pânicos…! Trata-se, certamente, do armazém por onde entram e saem os camiões de transporte. A entrada principal não poderá deixar de ser mais à frente, num local selecto. Mas nada…. Entra-se então no “armazém” e pergunta-se. É mesmo ali, e …. só ali! Enquanto tentamos recompor o nosso estado de espírito, desfeito em pedaços, olha-se à volta e não se acredita… É mau demais para ser verdade…
A realidade é esta: o local funciona como um entreposto, mas quem quiser pode comprar as ostras que quiser, na quantidade e no tamanho que quiser, e ir comê-las para umas mesinhas de madeira num local reservado, junto à baia. Mas nada de vinho branco de Napa Valley nem o que quer que seja… No drinks! Nem sequer um Seven Up…
Foi assim que me vi com uma enorme luva de borracha na mão, um balde de ostras e um instrumentozeco para as abrir. Com algum sacrifício, lá consegui que me pusessem uns pedacinhos de limão dentro de um desses copos de plástico onde nos servem o café nos campos da bola. E toca a marchar…
Quem conhecer o “sistema” e trouxer de casa uma toalha, bebidas fresquinhas e tudo o mais que lhe aprouver é capaz de fazer um belo piquenique, porque o sítio onde se come não é desagradável de todo e as ostras são, de facto, excelentes… Mas, para mim, foi uma profunda decepção…
Moral da história: segue o conselho que há já quase 50 anos te dava o Cliff Richard e não esperes pelo dia de amanhã. Nunca deixes, por isso, de sentar a peida no primeiro balcão simpático que te aparecer pela frente. Seja ele qual for…!
Tomorrow,
why wait until tomorrow?
‘cause tomorrow,
Sometimes never comes…
Boas férias, para quem for o caso…! Estarei de volta dentro de quinze dias.
Luís Mira
6 comentários:
Igualmente e obrigada Luís Mira :-)
Boas férias, Luís Mira. Partilho o gosto pelas ostras (cruas, claro, já que em Portugal havia a bárbara mania de as abrir ao calor) e tb pelas "praires", que nunca consegui encontrar cá pelo rectângulo.
Abraço
Pois...
Assim, os "homens-dos-caracóis" ... gozam com isto!!!
Porque, para comerem as tais "osgas-rastejantes" não têm tanto trabalho...
...nem precisam de luva...!
Sobre ostras, as melhores que comi na vida foram na praia de Pipa, Natal, Rio Grande do Norte.
Mas estar com quase 40º, na ilha de Florianópolis (Floripa), Santa Catarina, que é responsável pela produção de quase 80% da produção de ostras no Brasil, na praia de Jurêrê e degustar umas ostras, regadas com Veuve Clicquot ao som de Roberto Menescal é priceless! Ou então, também em Floripa, compradas na praia, directamente aos pescadores (que têm apelidos como Câmara, ou Bettencourt), ou num bar chamado "Açores", na localidade de ... Santo António de Lisboa.
Enfim, pequenas extravagâncias burguesas, que um pé-rapado luso se pode dar ao luxo no Brasil, né filhote?
Amigos,
Detesto caracóis,e todos os demais similares rastejantes, como diz o Luís.
Baratas, inclusivé, mas...
Não, não me vou "iniciar" nas ostras...
Tridente (ou gazua ?) na mão direita;
Luva na mão esquerda... não, não dá.
E, se calhar, faltam as botas com biqueira de ferro...
O capacete homologado pela CEE (das ostras), claro...
Máscara e óculos especiais...
Escudo protector...
Não, fico-me pela lagosta, gambas, camarões.
Ao natural.
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