Se bem se lembram, esta é uma revista-disco de origem soviética que inclui canções de José Afonso e de George Harrison.
O meu amigo João Carlos Barradas já me traduziu o texto, o que, obviamente, todos agradecemos.
Começámos por ir até à vila de Alcácer do Sal. Deambulámos pelas ruas estreitas, fomos a duas casas de conhecidos. "Sim, estiveram cá - disseram-nos -, mas levantaram-se às cinco da manhã e foram-se embora. Para onde? Talvez para Grândola". Em Grândola a mesma história. "Foram-se embora por volta das três".
O nosso guia e motorista Michel Giacometti, além de ser um conhecedor ímpar do folclore português, também é dado a generalizações filosóficas: "Nalgum lado - aventa Michel - tem de estar".
É difícil contestar semelhante consideração e prosseguimos a nossa busca de um indivíduo cujo nome é popular por todo o Portugal. Chama-se José Afonso. Ou simplesmente Zeca. Cantor, compositor, poeta. Autor das canções presentemente mais difundidas em Portugal. Sobre o povo, àcerca da luta por um futuro melhor.
Demos com o Zeca na aldeia de São Francisco da Serra. Sobre umas quantas horas passadas com o Zeca já escrevi na imprensa e, portanto, para não me repetir, vou falar das canções do José.
"Gândola Vila Morena" é notável. Com certeza que já a escutaram. Mas pode ser que não tenham ouvido "Baleizão". Em Baleizão, há cerca de 20 anos, os fascistas mataram a camponesa comunista Catarina Eufémia e José Afonso compôs uma canção sobre o pesado quinhão dos camponeses de Baleizão e a sua coragem.
José Afonso pertence àquela corte de artistas plenamente empenhados em "cantar o espírito da liberdade" ao serviço do grande ideal da luta contra a tirania e a injustiça, pela liberdade e a democracia. Ele ergue barricadas ao lado daqueles que celebra e com quem comunga na luta nas fileiras da frente.
A musa da sua arte vive nos míseros casebres camponeses, labuta nas minas de Aljustrel, pesca sardinhas nos frágeis veleiros dos pescadores da Nazaré. As canções de José Afonso ajudaram as gentes a viver e lutar durantes os anos do domínio fascista.
"Sou muito feliz agora - disse-me Zeca - antes era feliz por participar na luta contra o fascismo e conceber canções para o povo. Mas, agora, sou muito feliz porque derrubámos o fascismo e as pessoas dizem-me que continuam a precisar das minhas canções. Que planos tenho? Trabalhar como sempre trabalhei. Talvez tenha de trabalhar mais um pouco do que ontem e amanhã mais ainda do que hoje. Quando se respira melhor também melhor se canta".
Oleg Ignatief (correspondente da "Pravda" em Lisboa de 1979 a 1984)
Lisboa-Moscovo
Tradução de João Carlos Barradas
O meu amigo João Carlos Barradas já me traduziu o texto, o que, obviamente, todos agradecemos.
Começámos por ir até à vila de Alcácer do Sal. Deambulámos pelas ruas estreitas, fomos a duas casas de conhecidos. "Sim, estiveram cá - disseram-nos -, mas levantaram-se às cinco da manhã e foram-se embora. Para onde? Talvez para Grândola". Em Grândola a mesma história. "Foram-se embora por volta das três".
O nosso guia e motorista Michel Giacometti, além de ser um conhecedor ímpar do folclore português, também é dado a generalizações filosóficas: "Nalgum lado - aventa Michel - tem de estar".
É difícil contestar semelhante consideração e prosseguimos a nossa busca de um indivíduo cujo nome é popular por todo o Portugal. Chama-se José Afonso. Ou simplesmente Zeca. Cantor, compositor, poeta. Autor das canções presentemente mais difundidas em Portugal. Sobre o povo, àcerca da luta por um futuro melhor.
Demos com o Zeca na aldeia de São Francisco da Serra. Sobre umas quantas horas passadas com o Zeca já escrevi na imprensa e, portanto, para não me repetir, vou falar das canções do José.
"Gândola Vila Morena" é notável. Com certeza que já a escutaram. Mas pode ser que não tenham ouvido "Baleizão". Em Baleizão, há cerca de 20 anos, os fascistas mataram a camponesa comunista Catarina Eufémia e José Afonso compôs uma canção sobre o pesado quinhão dos camponeses de Baleizão e a sua coragem.
José Afonso pertence àquela corte de artistas plenamente empenhados em "cantar o espírito da liberdade" ao serviço do grande ideal da luta contra a tirania e a injustiça, pela liberdade e a democracia. Ele ergue barricadas ao lado daqueles que celebra e com quem comunga na luta nas fileiras da frente.
A musa da sua arte vive nos míseros casebres camponeses, labuta nas minas de Aljustrel, pesca sardinhas nos frágeis veleiros dos pescadores da Nazaré. As canções de José Afonso ajudaram as gentes a viver e lutar durantes os anos do domínio fascista.
"Sou muito feliz agora - disse-me Zeca - antes era feliz por participar na luta contra o fascismo e conceber canções para o povo. Mas, agora, sou muito feliz porque derrubámos o fascismo e as pessoas dizem-me que continuam a precisar das minhas canções. Que planos tenho? Trabalhar como sempre trabalhei. Talvez tenha de trabalhar mais um pouco do que ontem e amanhã mais ainda do que hoje. Quando se respira melhor também melhor se canta".
Oleg Ignatief (correspondente da "Pravda" em Lisboa de 1979 a 1984)
Lisboa-Moscovo
Tradução de João Carlos Barradas
9 comentários:
Carlos Barradas...
trabalhou na RTP?!!!
E que canções traz?
Não conhecemos a canção "Baleizão"...
:)
Além de fazer o favor de ser meu amigo (sou até padrinho de casamento), o João Carlos é um dos mais brilhantes jornalistas portugueses, sobretudo na área Internacional.
Fala e lê fluentemente várias línguas, entre as quais, o russo.
Colabora em diversos OCSs, como TSF, Jornal de Negócios e RTP.
Foi da Lusa, da SIC, da Comercial...
É um génio!
LT
O Carlos Barradas, é -era- da RTP?
Respondam, pf.
não se consegue arranjar uma cópia em cd do disco ? posso intercambiar com outras gravações de vinil nada fáceis de encontrar.
obrigado
jose mario
joebarbosa@sapo.pt
Sim, sim... mas que músicas traz o vinil?
Há forma de saber? Tem o disco, ou não?
Sim, tenho o disco, mas ainda não encontrei maneira (nem tempo) de o ouvir. É que são discos flexíveis que estão incluídos numa revista.
Tenho de estudar uma maneira de os colocar no pick-up, mas sem estragar a revista... è que já não estão destacáveis. O russo, anterior proprietário, "amarrou-os" à revista.
Com tempo, lá irei...
LT
Pronto. Assim é que é falar.
Vemo-nos no sábado?
:)
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