Texto de apresentação do Ciclo “Uma Boa Cigarrada”, que durante o mês de Maio/Junho de 2000, se realizou na Cinemateca Nacional:
“A palavra vem – diz-se – do alemão “saugen” (chupar) + “rauch (fumo). Mas a imagem vem do cinema. Dos anos 20 aos anos 80, das comédias de alcova de Lubitsch ou DeMille, tantas vezes associadas a delícias paradisíacas, aos filmes de corpos quentes de Kasdan e Cimino, tantas vezes às portas do céu, o cigarro foi o mais significativo e o mais perene dos atributos das estrelas de Hollywood, percorrendo ambos os sexos.
Há géneros (o "werstern", os “gansters movies”, o filme negro, o filme de guerra) inseparáveis dele. Dezenas de actores, dezenas de actrizes, dos mais míticos, nunca eram quem foram sem o inapagável cigarro nas mãos ou na boca. Bogart, claro, mas também o “Duke”, Gary Cooper, Spencer Tracy, Steve McQueen, Clint Eastwood, Marlene, claro, mas também Louise Brooks, Bette Davis, Lauren Bacall, Elizabeth Taylor, Faye Dunaway.
E as citações são quase arbitrárias: like the man said: all a fellow needs is a good smooke and a cup of coffee (“Johnny Guitar”, um dos filmes do ciclo. John Carradine dizia-o (repetindo Sterling Hayden) e a música respondia ironicamente como quem diz “está-se mesmo a ver”. E via-se com Joan Crawford. Mas mesmo que não fosse só de uma boa cigarrada que um homem precisava, dela homens e mulheres precisavam quase sempre. Hollywood ensinou-nos tanto a beijar como a fumar.
Bem se sabe, os tempos mudaram. Hoje, com a América em cruzada fundamentalista contra o tabaco, só fumam em filmes, marginais e gente de má catadura. Ou rebeldes poderosamente anárquicos, como Kurt Russell, no final de “Escape From L.A.”, obviamente outro filme do ciclo. Só que dez anos sem fumo não apagam os milhões de chamas acesas em milhares dos filmes das nossas vidas. I trouble you for a light friend, para citar outra vez “Johnny Guitar”. E for a light nos perturbaram miríades de corpos astrais que com o cinema se confundem.
Este ciclo, que a Cinemateca vos propõe entre Maio e Junho, pode ser politicamente incorrrectíssimo e muitos se chocarão mais com ele do que se programássemos um ciclo de filmes pornográficos. Mas, no dia em que por processos computadorais tirarem todos os cigarros de todo o cinema (já falei disso) o cinema menos cinema será.
Mostrá-lo é o nosso objectivo em 35 sessões, 35 sessões que começarão – todas – com o célebre genérico de “The Big Sleep” com as silhuetas de Bogart e Bacall a fumarem e um cinzeiro com duas betas acesas.
Depois, veremos de tudo. Cigarros fumados à hora da morte (“The Big Parade”, “Only Angles Have Wings”), cigarros fumados à hora do desejo (“To Have And Have Not”, “Morocco”, “Gilda”), cigarros que foram os primeiros (“The Plainsman”), cigarros que foram os últimos (“Smoking/No Smoking”), cigarros das vinganças (“Party Girl”, “Kiss Me Deadly”, “The Naked Kiss”), cigarros da traição (“Stalag 17”, “Man Hunt”, “The Maltese Falcon”). Para o resto vejam no calendário. E o que falta é muito mais do que vamos acender.
Vale uma grande baforada de fumo. E, como em “The Man Who Short Liberty Valance”, depois de tal cortina, veremos melhor o flash back e perceberemos, por fim, quem matou e quem não matou Lee Marvin. Ou depois dela e on a clear day, you can see forever.
Colaboração de Gin-Tonic
“A palavra vem – diz-se – do alemão “saugen” (chupar) + “rauch (fumo). Mas a imagem vem do cinema. Dos anos 20 aos anos 80, das comédias de alcova de Lubitsch ou DeMille, tantas vezes associadas a delícias paradisíacas, aos filmes de corpos quentes de Kasdan e Cimino, tantas vezes às portas do céu, o cigarro foi o mais significativo e o mais perene dos atributos das estrelas de Hollywood, percorrendo ambos os sexos.
