sábado, 31 de janeiro de 2009

QUANDO UM HOMEM QUISER


Este “post” poderia ter um outro título: de como no fim de um cozido à portuguesa saltam discos de Natal em Janeiro e o Ary vem à baila.

Para quem não saiba, os almoços dos guedelhudos parecem uma feliz manhã de Natal da infância.

De repente, qualquer um tem para um outro qualquer uma coisinha: DVDs – “era isto que tu querias, não era?”, CDs – “não mereces, mas toma lá!”, também saem livros, revistas, olhos de vidro, caras de mau, gatos que tocam piano falam francês.

O escriba acabara o cozido à portuguesa, olhava para uma pinguinha no fundo do jarro, para matar depois da bica, e não é que Mr. Ié-Ié lhe invade o espaço com discos de Natal?

“Toma lá e diz obrigado” e ele, obediente, teve que dizer quatro vezes obrigado, porque quatro eram os discos. E cereja no topo do bolo: “tome lá o “Sur La Mer” dos Moody Blues e diga mil vezes obrigado. Quem é amigo… quem é?”.

De tanto “obrigado”, o escriba teve que mandar baixar mais um jarrinho de tintol e partilhou-o com Mr. Ié-Ié. Lamentavelmente os fotógrafos de serviço ao almoço estavam preocupados com as beldades presentes e não registaram estes momentos.

De como daqui se chega a Ary? Não sabe, sabe apenas que se foi há vinte e cinco anos e que faz falta! Tão só!

José Carlos Ary dos Santos. Uma força da natureza que ocupava todo o espaço e o mais que em redor estivesse.

José Carlos Ary dos Santos, um grande poeta da língua portuguesa, que não foi maior porque a determinada altura preferiu oferecer poemas para canções em vez de burilar a sua poesia. Foi uma opção que deu frutos. Hoje muita gente tem um certo gosto musical porque ouviu canções com poemas do Ary. Mas perdeu-se o resto.

Natália Correia tem do Ary a melhor definição: “era um vulcão de afectividade”. Provocador sem limites, satírico, com um humor fulminante e venenoso, José Carlos Ary dos Santos tem na literatura portuguesa um lugar, mas vive o dilema do poeta por um lado, do letrista por outro, mas nos dois com uma qualidade ao alcance de muito poucos.

Numa entrevista, Jorge Palma disse: “Eh pá, eu estava uma vez à tarde, antes do 25 de Abril, no “Vavá” com o Fernando Tordo e disse-lhe que não conseguia escrever uma canção em português, que as palavras não cabiam e que estava tudo mal. Então ele virou-se para mim e perguntou-me porque é que eu não falava com o Ary dos Santos e deu-me o número de telefone dele. Telefonei-lhe às seis da tarde e às nove estava em casa dele a mostrar-lhe as músicas. E ao fim de duas horas, depois de uns gins lá pelo meio, já havia não sei quantas letras. O Ary era um artesão das palavras, aliás, como ele disse em poemas autobiográficos, e foi uma grande escola para mim. Dominava o português de uma maneira tão genuína. E depois houve o convívio todo, íamos para a ribeira às seis da manhã, depois de termos começado com champanhe francês e acabado com Camilo Alves... vinho tinto. Era o que havia... um descalabro”.

Mas decididamente a vida não foi um mar de rosas para Ary: o Partido só muito tarde se desfez (?) da vergonha (?) da sua declarada homossexualidade, os académicos olharam-no sempre de soslaio, o jornalismo cultural tratou-o com desdém, apenas se preocupando com os seus “fait-divers”. A singularidade da sua obra nunca foi sublinhada. De tudo e de todos Ary se riu, gozou, passou à frente: “os cães que ladrem que eu vou passando”.

Numa entrevista a Baptista-Bastos citou Óscar Wilde: “Digo sempre, não o que deveria dizer mas o que na verdade penso".

Em 1969 deu “show” em pleno “Zip-Zip” e o país inteiro ouviu-o dizer claramente, entre muitas outras coisas: “homem que vive só não vive bem”. Em 1972 dizia, às sextas-feiras, poesia na “Tipóia”, uma casa de fados. (assim um pouco como Woody Allen toca clarinete às segundas-feiras num bar de Nova Iorque, por pura diversão): “Ir À “Tipóia” não é apenas um gesto de amizade para com a Adelina Ramos. É também uma atitude de sinceridade para com a poesia. Nunca escrevi para ficar nos livros".

Da “Tipóia” só arredou pé porque a Inspecção dos Espectáculos disse que ele não podia recitar sem fazer um exame de artista de variedades. Claro que o Ary recusou-se a comparecer perante um júri de mediocridades fascistas. “Exame de Artista de Variedades”. Hoje, isto dá para rir, mas… por aqueles tempos a história era outra.

