RCA 3-24006 - edição castelhana (s/data)
Media Granaina – Alegrias – Serranas – Campanaera – Galopa Jaca – La Estrella Y El Monaguillo
Um aceno de ternura pela avó paterna que, quando ele tinha 13 anos, o levava ao Odeon ver os filmes do Pedro Infante, do Joselito, da Sara Montiel, Odeon que, como diz o Jorge Silva Melo, é “uma autêntica sala de cinema, com foyers, varandas, balcões, écrans e aquele tecto de abrir em pau-brasil, tecto de verbena, de opereta”, sala de criadas de servir e magalas em matinées dos domingos tristes e cinzentos de então.
Ainda o Jorge Silva Melo: “Abram-me o Odeon! E eu acrescentaria: em memória das vítimas do cinema, dos que acreditaram nos amores eternos e nas promessas de um beijo, em memória das mulheres que acreditaram nos amores eternos e nas promessas de um beijo, em memória das mulheres que nessa sala choraram e se consolaram por tanto lavaram a louça das patroas".
Já quase não lembra os filmes que a avó o levava a ver ao Odeon. Mas lembra-se bem dos lanches após a matinée. A avó bebia chá, ele um copo de leite e para a mesa vinha um prato com bolos para serem escolhidos. Pouco higiénico, é certo, mas não consta que alguém tenha morrido por causa disso. Para ele uma visão maravilhosa esse prato com bolos. A avó a dizer ao empregado de mesa que, pelo menos, um rim de chocolate tinha que vir.
De vez em quando é legítimo sentir uma pontinha de nostalgia.
Colaboração de Gin-Tonic
Media Granaina – Alegrias – Serranas – Campanaera – Galopa Jaca – La Estrella Y El Monaguillo
Um aceno de ternura pela avó paterna que, quando ele tinha 13 anos, o levava ao Odeon ver os filmes do Pedro Infante, do Joselito, da Sara Montiel, Odeon que, como diz o Jorge Silva Melo, é “uma autêntica sala de cinema, com foyers, varandas, balcões, écrans e aquele tecto de abrir em pau-brasil, tecto de verbena, de opereta”, sala de criadas de servir e magalas em matinées dos domingos tristes e cinzentos de então.
Ainda o Jorge Silva Melo: “Abram-me o Odeon! E eu acrescentaria: em memória das vítimas do cinema, dos que acreditaram nos amores eternos e nas promessas de um beijo, em memória das mulheres que acreditaram nos amores eternos e nas promessas de um beijo, em memória das mulheres que nessa sala choraram e se consolaram por tanto lavaram a louça das patroas".
Já quase não lembra os filmes que a avó o levava a ver ao Odeon. Mas lembra-se bem dos lanches após a matinée. A avó bebia chá, ele um copo de leite e para a mesa vinha um prato com bolos para serem escolhidos. Pouco higiénico, é certo, mas não consta que alguém tenha morrido por causa disso. Para ele uma visão maravilhosa esse prato com bolos. A avó a dizer ao empregado de mesa que, pelo menos, um rim de chocolate tinha que vir.
De vez em quando é legítimo sentir uma pontinha de nostalgia.
Colaboração de Gin-Tonic
12 comentários:
Os meus parabéns ao Gin Tonic - que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, apenas pela escrita - pelas certeiríssimas evocações de uma Lisboa que desapareceu mas que é impossível esquecer.
Lembro-me de o Luis de Pina me comentar que o Odeon tinha um fundo sonoro único: o de centenas de "clics" de carteiras de senhora que se fechavam depois de tirar o lenço para secar a lágrima provocada pelo filme.
Queirosiano
O Gin tonic é notável nisso!
Ainda me lembro das minhas peregrinações cinematográficas, sempre sozinha, éden,Condes,Odeon e nos Anjos o Lys aonde se viam 2 filmes pelo preço de um :-)
Obrigada Gin tonic...
"Compre usted este ramito; que no vale más que un real...". Mas, para grande pena minha, não me lembro de alguma vez ter ido ao Odeon ou visto o Josetito. No entanto, lembro-me de ter visto umas coisas de fazer chorar as pedras da calçada, "O Rapaz e o Touro" e "Marcelino Pão e Vinho". Alguém se lembra? Penso que a intenção era mesmo essa, fazer-nos sofrer para "nos preparar para a vida". Mas no Condes, lembro-me de ter visto tinha para aí uns 13 ou 14 anos o "Shane" e a 2ª parte do díptico de Fritz Lang, "Das Indische Grabmal", que em português se chamava "O Túmulo Índio" e me devia ter atraído por achar ser um western. Comprava sempre um pacotinho amarelo c/ 2 Chiclets antes do filme. E no Politeama, por volta dessa altura, apaixonei-me perdidamente pela Yvette Mimieux da "Máquina do Tempo".
Abraço
A Sarita Montiel...
O Marcelino Pão e Vinho, apesar de o ter visto 2 vezes, creio que é um filme italiano... (ai esta minha memória!...)
O Josélito esteve em Luanda, talvez por volta de 1971 (?) com um conjunto musical.
Quando acabou a digressão levou consigo um músico angolano, mas a esta distância não me lembro quem foi.
