segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

UM CLÁSSICO DA DITADURA


A VOZ DO DONO - 7 LEM 3078

Angola É Nossa (R Santos Braga/Duarte F Pestana) - Caninha Verde (Duarte F Pestana) - Marcha do Trabalho (E Fernandes/Duarte F Pestana) - Tia Anica de Loulé (Duarte F Pestana)

Coro e Orquestra da FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho), com direcção de Duarte F. Pestana.

Fotografia de Luanda cedida pela Agência Geral do Ultramar.

23 comentários:

josé disse...

Independentemente do que se possa dizer politicamente sobre isto, este disco é um documento importantíssimo, porque passava na rádio, tal como passou a Grândola. Aliás, até tem uma batida bem parecida...

Só com esta mistura de géneros conseguiremos encontrarmo-nos a nós mesmos enquanto povo.

Porque o Povo é toda a gente e nem toda a gente seguia a Esquerda. Mesmo os que eram apolíticos no sentido de não politizados, têm direito a ouvir o que então ouviam.
E era isto, de facto.

Parabéns, porque só assim, se consegue o equilíbrio. É a primeirfa vez que vejo este disco ( esta capa) mas o tema diz muito a quem o ouviu na época.
Era isto que esperava do programa de Joaquim Furtado: ultrapassar o facciosismo de Esquerda e dar-nos a visão da então Situação.
Um bom jornalista não toma partido: mostra os partidos que havia. Joaquim Furtado não é capaz. É mais forte do que ele...

Rato disse...

Será que o programa "A Guerra" que passa na minha televisão todas as terças à noite é o mesmo que passa na tua. ó José?
Digo isto porque até agora ainda não dei por qualquer tomada de posição dos autores, nomeadamente o Joaquim Furtado. O que tenho ouvido é um leque muito variado de testemunhos por parte de quem realmente se encontrava por dentro dos factos relatados. Julgo que se trata de um programa independente, e porque não dizê-lo, corajoso, que eventualmente poderá desagradar apenas a mentes mais ou menos alinhadas, quer à direita quer à esquerda. Eu por acaso até vivia em Moçambique nessa altura e lenbro-me de muitas das coisas mencionadas. E tu, José, onde é que estavas?
P.S.: Essa ideia de comparar o "ritmo" da Grândola à "Nossa Angola"..., pois, enfim...está-se mesmo a ver qual o objectivo, não é?

josé disse...

Eu? Estava aqui. O meu pai ainda chegou a ir a Angola, em 58, mas só lá esteve ano e meio.

Quanto à guerra no Ultramar, prefiro os relatos que nos mostram os dois lados. Ou três. Ou mais. O do Joaquim Furtado é esforçado, mas falta-lhe a isenção para poder questionar a razão da Esquerda, o que o mesmo nunca faz.

Isso, quanto a mim, é essencial para entender toda a realidade do país dos anos sessenta.

Os americanos conseguem fazer isso muito melhor, quanto à guerra do Vietname.
Até o Apocalipse Now consegue ser mais isento ou pelo menos, mais objectivo.

A Guerra, tal como o programa Conta-me como foi, precisa de uma visão estereoscópica. Não por um canudo.

Isso, apesar de considera o trabalho de Joaquim Furtado, um bom trabalho.
Mas ainda não é o tal trabalho de génio que estou certo só daqui a uns anos poderá ser feito. Ainda é cedo.

josé disse...

Esta discussão, ó rato, é inútil.

O meu ponto de vista é mais amplo um pouco, do que aquele que vejo retratado no programa.

E não me considero de Direita, repara bem. E muito menos de extrema-direita.

josé disse...

O ritmo e o compasso da Grândola e do Angola é nossa, são muito parecidos.

Et pour cause.

Fantomas disse...

O "Angola é nossa", tal como o "Moçambique é Portugal" até o magnifico "Adeus Guiné" são verdadeiros clássicos!!!!!! São de uma pessoa matar-se a rir!!!! Eu sempre que vejo um disco com temas ligados ás colónias ou marchas patrióticas compro sempre, tal como compro todos os discos do PREC e pós 25 de abril. Geralmente prefiro os discos pós 25 de abril, são de melhor qualidade musical, apesar de as letras serem um pouco...também...
Uma coisa!!!! Quando é que será reeditado o material do GAC?????

josé disse...

Ora é essa a atitude que me agrada.

Os discos do GAC são uma maravilha artística porque além de serem bem tocados ( mais ou menos), com boas músicas, são o retrato de uma época celerada em que como dizia o Aristides Duarte noutro blog, parecia que o Povo mandava...

O GAC e a Brigada Victor Jara, são grupos que merecem atenção.

Ouvir o S. GOnçalo de Amarante, tocado por eles, é uma maravilha.