Um dia, “de peito feito à morte”, como escreveu Clara Ferreira Alves no “Expresso", deixou-nos. O José Gomes Ferreira dizia que viver também cansa e o Ary dos Santos, talvez no meio do turbilhão em que vivia, tenha querido voltar atrás, deixar as canções, voltar à poesia, apurá-la.

Dizem que não conseguiu. Afogou-se, então, num mar de “gin” que lhe provocou a morte. Uma morte ligada a uma solidão interior muito grande. Morreu porque não queria estar mais vivo. Como Adriano Correia de Oliveira, o Eduardo Guerra Carneiro e tantos outros.

Poeta Castrado, Não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.

Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.


Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
--- é tão vulgar que nos cansa ---
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?


Do frio não reza a história
--- a morte é branda e letal ---
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!


Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.

Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!


Colaboração de Gin-Tonic

FREE PEACE


Um desconhecido trio de Liverpool, Free Peace, preenche a primeira parte do concerto dos Oasis no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, no dia 15 de Fevereiro, segundo revelou Noel Gallagher numa entrevista à RFM.

Formados em Agosto do ano passado, os Free Peace apenas têm um EP de circulação muito restrita (nem na Amazon está à venda!). Noel Gallagher disse a Teresa Lage que o som do trio é influenciado pelos Led Zeppelin.

O curioso é que o líder dos Free Peace, Edgar Jones, é o Edgar Summertyme que no início dos anos 90 liderou os Stairs, já aqui falados.

E o baterista, Nick Miniski, sobrinho de Edgar, esteve uns tempos nos recauchutados LA's em 2005. O terceiro elemento é Stu Gimblett.

O dia 15 de Fevereiro será então um autêntico Liverpool- Manchester (City).

Já agora, Zak Starkey, filho de Ringo, ex-baterista dos Oasis, foi substituído por Chris Sharrock, ex-Icicle Works, ex-Lignthing Seeds, ex-World Party, ex-LA's e ex-Robbie Williams.

UM CLÁSSICO DA ESCÓCIA


28 de Novembro de 1992

HOMENAGEM AO RATO


Uma fantástica fotografia do Rato tirada em 1957 no Rossio, em Lisboa.

COISA LINDA!


MAIS PERTO DO FIM


CRÓNICA DO CRIME


VIDISCO 11 10 070 - edição portuguesa (1990)

Runaway – Let’s Twist Again

“Runaway” é uma grande canção do Del Shannon, gravada em 1961, mas que muita gente só passou a conhecer depois da exibição na RTP 1 de “Crónica do Crime” (“Crime Story”) com Dennis Farina no papel de polícia em perseguição do gangster “Luca”.

Esta é a capa do single editado e distribuído pela Vidisco em 1990, para apanhar o balanço da exibição da série.

No lado B, “Let’s Twist Again” é cantado pelo Chubby Checker

Cortesia de Gin-Tonic

LISTA DE VINHOS DOS OASIS


Se bem me lembro, já aqui tinha trazido à colação a lista de vinhos dos Oasis no duplo concerto de Knebworth (Londres) nos dias 10 e 11 de Agosto de 1996.

1996?!?! Jesus! Há tanto tempo? Nem Expo havia ainda...

Fica aqui o rosto da citada lista devidamente autografado por Noel que, ainda por cima, prefere cerveja...

NOEL GALLAGHER


Noel Gallagher, pacientemente, assina autógrafos. Coitado, teve muito que assinar... Sabiam que é canhoto? McCartney, também!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

CAPPADOCIA


21 de Outubro de 1992

OASIS EM PORTUGAL


Para quem, como eu, assistiu aos Oasis ao vivo pela primeira vez em Portugal na Praça Sony, certamente que vai reconhecer este bilhete... quem não esteve lá não deve perder a oportunidade de comprar um bilhete semelhante ao que anexo...

Satisfaction is Guaranted !!!!!

All the Best!


Colaboração de PPBEAT

CHERILYN SARKASIAN LA PIER


RHINO 8122-79907-4 - reedição de 2008

For What It's Worth (Stills) - (Just Enough To Keep Me) Hangin' On (Allen/Mize) - (Sittin' On) The Dock Of The Bay (Redding/Cropper) - Tonight I'll Be Staying Here With You (Dylan) - I Threw It All Away (Dylan) - I Walk On Guilded Splinters (Creaux) - Lay, Lady, Lay (Dylan) - Please Don't Tell Me (Quillen/Smith) - Cry Like A Baby (Penn/Oldham) - Do Right Woman, Do Right Man (Penn/Oldham) - Save The Children (Hinton)

Álbum de 1969 e único de Cherilyn Sarkasian La Pier para a ATCO. Muito interessante.

