sexta-feira, 6 de novembro de 2009

NACIONAL-CANÇONETISMO


Um reinado, felizmente, parece estar prestes a terminar: o dos corifeus da chamada música portuguesa. Assim chamada com o despropósito da inconsciência, do descaro e do impudor. Assim chamada para defesa da mediocridade, do pouco saber ou nada saber. Assim chamada por necessidade de uma etiqueta, de uma defesa de posição, pela inconsciência de quem pretende defender os bolsos, alegando patrioteirismos desprestigiantes.

Os Calvário, as Madalena, as Meireles - ainda a mais ridícula - os Resende Dias, os Jerónimo Bragança, os Manuel Paião, os Artur Garcia, todos os indivíduos do "Quando O Telefone Toca" ou "Música na Estrada" foram rapidamente ultrapassados - até que enfim! - pelos trovadores-poetas, pelos intérpretes que são também os autores da composição musical e do poema, por aqueles que souberam dar à canção uma verdadeira universalidade sem que esta deixasse de ser realmente portuguesa - de matriz e de circunstância.

Reconhecem-no já programas como "Página Um", "Radiorama", "Impacto", "Pop 2", quando os locutores anunciam "verdadeira música portuguesa" e enaltecem as qualidades de Manuel Freire, Luís Cília, Rita Olivais, Correia de Oliveira e outros.

Criando um estilo comum aos grandes da canção da Europa e das Américas, como Bob Dylan, Donovan, Joan Baez. Joaquin Diaz, Chico Buarque de Hollanda, mas indo à raiz da canção trovadoresca portuguesa, com cantigas de amigo ou de protesto, ressuscitando instrumentos como o cravo e a cítara, desconhecendo poemas do "meu rico coração está cheio de saudades", eles os trovadores-poetas, lutando contra tudo e todos, venceram facilmente os grandes mistificadores.

Encontrado o caminho, o estudo a fazer, agora bastava ter a coragem ter a coragem de reconhecer a verdade.

Miguel Serrano, in "Vida Mundial", nº 1551, 28 de Fevereiro de 1969

5 comentários:

JC disse...

"O tempo, esse grande escultor"...

Anónimo disse...

Tanto quanto julgo saber, todos os outros países, incluindo a América e o Brasil, também tiveram os - e continuam a ter - o seus, aqui chamados, "corifeus". A questão é que nesses países são respeitados como uma parte relevante da música popular.Aqui são "pimbas" e tudo o que se queira chamar.Sintonizando a Radio SIM ( grupo RR) ou rádios locais por todo o pais ( p.e. Rádio Alenquer) veremos que esses "corifeus" continuam ( e continuarão) a gozar de uma grande solicitação.Além disso são os únicos que se deslocam e contactam directamente com as populações a pontos mais recônditos por esse Portugal a fora, onde continuam a ter muito aceitação. Comparados os lusos "corifeus" com os das actuais tabela de tops americanos e ingleses,cujas líricas são "advisory content", chegando até a chamar "mother f...s" a quem enfie este capacete, além de inspirarem experiências de droga ou ilícitudes várias, eu ainda prefiro aqueles.
Além disso, os "corifeus" correspondem ao interesse das editoras que neles apostam e ao público que os apreciam, não se impondo como uma escolha única.
Com o devido respeito, "mediocridade", "impudor", "incosciência", "patrioteirismos despretigiantes", são adjectivos excessivos, que apenas seriam necessários por quem não tem outros argumentos mais objectivos.
JR

bissaide disse...

O tempo tudo depura, de facto...

Anónimo disse...

TUDO ? Não.

Ainda há quem resista :O)

Existe etiqueta para os Calvários e as Madalenas (justamente), mas fado ... nem vê-lo

:)

Anónimo disse...

O texto de Miguel Serrano, é de 1969!
Portanto se este senhor visse o que se passa 40 anos depois, com alguma "música" que nos querem fazer engolir comparada com aquela que o Calvário, Simone, Madalena, Tony, Francisco José, Rui de Mascarenhas, estes eram os melhores depois haviam os outros de menor valia.
Estes e até os de menor valia, tinham escola, faziam cursos para serem artistas da rádio na ex-Emissora Nacional.
Gostemos ou não era o estilo, e era o que deixavam sair cá para fora.
Muitos fizeram grande êxito no estrangeiro, casos do Rui de Mascarenhas, Tony de Matos, Max, Francisco José, mas aquela palavra que não tem tradução noutras linguas chamada saudade, a má orientação das carreiras, fê-los voltar às origens e quase os matar à fome, sobretudo aqueles que não tinham amealhado na abundância, e eram quase todos, porque artista é mesmo assim, chapa ganha...
Aqui mesmo ao lado, os artistas deste género vendem aos milhões são respeitados e ainda mexem! Veja-se o caso do Rafael, velho sem cabelo, já teve doenças graves que escapou, mas ainda dá concertos, e outros artistas mais!
Nós por cá, é que temos "complexos da velhinha", não somos nada, mas temos a mania de deitar abaixo, e sobretudo não saber respeitar os artistas idosos, haja em vista a forma miserável como acabou o Raul Solnado, sem erro da minha parte dos homens mais solidários deste país. Acabou como começou, na Guilherme Coussul!
Fiquem a saber que nunca gostei do estilo, nem da voz da pessoa que está na capa do disco e que dá origem a este comentário, até mesmo quando era novo, mas agora do alto dos meus sessentas, acho que o respeitinho é muito bonito! Porque isto do meio artístico português não é fácil.
Caínhas