O que eu penso da música yé-yé é que se trata de um abastardamento das formas musicais modernas.
De forma alguma representa uma época, porque nem todos os jovens do Mundo se comportam como estes tipos; o yé-yé representa antes a expressão de um processo de decadência de uma sociedade.
O tipo que vai espernear para o yé-yé é em absoluto destituído de valores intelectuais e não pode, encontra-se, irremediavelmente impossibilitado de apreciar algumas das outras manifestações da música actual, nomeadamente o jazz.
O yé-yé é pura e simplesmente um slogan lançado por uma moda; os indivíduos que a ele aderirem não estão intelectualmente preparados para acompanharem a audição de um Armstrong, digamos, ou de um Miles Davis ou de um Bruebeck; são indivíduos para quem uma audição de um trecho de um desses grandes da música moderna se torna destituída de significado e passa ao indiferente.
E eu digo-lhe quais são os sintomas dessa decadência, se quiser: é a incapacidade de criar e a ausência de estímulos para viver. Todo o indivídio incapaz de criar, segue a primeira moda que lhe aparece, contando que essa moda seja espectacular.
Bem, em última análise, posso classificar o yé-yé como um ritual do chinfrim (pode mesmo pôr isso no jornal).
Teria muito mais coisa a dizer sobre esse fenónemo lamentável. Sobre isso há muito a dizer, incluindo causas, consequências, enfim, uma análise profunda, uma dissecação minuciosa, pois o yé-yé é um fenómeno isolado entre muitos outros que caracterizam uma sociedade decadente, mas que é de uma complexidade que se estende a todos os campos, nomeadamente, social, educacional, etc, etc.
É flagrante o facto de se importar a música fabricada na Europa e na América quando se desconhem em absoluto as expressões musicais existentes na terra em que se habita - como é neste caso o batuque.
O batuque é uma expressão musical nativa do maior interesse em conhecer-se e estudar-se, mas que, pelo contrário, é quase absolutamente ignorado entre os que cá vivem e entre os que berram esganiçadamente em reuniões de yé-yé.
De forma alguma representa uma época, porque nem todos os jovens do Mundo se comportam como estes tipos; o yé-yé representa antes a expressão de um processo de decadência de uma sociedade.
O tipo que vai espernear para o yé-yé é em absoluto destituído de valores intelectuais e não pode, encontra-se, irremediavelmente impossibilitado de apreciar algumas das outras manifestações da música actual, nomeadamente o jazz.
O yé-yé é pura e simplesmente um slogan lançado por uma moda; os indivíduos que a ele aderirem não estão intelectualmente preparados para acompanharem a audição de um Armstrong, digamos, ou de um Miles Davis ou de um Bruebeck; são indivíduos para quem uma audição de um trecho de um desses grandes da música moderna se torna destituída de significado e passa ao indiferente.
E eu digo-lhe quais são os sintomas dessa decadência, se quiser: é a incapacidade de criar e a ausência de estímulos para viver. Todo o indivídio incapaz de criar, segue a primeira moda que lhe aparece, contando que essa moda seja espectacular.
Bem, em última análise, posso classificar o yé-yé como um ritual do chinfrim (pode mesmo pôr isso no jornal).
Teria muito mais coisa a dizer sobre esse fenónemo lamentável. Sobre isso há muito a dizer, incluindo causas, consequências, enfim, uma análise profunda, uma dissecação minuciosa, pois o yé-yé é um fenómeno isolado entre muitos outros que caracterizam uma sociedade decadente, mas que é de uma complexidade que se estende a todos os campos, nomeadamente, social, educacional, etc, etc.
É flagrante o facto de se importar a música fabricada na Europa e na América quando se desconhem em absoluto as expressões musicais existentes na terra em que se habita - como é neste caso o batuque.
O batuque é uma expressão musical nativa do maior interesse em conhecer-se e estudar-se, mas que, pelo contrário, é quase absolutamente ignorado entre os que cá vivem e entre os que berram esganiçadamente em reuniões de yé-yé.
José Afonso, in "Plateia", 12 de Abril de 1966
PS - Falo contra mim, já que sou um incondicional de José Afonso, mas aqui o cantor de Coimbra comportou-se algo reaccionariamente, como se veio a provar posteriormente!
PS - Falo contra mim, já que sou um incondicional de José Afonso, mas aqui o cantor de Coimbra comportou-se algo reaccionariamente, como se veio a provar posteriormente!
56 comentários:
Há que ver essa entrevista á luz da época, que presumo ser 1966 e não 1996. Embora também discorde em absoluto com ele, neste aspecto.
Esbirro do regime? Que nenni! Reaccionário, é expressão melhor.
A opinião de José Afonso sobre a música popular, tive a honra de a ouvir do próprio, durante hora e meia, tempo de uma viagem de combóio, entre Viana do Castelo e Porto, em 1981 ou 82.
Na conversa sobre música popular, disse-me que a música rock da época, mais não era do que a repetição dos esquemas musicais do rock n´roll, dos anos cinquenta que ouviu originalmente: Gene Vincent, Eddie Cochran e Elvis Presley, entre muitos. Não lhe interessava.
E eu que nessa altura, ainda adorava as novidades de Ry Cooder, de Frank Zappa, dos New Order também, fiquei um pouco perplexo e decepcionado.
No entanto, tinha alguma razão, claro. Aliás, havia já nesse tempo quem atribuisse a música dos Stones a um roubo aos blues, bem como a maior parte da música que os ingleses praticavam nesse tempo ( via Bluesbreakers, Eric Clapton, Who, etc etc).
Mas a música erudita também é uma repetição de esquemas musicais dos compositores da época que se imitavam entre si.
Schubert é um original e tal foi reconhecido por Beethoven que aliás, Schubert admirava e nunca chegou a contactar, na Viena do seu tempo.
