Lado 1
Jezebel (Wayne Shanklin) - Si Lo So (Gian Piero Reverberi) - Chove (Sérgio Borges/Carlos Alberto Gomes) - Non Son Degno Di Te (Franco Migliacci/Bruno Zambrini) - Milena (A Da Praia) (Carlos Alberto Gomes/Sérgio Borges) - La Nuit (Salvatore Adamo)
Lado 2
Balada A Uma Rapariga Triste (Sérgio Borges/Carlos Alberto Gomes) - Diz-lhe (Carlos Alberto Gomes/Sérgio Borges) - Stasera Pago Io (Domenico Modugno) - Capri C'est Fini (Hervé Vilard) - Ciao (Gian Pieretti/Carl Sigman/H. Tical) - Hully Gully Do Montanhês (Sérgio Borges/Carlos Alberto Gomes)
Em Portugal Continental (então chamado Metrópole) este foi, em Setembro de 1966, o primeiro LP da chamada música pop portuguesa.
Não se trata, porém, de um álbum de novas gravações (com excepção de quatro, "Jezebel", "Si Lo So", "La Nuit" e "Stasera Pago Io"), mas de uma colectânea de canções que já tinham sido publicadas nos 2º, 3º, 4º e 5º EPs do Conjunto Académico João Paulo.
Este álbum teve duas edições, uma mono, PMX 5000, e outra estereo, SPMX 5000 (na imagem).
E era aí que residia o mistério deste LP, considerado até por alguns um embuste ou puro marketing, já que não se tratava de um verdadeiro álbum ao vivo.
Eis a explicação de Ângelo Moura, um dos membros do Conjunto Académico João Paulo:
A exemplo do que acontecia com vários artistas europeus como Brel, Bécaud, Adamo, Sylvie Vartan, etc., que editaram LPs denominados "Ao Vivo no Olympia", surgiu a ideia de fazermos o LP dentro dessa base, usando o nome de uma sala de espectáculos portuguesa.
Teatro Monumental era sem dúvida a nossa escolha, já que esta sala tinha sido o local onde tínhamos realizados praticamente todos os concertos.
No entanto surgiam dois problemas: 1º - como evitaríamos os pequenos "percalços" (entenda-se, fífias) que sempre acontecem nos espectáculos ao vivo? 2º - teria a Valentim de Carvalho meios técnicos e humanos para efectuar uma gravação de boa qualidade, ao vivo?
Perante estas dúvidas, o melhor era jogar pelo seguro sendo aconselhável ser feito em estúdio.
Foi feita a escolha das 12 faixas que constariam no LP: nove já estavam gravadas e as restantes quatro ("Si Lo So", "Jezebel", "La Nuit" e "Stasera Pago Io") foram gravadas pela primeira vez.
Faltava o público. Contactámos o Clube de Fãs para que arranjasse cerca de 30 a 50 voluntários para a gravação. Um autocarro alugado tratou do transporte dos jovens voluntários até ao estúdio em Paço D'Arcos.
Já com o alinhamento do LP feito e o "público" presente, restava que o engenheiro de som, sr. Hugo Ribeiro, tratasse da mistura. As músicas eram transmitidas para o auditório e o "público" reagia como era habitual nos espectáculos.
Para finalizar, bastou mais uns retoques de Hugo Ribeiro e estava feito!
Colaboração de Ângelo Moura, do Conjunto Académico João Paulo
PS - Em 1969, mais dois LPs de música pop portuguesa viriam a ser editados, esses sim de originais, "Epopeia", da Filarmónica Fraude, e "A Peça", do Pop Five Music Incorporated, curiosamente dois álbuns conceptuais. Portanto, ambos pioneiros.
Como quer que seja, o primeiro LP português de música pop é uma edição moçambicana também do Conjunto Académico João Paulo.
8 comentários:
Bom "tiro" jornalistico!
Mas qual é a diferença entre a edição mono e a estéreo, além do título?
Uma vez mais os nossos sinceros Parabéns pelo excelente, contínuo e sério trabalho que que tem desenvolvido neste Blog. Obrigado!
