Há uns meses, pediram-me que fornecesse uma fotografia de Fernando Pessoa. Uma das atribuições da Casa Fernando Pessoa também é essa. Forneci, vaidoso, com um cartão de cumprimentos. Veio devolvida, com a anotação de que a fotografia (belíssima) apresentava Fernando Pessoa a fumar, e que o ideal seria limpar o cigarro da fotografia. Estaline fazia isso com frequência. Hitler proibira o tabaco há muito. Tal como Edgar J. Hoover. Eu não vou limpar o cigarro da foto de Pessoa, como fizeram às de Malraux ou Camus.
Curioso o post do Sérgio Aires, um dia destes, com as declarações de Chico Buarque sobre a limpeza estalinista que fizeram a Vinicius de Moraes:
O que me desagrada, principalmente, é o puritanismo, a hipocrisia. Evidentemente, eu não sou a favor do cigarro, não sou a favor do álcool. Gosto de tomar vinho e fumo mas não vou dizer que o cigarro faz bem. Agora, essa vigilância constante sobre as pessoas me desagrada. No outro dia, entrei numa livraria, havia uma grande foto – enorme – de Vinicius de Moraes e a mão dele estava numa posição muito estranha. Eu pensei: muito estranha, essa mão do Vinicius. Depois, fui perceber que havia um copo na mão dele que foi retirado por photoshop ou como se chama esse negócio. Retiraram o copo da mão de Vinicius de Moraes. Como se retiravam, no estalinismo, figuras que caíam em desgraça. Amputaram o copo das mãos dele. Isso é a cara desse tipo de comportamento vigente.
Francisco José Viegas, ex-director da Casa Fernando Pessoa
Colaboração de Gin-Tonic
Curioso o post do Sérgio Aires, um dia destes, com as declarações de Chico Buarque sobre a limpeza estalinista que fizeram a Vinicius de Moraes:
O que me desagrada, principalmente, é o puritanismo, a hipocrisia. Evidentemente, eu não sou a favor do cigarro, não sou a favor do álcool. Gosto de tomar vinho e fumo mas não vou dizer que o cigarro faz bem. Agora, essa vigilância constante sobre as pessoas me desagrada. No outro dia, entrei numa livraria, havia uma grande foto – enorme – de Vinicius de Moraes e a mão dele estava numa posição muito estranha. Eu pensei: muito estranha, essa mão do Vinicius. Depois, fui perceber que havia um copo na mão dele que foi retirado por photoshop ou como se chama esse negócio. Retiraram o copo da mão de Vinicius de Moraes. Como se retiravam, no estalinismo, figuras que caíam em desgraça. Amputaram o copo das mãos dele. Isso é a cara desse tipo de comportamento vigente.
Francisco José Viegas, ex-director da Casa Fernando Pessoa
Colaboração de Gin-Tonic
4 comentários:
Não sei quando é que isto vai acabar, mas espero que o tamanho coisa seja extra-longo e que a coisa dure ainda algum tempo...
Como é habitual, Gin-Tonic tem feito um verdadeiro "Serviço Público". Não me refiro tanto à discussão proibição/não proibição, que não me motiva muito... Refiro-me, isso sim, às compilações/citações que têm sido feitas em torno deste tema, que me parecem muito interessantes.
Não me estimula o tema da proibição/não proibição, porque me parece que o problema de fundo é ainda muito mais grave do que o do vizinho da mesa do lado ou do andar de cima. O que me preocupa é a censura que se instalou dentro da nossa própria célula familiar e no seio do nosso círculo da Amigos... E que nos coloca, a nós próprios, numa permanente posição de receio e de auto-censura
O meu Pai sempre fumou desalmadamente, incluindo charutos e, no final da sua vida, cigarrilhas. Sempre tivémos crianças à volta nos nossos frequentes almoços e jantares de família, que terminavam, invariavelmente, com uma boa charutada. Nunca me lembro de ter visto alguém reclamar que o "fumo fazia mal às criancinhas" nem nenhuma dessas crianças deixou de ter, por esse facto, um crescimento perfeitamente saudávelr.