Mozart foi um génio que outros seguiram.
Beethoven, foi outro, mas só compôs uma ópera, por exemplo.
Doer dói, caro "Ié-Ié",mas penso que sabe perfeitamente o que o José Afonso queria dizer. Com um flagrante exagero, é certo, mas aquilo foi a mensagem que ele pretendeu deixar porque outras não lhe eram permitidas. É o tempo em que as palavras foram ditas que faz a diferença.
As afirmações de José Afonso, de uma ignorância e de um reaccionarismo lamentáveis, são basicamente as dos partidos comunistas da época (curiosamente mtº semelhantes ás do regime s/ o mesmo tema), ligados à URSS e cuja hegemonia ideológica na oposição à ditadura era enorme. Recorde-se estamos em 1966, a dissidência maoísta tem poucos anos (o 1º nº do jornal dos CMLP, de Francisco Martins Rodrigues, é de Out. 64), o Maio de 68 demoraria ainda 2 anos, e a atitude do PCF não seria radicalmente diferente da de JA s/ o movimento rock (ou yé-yé, como por cá se chamou), e os movimentos radicais de cariz libertário, tb atacados pelos partidos comunistas, só tiveram expressão após o Maio 68. Este, aliás, integra-se num movimento universal mais amplo de criação de uma nova cultura e contestação da existente - a de "antes da guerra" - que basicamente tem início com o r n' r nos anos 50.Não admira, portanto, a reacção comunista: tudo isto era algo que escapava ao seu controle, tinha tido origem nos USA (a pátria do capitalismo) e não tinha nada de origem operária ou proletária. Mais, não tinha uma ideologia e uma organização bem definidas. Na altura, a ligação dos comunistas á música não erudita era feita basicamente através do jazz (onde os meios liberais americanos sempre tiveram alguma influência)e da canção de texto francesa. Costumo dizer que qualquer banda rock de garagem deu maior contributo para mudar o mundo do que toda a canção de texto junta, independentemente da sua qualidade, de circulação restrita a alguns meios da esquerda intelectual. Sei que é um exagero, mas o que pretendo evidenciar deste modo é a importância do r n' r, mesmo o musicalmente mais incipiente. Como tenho por aqui repetido, o resultado de tudo isto é que, com a muito especial excepção de Adriano C. de Oliveira, toda a música popular portuguesa c/ qualidade e inovadora, passa ao lado do PCP, quando não é mesmo produzida contra o PCP.
Desta vez o Zeca Afonso já é conotado com o P.C.P. ? eheh, curioso...
Adiante, parte da minha primeira resposta deixa de fazer sentido, depois do Iéié ter corrigido a data da entrevista dada á Plateia.
Lembrei-me agora de algo, um árbitro de Basketball foi durante anos considerado o melhor de Portugal, retirou-se recentemente. Nos cursos de arbitragem era referido como exemplo, pois errava como os outros, mas errava com tanta convicção, que normalmente nem era contestado.
A revista Rock & Folk surgiu em 1966, como suplemente de uma revista de jazz de que Philippe Koechlin era aficionado.
O jazz, em França, era conotado com a esquerda, naturalmente. Mas a esquerda, em França não era necessariamente a do PCF. E por isso, Koechlin também gostava da revista Twen, alemã, uma espécie de revista libertária com grande qualidade estética ( basta procurar no Google para ver).
Essas duas influências bastaram para produzir a Rock & Folk, de 1966 e que tratava o ié-ié, com o respeito e atenção merecidos.
Terá José Afonso escutado Bob Dylan, de Highway 61 revisited? Terá ouvido nessa altura, 1966,
o som progressivo ao rock n´roll que se anunciava já? Os próprios Beatles?
Não parece nada.
A opinião de José Afonso não era por ser de esquerda. Parece-me antes ser um opinião estética, pura e simples que manteve ao longo dos anos, como tive ocasião de testemunhar, em 82.
José Afonso não gramava o rock, voilà!
Caro JC. não irei retirar uma virgula sequer ao seu comentário onde existe razão suficiente para eu ter o bom senso de guardar o resto (já andamos a guardar coisas a mais...)para uma sessão de tremoços, onde há outras condições para discutir estas coisas do que uma caixa de comentários. Sem querer tentar salvar a honra do convento, não tenho nem quero ter mandato e onde há mais para criticar do que qualquer outra coisa, tanto quanto sei, e eu sei pouco, o José Afonso nunca pertenceu ao PCP. Terá colaborado mas não pertenceu. De nomes "sonantes" apenas sei de dois: o Adriano Correia de Oliveira e o Luis Cilia, e apenas pelo Adriano posso colocar as mãos no dito.
O resto, como lhe disse, é uma outra história. Até porque tenho os mesmos problemas que o Luis Mira - nabice pura! - os comentários estão sempre a cair.
Ainda estou para saber por que Mr. Ié-Ié mudou, ou lá o que é, o regime da página de comentários.
Recordo aqui um comentário de Rui Pato, que foi amigo de José Afonso e que o acompanhou à viola nos primeiros tempos.
Este comentário de Rui Pato foi produzido, a pedido, a propósito dos 40 anos de "The Beatles":
"(...) só muito tarde descobri o valor musical dos Beatles, assim como o papel relevante que eles tiveram na mudança dos estilos musicais da época, até na mudança das mentalidades.
"E porquê? Porque eu fiz parte daqueles que, na altura, desprezavam toda a cultura artística anglo-saxónica, virando-nos apenas para os que faziam da arte uma arma de contestação ao poder "imperialista", tal como os músicos e poetas franceses, italianos, espanhóis, cubanos e alguns poucos americanos.
