segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

QUEM MATOU NORMA JEAN?


O dono do Kiosque, quando se lhe faz a observação de que o blogue é abrangente e tem de tudo como na botica, atalha que, “Ié-Ié” não é apenas um blogue de música, mas uma maneira de estar, uma maneira de olhar um tempo.

Não espanta, pois, que por aqui em Agosto se fale de discos de Natal, em vez de se falar de Marilyn Monroe e que, em Dezembro, em vez de se falar de discos de Natal se fale de Marily Monroe...

(nota do editor: os discos de Natal são normalmente gravados no calor do Verão, em Agosto, vide o de Phil Spector! eheheh!)

A 5 de Agosto de 1962 é encontrado o corpo sem vida de Marilyn, na sua casa de Brentwood, sobre uma cama com lençóis azulados, o telefone desligado, uma agenda de moradas aberta, um frasco vazio de Nembutal.

“Uma história mal contada”, pensou o poeta Eduardo Guerra Carneiro. E como ele, milhares de outros, ao redor do mundo, assim pensaram. O mesmo Eduardo Guerra Carneiro que um dia se deixou enfeitiçar pela luminosidade da Marilyn Monroe.

É que tudo começou com a famosa fotografia do calendário, mais tarde reproduzida em várias revistas, e que ele viu, no início da sua adolescência, no escritório do tio advogado, no rés-do-chão do velho casarão da rua Direita, em Chaves.

Era o corpo nu da Marilyn, deitado de lado sobre uma coberta amarrotada de veludo vermelho, os cabelos loiros soltos e revoltos, a olhar para quem a olhava.

Cresci com muita gente: escritores, cantores, futebolistas, artistas de cinema. Cresci com Marilyn Monroe. Mas o meu primeiro amor foi a Janet Leigh que, de boca num enorme ah! de espanto vi, do 2º balcão do Cinema Monumental, no filme “Estradas do Inferno” (“Jet Pilot), de Josef Von Sternberg, aí por alturas de Dezembro de 1957, um filme reaccionário, mas sabia lá eu o que era isso, e em que, no dizer de François Truffaut, até os aviões fazem amor.

Luís Mira abriu as hostilidades, Mr. “Ié-Ié” divulgou a canção que Elton John dedicou a Marilyn e que, mais tarde, execravelmente, numa atitude de puro oportunismo, cantou no funeral da Princesa Diana.

Ontem apareceu o poema do Padre Ernesto Cardenal.

Hoje ficamos com o poema da canção de Bob Dylan “Who Killed Norma Jean”. A tradução é retirada da peça de Hélder Costa, “Marilyn, Meu Amor” das Edições Colibri:

Quem matou Norma Jean?
“Eu”, respondeu a cidade
Como dever cívico
Eu matei a Norma Jean.

Quem a viu morrer?
“Eu”, respondeu a noite,
Eu e a luz do quarto
Ambas a vimos morrer.

Quem lhe colherá o sangue?
“Eu”, disse o fan,
Com o meu balde,
Irei apanhar-lhe o sangue.

Quem irá tecer a sua mortalha?
“Eu”, respondeu a mãe.
Para esconder a minha culpa.
Eu tecerei a sua mortalha.

Quem cavará a sua tumba?
O turista chegará,
Para participar no festejo,
Ele cavará a sua tumba.

Quem serão as suas carpideiras?
“Nós” que a representávamos
E perdemos os nossos dez por cento
Nós seremos a s suas carpideiras.

Quem levará o palio?
“Eu”, respondeu a imprensa,
Triste e dorida
Eu levarei o palio.

Quem tocará o sino?
Eu, gritou a mãe,
Fechada na sua torre,
Eu farei dobrar o sino.

Quem não tardará em esquecê-la?
“Eu”, respondeu a página,
Começando a desvanecer-se.
Eu serei a primeira a esquecê-la.

Colaboração de Gin-Tonic

5 comentários:

filhote disse...

Hugo, talvez seja injusto acusar Elton John de oportunismo por ter cantado um adaptado "Candle in the Wind" no funeral de Diana. A princesa era a melhor amiga do cantor. Era mesmo.

E, provavelmente tolhido pela surpresa e choque, ou sem tempo e inspiração para uma nova composição, Elton John não tenha encontrado melhor forma de homenagear a amiga.

A verdade é que Elton John cumpriu a promessa de nunca mais tocar a canção em público, e as receitas do tal single de homenagem foram revertidas para uma causa social.

De resto, ganhei o dia com mais um instigante texto da lavra do insubstituível Hugo Santos - uma espécie de David Suazo do Ié-Ié.

JC disse...

Por mim, não o acuso de oportunismo: apenas de mau gosto! Mas estavam bem um para o outro!

gin-tonic disse...

Sim, Filhote, algum exagero, e desnecessário, mas saíu assim, fruto de uma certa azia, a mesma que Jorge Coroado tem com os penaltys a favor do Benfica, o Soajo, fez falta indo de pé em riste, que leva a que me salte a chinela cada vez que o Elton John vem à baila.
Mas se não teve tempo - justificável - para compor algo, seria preferivel o silêncio, tão respeitoso, como homenagem, como qualquer outra.
Agora a canção da Marilyn, é que não...
Qiando era miúdo o futebol era sempre aos domingos e às três da tarde. Saído do estádio e chegado ao centro da cidade já os ardinas andvam a apregoar as 2ª tiragens do Populer ou do Lisboa: "traz a bola e o Benfica à carola".
Abraço

filhote disse...

Aqui em casa, em Botafogo, faz-se a festa... o Benfica é 1º!

Viva o Benfica!!!

Anónimo disse...

Lançar foguetes antes da festa :)