terça-feira, 23 de junho de 2009

AS BARCAS DE FIAMA E LOPES GRAÇA


GUILDA DA MÚSICA/SASSETTI - SST 3001 - s/data

Naqueles tempos em que se abriam janelas para que as correntes de ar pudessem entrar, batessem na cara, juntávamo-nos ao redor de discos e livros, trocávamos impressões, experiências e admitíamos aquele saber que guardamos nas dobras improváveis do tempo, que era possível a chegada de um dia claro. A isto se poderia chamar a memória da esperança. Era disto que se faziam os dias daqueles tempos.

"Lisboa tem suas barcas agora lavradas de armas".

Quando já depois de, ouvidos os discos, muito conversados, razoavelmente bebidos, o Zé Leal lembrava sempre que ficava na memória um som. Um som simples das ausências, das mãos que se fizeram abertas. Ficava também o silêncio. Depois era a debandada. A manhã a anunciar-se, era o começo de mais um dia trabalho.

"Para a próxima quem é que trás os discos?”

Hoje já não servem as palavras com que dantes se faziam as conversas entre nós. Gastas as palavras, outros os olhares, diferentes os interesses.

Este EP de 33 rpm é o 4º Caderno de composições de Fernando Lopes Graça “compostas em estilo singelo para recreação da gente nova portuguesa – Oito Canções das Barcas Novas”.

Os poemas são de Fiama Hasse Pais Brandão, cantados por Celeste Lino, Manuel Pico, acompanhados, ao piano, por Olga Prats.

O disco, como habitualmente, não indica a data de gravação. Talvez 1972. O preço, esse, pode ver-se no canto superior esquerdo: 73 escudos e 50 centavos.

O texto de apresentação, incluído no disco, é de Mário Vieira de Carvalho, escrito num tempo em que era crítico musical e acreditava que existiam amanhãs para serem cantados.

Mais tarde, muito depois de escritas estas palavras, seria secretário de Estado da Cultura de um governo de José Sócrates. Dizem as más-linguas que ele e a ministra, para além de umas guerras intestinas e perfeitamente inúteis (Cinemateca, São Carlos etc.) não deixaram nada de registo. Também só agora é que o Primeiro-Ministro reconhece que errou ao não apostar mais na Cultura e que tenha sido tratada “como um parente pobre”.

Pois!...

Colaboração de Gin-Tonic

5 comentários:

josé disse...

Fantástica imagem que nunca tinha visto a cores. A preto e branco já tinha visto: na revista Mundo da Canção da época, no número 20, de 20.7.1971.

Um anúncio de contra-página e bem apresentado pela Guilda-Sassetti.

É uma maravilha ver isto "ao vivo" e a cores.

josé disse...

É o mesmo Mundo da Canção que tem como capa o disco Sticky Fingers, dos Stones.

filhote disse...

Ah, José, do que me lembrou! Também tenho esse número do Mundo da Canção - por causa da capa "Sticky Fingers", claro. Infelizmente, jaz num dos afamados caixotes do Galamas.

E, caro Gin-Tonic, ou muito me engano ou estive várias vezes com o Zé Leal referido no texto... será o mesmo?

Edward Soja disse...

O Lp é de 1970.

Podeis confirmá-lo aqui: http://www.mic.pt/ingl/presentation.html?/cimcp/dispatcher?where=4&what=2&show=4&grupo_id=3983

(Se estiver a funcionar...)

Jabberwocky disse...

É um EP, Eduardo. O seu conteúdo foi vertido em CD na integral Sassetti das obras de Lopes-Graça em "Fernando Lopes-Graça - Centenário do Nascimento - 1906-2006", editado em 2006.