"Ensaiavam-se os primeiros passos da música de intervenção em confronto com o nacional cançonetismo, com o Zeca, o Cília o Adriano, o Sérgo Godinho,etc, etc.
"O planeta estava repleto de injustiça social e de conflitos graves; estávamos no rescaldo da guerra civil espanhola, começara há pouco a guerra colonial, o Vietname, a Índia tinha-se revoltado contra os colonialismos, Fidel e Guevara eram os heróis da altura.
"O aparecimento dos Beatles não foi apreciado nos primeiros tempos, já que aparentava, numa análise que então fazíamos, reconheço agora, preconceituosa e um pouco dogmática, ser um produto da cultura urbana de jovens ingleses sem qualquer preocupação social.
"Só mais tarde, eu e todo esse "cluster" de músicos contestatários nos viémos a aperceber da verdadeira dimensão musical, também social e política, desses meninos de Liverpool".
Acho que este comentário de Rui Pato explica cabalmente a "tirada" de Zeca Afonso.
A questão, agora, seria a de saber se José Afonso subscreveria a nova visão de Rui Pato.
LT
Já agora quero lembrar também um pormenor importante que faz toda a diferença: a idade.
José Afonso nasceu em 1929, se fosse vivo completaria no próximo Verão 80 anos. Ou seja, exactamente a idade que o meu pai vai fazer. E, se bem lembro, a "revolução musical" do Rock e do Pop foi feita em grande parte "contra" a geração dos nossos pais. Tirando as excepções, que só confirmam a regra, como é que eles algum dia podiam alinhar com os nossos gostos musicais?
Em 1984 ou 1985 o José Afonso deu uma entrevista ao semanário "Se7e" onde revelou que "gostaria de conhecer os Rádio Macau" E porquê?
Porque os Rádio Macau tinham gravado uma versão de "No Comboio Descendente" de José Afonso, no seu primeiro álbum.
E , aquando do seu último concerto, no Coliseu, apresentou Guilherme Inês como sendo dos Salada de Frutas.
Claro que, como referiu Júlio Pereira recentemente, José Afonso nunca, na sua música usou clichés da música anglo-saxónica. Nunca nos seus discos houve baterias e houve poucas guitarras eléctricas.
No entanto estas declarações de José Afonso têm que ser lidas à luz da época.
Hoje, José Afonso é o autor português com mais versões por grupos de pop/rock ou afins. Mais de 100 versões conheço eu de temas de José Afonso.
Acredito , perfeitamente, que José Afonso e outros não estavam interessados em rock. Eu até digo que nem os Trovante tinham alguma coisa a ver com rock , no seu início.
O facto de o rock não interessar a José Afonso ( e acredito que é verdade) não lhe retira mérito nenhum.
Acredito que se o José Afonso tivesse ouvido o disco "Filhos da Madrugada" iria gostar.
Quanto ao comentário do JC não deixa de ser estranho que , agora, diga que José Afonso tenha algo a ver com o PCP, quando ele nunca foi do PCP.
1. Mas onde disse eu que o José Afonso tinha pertencido ao PCP? Sei bem que não! Limitei-me a dizer que as suas afirmações eram idênticas às do PCP, que, em 1966, hegemonizava praticamente, em termos ideológicos, toda a esquerda. Até disse que a música popular portuguesa de qualidade escapou, c/ as excepções que mencionei, ao PCP. Ora não acho que alguém pense que para mim o José Afonso não tem qualidade.
E tem razão o Rui Pato. Só tarde, á medida que a influência ideológica do PCP se desvaneceu na esqª, depois do Maio 68 e quando a URSS entrou em fase de fade out,alguma esquerda concluiu da importância do movimento rock. Mas Pato afirma algo de curioso: o combate ao nacional-cançonetismo. Curioso pq o movimento de renovação da música ligeira portuguesa, onde o PCP teve um papel importante, foi feito em grande parte através das estruturas do nacional-cançonetismo, de que é exemplo o Festival RTP da Canção.
Esclarecido o assunto José Afonso-PCP (mas era preciso?), chamo a atenção para o comentário oportuno do Rato, que subscrevo.
Ainda me lembro que tinha de ir ouvir os meus discos no meu pequeno portátil, para bem longe da "sofisticada" (para a época) aparelhagem estereofónica que o meu pai tinha na sala principal da casa, e à qual eu só tinha acesso quando estava sózinho em casa. Talvez que a excepção tenham sido Os Beatles, mas mesmo assim apenas os temas mais "calmos" terão sido ouvidos em concluio familiar.
Rato:
E que escutava o teu pai?
Que música eram as do tempo da sua preferência?
O meu tem a mesma idade e não era apreciador musical.
Saio ao meu avó que era músico de banda filarmónica, copiava as pautas em casa e tocava bombardino.
E apoiava o rei D. Manuel.
Belas histórias para contar, José.
O meu avô era "caixa" na Banda da Camara Municipal de Lisboa, ia a Cacilhas cortar o cabelo porque era mais barato, o cabelo chegava na mesma mas a boa disposição era bem evidente...
Os músicos de filarmónica, aprendiam a tocar de ouvido e lá iam aprendendo a reconhecer as notas e compassos, à vista das pautas.
Algumas filarmónicas mais evoluídas, eram mais ouvidas e requeridas nas festas populares, únicos lugares onde se exibiam publicamente.
Em coretos improvisados, durante uma tarde tocavam as peças, quase à desgarrada, com a outra banda do coreto em frente.
Em Fafe, havia essa tradição de grandes bandas filarmónicas. Em Revelhe.
Em S. João da Madeira também. Isso para falar no Norte.
Actualmente há uma banda, salvo erro chamda 12 de Abril, de Águeda que é um espectáculo.