Também nos cruzámos com o Conj.João Paulo quando da sua digressão pelo País, e que relembramos com simpatia.
Obrigado, Tubarões, o meu interesse é que as pessas conheçam estas pérolas da música portuguesa que tão escondidas têm andado!
Felizmente que tenho tido o apoio dos actores, dos protagonistas, inclusivé dos Tubarões.
Obrigado!
LT
Depoias de ler esta interessante historia e vêr aparecer aqui o nome do meu amigo sr.Hugo Ribeiro que era o paizinho dav rapaziada roquista daquela época.
Nunca esquecerei o seu sorriso e enorme sentido de humor.
Ainda há pouco tempo estivemos cerca de uma hora ao telefone ,pois há cerca de 40 anos (quarenta)que não nos víamos nem falávamos um com o outro.
Foi uma barrigada de riso,pois o homem tem historias com "craques" da nossa praça absolutamente impublicáveis.
Este homem com oitenta e muitos anos,ainda vai ao Estúdio de Paço d'Arcos três vezes por semana segundo ele diz "fazer umas coisas"
Nunca me esquecerei quando gravei as minhas duas músicas no E.P. dos "Caloiros da Canção"nos estúdios (????)no Costa do Castelo tinha eu 18 anos eá sduas por três dizia o nosso amigo Hugo Ribeiro:
Meus amigos,vamos repetir a gravação,poia passou um avião e deu cabo desta coisa toda.
É a pura verdade,AQUELES TEMPOS TINHAM A SUA PIADA,E HAVIA GENTE MUITO GIRA!!!
ALGUNS AINDA ESTÃO VIVOS COMO O MEU QUERIDO SR.HUGO RIBEIRO!!!
FELIZMENTE!!
Aqui neste cantinho onde estamos arrumados, temos muita dificuldade em dizer bem, das nossas coisas. Em 1965, no auge dela já havia pessoas a querer fazer o enterro à Amália, o Eusébio foi o que se viu, agora é o CR7, SOMOS INVEJOSOS.
Esta banda, sempre teve detractores, e muitos deles se calhar não sabiam dar uma nota de música nem o grau de dificuldade que havia naquele tempo para fazer o que quer que fosse, bem feito, ao nível da música.
Hoje há de tudo para se fazer bem e ouve-se cada coisa!
Pessoas há que ouvem os discos antigos e dizem, do alto da sua cátedra; - Isto está uma porcaria!
E os 40 anos de diferença?
Eu privei com estes moços do meu tempo, em Angola na minha Base (AB3 Negage) Angola em 1969, foram lá tocar, (era o seu modo de fazer a tropa), podiam deixar andar, qual quê, grandes profissionais, excelente exibição, óptimo espectáculo.
No fim estiveram connosco "Conjunto da Base", a confraternizar sem nenhum vedetismo, tenho foto do evento, que guardo com muito apreço. Sempre fui fã da banda, eles se calhar são os primeiros a ver que hoje não tocariam algumas músicas assim, mas eram outros tempos.
O pior que havia é que muitos músicos tocavam de ouvido e a maior parte das vezes para sacar a música, ouvia-se tudo embrulhado.
CONJUNTO ACADÉMICO JOÃO PAULO e SÉRGIO BORGES, ficarão para sempre ligados à música portuguesa, por muito boas razões, apesar de tudo.
Caínhas
Importante depoimento, Caínhas.
E, de facto, os portugueses têm de deixar de dar tiros no próprio pé, de fulanizar o olhar sobre os outros e a sociedade.
CR7? Eu acrescentaria José Saramago, esse sim o "saco de pancada" da moda.
Agora, cuidado, também não podemos ser demasiado paternalistas... "o pior que havia é que muitos músicos tocavam de ouvido"... e então?... tal e qual 99% dos músicos ingleses e americanos que admiramos... Beatles, Stones, Elvis, Chuck Berry, Muddy Waters, Dylan, Clapton, e por aí fora... todos tocavam (e tocam) de ouvido!
Eu só tenho esta edição, logo não tenho como comparar...
LT
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