segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

POR DEUS PINTADA A COR É VIDA


É um apanhadinho por livros. Por vezes, compra-os, não sabe porquê, nem para quê, e, por vezes, faz compras completamente absurdas.

Numa recente entrevista, o actor João Perry dizia que “nem todos os livros são lidos. Há montes de livros em minha casa que nunca li. São propósitos para mais tarde ou para nunca".

É o caso de, por 1 euro, ter comprado um “Manual de Pintura”, em dois volumes, concebido, em 1958, pelos Serviços Técnicos da Robbialac Portuguesa.

A compra ainda teria alguma justificação se ele fosse um tipo dedicado à bricolage, mas não, é um falho de habilidade manual de bradar aos céus.

O dito manual de pintura destinava-se a apoio técnico e comercial dos consumidores das tintas Robbialac nas suas vertentes para a construção civil, pinturas domésticas, também pinturas de automóveis e barcos. Pensa que não falta nada.

Nos idos da ditadura, Maria Pereira, morreu em 2003 com 89 anos, foi uma cançonetista de enorme popularidade. Popularidade angariada em espectáculos itinerantes, denominados “Cor é Vida “, patrocinados pelas Tintas Robbialac...

Estes espectáculos eram gravados e, posteriormente, transmitidos, tanto quanto se lembra, pelos “Emissores Associados de Lisboa”. O jingle publicitário dizia:

Pinta, pinta, pinta com a tinta Robbiallac
Que é a tinta que mais pinta, que mais dura
Quem não pinta com a tinta Robbiallac
Pinta, pinta para borrar sempre a pintura

Maria Pereira ficou conhecida pelas suas actuações prolongadas. Em cada espectáculo nunca cantava menos de 30 ou 40 números, mas o seu recorde pessoal, tanto quanto conseguiu apurar numa consulta ao voo do pássaro, terá ficado em 70 canções, todas elas seguidinhas.

Em 1965 vamos encontrá-la integrada na caravana da Volta a Portugal em Bicicleta.

Numa digressão a Lourenço Marques e sabedora, ou alguém por ela, de que havia muitos turistas sul-africanos, mandou traduzir as letras do seu vasto repertório, para que, os ditos turistas, percebessem os temas cantados.

De como Maria Pereira conseguiu tão importante patrocínio e que lhe transmitiu toda a popularidade, explica-se facilmente: era casada com um alto responsável da Robbialac.

O slogan “Cor é Vida” foi, habilmente, aproveitado pela ditadura para enaltecer o esforço que, nas colónias, a juventude portuguesa fazia, para que a multiplicidade de raças pudesse existir.

No meio da imensa tralha que tem por aqui, não conseguiu encontrar um disco da Maria Pereira. A Aida ainda deu uma volta pelo boteco, mas nada encontrou.

Talvez Mr. Ié-Ié, no sótão do seu solar em Pinheiro de Lafões, encontre algum e o ponha por aqui.

Se fosse a “Canção da Volta a Portugal em Bicicleta de 1965”, seria ouro sobre azul.

Colaboração de Gin Tonic

9 comentários:

Unknown disse...

Lembram-se da fadista Maria Pereira que julgo foi casada com alguém importante (dono talvez)cantava cantava e não parava diz-se que cantou 100 fados seguidos, pelo menos é o que eu ouvia em miúdo, alguém se lembra?

bissaide disse...

Arranjo essa capa, se for necessário. A Maria Pereira era uma artista muito particular!

Unknown disse...

Bisside, talvéz o ié ié tenha interesse, já que este blog trata de muitas recordações

JC disse...

O marido chamava-se Damasceno Covões e era director da Robbialac Portuguesa. Se bem me lembro, tinham uma filha, Zézinha Pereira, que tb ensaiou umas cantigas infantis.

bissaide disse...

JC: a Zezinha Pereira (que, na década de 60, gravou três discos não desprovidos de interesse, e onde se incluía o clássico infantil "Os Conselhos da Mamã") é neta de Maria Pereira.

O 1º EP de Zezinha Pereira está aqui à venda: "http://www.leiloes.net/ZEZINHA-PEREIRA---NOITE-DE-NATAL-EP,name,34721909,auction_id,auction_details#largeimg"

JC disse...

Obrigado pela correcção, Bissaide.

M.Júlia disse...

A propósito de uma exposição sobre
Portugal nas Trincheiras-A I Guerra
da República, lembrei-me que tinha
alguma coisa sobre esse tempo. Não
foi muito difícil encontrar, mas
para surpresa minha são revistas-
Ilustração Portuguesa de 1905, anteriores alguns anos à I Guerra.
E esta hein?
Isto veio a propósito de tralha.

gin-tonic disse...

Caro Bissaide:
A capa é necessária e seria uma pena não ser publicada.Chegeui a ter esse disco mas não sei que volta levou.
O rádio lá em casa estava aberto de manhã à noite e recordo-me que muito raramente a minha avó perdia um programa ada Maria Pereira.
Quando comprei os livros lembrei-me de tudo isso.
Pessoa atenta que és, no que à música portuguesa diz respeito saberás que a história se faz com estas pequenas coisas de que já muito poucos se lembram, mas já não falar na malta nova.
Terei um grande gozo em rever essa capa. Nunca andei à procura dela mas se a encotrasse não hesitaria.
Obrigado e um abraço

bissaide disse...

Hugo, já te enviei por mail a capa. E se vir este disco, não me esquecerei. Abraço