O meu avô também era caçador e tinha uma pele de texugo, seca, em casa. Cheguei a ver os cartuchos em papelão, com a pólvora e o cheiro característico da mesma.
O meu tio, caçador também, era furtivo e gabava-se de enganar a venatória daquele tempo, apanhando coelhos como e quando queria.
Outro tempo, de facto.
José:
Para além da música clássica, lembro-me que ele ouvia muito os crooners da época - Sinatra e Nat King Cole, sobretudo (já lhe ofereci algumas coleções do Rato, eheheh), música espanhola tipo "Los Machucambos" ou "Los 3 Sudamericanos", e, claro, os albuns do Dan Hill e as compilações da Springbok Sul-Africana (mas aqui acho que o interesse era mais pelas capas...).
Ah, e orquestras ligeiras, sobretudo Caravelli e Frank Pourcel.
Ainda sobre o debate José Afonso versus Ié-Ié:
(subscrevo, no fundamental, os comentários do Rato e do José, e entendo as explicações de Rui Pato)
1. Parece-me que, neste caso, as questões políticas são secundárias. José Afonso era, em 1966, um homem de outra época preocupado com um país ainda mais recuado no tempo. Como tal, não dispunha da disponibilidade necessária para chegar a um certo grau de conhecimento. Dominava ele a língua inglesa para poder entender as palavras de Dylan? Alguem lhe deu a ouvir "Pet Sounds" ou "Revolver"? Cresceu ele a ouvir os Blues para que pudesse entender o Rock'n'Roll? Reparou, 1 ano antes da entrevista, como "Satisfaction" complementava a sua opinião quanto à tal sociedade decadente?
2. Podemos argumentar que o gosto pela música não nos obriga a gostar de tudo, independentemente da qualidade apresentada. Trata-se de uma questão estética e cultural. Todavia, esse mesmo gosto, ou paixão, obriga-nos a ouvir o som desconhecido e a tentar compreendê-lo. Nem que seja para nunca mais o escutarmos. E compreendê-lo é integrá-lo no seu tempo. Para o bem e para o mal.
3. Repito, por outras palavras: Portugal vivia longe da modernidade, nas trevas do desenvolvimento. Se para os ingleses os Estados Unidos era uma terra de sonho, de fantasia, tentemos imaginar o que não seria para os portugueses. E quem diz Estados Unidos, poderá dizer França ou Inglaterra, dependendo da formação e preferência pessoais. E se José Gil escreve que ainda vivemos paralizados pela inveja, com medo de existir, na teimosia da não-inscrição, o que não seria em 1966...
4. O "sacrifício do intelecto" a favor de uma causa querida - como o demonstra José Afonso na entrevista -, é próprio de quem leva as suas convicções ao limite. Até à cegueira. Exemplo complementar: nos anos 90, assisti a algumas aulas na escola do Hot Clube de Portugal, e um ilustre professor recusava-se a admitir que John Lennon tinha sido sequer músico. Acrescentou mesmo que os Beatles compuseram cantigas infantis ao alcance do talento de qualquer iniciado no Jazz. Elucidativo.
5. Deixem-me ser egoísta, companheiros de debate... ainda bem que José Afonso pensava assim em 1966. Génio absoluto, como era, agarrou-se às suas convicções com unhas e dentes para transformar a nossa música popular. Isso é o que importa. Para o Rock'n'Roll já tínhamos Chuck Berry, Dylan, The Who, Beatles, Stones, Brian Wilson, etc... para a nossa música não tínhamos quase ninguém!
Sendo assim, podemos pensar que se José Afonso não pensasse assim, ter-se-ia metamorfoseado num qualquer Dylan de província, certo?
Afinal de contas, não é verdade que Rocker genuíno é aquele que se dedica cegamente à causa? Voilá!!!
E não interessa o que um artista diz, mas sim, o que faz. E José Afonso fez o bastante!
Filhote:
Tendo vivido esse tempo, não me parece que neste assunto as questões políticas fossem secundárias, embora podendo estar presentes apenas de forma subliminar. Nesse conflito, que tb é geracional, o que a minha geração contesta (e a do LT, Rato, etc) são as formas políticas e culturais, vivenciais e sociais, do pré-guerra, o que tb inclui a política, incluíndo a guerra-fria, herdada da WWII, e os partidos comunistas tradicionais e a cultura e valores que veiculavam (a chamada cultura e moral operária). Daí os apelos á paz ("antes vermelho que morto"), o movimento hippie,os Mods, os cabelos compridos, a beat generation, etc. José Afonso, vindo da geração dos n/ pais, só irá compreendê-lo mais tarde, já que em 66 tudo isto era ainda embrionário e o pensamento hegemónico na esqª era o do PCP tradicional. O que acontece é que a esqª de então, vinda das frentes populares, do anti-fascismo, da guerra de Espanha e da hegemonização pela III internacional, conservadora na defesa da URSS, pátria do socialismo, não entende o que se passa, o que é bem visível no Maio 68 e na contestação do R n'R
Compreendo esses argumentos, JC, como quaisquer outros que venham de quem, de facto, viveu a época.
Quando escrevi "parece-me que, neste caso, as questões políticas são secundárias", apenas quis centrar a discussão na música.
Não podemos querer transformar um músico interessado por política num político interessado por música. E José Afonso pertencia, sem dúvida, à primeira categoria.
Porém, entendi as suas palavras, JC...
Abraço!
As coisas estavam de tal modo ligadas que era difícil perceber onde começava a música e acabava a política. Ou vice-versa. No caso do R n' R onde começava a música e acabava a contestação. Ou tb vive-versa. Eram tempos...
Abraço, filhote.
