(quatro dos seis elementos da Filarmónica Fraude e o seu letrista quando falavam ao nosso jornal)
- Fazemos música portuguesa porque somos portugueses e, também, porque observando o folclore português vimos que se podia fazer qualquer coisa de bom. O facto de um de nós ter estudado os levantamentos musicais do nosso folclore, feitos por Lopes Graça e Giacommeti, ajudou muito.
Filarmónica Fraude. Um novo conjunto formado por gente jovem e cheia de esperança de triunfar. A Filarmónica tem seis elementos e um letrista de 21 anos, António Pinheiro (sic - é António Pinho), que cursa o primeiro ano do Instituto Superior Técnico.
Os restantes são também todos estudantes: Pinheiro Brito, de 17 anos, é vocalista e está no Instituto das Novas Profissões, tal como José João Parracho, de 19 anos, baixo, Luís Linhares, teclas e autor das músicas, tem 17 anos e está no sétimo ano dos liceus, na alínea de Económicas; Júlio Patrocínio, de 20 anos, toca bateria e cavaquinho e frequenta o segundo ano do Instituto Industrial; Antunes da Silva, viola, tem 19 anos e anda no Curso Comercial; João Carvalho tem 21, é solista e caloiro de Económicas.
Outubro de 1968.
- Chegámos a Lisboa depois de uma actuação de dois meses no Algarve. Nessa altura, éramos apenasa cinco e todos tínhamos já pertencido a outros conjuntos. Depois arranjámos mais um elemento e resolvemos gravar um disco. Fomos a uma casa editora oferecer-nos para prestar provas e, segundo nos disseram na altura, agradámos. Ficou combinado que nos chamariam no momento próprio... que nunca chegou.
- Um dia - continua outro dos nossos entrevistados - outra casa editora convidou-nos para gravar imediatamente.
- E aceitámos - interrompe outro jovem - o nosso primeiro disco foi passado em fita gravada em vários emissores de Rádio e, finalmente, há poucos dias, saiu. Proximamente gravaremos outro. E, por agora, os nossos planos terminam aqui.
Perguntámos aos cinco jovens que estão connosco quais as suas preferências musicais como músicos. Riem, hesitam, debatem o assunto como se nunca tivessem pensado muito a sério nisso. Depois, arriscam:
- É difícil dizer uma coisa dessas. Não temos ídolos. Estamos muito no princípio, mas sem dúvida, o dr. José Afonso, Carlos Paredes, Donovan, Canned Heat, Manfred Mann, Moody Blues e, claro está, os Beatles. Sei lá, há uma infinidade deles.
Tencionam gravar apenas música portuguesa?
- Sim, só em português. O que constitui uma dificuldade enorme - diz-nos Luís Linhares, que continua - a nossa música é completamente diferente daquilo a que as pessoas estão habituadas. A música ligeira portuguesa actual é melhor deixá-la onde está. Quanto a nós, é preciso fazer coisas novas sem nos preocuparmos com ela. Os nossos temas nem sequer são muito diferentes do habitual, apenas são contados e cantados de maneira diferente. Cantamos temas sociais e psicológicos tirados de folclore, figuras típicas das nossas aldeias. Há sempre um Aniceto (por exemplo) em qualquer parte do nosso país.
A que tipo de público acham que o vosso disco irá agradar?
- O disco foi feito para agradar a todas as camadas da população e esperamos também que agrade lá fora. No entanto, não gostamos muito do disco. Parece-nos que podemos fazer melhor. É uma questão de tempo e de trabalho. Muito trabalho.
(in "Diário Popular", 19 de Abril de 1969)
O disco a que os membros da Filarmónica Fraude se referem (e que, estranhamente, o jornal não indica) é o EP Philips 431922/E ("Flor de Laranjeira", "Problema da Escolha", "Menino" e "O Milhões"), saído três semanas antes, conforme anúncio publicado no mesmo jornal.
Filarmónica Fraude. Um novo conjunto formado por gente jovem e cheia de esperança de triunfar. A Filarmónica tem seis elementos e um letrista de 21 anos, António Pinheiro (sic - é António Pinho), que cursa o primeiro ano do Instituto Superior Técnico.