OASIS EM PORTUGAL


O número de Fevereiro da BLITZ é dominado pela brit-pop, o que acho bem, e pelos Oasis, o que acho ainda melhor.

Eu, por mim, também vou dedicar os primeiros 15 dias do blogue aos Oasis, uma das paixões da minha adolescência dos 40/50.

É que no dia 15 vai haver concerto em Lisboa, no Pavilhão Atlântico.

É a décima vez que tenho a oportunidade de os ver ao vivo, a primeira foi a 04 de Junho de 1994, em Londres, a última a 17 de Maio de 2000, na falecida Praça Sony, em Lisboa.

Já agora, deixem-me dizer-vos que há um interessante blogue sobre os Oasis feito por portugueses.

ORFEÃO ACADÉMICO DE COIMBRA


OVAÇÃO - OV-CD-012 - 1991

Minha Mãe (José Afonso) - Serenata Açoreana - In Parasceve - Sonhando - Fado da Mentira - Rapsódia Luso-Brasileira - Balada Aleixo (José Afonso) - Melodia de Amor - É Tão Lindo O Teu Olhar - O Vosso Galo, Comadre - Allelujah de Haendell - Balada da Saúde - A. Oliveira da Serra - F.R.A.

Ao mérito de editar esta colecção de interpretações do Orfeão Académico de Coimbra, a Ovação junta o demérito de uma paupérrima edição com zero de informação. A capa é mesmo uma folheca, sem uma única letra no verso! Inacreditável!

E, no dizer da Associação José Afonso, esta é a primeira vez que José Afonso grava sem o acompanhamento tradicional coimbrão, sendo apenas acompanhado por duas violas.

BEATLES, NUNCA MAIS!


Faz hoje 40 anos que os Beatles deram o seu último espectáculo ao vivo. Depois disso nunca mais e não mais acontecerá.

Não foi um espectáculo ortodoxo. Juntaram-se os quatro mais Billy Preston no terraço da sede da Apple, em Savile Row, Londres, à hora do almoço, vestidos com os casacos das mulheres (John queixou-se do frio) e tocaram umas quantas: "Get Back", "Don't Let Me Down", "One After 909", "I've Got A Feeling" e "Dig A Pony".

O público, nas ruas, praticamente não os conseguia ver, nem esticando o pescoço. Mas ouvia-os bem. Tão bem que alguns vizinhos se sentiram incomodados e fizeram queixa à polícia, cuja esquadra estava (e ainda está) a meia dúzia de metros.

A polícia pediu delicadamente aos Beatles que, pelo menos, baixassem o som, o que os irritou já que queriam ser presos. Os bobbies não lhes fizeram essa vontade.

E os concertos em telhados viraram moda. Que o diga os U2.

E não, os Beatles ainda não acabaram.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

UM REBANHO DE BRUXAS...


RAPSÓDIA - EPF 5.164 - edição portuguesa (s/data)

José Trincheira - Valência d'Alcântara - Tardes de Vila Franca - Ayamonte

Há, pelo menos, três coincidências recentes relativas a este post e não são intencionais.

Em primeiro lugar, o EP é de Filipe de Brito, um acordeonista de que um leitor citou há pouco neste blogue.

Em segundo, o cenário é o Campo Pequeno, em Lisboa, também já retratado aqui há bem pouco tempo.

Em terceiro e último lugar e, quiçá, o mais relevante, na contracapa do EP encontra-se um texto de Neves de Sousa:

O acordeonista que escutam tem vinte anos de idade. Oriundo de uma província onde se cultiva um estilo próprio de musicalidade, de uma província que beija la Giralda e acena à Maestranza, transplantou todas as teclas da harmonia para os sons mágicos do acordeão.

Em Espanha, chamaram-lhe
el mago. Então, o artista português comandava o cast de um programa famoso, quase inacessível aos artista comum: Gran Parada.

Foi aí, no solharengo berço madrileno, que ele se deixou impressionar pelos
olés de uma plaza eufórica de alegria, plena de entusiasmo, vibrante de emoção. Foi aí, entre um rumor de castanholas e uma mantilha negra, no espaço que separa uma ovação do borbulhar de sangue, que ele se aprisionou ao destino dos toureiros, que ele sentiu vibrar (pela primeira vez) o coração de amante da fiesta.

Assim nasceu este disco. Imagine o ouvinte um círculo de areia e fogo. Lá dentro, um
miura vergasta o capote que o cega. O matador enfrenta a morte, enquanto no redondel o perfurme musical do acordeão está presente.