Credo, Santissimo Sacramento! O que p'ráqui vai. Comuna, reaccionário, inculto, só falta chamar-lhe indigente mental. Vá lá que alguns concedem que se trata de uma opinião datada. Mas, ò Homens de Deus, porque não aproveitaram enquanto ele foi vivo para lhe dizerem tudo isso na cara? E porque não aproveitam para ler mais umas coisitas que ele disse depois de 66 e até à morte? Eu, que também sou do rok (por isso estou aqui), era igualmente do Zeca. E por "ser" de uma coisa e da outra (já agora, tenho 63 brasas), respeito a opinião do Zeca, porque o respeito pela opinião dos outros é muito bonito. Aprendi isto lkogo quando deixei crescer o cabelo e, depois, a barba. Já agora, como sou ateu peço desculpa por este discurso santificado. Bem hajam por isso.
Eu no meio de tanto zigue-zague é que já me perdi, afinal o rock and roll não tem origem nas classes trabalhadoras, ou operárias ou o que se queira chamar ? a expressão "working class hero" associada á pop britânica, e muito especialmente aos Beatles e a John Lennon, também serão coisas imaginadas ? Os Pink Floyd não eram membros do Partido Comunista Britânico ? Em 1966 a musica Pop que era conhecida pelo Zeca Afonso, não seria realmente associada a um movimento ligeiro, na primeira metade da década de 60 a música POP que era mais conhecida transportava alguma mensagem social, ou alguma rebeldia ? além de ter proporcionado a desconhecidos vindos das camadas baixas tornarem-se famosos e ricos ? Porquê misturar Bob Dylan com Beatles em 66 ? pelo menos no que Zeca Afonso poderia conhecer ? Dylan pertencia á música Folk, ou até de protesto, não foi dessa que Zeca Afonso falou. Pete Seeger não era comunista ? Será que alguém se pode afirmar como portador dos ideiais de uma geração, quando há tanta gente da mesma geração com opiniões e vivências completamente diferentes ? Será que, finalmente, a Beat Generation não é a mesma do Zeca Afonso ?
Concordo , totalmente, com o comentário do Armando e com o último do Jack Kerouac.
Não sou músico, mas sou do Rock e, também, do Zeca.
É só isto...
Bom, JK, o rock and roll tem fundamentalmente uma origem geracional, mas tb suburbana, c/ uma forte componente da classe trabalhadora e com a subversão que consistia, na altura, em fundir a música branca c/ a música negra. Mas tb das universidades, da intelectualidade da Village, dos filhos da burguesia californiana. Isto não é propriamente ter origem no proletariado industrial da Pennsylvannya, base operária do Partido Democrata, mtºs deles considerando de certeza o rock como JA em 66 o considerava No caso britânico, mtºs dos músicos são origináros da pequena burguesia suburbana, tal como foi aí que nasceu o movimento Mod. Nada disso tema ver com a ideologia oficial dos PCs ou da III Internacional, mas é, isso, sim, e como eu disse, parte de um movimento que substitui a cultura e o modo de vida anterior à WWII por um novo. Fazem parte desse movimento, de modo diverso e em épocas diferentes, a beat generation, os Young Angry Men, o rock and roll, o movimento Mod, os hippies, o LSD e Timothy Leary, o Maio 68, a Primavera de Praga, etc, etc. Isto não impede que alguns dos seus expoentes não tenham sido comunistas, principalmente onde os respectivos partidos eram quase inexistentes. Todo este movimento, em que a esquerda, assumida ou não, de forma explícita ou subliminar por via de ideais considerados subversivos e anti-sistema, tem um papel não negligenciável, passa ao lado e por vezes afronta a ideologia comunista oficial. Em Portugal, por causa da ditadura e do importante papel que o PCP assumiu na luta contra ela, as coisas aconteceram mais tarde e de modo mais ténue. O 25 de abril foi o n/ Maio 68... Daí JA, ainda por cima sendo de outra geração, como bem disse o Rato, ainda ter esse discurso, que considero reaccionário e acompanhando a posição do PCP na altura hegemónico na esqª portuguesa, em 1966 (que raio, até o meu pai, que era um liberal, era na altura influenciado por algumas ideias vindas do PCP!!!). Estou apenas a tentar dar uma explicação racional, à luz no MATERIALISMO HISTÓRICO (será que não percebeu, JK?), ao que se passou e às afirmações de JA em 66. E olhe que tb o Cristiano Ronaldo era pobre e agora "escaqueira" Ferraris!
De acordo, Kerouac. Porém, tenho duas ressalvas a fazer:
1. Os integrantes dos Pink Floyd não pertenciam à classe trabalhadora. E moviam-se no meio londrino mais elitista - e vanguardista.
2. Justamente em 1965/66 a ligação artística mais marcante da música popular anglo-saxónica era Dylan-Beatles-Byrds. Por outras referências, "Like a Rolling Stone"-"Nowhere Man"-"Mr.Tambourine Man". E não é "Satisfaction", repito, uma canção de contestação?
Para aqueles que ainda consideram Dylan um artista Folk em 1965/66, aconselho o visionamento do DVD "The Other Side of the Mirror - Bob Dylan Live at the Newport Folk Festival".
No concerto de 65, até Pete Seeger quis expulsar Dylan-"Judas" do palco.
A verdade é que os folkies - alguns notáveis, como Seeger e Guthrie - nunca perceberam a verdadeira identidade de Dylan. Mesmo quando cantava "Blowin' the Wind", a sua atitude era de puro Rock'n'Roll... a entoação vocal, a pose de rocker, as descrições urbanas a la Chuck Berry, etc, etc, etc... por altura de "Another Side" (1964) já muitos puristas da Folk repudiavam Dylan, enquanto ele se preparava para lhes virar as costas definitivamente.
Concluindo, repito:
Não interessa o que um artista diz, mas sim, o que faz. E José Afonso fez o bastante.