Os restantes são também todos estudantes: Pinheiro Brito, de 17 anos, é vocalista e está no Instituto das Novas Profissões, tal como José João Parracho, de 19 anos, baixo, Luís Linhares, teclas e autor das músicas, tem 17 anos e está no sétimo ano dos liceus, na alínea de Económicas; Júlio Patrocínio, de 20 anos, toca bateria e cavaquinho e frequenta o segundo ano do Instituto Industrial; Antunes da Silva, viola, tem 19 anos e anda no Curso Comercial; João Carvalho tem 21, é solista e caloiro de Económicas.
Outubro de 1968.
- Chegámos a Lisboa depois de uma actuação de dois meses no Algarve. Nessa altura, éramos apenasa cinco e todos tínhamos já pertencido a outros conjuntos. Depois arranjámos mais um elemento e resolvemos gravar um disco. Fomos a uma casa editora oferecer-nos para prestar provas e, segundo nos disseram na altura, agradámos. Ficou combinado que nos chamariam no momento próprio... que nunca chegou.
- Um dia - continua outro dos nossos entrevistados - outra casa editora convidou-nos para gravar imediatamente.
- E aceitámos - interrompe outro jovem - o nosso primeiro disco foi passado em fita gravada em vários emissores de Rádio e, finalmente, há poucos dias, saiu. Proximamente gravaremos outro. E, por agora, os nossos planos terminam aqui.
Perguntámos aos cinco jovens que estão connosco quais as suas preferências musicais como músicos. Riem, hesitam, debatem o assunto como se nunca tivessem pensado muito a sério nisso. Depois, arriscam:
- É difícil dizer uma coisa dessas. Não temos ídolos. Estamos muito no princípio, mas sem dúvida, o dr. José Afonso, Carlos Paredes, Donovan, Canned Heat, Manfred Mann, Moody Blues e, claro está, os Beatles. Sei lá, há uma infinidade deles.
Tencionam gravar apenas música portuguesa?
- Sim, só em português. O que constitui uma dificuldade enorme - diz-nos Luís Linhares, que continua - a nossa música é completamente diferente daquilo a que as pessoas estão habituadas. A música ligeira portuguesa actual é melhor deixá-la onde está. Quanto a nós, é preciso fazer coisas novas sem nos preocuparmos com ela. Os nossos temas nem sequer são muito diferentes do habitual, apenas são contados e cantados de maneira diferente. Cantamos temas sociais e psicológicos tirados de folclore, figuras típicas das nossas aldeias. Há sempre um Aniceto (por exemplo) em qualquer parte do nosso país.
A que tipo de público acham que o vosso disco irá agradar?
- O disco foi feito para agradar a todas as camadas da população e esperamos também que agrade lá fora. No entanto, não gostamos muito do disco. Parece-nos que podemos fazer melhor. É uma questão de tempo e de trabalho. Muito trabalho.
(in "Diário Popular", 19 de Abril de 1969)
O disco a que os membros da Filarmónica Fraude se referem (e que, estranhamente, o jornal não indica) é o EP Philips 431922/E ("Flor de Laranjeira", "Problema da Escolha", "Menino" e "O Milhões"), saído três semanas antes, conforme anúncio publicado no mesmo jornal.
5 comentários:
É preciso serem honestos para se afirmarem como "FRAUDE" :-)
Outros nomes autocríticos: Supertramp :)
O melhor grupo de sempre da MPP. Em embrião. E que gerou o melhor mesmo: a Banda do Casaco.
o António Pinho fazia parte do grupo (ainda que como letrista) ?
Apenas tinha conhecimento de algo similar nos Sétima Legião (Francisco Menezes) e 3 Tristes Tigres (Regina Guimarães)
Nos Procol Harum havia igualmente uma situação semelhante.
LT
E nos King Crimson, com Pete Sinfield. E nos Hawkwind, com Robert Calvert. Mas em Portugal, de facto, não era comum. Talvez seja por isso que as letras de António Pinho são dos textos mais notáveis, criativos e originais da música popular portuguesa. Mesmo fora da Filarmónica Fraude e da Banda do Casaco.
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