sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PRAZERES QUE MATAM 26-FIM


“Ritz” foi a marca dos últimos cigarros que o pai fumou. Já o disse: apanhou um susto, colocou o maço de lado e nunca mais lhe tocou. Um gesto que lhe permitiu viver mais uns anos do que aqueles que não teria vivido, se não cortasse com os cigarros.

Desde o início que disse ao que vinha: mostrar uma colecção de rótulos de maços de cigarros, emitida pela célula do PCP na “Tabaqueira” e comprada na 1ª Festa do Avante, FIL 1976.

A esses rótulos juntou umas histórias, uns textos, umas frases, lembrou sempre que fumar mata e bateu, também, na tecla que os fumadores deveriam ter restaurantes, bares, discotecas onde pudessem fumar do mesmo modo que os há onde fumar lhes está proibido.

Chama-se a isto o direito a escolher.

Quanto ao resto, indo um pouco ao encontro do comentário que na 4ª feira o Luís Mira (e o quanto ele gostava de ter escrito esse comentário…) aqui fez diga-se:

Quando o Jorge casou com a Roberta, o Jorge fumava a Roberta não. Quando a Paula casou com o Jaime, a Paula fumava o Jaime não. Naquele lapso de tempo não houve problemas, não houve cheiros, não tosses, não houve alergias, não houve nada. Agora é o que se sabe...

O Goddard tem uma frase: “Um rapaz e uma rapariga que não gostem dos mesmos filmes mais tarde ou mais cedo vão-se separar”.

O Carlos Tê, pela voz do Rui Veloso, diz: “que não se ama alguém que não ouve a mesma canção".

Bom, agora vai mesmo terminar. Quando alguém diz as coisas muito melhor do que ele diria, não hesita: transcreve.

O texto do Nicolau Santos, com que encerra esta viagem pelo mundo dos cigarros, é um texto de bom senso. Precisamente aquilo que faltou aos legisladores da Lei Anti-tabaco, que falta a muita gente…

Não sou fumador. Mas detesto que outros escolham o que é bom para mim. E o que a Lei do Tabaco vem criar, na senda do fundamentalismo americano que atravessou o Atlântico e chegou à Europa, é uma sociedade de delatores e um grupo social de párias. De delatores, porque os cidadãos são incentivados a denunciar aqueles que fumam em espaços onde tal será proibido, se não o fizerem de moto próprio, os respectivos proprietários. De párias, porque são tratados como um grupo que tem de ser erradicado da sociedade. Não há produto sobre o qual, na Europa e nos Estados Unidos, mais campanhas têm sido feitas, a explicar os seus malefícios. Haverá muito poucos cidadãos europeus, com mais de 18 anos, que não saibam que o tabaco pode provocar cancro, impotência e outras doenças. Mas, dito isto, deixem-nos exercer o nosso direito a decidir. Deixem-nos escolher se queremos ir a um restaurante onde se pode fumar ou não. Deixem-nos escolher se comemos chouriços e morcelas ou alimentos vegetarianos. Deixem-nos andar a uma velocidade decente nas estradas e não a uns irracionais 120 km/h. Deixem-nos assar sardinhas no carvão, matar o porco nas aldeias, ir a touradas. Dêem-nos toda a informação. Mas não escolham por nós o que devemos fazer. Só assim teremos uma sociedade responsável e não um grupo de mentecaptos acéfalos, prontos a obedecer sem pensar ao primeiro tiranete que subir ao palco.

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

Anónimo disse...

Também eu só há pouco tempo sigo este (magnífico) blog, por isso arrisco escrever algo que já por cá esteja. Mas como este é o último dos "PRAZERES QUE MATAM", cá vai pois há sempre alguém que não conhece. O tabaco "437", do início dos anos 60, foi traduzido popularmente para DCG - Delgado Contra o Governo. E as pequenas caixas de fósforos (amorfos, diziam elas), pelo seu formato destinadas aos fumadores para trazerem no bolso (era no tempo das famosas licenças de isqueiro) eram da marca QUINAS, traduzidas por Quando Um Indivíduo Não Ama Salazar - QUINA (mas este QUINA não era dito: era mostrada a parte da caixa onde estava a marca).
CMD

Jack Kerouac disse...

A propósito desta excelente série de posts, do sempre magnífico Gin-Tónic. Estive hoje a por em dia o visionamento dos últimos episódios de "Conta-me como foi", que a RTP disponibiliza na íntegra no seu site, o que é de louvar, e também é de louvar que esta série se tenha mantido o mais fiel possível à época em que decorre, não tendo banido os cigarros. Lembrei-me muito destes post, pois um dos personagens está sempre a fumar, inclusive na cama, o que era uma prática perfeitamente normal, e que me lembro do meu pai o fazer. Assim como se critica o muito que se faz de mal, não quis deixar de elogiar o que a RTP neste caso tem feito de muito bem.

gps disse...

Para quando as marcas de cigarros Sporting e Benfica ?