Para que não restem dúvidas já que percebi que o que digo nem sempre é bem interpretado: nada do que disse tem a ver c/ qualquer menosprezo pela obra de José Afonso. Muito antes pelo contrário. Foi alguém fundamental na música popular portuguesa. O seu principal nome, o seu músico mais genial e um dos "pais fundadores".
Filhote, estás a baralhar a cronologia histórica dos factos, claramente correcta no modo como a descreveste, com aquilo que eu disse que seria a realidade de Zeca Afonso em 66, e não te esqueças que a realidade é aquilo que cada um conhece em determinado momento. Para mim compreendo as declarações do Zeca á luz da época, alem de mesmo que ele conhecesse tudo o resto, tivesse aquela posição. Mal de quem se veja como dono absoluto da verdade. Claro que eu não concordo com o que ele disse, em termos de opiniões musicais. Quanto ao Rock é claramente proveniente das classes mais baixas Americanas, inicialmente claro. Quanto á pop inglesa, especialmente a de Liverpool, é mesmo originária dos filhos de uma classe trabalhadora. Que não tem nada a ver com os ideais dos PC´s, aliás tirando o JC que parece ter uma fixação pelo PC, não vi ninguém referir tal coisa, o que não se pode é dizer que os PC´s repudiavam a POP ou o Rock, por não serem oriundos do proletariado ou da classe operária. Pois se nos países de Leste a música que mais se ouvia era a clássica, e esta sim é que não vinha mesmo da classe operária. Depois dei alguns exemplos de integrantes dessa mesma musica POP, Rock e Folk, que tinham de facto ligações á esquerda. Agora que eu conheça, não há nenhuma posição oficial do PCP em relação á musica rock ou pop nos anos 60. Mas nem isso é importante, pelo menos para mim, é me indiferente. Só para terminar, e a título de curiosidade, no perfil actual de Jerónimo de Sousa vem "Benfiquista e fã dos Beatles, ao som dos quais aprendeu a dançar". Curioso não é ?
Não conhecia esse perfil do Jerónimo de Sousa... notável!
Jack, quanto ao teu argumento sobre "a realidade de Zeca Afonso em 1966", agora percebi. Estamos de acordo. Podes comprová-lo no meu primeiro comentário deste post (ponto 1).
A verdade é que José Afonso foi tão genial, é ainda tão primordial, e nós gostamos tanto dele, que andamos para aqui a querer desculpar aquelas palavras infelizes...
Comparando de uma forma grosseira, e sabendo que os motivos seriam outros, tu que também és um fã do Elvis, que dizes ao facto de ele ter tentado que os Beatles não entrassem nos Estados Unidos ? Espero que não me respondas que o Elvis era do PC....
JK, ainda subo aos céus e me torno santo!
1. Mas eu disse exactamente que a origem do rock nada tem a ver com os PCs. O facto de poder ter tb, na sua origem, uma raíz na classe trabalhadora, não significa isso. Ou será que percebi mal, JK?
2. Estamos a falar de música popular. O facto de na URSS se proteger, e mtº bem, a música erudita, integrada no conceito "a arte para o povo", não significa que por lá não existisse música popular e ligeira. Mas o rock - e é ler os textos dos jornais oficiais da altura e o banimento respectivo - era praticamente proibido. Que raio, não era preciso um editorial do Pravda ou do "Avante" clandestino para o provar.
3. Pouco interessa se alguns nomes do folk, rock, etc tinham ou não ligações à esqª. O que é importante é que na sua essência sociológica, essa música teve um papel determinante na mudança do mundo, dos valores, dos comportamentos, na vida em sociedade. Por isso, um papel de esqª, se considerarmos que são esses os seus valores e eu acho que sim. Curiosamente, JK, só o facto de existirem centenas ou milhares de pequenas emissoras e editoras de discos autónomas e independentes no USA, como a SUN, muitas vezes locais, num mercado altamente concorrencial, permitiu a difusão e o triunfo do rock n' roll. Ou seja, foi o capitalismo concorrencial que permitiu a difusão de um género musical contestatário do sistema. Um activo das sociedades mais abertas e democráticas.
E se o LT organizasse um dia destes um colóquio sobre estes temas, promovido pelo blog? Bute lá, LT?
Abraço e até amanhã.
JC, pode subir onde quiser e tornar-se naquilo que melhor entender, isso nem vem ao caso. O que o JC tinha dito inicialmente, e pelos vistos teve a virtude de emendar agora, é que o Zeca e, segundo o JC, o PC, renegavam o Pop/rock/iéié, por entre outras razões "...tudo isto era algo que escapava ao seu controle, tinha tido origem nos USA (a pátria do capitalismo) e não tinha nada de origem operária ou proletária..." ora como o próprio JC acabou de concordar, esta não era claramente a razão para tal, pois é uma afirmação que nem corresponde á realidade. Posto isto, pode então subir aos céus que já conseguiu ver a luz.
Quanto ao colóquio, venha ele, que isto por escrito torna-se chato.
abraço
A Bem da Nação.
Jack, o Elvis era, isso sim, pró-Nixon. E a administração Nixon nada queria com os Beatles, mais precisamente com John e Yoko. Ora bem, por causa dessa associação política Elvis foi metido nessa embrulhada.
Todavia, já li vários livros sobre o assunto e nunca ficou provado que Elvis tivesse dito ou feito alguma coisa no sentido de prejudicar os Beatles. Pelo contrário. Inúmeros testemunhos de músicos e acólitos do "rei" atestam a paixão dele pela música dos Beatles.
Em frente das câmaras da NBC, em Dezembro de 1968, no lendário "Comeback Special" que bateu recordes de audiência, Elvis fez questão de elogiar os Fab Four...
