ORFEU - ATEP 6012 - 1960
Greenfields (Terry Gilkyson/Rich Dehr/Frank Miller) - Era Um Biquini Piquinino Às Bolinhas Amarelas (Paul Vance/Pedro Osório) - Escândalo Ao Sol (Stelner) - Tom Pillibi (André Popp)
Contrariamente ao que se possa pensar, o biquini não foi proibido em Portugal. Nem a mini-saia.
Eis o testemunho recente de uma jovem dos
sixties:
Em 63/64, ou talvez antes, lembro-me de já usar bikini sem problemas para além dos comentários idiotas dos parolos. Penso que, tal como a mini-sai, nunca foi formalmente proibido, embora em algumas praias mais provincianas, as mulheres não se atrevessem a vesti-lo.
Pedro Osório não tem grande apreço por esta sua gravação, a primeira da sua carreira. Nas suas
"Memórias" escreve mesmo que é "uma nódoa do seu passado":
Uma noite eu e os meus amigos do conjunto chegámos a minha casa vindos de um jantar bem comido e melhor bebido.
Fomos, como de costume, para a sala de música na cave onde decidimos montar uma canção nova. Entre sugestões de três italianas e duas francesas, alguém lançou a ideia do "Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini".
A desaprovação foi unânime. Até o proponente concordou que era uma americanada pirosa. Para tornar esse facto bem claro começámos a cantá-la com uma versão literal em português e ríamos a bom rir quando alguém propôs que fizéssemos uma versão mesmo para abandalhar.
Ajudados pelos remanescentes vapores do tinto, ao fim de meia hora tínhamos a obra feita e tocávamo-la em gargalhadas.
Pensei que o assunto morria ali e, quando muito, ficaria com uma cantiga para animar a camioneta da próxima excursão do Orfeão Universitário. Uns dias depois, no entanto, as coisas evoluíram num sentido inesperado.
O Arnaldo Trindade era o editor discográfico mais activo do Porto e achava-nos muita graça. Tínhamos-lhe apresentado diversas propostas para gravar um disco, mas ele sempre as recusava porque não tinham originalidade que viabilizasse o projecto.
Até que o Zé Couceiro lhe falou na nossa malparida versão do "Itsy Bitsy..." e o seu aguçado faro comercial fez clique. Disse para arranjarmos qualquer coisa para o lado B que nos gravava um single.
A nossa primeira reacção foi dizer que nem pensar nisso. Era uma javardice, uma canção de de bêbedos, não íamos gravar aquilo. Mas a excitação de pela primeira vez entrar num estúdio, de ter um disco que passasse na rádio e, acima de tudo, a grande capacidade de persuasão do Arnaldo Trindade, acabaram por nos convencer.
E umas semanas depois passámos uma noite no estúdio da RTP - não havia no Porto nenhum estúdio apetrechado para gravação de disco - repetindo "o bikini às bolinhas amarelas" até sair uma vez sem nenhum engano, porque montagem de mais de uma take era coisa que ainda não se fazia naquele tempo.
O disco foi um sucesso enorme que, muitos anos depois, quando eu, já profissional, lutava denodamente pela qualidade do meu trabalho, me era lembrado por companheiros que, entre a brincadeira e o sarcasmo, me recordavam aquele telhado de vidro.