Em lamentos ou em carícias, sete notas criam um halo de glória.

Com uma assinatura: Filipe de Brito.

ANÚNCIO COM MÚSICA DOS BEATLES


Segundo a "Record Collector", pela primeira vez em 30 anos, uma composição dos Beatles foi autorizada a servir de banda sonora a um anúncio publicitário na TV.

Trata-se de "From Me To You" (1963) que passou na televisão (britânica, pelo menos) num anúncio à John Lewis. A outra curiosidade é que foi o próprio staff da rede de lojas que fez a gravação.

O slogan da campanha, que decorreu na época de Natal, era if you know the person, you’ll find the present, daí a escolha de "From Me To You".

Esta autorização poderá significar uma mudança de orientação de Paul McCartney e de Yoko Ono quanto à liberalização da música dos Beatles. Em todo o caso, registe-se que não foi autorização a gravação dos próprios Beatles, mas sim uma versão.

A Sony/ATV, de que Michael Jackson é co-proprietário, e que detém os direitos de autor de praticamente todas as canções dos Beatles desde que em 1995 adquiriu a Northern Songs, não quis comentar esta nova situação.

BEATLES E SYLVIE VARTAN


Estreei-me no Olympia aos 16 anos. De repente, estava a fazer digressões com Gilbert Bécaud, Richard Anthony, Claude François, Johnny, etc.

Os meus espectáculos com os Beatles em Janeiro de 1964 são os mais documentados. Trini Lopez abria os concertos e eu entrava antes dos rapazes, que estavam em Paris imediatamente antes do sucesso na América.

Eddie
(irmão de Sylvie) já os tinha contactado em Hamburgo para que fossem a minha banda de apoio ao vivo. Declinaram-se (ri-se).

Adorei-os e o sentido de humor cáustico de John sempre me embaraçou. Depois dos espectáculos íamos beber uma Cola e comer um hot dog.

É divertido saber que ninguém, na altura, tinha noção de que aqueles pequenos episódios que estávamos a viver viriam a ser pedaços de história.

Tenho o filme dos espectáculos que foi feito por Micky Jones, que era baterista de Trini Lopez. O único problema é que não há banda sonora.

Há grande pressão para o editar, até já arranjámos o som da rádio, já combinámos com a BBC, mas até agora em vão.

Sylvie Vartan in Record Collector nº 358, de Janeiro de 2009

MARQUÊS DE POMBAL, 1959


11 de Agosto de 1959

SAVED BY THE BELL


POLYDOR - 59 313 - edição portuguesa (s/data)

Saved By The Bell - Mother And Jack

EX-DISCO ANÓNIMO


MOVIEPLAY - SP-20.147 - 1974

De Como A Canção Social Tem Uma Função Capital... Quer Dizer... - Funchal, 23

Primeiro single do SARL que, à altura (Junho de 1974), custou 50$00 (25 cêntimos). Trata-se de um disco apenas identificado pela sigla SARL, não havendo qualquer nome.

Em 1999, José Niza revelou que os autores da gravação eram ele próprio e ainda Daniel Proença de Carvalho, Carlos Perez Álvaro (director da Movieplay), Rui Ressurreição, Thilo Krasmann e José Manuel Pedrosa, acabando com o anonimato do disco.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CHAMARAM-ME CIGANO


ORFEU - ATEP 6358 - 1968

Chamaram-me Cigano - Senhora do Almortão - O Tecto Na Montanha - Endeixas À Bárbara Escrava

Acompanhamento de Rui Pato.

JULITO: COMO VÃO ESSES OSSOS?


Estou a olhar para a capa de “Un Canto a Galicia” do Júlio Iglesias e isso traz-me à memória uma deliciosa crónica de José Neves de Sousa, publicada no semanário “Sete”, quando o Iglésias apareceu por aí para um daqueles concertos, com lotações esgotadíssimas, em que coçava a barriga e murmurava algo que colocava as balzaquianas – e não só! - em delírio e as levava aos céus.

Foi só o tempo de ir buscar a pasta que por aí se passeia, “Para uma Antologia do Jornalismo”, e, como Mr. Ié-Ié, no Júlio, colocou etiqueta futebol, não resisto à tentação de a transcrever.

Lamentavelmente não tenho a data do “Sete” e, para quem não saiba, Neves de Sousa foi um todo o terreno do jornalismo, no tempo em que havia jornais e jornalistas.