E até ao fim da vida Elvis interpretou ao vivo canções como "Something". Não esquecendo que George Harrison fez questão de assistir nos anos 70 a um dos shows de Las Vegas, e de cumprimentar Elvis nos camarins...
Mais um mito urbano, como diz o companheiro Ié-Ié? Talvez... e se for verdade, que importa? Do Elvis só me importa a obra que deixou...
É claro que o Elvis nunca foi do PC... rsrsrsrsrsrs... nem devia saber o que era isso... Elvis era um simplório, até ingénuo, dotado de um gigantesco talento.
Já que a discussão mudou de rumo, aproveito e deixo também aqui a minha opinião sobre este assunto.
No que concerne à relação com Os Beatles houve claramente "dois" Elvis: o primeiro, antes de os conhecer pessoalmente, que de algum modo tinha receio em ver o seu "reino" ameaçado por aqueles putos vindos do outro lado do mundo (como se sabe, o "mundo" para Elvis era limitado pelas fronteiras dos EUA, nunca sequer veio à Europa). O (histórico) encontro em Graceland (ocorrido em 1965, ou seja, apenas quando Os Beatles visitaram os EUA pela 2ª vez), e durante o qual, depois de um período natural de tensão, todos acabaram a divirtir-se numa improvisada jam session (consta que McCartney ficou admiradissimo por Elvis também saber tocar guitarra-baixo), foi o ponto de viragem. Julgo que o Elvis percebeu claramente que aqueles rapazes eram também seus fãs, apaixonados pela pureza inicial do rock and roll e que de modo algum constituíam uma "ameaça". Depois disso aproveitou de igual modo a genialidade de Lennon-McCartney, como tantos outros, para criar as suas próprias versões de alguns dos temas dos Beatles.
Para terminar lembro apenas que o encontro Elvis-Beatles aconteceu porque Brian Epstein chegou a acordo com o Coronel Parker. Quanto aos directos protagonistas, Elvis não estaria particularmente interessado, ao passo que Os Beatles queriam realmente conhecer pessoalmente quem tanto os tinha influenciado na adolescência. O que é perfeitamente natural, diga-se.
O Elvis fez o serviço militar na Alemanha que, como se sabe, fica nos Estados Unidos.
Só para terminar JK: o facto de mtºs intérpretetes e nomes do rock n' roll virem da classe trabalhadora não significa que a cultura que o rock personificava ou mesmo esses elementos fossem operários ou proletários no sentido marxista-leninista. "Classe trabalhadora", aliás, é um conceito vago e pouco rigoroso que está ausente da terminologia marxista oficial. Homem, v. devia saber isto!
Já agora, mais uma provocação. Dos nomes PRINCIPAIS ligados à renovação da música popular portuguesa nos anos 60/70, Adriano C. de Oliveira é aquele que é militante do PCP. Coincidência ou não, é de todos eles o musicalmente mais conservador. E, já esperando a sua reacção, devo dizer que sou grande admirador da música e do canto de Adriano.
Sobre Elvis: Elvis, ao longo da sua vida, esteve longe de ser uma personalidade incontroversa e s/ evolução. O Elvis de 65, do tempo dos Beatles, já não era o Elvis de antes de 58, do rock n' roll, etc. O "Elvis the pelvis" Era uma personalidade conservadora do show-business que, se calhar (agora estou a especular um pouco), já se não reconhecia nos tempos que os Beatles admiravam. Vá, agora não comecem c/ a intifada (estou a brincar!!!)
Abraço para todos
Falta um . a seguir ao pelvis.
JC, essa obsessão em ligar tudo o que mexe ao Marxismo-Leninismo e ao PC, já se torna um pouco doentia. Continuo a dizer, eu Paulo Bastos, que o rock tem origem em pessoas oriundas das classes trabalhadoras. E claro que por isso essa não seria por certo a razão de ser renegado, segundo a sua ideia, pelos tenebrosos PCs. Agora se para o JC até uma simples alteração de côr de cabelo serve para falar do PC, isso já é algo que me ultrapassa e para o qual não tenho resposta. Mas, quanto a mim, já era hora para actualizar os argumentos anti-comunistas primários, esses que utiliza já têm cerca de 40 anos, mas no entanto sinta-se á vontade para os continuar a debitar se assim o entender, por mim é igual ao litro.
Abraço
Pronto, lá vem o anti-comunismo primário, o argumento derradeiro.
Abraço
Queirosiano:
O que eu quis dizer foi que o Elvis nunca actuou na Europa.
De qualquer modo obrigado pelo esclarecimento sobre a localização da Alemanha...
Caro Rato, os Beatles encontraram-se com Elvis em Miami e não em Memphis (Graceland).
E não está provado que tenha acontecido uma Jam entre o "Rei" e os Fab Four... eheheheeh... tanto é assim, que metade dos Beatles negam o facto...
Por outro lado, McCartney ficou surpreendido, isso sim, por Elvis ter uma TV com "remote control". Segundo o Macca, foi a primeira vez que viu tal "excentricidade", imaginando-se num filme de ficção científica.
Abraço!
Pelos vistos também não foi em Miami (Florida), Filhote, mas sim em Beverly Hills, na California.
Do livro "A Day In The Life", um diário (1960-1970) compilado por Tom Schultheiss, cito:
«August 27 - Elvis Presley invites The Beatles to his Bel Air mansion, where they socialize and play music together for three hours. The meeting is not publicized, and Elvis even denies subsequently that it took place.»
No livro da MOJO, "The Beatles: 10 Years That Shook The World", o encontro é referido como tendo acontecido a 27 de Agosto e mais uma vez é referida uma jam session entre todos. E volto a citar:
«At first, The Beatles found themselves lost for words. Paul and John sat on one side of Elvis, with Ringo on the other, George sitting cross-legged on the floor. Finally, Elvis tried to make them feel at home and broke the embarrased silence. "If you're just going to sit there and stare at me, I'm going to bed", he joked. "Let's talk a bit, huh? And then maybe play and sing a bit?"
