sábado, 29 de março de 2008

"VALE A PENA CORRER RISCOS"

(na imagem, António Manuel Ribeiro e Renato Gomes, da primeira formação dos UHF)

Começou sozinho com uma viola acústica, "Íntimo". Duas horas e meia depois era a desbunda em palco com "Rapaz Caleidoscópio" e duas baterias, dois baixos, três guitarras, um saxofone, um violino e - cereja no topo - António Vitorino de Almeida, cabelo desgrenhado, ao piano.

Foram os 30 anos do UHF na Aula Magna da Reitoria da Universidade Clássica de Lisboa. Já assisti a vários concertos na Aula Magna, mas sempre achei um sacrilégio a sua profanação pelo rock. Que querem? Sempre estive habituado a outras cenas... A minha Faculdade é mesmo ali ao lado.

Mas se há roqueiro que merece pisar aquele palco ele é António Manuel Ribeiro. Nem sequer Rui Veloso que, miseravelmente, gazetou para o duelo em "Rua do Carmo".

António Manuel Ribeiro e UHF confundem-se, mas AMR necessita de comer mais peixe grelhado com legumes, sem a batata cozida, abster-se de álcool, e andar mais de uma hora a pé por dia. Sob pena de ser ultrapassado pelos jovens da sua nova banda.

Duas semanas antes tinha visto um Robert Smith igual. Será moda?

António Manuel Ribeiro estava visivelmente satisfeito, embora engripado, como confessou. E perante a mini-multidão ruidosa de fãs atirou convicto: "nós merecemos isto!". Também acho. Os UHF são o vinho do Porto do nosso rock. Mas AMR não deixou a coisa por menos: "em 30 anos revolucionámos a música neste País".

Nas duas horas e meia de concerto, soou uma vintena de canções, "Jorge Morreu", "Matas-me Com O Teu Olhar", "Na Tua Cama", "Lisboa" (com António Eustáquio na guitarra e Tiago Flores, dos Corvos, no violino), "Sarajevo" (com António Vitorino de Almeida), "Cavalos de Corrida", "Esta Dança Não Me Interessa", "Uma Valsa/Uma Dança", "Menino", "Grândola Vila Morena", "A Lágrima Caiu", "Quero Um Whisky"... (não necessariamente por esta ordem).

Até teve o seu "momento Jim Morrison" em "Na Luz".

Como anunciou que o concerto estava a ser gravado, espera-se um "best of" ao vivo.

"Obrigado por esta noite! Nunca pensei chegar aqui. Só queremos dar o nosso melhor", disse António Manuel Ribeiro. O público, os fãs é que devem estar agradecidos. Eles merecem e António Manuel Ribeiro merece também.

Confesso que sou apenas um fã intermitente dos UHF: emocionei-me com os "Cavalos de Corrida", com a fantástica versão acústica de "Matas-me Com O Teu Olhar", com um ou outro apontamento, mas sobretudo nutro um grande respeito pelo comportamento, pela atitude, pelo profissionalismo do "nosso Jim Morrison".

Parabéns, UHF!

Colaboração de Luís Pinheiro de Almeida (texto) e Teresa Lage (imagem)

4 comentários:

filhote disse...

Belíssima foto, Teresa... eles de facto estão anafados, AMR e o meu amigo "StratoRenato", mas nem por isso deixam de ser lendas do nosso Rock'n'Roll!

Se eu estivesse em Lisboa, não faltaria a esse show da Aula Magna. 30 anos? Estou a ficar velho... ainda ontem me sentia o "Rapaz do Caleidoscópio"...

josé disse...

Subscrevo o escrito. Gosto dos UHF, sendo dos poucos grupos portugueses que aprecio verdadeiramente.

Gosto da mistura sonora, de Matas-me com o teu olhar e Foge comigo Maria.

Tem um som cheio, que nem parece cd.

JM disse...

blasfémia!
respeitinho ao Jim Morrison!

Mirmo disse...

Os UHF têm sido, quanto a mim, "a" banda portuguesa mal-amada.

Não foi há muito anos o triste episódio das garrafas atiradas para o palco com...

Um percurso intermitente e pouco divulgado pelos media, com consequências nas vendas dos (igualmente poucos) álbuns.

Mas o que é facto é que eles cá continuam, bastante audíveis.

Espectacular a nova abordagem de estilo em "Matas-me...".