Ilustre multimilionário: aplausos para uma voz. Talvez não se recorde de mim: recuando no tempo (viajando até 1963) eu estava naquela fila de jornalistas que, na Embaixada de Espanha, em Lisboa, participou na Conferência de Imprensa em que o Real Madrid adiantava que não tinha medo nenhum do Benfica.

Este seu distante amigo botou umas perguntas: responderam os Puskas e os Gentos, a gente importante dos “merengues”, você (simples guarda-redes suplente, mas já a abarrotar de dinheiro por via do papá cirurgião-mor) nem abriu o bico.

Hoje, pagam-lhe fortunas só para cantarolar umas tretas que reviram os olhos das meninas.

Naquele tempo, daí a horas, o Real apanhava cinco na Luz, o Eusébio foi um portento, o Julito nem saiu da lateral: mudar de “portero” não adiantava nem atrasava, elas entravam como bólides, o pagode só queria o Eusébio e até estou em crer que você, ilustre personagem hoje mundial, nem sequer deu um autógrafo. Era bonitão, mas não funcionava como “craque” dos relvados. Entrava mudo e saía calado.

Agora entra a desfazer-se em melaço e sai em ombros. É isso que me leva a ficar cismando como o mundo vira. Sei lá se continuaria “pobretanas” caso tivesse também feito uma agulha a 180 graus e me tornasse (por exemplo) piloto de helicóptero, caçador em safaris, político profissional ou pianista para baile.

Você, Julito, nasceu confortavelmente, em berço de ouro: teve tempo para fazer experiências e até antes de ser marido da esbelta senhora que lhe deu dois filhos, já tinha tido nos braços meio mundo de misses espampanantes.

Eu tive de me governar com a prata da casa. Desculpe se não me vir no Estoril: ir ao Casino para o rever (um quarto de século depois do anonimato da futura vedeta) dava cabo do orçamento lá de casa e os “indios” tinham de travar os serrotes dentais.

Mas, em espírito, estou ao pé de si: é impossível deixar de admirar-se quem é esperto e sabe bem governar a vidinha. E vá aparecendo, a malta gostará de o ver um dia que se faça uma festa para a terceira idade, a rapaziada do nosso tempo tiver uma lagrimazita ao canto do olho e você der uma borla. Talvez a única de uma vida onde só o cifrão tem sido comandante.

Aquele (longínquo) abraço do admirador Neves de Sousa.


Colaboração de Gin-Tonic

BEATLES NA RÁDIO & TELEVISÃO


A juventude "nova vaga" aplaude-os até ao delírio, idolatra-os até ao misticismo, grita pelo seu nome até à rouquidão, persegue-os desvairadamente, esfarrapa-os, extasia-se, desmaia.

O mundo idóneo e sensato olha-os como infensivos loucos feitos vedetas e, com boa vontade, desculpa-os. Os de menos boa vontade, acusam-nos de perturbar doentiamente os espíritos de milhares de adolescentes irresponsáveis.

Vedetas ou réus, os quatro rapazes londrinos de cabeleiras espectaculares continuam a ganhar a sua vida, com a convicção de que o fazem honestamente. Sim, já são muito ricos. Mas não ainda o suficiente para assegurarem o futuro.

Até que ponto os Beatles têm culpa da sua fama, das loucuras das multidões jovens, do fenómeno que outros decidiram descobrir no simples agrupamemnto musical que eles, um dia, criaram?

Paul McCartney (22 anos), George Harrison (22), John Lennon (24) e Ringo Starr (24) são, no fundo, quatro rapazes vulgares. As suas ambições nada têm de inédito. Como tantos outros, procuraram na sua vocação artística uma profissão.

Ainda há pouco tempo, quando um jornalista lhes perguntou porque se tinham tornado cançonetistas, um deles, Harrison, respondeu com a mais desassombrada sinceridade: "porque tínhamos fome!". Foi dessa necessidade de ganhar dinheiro que nasceu o grupo. O rock e o twist eram a sua tendência. Seguiram-na.

E surgiu um nome. Beatles. Depois veio o frenesim e o mito. Porquê? Porque os ritmos modernos são vertigem irresistível para certas camadas de raparigas e rapazes de hoje? Porque eles são excêntricos e usam cabeleiras incríveis? Serão eles realmente loucos?

Para o definir, teria de se esclarecer onde acaba a excentricidade e começa a burguesia nestes quatro rapazes londrinos
(ah! ah! ah! - nota do editor).

E não seria difícil descobrir desejos burgueses nos quatros elementos do fenómeno Beatles. Harrison afirma: "Queremos ganhar e poupar dinheiro. Aos 30 anos já não seremos super-vedetas!". McCartney confessa: "Aos 25 anos comprarei uma loja de discos. E casarei com uma rapariga francesa. Porque as francesas sabem cozinhar..". Estas e outras confidências corresponderão ao retrato autêntico dos Beatles?