That seemed a fine idea to The Beatles. "That's just what we all wanted to do," recalled Lennon, "and you could feel the tension in the room begin to ease. After a bit, Elvis said, "Somebody bring in the guitars". One of his men jumped up, and within moments three electric guitars had been plugged into the amplifiers in the room. Elvis took a bass guitar, and I took a rhythm guitar. Elvis obviously wasn't that familiar with his instrument, so Paul gave him some instructions. George was busy looking over his instrument, and it was a few minutes before he joined in. Cilla Black's hit record 'You're My World' was the track that we first got off together. After that I said, This beats talking, doesn't it? We had at last found a way of communicating. Only Ringo looked a bit down. He could only watch us and drum on the side of his chair. "Too bad we left the drums in Memphis", Elvis sais."
At about 2 am, The Beatles left, each with a complete set of Elvis records, a gun holster with a gold leather belt and a table lamp shaped like a wagon - gifts courtesy of the King.»
Outros livros, quer sobre Elvis quer sobre Os Beatles referem o encontro mais ou menos nestes moldes e sempre citando a tal jam session. A única coisa que varia de livro para livro é a data precisa do encontro, mas sempre enquadrada nos finais de Agosto.
De facto, caro Rato, falhámos os dois na localização do lendário encontro entre Elvis e os Beatles. Foi mesmo na Califórnia. No calor do debate, confundi-me, talvez, com uma das viagens dos Fab Four a Miami... é o que acontece quando se escreve de memória... e ela já nos atraiçoa... eheheheeh...
Quanto à "jam session", é verdade que inúmeras fontes a citam. Todavia, na série Anthology, os próprios Beatles - os então sobreviventes -, duvidam da sua existência, insinuando que a história só tenha existido na imaginação fértil de John Lennon...
Como diria, mais uma vez, o Ié-Ié, trata-se de outro mito urbano... ou não?... quem sabe?????
E já agora, qual a opinião do camarada YéYé? Alguma vez abordou o assunto com o Paul? Ou com o Ringo?
Eu que não estive lá, ponho-me a cogitar: de quer falariam aquelas alminhas todas juntas? A única resposta óbvia que me ocorre é, claro, de música. E não seria muito natural darem uns acordes e entoarem umas rockadas? Acho que sim, que seria até a coisa mais natural do mundo.
Rato: natural, natural é cada um c/ o seu cabelo e não um preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha! Desculpem, mas como estou c/ a neura apeteceu-me "abandalhar". Não levem a mal.
Abraço
O camarada Yé-Yé lança a confusão e põe-se ao fresco a assistir. Só intervém de quando em quando, que é o que vai acontecer em breve.
LT
Desnecessário tanto palavreado. O Zeca Afonso tinha mau feitio. Pronto. Na altura da entrevista estava-se em grande momento de atenção sobre o chamado Yé-Yé : os concursos de Lisboa (semanas e semanas) e em Abril de 1966, precisamente, em Coimbra. Os Yé-Yés era putos nessa época. Não podiam fazer qualquer contestação na linha daquela que o Zeca pensava que era necessária. Mas abanaram o cinzentismo nacional. Mais do que na década de 50. Nessa altura eram os teddy-boys. Havia uma enorme diferença. Lá fora eram da working-class. Aqui eram, no mínimo, classe média.
Meus queridos amigos
54 comentários!!!!Temos de concordar que é OBRA!!!
Agora a minha dúvida é que não sei se virá tudo do verbo OBRAR no seu mais terrivel e mal cheiroso significado no Dicionário.
O Zeca,poderia ser um neura,revoltado,insatisfeito (quem o não era???...e continua a ser!!)mas foi um marco na música portuguesa e na canção de intervenção um dos maiores ..senão o maior.
Tive uma única vêz a oportunidade e o enorme prazer de falar com ele,e confesso que no final ainda saí mais baralhado do que quando tinha chegado.
Agora que o HOMEM tinha um valôr extraordinário e que isso ultrapassa qualquer opção politica ou o que quer que seja,acho que todos concordam.
Acho uma certa piada mas um enorme desgosto,ver que quando se entra nestas coisas da politiquice (caso de há cerca de uma semana sobre CUBA)acaba por não se chegar a conclusão nenhuma (pela parte que me toca estaria sómente interessado em CUBA no Alentejo....e mesmo essa!!!???)
Andamos nisto há 34 anos,e quem se vai orientando á nossa custa são os Vara,os Franco e por aí fora,tudo em nome da Democracia,claro está.
Via o Zeca e a sua obra,que pêna ter morrido tão novo,agora deixem-no descansar em Paz,pois o que interessa é que era um HOMEM BOM,o resto é folclore!!!!
A música rock e pop pouco ou nada tem de interventiva. É maioritariamente alienante, frívola e hedonista, bastante apreciada pela burguesia e totalmente apoiada pelo capitalismo, que fez dela uma indústria altamente lucrativa e culturalmente invasora, opressiva e monopolizadora. Se nos EUA e na Inglaterra os músicos rock eram muitas vezes oriundos das classes trabalhadoras, no Portugal dos anos 60-80 (e ainda hoje) eram filhos da burguesia mais reaccionária. Os chamados "meninos ié-ié", os filhos maus das "boas" famílias, que actualmente (os que sobreviveram às drogas e às borracheiras) tomaram o lugar dos papás nas administrações, e que com maior descaramento do que os antepassados, continuam a explorar quem os serve, intitulando-se velhos hippies, adeptos do capitalismo selvagem mais desregrado e despudorado.
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