Fantomas disse...

Para mim, o melhor cantor português de todos os tempos é o José Mário Branco. Seus 2 primeiros LP`s são obras primas da musica Portuguesa.

josé disse...

Para mim é o José Afonso, o que prova que não sou faccioso, na música.

Mas reconheço na Amália a beleza vocal única. Só que não gosto de fado...

Rato disse...

Olha, José, se estás à espera de um trabalho de "génio" em televisão acho que podes esperar (bem) sentado. Nunca houve nem nunca haverá. A "GENIALIDADE", pelo menos como eu a entendo, nunca se deu bem com dimensões reduzidas, sempre se manifestou em horizontes a perder de vista. Daí a sua própria essência, acima do vulgar e do limitado.
Agora, espanta-me sinceramente como se pode opinar ou ter sequer uma visão (ainda por cima ampla) sobre algo que nunca se conheceu, nem de perto nem de longe. Eu felizmente nunca "fiz a guerra" mas senti os seus efeitos colaterais no dia-a-dia - na rua, na universidade, em casa (onde, recordo-me, também morava um exemplar deste disquinho. Por lá ficou e, diga-se de passagem, sem grande pesar meu). E apesar de nunca ter tido acesso à grande maioria das informações (convém não esquecer de que naquele tempo havia uma coisa chamada censura) tinha mais ou menos uma ideia do que se passava à minha volta. Ideia essa que depois de tantos anos se tornou muito mais precisa graças a este notável trabalho de pesquisa, pois finalmente foram derrubados muitos tabus antigos que só o distanciamento permitiu que assim acontecesse.

josé disse...

Nenhuma informação que o Joaquim Furtado mostrou, é desconhecida de quem alguma vez leu alguma coisa ( nem precisa de ser muita) sobre a Guerra no Ultramar.
Algumas imagens serão. Mas os temas, as teses e as informações, não são.
Mesmo assim, continuo a dizer que é um bom programa. Bom. Não óptimo.

Tenho um livro sobre o Quinto Ano de governo de Marcelo Caetano, em que ele escreve sobre estes assuntos.

Um livro actualíssimo e interessante.

O que gostaria de ver nestes programas, era por exemplo, ver o ultra Kaulza a expor com mais tempo as suas ideias. São conhecidas? Não tanto, como as opostas.
É por isso que falta equilíbrio suficiente.
E numa altura em que se desfez o mito do comunismo, talvez tenha interesse em retomar o problema, localizando-o na época com todo o condicionalismo da época.

josé disse...

A genialidade poderia transmitir-se em romances, por exemplo.
Temos escritores que fizeram a guerra ( Lobo Antunes) e será que conseguiram transmitir todo o ethos e pathos desse tempo único dos sessenta, para além da ideia dos aerogramas, escritos com barulho de tiros ao longe?

Fantomas disse...

Ninguem poderá fazer um programa sobre a guerra!!! Só os HOMENS sabem aquilo que sentem e que é impossivel de trancrever para uma entrevista. A angustia, o desespero... de matar alguem, ou de pensar que pode ser o próximo a cair para o lado. Pessoas que nunca fizeram mal a ninguem e de repente estavam num navio a caminho do ultramar...defender uma coisa que nem conheciam. Programas como a "Guerra" são bons, mas nunca chegarão ao cerne da questão! Seja esse programa isento ou não!

josé disse...

Há um filme que tem passado na tv sobre a recente guerra na antiga Jugoslávia que aproxima um pouco a realidade da ficção.
Realizado sob o ponto de vista anti-sérvio, mesmo assim, vale a pena ver.

Sobre a Guerra do Ultramar, está por fazer o filme ou escrever o livro, provavelmente porque o assunto não tem suficiente assunto.
~Talvez seja isso.

ié-ié disse...

Que livro é esse sobre o quinto ano de governo de Marcelo Caetano? Gostava de saber. Leio (quase) tudo sobre essa época, desde que na primeira pessoa, ou quase. Acabei de ler um agora de Orlando Raimundo sobre a filha de Marcelo (que ainda foi meu Professor em Direito).

LT

josé disse...

É um livro de propaganda do regime, para divulgação junto das entidades oficiais de então.