De qualquer modo, para eles, a loucura (ou talvez antes pseudo-loucura) é um modo de vida.

Texto não assinado em "Rádio & Televisão", de 01 de Maio de 1965

CAMPO PEQUENO, 1959


12 de Agosto de 1959

MOURA ENCANTADA


ORFEU - SINP 18 - 1984

Moura Encantada - El Rei D. Sebastião

AGUAVIVA


ARIOLA - 13340 A - edição portuguesa (1974)

Con, De, En, Tras Pablo Picasso (poema de Gabriel Celaya) – Tu Soledad De Ahora (poema de Rafael Alberti)

Cortesia de Gin-Tonic

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

IGREJA DE S. DOMINGOS, 1959


21 de Agosto de 1959

A Igreja ardeu no dia 13 de Agosto do mesmo ano.

NENO


BMG - 74321383472 - 1996

Cidade Velha (do também ex-jogador Paulo de Carvalho) - Se Não Voltares - Quando A Rádio Toca (António Pinho/Tozé Brito) - Adeus - Y Aunque Te Haga Calor - Felizes (Ramón Galarza) - Canção Perdida (José Cid) - Quem Era (António Manuel Ribeiro) - Ana (Paulo de Carvalho/Pedro Brito/Tozé Brito) - Mulher - Calhambeque - Nada De Especial

A propósito de Julio Iglesias, lembrei-me que há dias ouvi Neno a tentar explicar a derrota dos seus esbirros (sim, ainda não me esqueci da história do carimbo) frente à Briosa, em Coimbra.

Cá está o treinador de guarda-redes.

UN CANTO A GALICIA


RODA INTERNACIONAL - RS 421 - edição portuguesa (s/data)

Un Canto A Galicia - Como El Alamo Al Camino

Eu queroche tanto
ainda non o sabes
eu queroche tanto
terra do meu pai

Quero as tuas ribeiras
que me fan lembrare
os teus ollos tristes
que me fan chorar

Un canto a Galicia
terra do meu pai
un canto a Galicia
miña terra mai

Teño morriña, teño saudade
porque estou lonxe
d'esos teus lares

JOVEM GUARDA À PORTUGUESA


Nos anos 60, Portugal vivia uma feroz ditadura de direita. O país encontrava-se fechado sobre si mesmo, no que Salazar apelidava de “orgulhosamente sós”.

Não havia eleições, nem liberdades. A censura amordaçava a expressão das ideias, a juventude não tinha outro futuro que não fosse a guerra colonial em três frente de combate: Angola, Moçambique e Guiné.

A guitarra era substituída pela metralhadora.

Por razões históricas e de proximidade, cabia então à França o papel de “colonizador cultural” de Portugal. No cinema, com nomes como Godard, Truffaut, Vadim, Lelouch e outros. Na literatura, com Camus, Sartre. Na música popular Johnny Hallyday, Sylvie Vartan, Françoise Hardy.

Mesmo quando na Grã-Bretanha, os Beatles encabeçam a Revolução Cultural e Social, Portugal – por maioria de razão – resiste à investida, mantendo-se maioritariamente fiel às ondas gaulesas.

Apesar da língua comum e das origens históricas uníssonas, também o Brasil e a sua Jovem Guarda mantiveram a distância de Lisboa, só comparável à imensidão do oceano que separa os dois países.

Como seria de esperar, Roberto Carlos foi a grande excepção e, talvez, Celly Campello, únicos nomes brasileiros verdadeiramente ilustres no cinzentismo da música popular portuguesa dos anos 60.

Zeca do Rock, um dos proeminentes músicos portugueses da altura, autor do primeiro “yé-yé” cantado em Portugal, e, actualmente, a viver no Brasil, conta à Jovem Guarda como foi em Portugal:

Primeiro foi a Celly Campello e seu irmão Tony. A Celly era a Brenda Lee brasileira. Mas nenhum dos dois foi alguma vez aceite por aqueles que depois se vieram a considerar a Jovem Guarda. Deles todos (e são muitos) só o Roberto Carlos conquistou o Atlântico.

Muito pouca coisa da Wanderlea apareceu entre nós, porque acho que nada foi publicado oficialmente. Dos restantes, nem sombra.

E é fácil compreender porquê. Nós tínhamos todas as versões originais anglo-americanas, mais as versões francesas, mais as versões italianas. Quem se iria interessar por versões brasileiras que, geralmente, tinham letras de pôr os cabelos em pé a um careca?

O Roberto cantou desde o início muito material original dele com o Erasmo, por isso o público português perdoou-lhe barbaridades como o “Splish-Splash”, entre outras.

