terça-feira, 9 de dezembro de 2008

RUY BELO E MARILYN MONROE


Fecha-se, por agora, a evocação de poemas sobre Marilyn Monroe com o lindíssimo poema de Ruy Belo, “Na Morte de Marilyn”, retirado de “Transporte do Tempo”.

Conheci Ruy Belo, não pelos livros, nem pelos poemas, mas através de uns artigos sobre futebol que, nos idos 1972, Ruy Belo publicou em A Bola”.

Os artigos levaram a querer saber coisas sobre Ruy Belo. Caí no meio de uma poesia apaixonante. Comprei os livros. E o primeiro foi “Homem de Palavra(s)", uma capa azul da “Cadernos de Poesia” das “Publicações Dom Quixote”.

“Mais do que dizer que gostei dos livros de Ruy Belo, gostaria de escrever que os acho fundamentais”, disse Herberto Hélder.

Ainda sobre Marilyn: a fama de "loira estúpida", que tanto a atormentava, continuou para lá da sua morte. Há alguns anos, em conversa com o Luís Mira, ele falava de que Marilyn Monroe deixara escritos poemas seus. Teria que fazer uma busca para os encontrar, algo que veio a cair no esquecimento. Talvez seja altura de se recuperar essa busca.

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e ao abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decida dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser atá ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou.

Colaboração de Gin-Tonic

4 comentários:

Quantas pessoas fazem você se sentir especial? disse...

Fiquei sem palavras. Era um poema como este que eu estava procurando e sobre a diva, pois pra mim ela sempre será!
Abraço.

Arquivo Marina Tavares Dias disse...

O Gin Tonic não é nosso amigo de infância. Mas temos pena. Que conheça o poema do Ruy Belo, ainda vá. Agora o do Norman Rosten? - É de «marilyniano» de gema. Dos que preferem «Os Inadaptados» a «Os Homens Preferm as Loiras». Gin Tonic: que nunca te doam as mãos!

Luís Ricardo Duarte disse...

Oláa, sou jornalista do Jornal de Letras e estou a fazer um trabalho sobre o Ruy Belo e gostava de falar com o autor deste post. Será que posso enviar-lhe um email a explicar melhor o que pretendo? Pode facultar-me um email? Ou então pode ficar já com o meu que eu respondo a seguir. O meu email é LRICARDODUARTE@gmail.com tudo em minúsculas. Um abraço do Ricardo

ié-ié disse...

O recado foi dado...

LT