O meu pai foi presidente de Junta de freguesia, nos anos sessenta. Ajudou alguns indivíduos a "dar o salto", não fornecendo informações à Pide/DGS- que as procuravam, claro.
Entre as coisas boas, de tal cargo, havia a distribuição gratuita de livros do regime.
Por ocasião da inauguração da Ponte Salazar ( agora 25 de Abril), o Governo da época fez uns dois volumes em papel especial, ilustrado em couché e com capa cartonada e colorida. As fotos, são de antologia, do regime deposto em 25 de Abril, está bom de ver.
Tenho pena que esses dois volumes ( Coffe table books, como se diz em inglês), tenham desaparecido com as mudanças de casa. Mas ainda havia disso na Casa do Povo onde me reunia com amigos da época e aí formamos um grupo de teatro ( muito antes de 25 de Abril de 74, o que só prova que as associações informais não eram perseguidas e antes pelo contrário apoiadas- pela FNAT, por exemplo).
Esse grupo de teatro que também era musical, ensaiava na Casa do Povo, reunia-se na Casa do Povo e aí se fazia actividade cultural, sem que me desse conta de censuras, repressões da Pide, bufarias ou coisa que o valha.
Mais: converasva-se aí e discutia-se a guerra no Ultramar, com aqueles que de lá vinham. Sem medos. E falava-se de tudo. Nunca fomos incomodados por bufarias ou perseguições pidescas.
Sabíamos que existiam; que tinham objectivos precisos, mas como não conspirávamos para mudar o regime ou estávamos associados à subversão comunista ( como se chamava na época) nunca ninguém nos incomodou.

Alguns deles, depois do 25 de Abril, revelram-se mesmo comunistas. E nem assim, deixamos de ensaiar, de fazer uma associação cultural à moda da época e com aggiornamento nas discussões: passamos a discutir o comunismo científico e a liberdade na União Soviética...ahahahah!

josé disse...

Esses tais livros, incluindo um exemplar idêntico ao que tenho, existentes na biblioteca da Casa do Povo ( nome porreiro que os abril-comunistas, vá-se lá saber porquê, eliminaram...)foi destruído, como muitos outros, porque era...fascista.

Isso mesmo: depois de 25 de Abril, foram destruídos livros documentais do regime, porque eram...fascistas!
E parece que no próprio ministério da Educação, um tal Rui Grácio, deu o seu aggréement tácito para que nas escolas ( que também recebiam tais livros) se fizesse o mesmo: autos de fé na democracia instaurada.

josé disse...

Esse livro contém toda a doutrina, explicada de modo simples e conciso, sobre o que o regime de M.Caetano, entendia sobre política externa, política interna, ciência política ( tem uma comunicação de Caetano sobre isto que é de antologia), planos de desenvolvimento económico, resumos de legislação e explicação da mesma ( sobre o famigerado ISCTE, por exemplo que foi criado nesses anos setenta). Etc etc.

Essa perspectiva dos acontecimentos históricos costuma ser relegado para o caixote do lixo dos intelectuais orgânicos deste novo regime que se diz democrata mas não admite discutir aquilo que acha por bem apodar de anti-democrata...num paraoxo delicioso.

Fantomas disse...

Esse tipo de livros, que não se encontravam á venda na altura, ainda hoje podem ser encontrados em arquivos camarários. Eu vi bastantes no arquivo de uma Camara Municipal. Existe um da visita de Caetano ás colónias bastante interessante.

Nowhereman disse...

O tema "Grândola Vila Morena" estava já incluído nas "Cantigas do Maio", de 1971 e apenas foi escolhido para 2ª senha da Revolução por ser um dos temas do Zeca que não estava proibido pela censura (aliás, tinha sido interpretado uns tempos antes no Coliseu de Lisboa na presença dos senhores das gabardines sem que estes ouvissem qualquer "transgressão" à ordem instituída. Já não bastava terem pouca massa encefálica, os pobres eram também um pouco duros de ouvido), e não pela letra ou qualquer outro motivo.
Este "Angola é Nossa" não existia em lado algum e foi inventado como uma arma de propaganda da ditadura. Revelar-se-ia completamente ineficaz, é claro, pois mesmo os irredutíveis defensores do regime não levavam muito a sério aquela apropriação em ritmo godspel.
Comparar estes dois registos e apelidá-los a ambos de "importantíssimos" pelo simples facto de passarem na rádio, ou é ignorância ou é uma maldade intencional. Ou será que tudo aquilo que não passava na rádio não era importante?

josé disse...

everybody knows this is nowhere:

A incapacidade em admitir comparações com a marcha Angola é Nossa e a Grândola vila morena, é a prova de que a democracia em Portugal, para alguns, está capada há muito.

Nowhereman disse...

Pelos vistos aqui o yéyé descobriu a maneira prática de ter muitos comentários: é dar-lhes coisas da outra senhora que eles se rebolam de prazer. Cá por mim vou procurar outras paragens que isto já começa a tresandar.

ARISTIDES DUARTE disse...

Eu nunca disse que parecia que o povo mandava, Eu disse que nunca o povo teve tanto poder em Portugal, como no PREC.
Portanto...
Gosto do programa " A Guerra" do Furtado, que é dos poucos que vejo. E acho o programa pluralista...