A Jovem Guarda brasileira não teve qualquer influência em Portugal em época nenhuma,
conclui, com algum azedume, Zeca do Rock.

Visão diferente tem Daniel Bacelar, considerado o “Ricky Nelson português”, autor de êxitos como "Marcianita", “Olhando Para O Céu”, “Fui Louco Por Ti” e “Miudita”.

Também em declarações à Jovem Guarda , Daniel Bacelar admite uma maior influência da Jovem Guarda:

Na realidade, Celly Campello (“Lenda da Conchinha”) e o irmão, Tony, fizeram imenso sucesso, especialmente ela, mas houve muitos outros como Sérgio Murillo (“Marcianita”), Osmar Navarro (“Quem É?”), Roberto Carlos, claro, e o fantástico Erasmo Carlos que, para mim, continua a ser superior ao Robertinho, Demétrius (“Ritmo da Chuva”), Ronnie Cord (“Biquini Amarelo”), Carlos Gonzaga (“Diana”).

“Os brasileiros –
diz ainda Daniel Bacelar – sempre foram muito bons a copiar e as versões em português (do Brasil, claro está) de grandes sucessos norte-americanos ficavam sempre muito semelhantes ao original, o que nos fazia na altura uma certa inveja, pois os conjuntos que havia, apesar de terem muito bons músicos, estavam mais inclinados para a música de baile e italiana, faltando-lhes aquele “feeling” que os “malandros” dos brasileiros copiavam tão bem.

“Na realidade, houve uma grande influência da Jovem Guarda na jovem música portuguesa, bem como da música brasileira em geral”,
finalizou.

João Carlos, que sob o pseudónimo de Rato mantém na net um dos mais interessantes blogues sobre a música dos anos 60 - Rato Records – possui uma visão peculiar sobre a influência da Jovem Guarda na música portuguesa, já que, à altura, vivia em Moçambique.

Só posso referir o que vivi na altura em Moçambique, onde penso que havia mais abertura do que em Portugal (ou Metrópole, como então se dizia) no que diz respeito ás coisas da Cultura (e não só).

Nós tínhamos uma grande influência da vizinha África do Sul, onde nos deslocávamos muitas vezes para nos abastecermos com as últimas novidades musicais.

Até 67/68 a música que consumíamos era “servida” quase sempre em formato reduzido (singles e EPs), com uma predominância muito grande de intérpretes anglo-americanos (e também muitos grupos sul-africanos).

Não devo andar muito longe da verdade se disser que apenas 25 % englobava outras nacionalidades, nomeadamente a francesa, a italiana e, claro, a brasileira.

No princípio dos anos 60 era essencialmente a Celly Campello e, mais tarde, sobretudo entre 1964 e 1966, mais alguns (poucos) nomes, onde se destacava Roberto Carlos (com a parte de leão), e também Erasmo e Ronnie Von.

Depois, com o terminar da década e a morte do single, cada vez mais preterido em relação ao álbum (muito por culpa de “Sgt. Pepper’s”, editado em Junho de 1967), a grande influência brasileira deixou de ser a Jovem Guarda (que estava agonizante) para passar a ser a onda tropicalista (com Gal e Caetano á cabeça). Uma referência ainda a Chico Buarque que, não sendo nem uma coisa nem outra, sempre foi um referência fundamental desde que “A Banda” apareceu em 1966”,
concluiu João Carlos.

Carlos Santos, também ele singular apreciador da música dos anos 60, opina que, realmente, a Jovem Guarda teve o expoente máximo, em Portugal, em Roberto Carlos, adiantando que ainda hoje o cantor brasileiro é muito ouvido.

Mas não podemos esquecer outros grupos e artistas que na altura tiveram êxito e também foram muito queridos no nosso país e fizeram as delícias de muita “malta”, apesar de não terem tido tanta influência. Estou a lembrar-me, por exemplo, de Erasmo Carlos, Golden Boys, Celly Campello e seu irmão, Tony, Incríveis, Fevers, Renato e Blue Caps.

Mas ainda outros tiveram alguns êxitos por cá: Silvinha, Martinha, Wanderlea, Trio Esperança, Jet Blacks, Jordans, Leno e Lilian, Ronnie Von, Jerry Adriani, Brazilian Bitles. Menos conhecidos, mas de que eu também gostava apareceram os Brazões, Galaxies, Luizinho e seus Dinamites, VIPs...

Cortesia de Jovem Guarda

VICTOR GOMES


Victor Gomes em plena actuação no Flamingo Club, em Luanda, em data desconhecida. Antes dos Gatos Negros, esta banda chamava-se Night and Day e incluía a holandesa Nicky Honey, então companheira de Victor Gomes.

