quinta-feira, 5 de novembro de 2009

BOCA DE SAPO


O "boca de sapo" da Citroen (modelo DS) é um dos automóveis mais mágicos de meados do século XX. O próprio nome (as letras DS, lidas em francês, compõem a palavra "déesse", que significa "deusa") realça esse facto.

Criado em 1955, foi o resultado da decisão da Citroen de aliar as competências do escultor Flaminio Bertoni (que já havia trabalho no "dois cavalos") aos conhecimentos técnicos dos seus engenheiros.

A característica mais notável do "boca de sapo" é o seu perfil perfeitamente escultural, que liga a frente à traseira numa curva única, sem que haja qualquer detalhe a interromper o efeito dramático desta decisão estética.

Outro pormenor técnico impressionante é a suspensão hidropneumática que permite ao automóvel elevar-se, movimento que leva o passageiro a sentir que a viatura está prestes a descolar, como um avião.

Roland Barthes comparou o automóvel a uma catedral gótica., um "objecto puramente mágico".

"Design, 1.000 Objectos de Culto", Phaidon, Volume 8, 2009

De repente, vimos passar o "boca de sapo" a grande velocidade. Fomos no seu encalce, O Henrique esmifrando o Austin que, de acelerador a fundo, não passava dos 130. Mesmo assim, a João inquieta, gritava: "Henrique, vai mais devagar, olha que a estrada está molhada".

Ao fundo de uma grande recta vimos enfim o ID parado (...) Que tínhamos agora? Nada de especial afinal, apenas uma arreliadora falta de gasolina (...) Depois disto tudo, só nos falta um acidente.

E ele aconteceu alguns quilómetros adiante.

Helder de Sousa, "Onde Bate A Sombra, Diário 1970-1971", edição de autor, 1992

6 comentários:

Rato disse...

O meu pai teve um, branco, com estofos vermelhos. Ainda hoje o relaciono com os anos 60, dado o período em que a família se passeou nele (1964 a 1969). Conservo ainda algumas fotografias do "bicho"

Anónimo disse...

Hélder de Sousa é (era) o jornalista da RTP ?

ié-ié disse...

Não, era um publicitário que trabalhou com Ary dos Santos na Espiral e depois se mudou para a Latina.

Trabalhei com ele alguns anos nos chamados "inquéritos" ("estudos de mercado", como se diz agora) e eleu verteu essas experiências em dois livros: "Longos Dias, Muitos Encantos (1967-1969)" e "Onde Bate A Sombra (1970-1971)".

Foi o meu primeiro ordenado!

É interessante voltar aos livros, recordar o que foram esses tempos, o que fazíamos, como ouvíamos os Beatles, etc.

O desastre com o "boca de sapo" foi real e aconteceu connosco.

Se houver oportunidade, transcreverei para aqui extractos.

Helder de Sousa também era poeta.

LT

Jack Kerouac disse...

Não era o "Boca de Sapo" que a Citroen dizia que era impossível capotar ?

Muleta disse...

o ds era a segunda versão do boca de sapo.
a primeira versao era o id.
tinha apenas uma optica de cada lado, mesmo a imitar olhos de sapo...

a versao ds mudou, entre outras coisas, as opticas, que passaram a ser duplas

Camilo disse...

Hélder de Sousa, meu grande Amigo dos tempos do "Notícia" e da revista de automóveis "EQUIPA", paginada (e montada) por mim.
Helder de Sousa foi, de facto, jornalista da RTP.
Ele e o Carlos Blanco (outro grande, grande Amigo) fizeram o "Rotações" na RTP.
Hélder de Sousa foi, também, corredor de automóveis.
Tenho uma história para contar... quando me deu boleia no seu sumptuoso -e rápido- "Camaro".

Estive há alguns meses com o Hélder e... vieram-me (vieram-nos) as lágrimas das saudades.
"-Camilo,por favor, mete o saudosismo numa gaveta!"
"-Não consigo, Hélder!!!"