segunda-feira, 30 de novembro de 2009

PASTÉIS DE VOUZELA


É comum ouvir-se, de quem conhece ambos, que os afamados pastéis de Vouzela e os não menos afamados pastéis de Tentúgal são uma e a mesma coisa. Não são. Passe o aspecto similar, algo os distingue, quer no folhado quer no recheio.

Quando, em 1834, o maçónico Joaquim António de Aguiar, mais conhecido pelo "Mata-Frades", instigou à expulsão das ordens religiosas de Portugal, por decreto, e ao consequente encerramento dos conventos, as freiras que lhes davam vida viram-se na contingência de procurar a sobrevivência nas terras de origem, junto dos seus familiares.

Foi assim que monjas clarissas, mais vocacionadas para as doçarias conventuais, recolheram para junto dos entes mais próximos, em Tentúgal e em Vouzela.

Com elas levaram os segredos das delícias que confeccionavam intramuros e que se viram obrigadas a deitar mão, como modo de vida, passando esses segredos a um restrito número de familiares.

E é aqui que entronca a diferença entre os conhecidos pastéis: partindo de uma receita, muito provavelmente comum, divergiram nos pormenores pelo facto de as monjas que rumaram a Tentúgal serem provenientes do Convento de Santa Clara de Coimbra (e do Carmelo de Tentúgal), enquanto as que se fixaram por Vouzela serem oriundas do Convento de Santa Clara, mas do Porto.

Por mim, sem me preocupar com saber se o segredo está na massa ou no recheio, no Convento de Coimbra ou do Porto, tanto os de Tentúgal como os de Vouzela me despertam igual gula e satisfação, passe o facto de, sem caseirismos, preferir os confeccionados em Lafões, a que confiro folhado mais fino e estaladiço.

Branquinho de Almeida, "Notícias de Vouzela", 27 de Agosto de 2009

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