Se bem repararem o portuga de bigode à maroto, olha de soslaio para as pernas de Nicky.

NÃO PODIA PERDER ISTO


EMI - 50999 5 07724 2 1 - 2007

2000 Miles - Christmas (Baby Please Come Home) - Mele Kalikimaka (Christmas In Hawaii) - Sleigh Aide - Fairytale Of New York - Lonely This Christmas

Este quase me escapava, mas ainda o consegui.

A voz de Shane McGowoan é substituída pela de Ed Harcourt

CELIA OF THE SEALS


EPIC - 5-10694 - edição portuguesa (1971)

Celia of The Seals – The Song Of The Wandering Aengus

The seals are one of the creatures of the earth in danger of extinction by our stupidity (Donovan)

Cortesia de Gin-Tonic

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

S. MACAIO


ORFEU - ATEP 6388

S. Macaio - Vai, Maria Vai - Qualquer Dia - Já O Tempo Se Habitua

CINEMA DE ANTIGAMENTE


Em 1964, era assim. Íamos ao Roma, em Lisboa, ver "Donde Vens Tu Johnny?", com Johnny Hallyday e Sylvie Vartan, e apanhávamos Francisco Egydio com o Quinteto Académico no palco!

Um espectáculo de extraordinária classe a preços acessíveis.

BAÍA DE CASCAIS, 1960


21 de Junho de 1960

RAÇAS HUMANAS


E esta relíquia?

Vê tu que descobri na minha papelada este e outros tesouros da nossa adolescência.

Este album está completo, sem nenhuma falha e em óptimo estado! Fiquei encantado e, por isso, te mando a recordação, embora ache que também deves ter conservado o teu.

Colaboração de Rui Pato

GUANTANAMERA


RCA - VICTOR TP – 293 - edição portuguesa

Guantanamera – Non Te Ne Andare – Corri - Pussy

domingo, 25 de janeiro de 2009

PJ PROBY


K-TEL EDIGSA - 18S0219

Hold Me - Maria

TERREIRO DO PAÇO SEM AUTOMÓVEIS


16 de Setembro de 1959

AFINAR A GARGANTA PARA "COLOURS"


MAIS UMA NEGA DE DANIEL BACELAR


Além de (mais uma vez) não cantar a "Marcianita", Daniel Bacelar baldou-se a acompanhar à viola a interpretação de "Colours", da Karocha.

Veja-se o ar desalentado, quase de trombas, de Rato, organizador do repasto, enquanto Daniel, sem sucesso, tenta explicar à Karocha porque deixou a viola no saco.

ESTREIA DE KAROCHA


ATÉ COM ÁGUA SE ALEGRAM


JUDY IN DISGUISE


Cortesia de Zé Couto

GUEDELHUDOS GRISALHOS


O Ratão organizou hoje um magnífico cozido à portuguesa em Carcavelos, no Pinheiro Bravo, que teve a participação da estreante Karocha que mereceu a estrela da tarde.

Juntaram-se os cromos do costume que trocaram os saquinhos de piratas do costume e todos acabámos por cantar "Colours", de Donovan, com Karocha como solista (não, não é a da imagem)..

"Olha para eles a trocar os CDs e os DVDs", segredava-me o Daniel Bacelar, ele próprio com uns DVDs para distribuir pelos amigos, entre os quais um de Marianne Faithfull.

A refeição, basta, teve a participação, entre outros, do Gin-Tonic e família, dos já citados Ratão e Karocha, e ainda de Vicky, que mantém um fantástico blogue, e ainda dos imprescindíveis Carlos Santos e Paulo Marques.

Escolhi esta (bela) imagem (estava um sol...) como ícone deste (belo) repasto no Pinheiro Bravo!

Se não estiverem de acordo... paciência!!!

RETIRADO DO MERCADO


SONY - COL 483907 2 - 1996

Amor (Heróis do Mar) - Êxtase - Estou Além (António Variações) - Por Quem Não Esqueci (Sétima Legião) - O Brasil (Madredeus) - O Amor É O Vinho - Dar E Receber (António Variações) - O Pastor (Madredeus) - O Outro Lado Do Amor (partes 1 e 2)
Este disco está retirado do mercado por alegada falta de autorização dos Madredeus para as versões de "O Brasil" e "O Pastor".

A drive force dos MDA era João Megre, então A&R na Sony.

Nesta gravação há participações de Nayma, Kika, Sam, Jo, Fredo Mergner...

JÁ FALTOU MAIS...


sábado, 24 de janeiro de 2009