Eu não sou nem nunca fui fumador, a não ser de um bom charuto de quando em vez. Se possível no final de uma boa refeição entre amigos. Não no restaurante. Em casa, com as luzes mais fracas, ouvindo música de fundo e com uma flute de espumante ou um bom "cognac" na mão. Falando de tudo e de nada, deixando a noite escorrer suavemente por entre os dedos...
E o que é que vejo, hoje suceder...? Fumar à mesa é impensável, porque os netos estão na sala ao lado e, mesmo que não estejam, podem chegar amanhã de manhã e a casa não pode ficar "neste estado". Se insistirmos, "as Senhoras" (as Mulheres que me desculpem, mas são sempre elas...), que há cinco anos continuavam ao nosso lado na conversa sem qualquer problema, fazem uma cena: levantam-se, abandonam a sala batento a porta com força, e deixam-nos a olharmos uns para os outros já sem vontade nenhuma de continuar...
Ou então há novas variantes: fumar isolados, na varanda ou na "marquise"... De janela aberta, claro está, faça Sol ou faça chuva... Mas com muita cautela, não vá o fumo ser levado pelo vento e entrar pela janela dos vizinhos de cima, de baixo ou dos lados que, já se sabe, são gajos porreiros e Amigos da Família há várias décadas.
Mas que gozo me dá fumar nessas circusntâncias...? Não fumo charutos por vício mas pelo prazer do convívio, em determinados contextos...
Mas a coisa não acaba aqui...
Mesmo que aguentemos, pacífica e compreensivamente esse suplício (e tendemos a aguentar...), quando chegamos ao carro a Caríssima Esposa vai-nos dizer que é obrigada a abrir o vidro, porque o cheiro empesta... Mas só começou a empestar agora, há poucos anos a esta parte. E depois empesta a roupa, empesta a casa, empesta a cama se não tomarmos de imediato um bom duche, o que tem os seus riscos depois de uma patuscada... E por aí fora...
Consequências de tudo isto: acabou o prazer do charuto, nos termos em que eu sempre o vivi... Resta-me a hipótese de, um dia, me sentar num desses marcos de cimento que há à beira rio, sacar de uma bebida trazida de casa às escondidas e fumar o meu charuteco, pensando que, tal como as águas, todas as pequenas coisas que nos davam prazer nesta vida estão também a passar , enexoravelmente... E ter muito cuidado, não vá o fumo incomodar o casal de namoradinhos mais ao lado...!
Penso exactamente da mesma forma, Luís Mira.
Como já aqui escrevi, estamos a transitar das sociedades disciplinadoras para as sociedades de controlo.
Vamos fugir?
Mas, com o devido respeito, o que é esse sofrimento todo, comparado com o de um fumador passivo(QUE OS HÁ) com doença MORTAL provocada por fumador(es) alheio(s) ?.
Da maneira como colocam o problema, com alusões até a Estaline e Hitler, pode até parecer que os fumadores são uma espécie de judeus a caminho de Auschwitz ou um qualquer "gulag", um genocídio ou Shoah, em que o tabaco faria as vezes da obrigatória estrela de David.
A realidade é outra !.
Mais de 99% de locais do planeta Terra estão disponíveis para fumar.E para beber então não se fala.
Fumadores passivos houveram, eles sim, involuntariamente, "gaseados", como que numa qualquer câmara de gás!.
Uma boa crónica como esta, da qual eu sou fidelíssimo leitor, podia até ficar melhor sem tanta figura hiperbólica, pois corre o risco de uma ficção inverosímil e vitimização (talvez para ter um apelo de thriller ou film noir ) superar a rica e icónica realidade e história do tabaco tão bem trabalhadas.
Para, de alguma forma, provar que nada há ou me move contra fumadores, deixo uma recente e insólita notícia, tipo "Breaking News" recolhida do Correio da Manhã:
http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentid=BCA2C23C-E242-4CC7-B457-E88AA50F8836&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021&h=3
JR
eu não fumo, nunca fumei,(a não ser um charuto depois de uma boa almoçarada, como o luis mira) mas fumo por tabela, que dizer fuma a minha mulher, mas não me incomoda nada. agora de um momento para o outro virou-se um fundamentalismo. sou obrigado a acompanhar a minha mulher a fumar nas esplanadas porque dentro dos cafés e impossivel. antes ninguem ligava.
humberto
Enviar um comentário