sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ANA MARIA: 1ª VOZ FEMININA DO ROCK PORTUGUÊS


Até prova em contrário, Ana Maria, do Conjunto Universitário Hi-Fi, de Coimbra, é a primeira voz feminina do yé-yé português que está a assinalar 50 anos.

Hoje em dia docente universitária em Leipzig, na Alemanha, Ana Maria dos Santos Silva Delgado gravou um único EP com o Conjunto Universitário Hi-Fi, em 1967.

Licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, Ana Maria é doutorada em Literatura Comparada pela Universidade Humboldt, Berlim, possuindo diversos outros graus académicos. nacionais e estrangeiros.

Usando o pseudónimo literário de Ana Constança Messeder, a ex-vocalista dos Hi-Fi nunca abandonou as artes, tendo publicado livros de poesia e sido autora do programa UNO, na TSF, entre 1989 e 1993.

Desenvolve actualmente diversos blogues:

- Blogando Ao Sabor Da Brisa (textos literários);

- Blogando À Volta Do Globo (crónicas de viagem);

- UNO (programa de rádio);

- Comparatista E Detective (notas críticas e ensaísticas).

Numa das suas memórias, Ana Maria recorda o dia em que, jovem e bela yé-yé, ganhou no Luso um Concurso de Saias em que a sua, feita por si, era estampada com capas da "Salut Les Copains".

O que ouvia na altura? Beatles, Françoise Hardy, Sylvie Vartan...

Ana Maria conta também que num dos muitos bailes que os Hi-Fi faziam, o grupo também tocava Shadows e ela sentava-se numa cadeira a descansar.

Foi então que alguém me veio pedir para dançar e eu fui. Durante a dança, sem me reconhecer, o meu par lá foi invectivando o facto de uma rapariga estar a cantar com os malucos das guitarras.

Quando entrou para o Conjunto Universitário Hi-Fi, este conjunto de Coimbra ainda se denominava Boys, existindo fotografias da banda com Ana Maria ao microfone à frente do bombo da bateria onde se lia Boys!

Ana Maria tinha então 17 anos e era aluna do 7º ano liceal. Começou a cantar, por brincadeira, no dia 26 de Março de 1966. Preocupava-a então o estilo tipo Sylvie Vartan. Por isso, gravava, quase todos os ensaios, para poder corrigir defeitos.

Preferências da altura: Ella Fitzgerald e Joan Baez.

Ana Maria acabou por abandonar a música pop logo em 1967 por pressão social, ou melhor, segundo confessa, nunca sentiu essa pressão, sobretudo na família, mas sabia que existia...

João Cabral Fernandes, médico que, se bem me lembro, foi trotskista, militante das CBS (Comissões de Base Socialista), pré-PSR, pré-Bloco de Esquerda, foi manager do Conjunto Universitário Hi-Fi, onde teve como ajudante Sérgio Ferreira Borges que acaba de lembrar no Facebook, o ar inocente de Ana Maria, de mala ao ombro, na capa do disco dos Hi-Fi.

Num depoimento transcrito na colectânea comemorativa dos 50 anos do rock português, a editar em breve pela iPlay, escreve Ana Maria:

A música é um espaço de liberdade e cantar, tocar é um exercício fantástico dessa liberdade. E isto tem mais significado se pensarmos na época em que estávamos e que era uma época de grande repressão que não era só política, mas também social. No Liceu Feminino, não podíamos usar manda cava nem calças. Sempre de meias, até no Verão. Para nós, a música tinha que ver com todo este Mundo de liberdade.

Colaboração de Luís Pinheiro de Almeida

3 comentários:

Anónimo disse...

Sou fã deste blog, que consulto com regularidade e no qual tenho aprendido muito.
Gostei do pormenor sobre o passado de "manager" do ex(?)-trotskista João Cabral Fernandes, mas há uma "gralha" no texto: escreve-se "meliante" e não "miliante".

O anti-trotskista, com simpatia

Anónimo disse...

"Miliante", mesmo sendo "gralha", tinha mais piada.
Saudações.

Anónimo disse...

Manga cava, meias pelo joelho, nada de meias de vidro!
Também gostei de "rever" o JCF e saber do "manager" ié-ié.