quinta-feira, 6 de março de 2008

FALIU A DISCOTECA DO "MUNDO DA CANÇÃO"


Jorge Silva Melo, numa crónica que titulou “Já Fechou a Livraria”, conta que uma pequena livraria abriu um dia em Campo de Ourique mas não chegou a estar aberta um ano.

“Por que não fui interlocutor solidário daquele senhora que efectivamente ousou e foi vencida? Por que hei-de perdoar-me a mim? Não foi isso mesmo o que eu disse àquele pequena livraria? Que não a queria? Que não me servia para nada? Que lhe prefiro a Internet e as fnacs? Se a pequena livraria fechou, fui também eu que a fechei".

Quando leu a crónica, lembrou-se de uma frase de Orson Welles em que o Mestre dizia que neste tempo demoníaco das grandes superfícies, ainda havemos de ter saudades do merceeiro da nossa rua.

Agora recebeu uma mensagem de um amigo que lhe conta:

“Havia em Lisboa uma discoteca que se chamava "Mundo da Canção", especialista em Jazz, Música Portuguesa e World Music em geral".

Essa discoteca ficava no Centro Comercial Picoas, ali para os lados do Saldanha, e eu ia lá com alguma regularidade. Era necessário apoiar essa malta e sempre que encontrava lá alguma coisa que me interessasse, comprava, embora soubesse que na Net iria encontrar mais barato. Mas comprava á mesma, para os ajudar.

Apercebi-me que os tempos estavam difíceis para eles quando tiveram de sair do Centro Comercial e foram para uma lojeca não muito distante, num pátio interior que se situava no mesmo bairro.

Passei a ir lá com um pouco mais de regularidade fazer as minhas compras e até já tinha um certo tratamento VIP, que levava os gajos a fazerem-me sempre um desconto, embora eu nunca lhes tivesse pedido nada. E, mesmo com os descontos, os discos ficavam mais caros.

Estive alguns meses sem lá ir e quando lá voltei, dei com o nariz na porta. Não vi na montra informação nenhuma mas reparei que no interior da loja já não havia nada. Entrei na loja ao lado e perguntei o que se tinha passado com os vizinhos do lado. Ergueu um pouco a cabeça, sorriu levemente e respondeu-me com indisfarçável satisfação, acentuando bem as sílabas: “FA-LI-RAM!".

Essa discoteca era um verdadeiro "serviço público" para quem gosta de música e considero verdadeiramente inadmissível que nenhum dos nossos escribas, papagaios de tudo e mais alguma coisa, tenha escrito, que me tenha apercebido, uma única linha sobre o assunto.

Sente que cada vez mais o coração da cidade vai morrendo, que as emoções, as nostalgias, os bocados de vida se vão perdendo, que já nada é como era.

Ao tratamento personalizado, calmo, simpático de uma pequena mas eficaz loja, preferimos o tratamento incompetente, apressado e à patada de uma qualquer FNAC, tal como um destes dias “Mr. Ié-Ié, se fazia eco.

Ao que parece é disto que gostamos!

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

VdeAlmeida disse...

também conheci a discoteca.
O problema, caro Hugo, é que os tempos não se compadecem com boas vontades. O vil metal comanda tudo, e a verdade, é que a maior parte das pessoas anda com o tostão contado, e compra onde é mais barato.
Afinal, se até a ex-gigante Valentim de Carvalho foi varrida...

Rato disse...

Só espero ver chegar o dia em que a internet consiga varrer de vez do mapa fnacs e companhias: cá se fazem cá se pagam. Eu por mim já há muito que estou a contribuir para isso.

JC disse...

E se até a Tower Records de Piccadilly Circus, de tão gratas recordações, foi desta para pior: saída do escritório às 17.30h, whisky no pub en frente, Tower Records até à 1/2 noite e late dinner de sanduíches de salmão no hotel via room service. Que saudades, desculpem lá o desabafo.