Há géneros (o "werstern", os “gansters movies”, o filme negro, o filme de guerra) inseparáveis dele. Dezenas de actores, dezenas de actrizes, dos mais míticos, nunca eram quem foram sem o inapagável cigarro nas mãos ou na boca. Bogart, claro, mas também o “Duke”, Gary Cooper, Spencer Tracy, Steve McQueen, Clint Eastwood, Marlene, claro, mas também Louise Brooks, Bette Davis, Lauren Bacall, Elizabeth Taylor, Faye Dunaway.
E as citações são quase arbitrárias: like the man said: all a fellow needs is a good smooke and a cup of coffee (“Johnny Guitar”, um dos filmes do ciclo. John Carradine dizia-o (repetindo Sterling Hayden) e a música respondia ironicamente como quem diz “está-se mesmo a ver”. E via-se com Joan Crawford. Mas mesmo que não fosse só de uma boa cigarrada que um homem precisava, dela homens e mulheres precisavam quase sempre. Hollywood ensinou-nos tanto a beijar como a fumar.
Bem se sabe, os tempos mudaram. Hoje, com a América em cruzada fundamentalista contra o tabaco, só fumam em filmes, marginais e gente de má catadura. Ou rebeldes poderosamente anárquicos, como Kurt Russell, no final de “Escape From L.A.”, obviamente outro filme do ciclo. Só que dez anos sem fumo não apagam os milhões de chamas acesas em milhares dos filmes das nossas vidas. I trouble you for a light friend, para citar outra vez “Johnny Guitar”. E for a light nos perturbaram miríades de corpos astrais que com o cinema se confundem.
Este ciclo, que a Cinemateca vos propõe entre Maio e Junho, pode ser politicamente incorrrectíssimo e muitos se chocarão mais com ele do que se programássemos um ciclo de filmes pornográficos. Mas, no dia em que por processos computadorais tirarem todos os cigarros de todo o cinema (já falei disso) o cinema menos cinema será.
Mostrá-lo é o nosso objectivo em 35 sessões, 35 sessões que começarão – todas – com o célebre genérico de “The Big Sleep” com as silhuetas de Bogart e Bacall a fumarem e um cinzeiro com duas betas acesas.
Depois, veremos de tudo. Cigarros fumados à hora da morte (“The Big Parade”, “Only Angles Have Wings”), cigarros fumados à hora do desejo (“To Have And Have Not”, “Morocco”, “Gilda”), cigarros que foram os primeiros (“The Plainsman”), cigarros que foram os últimos (“Smoking/No Smoking”), cigarros das vinganças (“Party Girl”, “Kiss Me Deadly”, “The Naked Kiss”), cigarros da traição (“Stalag 17”, “Man Hunt”, “The Maltese Falcon”). Para o resto vejam no calendário. E o que falta é muito mais do que vamos acender.
Vale uma grande baforada de fumo. E, como em “The Man Who Short Liberty Valance”, depois de tal cortina, veremos melhor o flash back e perceberemos, por fim, quem matou e quem não matou Lee Marvin. Ou depois dela e on a clear day, you can see forever.
Colaboração de Gin-Tonic
9 comentários:
ié ié pode ser ignorância minha, quem escreve estes artigos todos ???
humberto
Este foi o 1º cigarro(1959?) que fumei com filtro (branco).
Logo no seu lançamento.
Já lá vão uns bons anitos...
Custou-me, salvo erro, 3$00.
Porém, passei mal a noite, a vomitar... e nunca mais (na vida) pude com o sabor deste cigarro.
Na mesma altura, apareceu, em simultâneo, julgo, o SG (filtro torrado).
Por acaso, tenho ficado à espera de ver o autor destas pérolas apresentar o "CT".
Todos os artigos são assinados pelo nosso amigo Gin-Tonic, que deveria ter como missão nada impossível o reuni-los a todos (e não falo apenas dos relacionados com o tabaco) numa pequena brochura e ofertá-los no próximo Natal!
excelenres artigos
obrigado
Uma "brochura"? Feita à mão?
Ah! Ah! Ah!
LT
Pode "traduzir" o Ah!Ah!Ah!, caro Ié-Ié?!!!
(hihihi)...
risos...
LT
treta
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