Naquela altura, comentei com os meus amigos que já estaria em... decadência.Estáva-se no tempo do cigarrito (inofensivo)de... liamba...!
Pois é, caro Queirosiano, o Gin-Tonic é a reserva da "nossa" memória afectiva. Nossa entre aspas por que dessa memória não tenho lembrança. Ainda não tinha ainda nascido. Todavia, provei uns restos desses cinemas, matinés, magalas, criadas, e lanches de leite, chá, e bolinhos sortidos. Por isso, também eu retenho e sinto essa memória.
Viva o Gin-Tonic, viva!Imprescindível, entre os Guedelhudos!!!
(e tenho o prazer de o conhecer pessoalmente. Um amigo "de cara")
E, JC, o meu momento "Shane" foi numa reposição do Cinearte. Inesquecível...
POIS É MEU QUERIDO HUGO!!!
Um eterna saudade,não só dos chamados cinema de "reprise" ou de bairro,(como lhes queiram chamar)mas também de outros como o ODEON,que apesar da sua programação um tanto ou quanto direccionada a um público especial, depois de passarem estes anos todos e estar fechado há tantos anos,deixa-nos uma espécie de nostalgia e mesmo algum sentimento de culpa por na altura olharmos com uma certa altivêz e surperioridade as enormes bichas (sim bichas,para mim serão sempre bichas as chamadas hoje em dia filas) de pessoas que iam comprar os seus bilhetes para ver a Sarita Montiel na sua VIOLETERA ou os filmes do Joselito bem como todos aqueles filmes mexicanos e daquelas zonas da América do Sul.
É A TAL COISA,o passar dos anos faz-nos repensar todas estas coisas,e apreciar coisas já passadas ás quais na altura não ligávamos mas que hoje nos deixam uma eterna saudade.
Já passaram em frente ao antigo Jardim Cinema ou ao Promotora???
BEM,na Estrela á Domingos Sequeira se passarem em frente ao PARIS,não olhem,pois sentitão um aperto no coração
Acho que o nome do filme da Sarita Montiel em português era "As Violetas Imperiais", e viu-o no Odeon, se a memória não me falha.
SCP
O "Marcelino Pão e Vinho" é de facto italiano, Camilo. E "O Rapaz e o Touro" é um filme espanhol c/ um rapaz que se afeiçoa a um touro de lide e não quer que ele seja morto na arena. Era de encharcar lençóis!
Sim, confirmo em português "La Violetera" se chamava "Violetas Imperiais" e esteve meses em cartaz no Odeon.
"O Rapaz e o Touro" não se lembra de ter visto, tão pouco se lembra do filme. Deve estar no lado adormecido do cérebro. "Marcelino, Pão e Vinho" viu no "Tivoli". Viu com a avó, no Odeon,"As Violetas Imperiais" e ainda hoje guarda a impressão que a beleza de Sara Montiel lhe causou. "
Curioso onde estas conversas nos levam. Estive a investigar e o tal "O Rapaz e o Touro" é um filme americano, passado no México (daí a minha confusão), com argumento de... Dalton Trumbo, uma das vítimas do Mccarthismo: http://www.imdb.com/title/tt0049030/
O filme é de 1956, portanto devo tê-lo visto c/ 8 ou 9 anos, e chama-se no original "The Brave One". O argumento, que corresponde ao que expliquei e foi escrito no México sob o pseudónimo de Robert Rich (Trumbo estava na lista negra), ganhou um Oscar. Já percebo então pq fui ver: era a faceta liberal do meu pai a funcionar!
Mais do que os filmes, regra geral são determinadas cenas que me conseguem emocionar. Mesmo que já as tenha visto dezenas e dezenas de vezes (ou se calhar por causa disso mesmo, isto é, por já estar a contar antecipadamentre com "aquilo"). Normalmente são cenas-chave, que o realizador estabeleceu previamente como objectivo principal da história que está a contar.
Poderia referir-me a meia dúzia dessas cenas em que invariavelmente me comovo mas vou citar apenas uma, por ser um clássico e por ser...imaginem, uma cena muda. É o final das "Luzes da Cidade / City Lights" (1931) do Chaplin, em que a rapariga da florista, recuperada da visão, reconhece no vagabundo, pelo tacto, o benfeitor que lhe deu o dinheiro para a operação. Na frase que aparece no ecran, as palavras ditas pelo vagabundo: "E agora..., já vê?"
Chaplin confessou numa entrevista que aquela cena foi a única razão pela qual rodou o filme. Ou seja, toda a história do filme serve apenas para se chegar ali, àquela cena sublime. Consta que foi filmada mais de 300 vezes, para desespero da protagonista (Virginia Cherrill).
Só mais umas curiosidades: Winston Churchill visitou os sets da rodagem, na estreia em Nova Iorque Albert Einstein foi o convidado de honra e em Londres, quando o filme ali se estreou, Chaplin teve a companhia de George Bernard Shaw.
Ah, e Orson Welles considerava "City Lights" o melhor filme que alguma vez tinha visto.
Eu também!
E o Joselito perdeu a voz e passou a dedicar-se a outras lides menos respeitáveis
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