terça-feira, 14 de outubro de 2008

CHATEAU MARMONT


Juntamente com o Bel-Air Hotel e o Beverly Hills Hotel, o Chateau Marmont é um dos mais emblemáticos e "glamourosos" hoteis do eixo Bel-Air/Beverly Hills/Sunset Boulevard.

Se as paredes e corredores desses três hotéis falassem, a História da Música e do Cinema ficaria, certamente, bastante mais enriquecida...

Construído em finais dos anos 20, à imagem dos castelos franceses do Vale do Loire, o Chateau tinha como primeiro objectivo ser uma espécie de "condominio fechado" para ricos, mas a crise de 1929 fez abortar essa ideia e ele seria rapidamente transformado em hotel.

Não sei grande coisa àcerca da história deste hotel mas, como alguém me dizia há tempos, já não me lembro a propósito de quê, "isto, hoje, está tudo na Internet". Vão lá à procura, se vos interessar...

A mim, o que me fez despertar a curiosidade pelo Marmont foi uma série de "histórias" lá passadas ao longo dos tempos, das quais fui tomando conhecimento aqui e acolá nesta minha vida de amante e leitor destas coisas da Música e do Cinema.

Algumas dessas histórias intrigavam-me fortemente. Dou-vos apenas um exemplo: como foi possível conciliar, no mesmo tempo e no mesmo espaço, os célebres "bacanais" organizados pelo Errol Flyn e pelo John Barrymore (a que Raoul Walsh se refere nas suas "Memórias") com a suprema descrição e absoluta reclusão imposta a si própria pela divina Garbo? Ao ver, agora, a grandiosidade de tudo aquilo, percebi...

É a altura de vos dar uma informação importante. Sendo todos eles hotéis para "gente rica", havia uma diferença importante entre o Marmont e os outros dois: a "fina flor do entulho" ia para o Bel-Air ou para o Beverly Hills; os "bons malandros" iam para o Marmont...

A má fama do Marmont era tal que um célebre "tycoon" de Hollywood se terá um dia voltado para alguns dos seus actores mais indisciplinados e lhes terá gritado, como quem lhes diz que "ali não era o da Joana": "Aqui, têm de respeitar as regras da casa. Se quiserem armar sarilhos, vão lá para o Marmont"...

Foi no Marmont que o Jim Morrisson subiu para os telhados, perdido de bêbado, e de lá, do alto, se pôs a declamar poesia. Como, nestes casos, subir é sempre mais fácil do que descer, terá dado um enorme trambolhão ao tentar voltar a entrar pela janela...

Foi no Marmont que os Led Zeppelin invadiram de mota a recepção, por pura diversão...

Era no Marmont que o Gram Parsons (outra vez ele...!) vivia enquanto gravava "GP", o seu primeiro LP a solo. Consta que tinha de ser quase sempre arrastado para as sessões de gravação em muito mau estado, o que talvez até se note em algumas interpretações ("A Song For You", por exemplo...), não obstante o charme especial que isso lhes dá... A própria fotografia da capa desse LP foi tirada numa sala do Marmont.

Que se saiba, o último grande escândalo público que por lá se passou foi a morte do John Belushi, por "overdose", já nos anos 80. Mas muita coisa deve ter ficado escondida...

No desdobrável que surripiei na recepção, quando agora por lá passei, pode ler-se: "The legendary Hollywood hideaway since 1929, the Chateu Marmont is an oasis of charm and history nestled in the hills just above Sunset Boulevard" .

Na realidade, e apesar de todas estas histórias que transpareceram cá para fora, o Marmont era conhecido pela grande descrição e privacidade que garantia aos seus hóspedes, pelo que poderemos fácilmente imaginar tudo o mais que por lá terá ficado sepultado para sempre.

Eu próprio sofri na pele esse rigor e esse medo dos "paparazi". Enquanto andei pelos seus corredores disfarçado de "cliente", não tive problemas. Quando abusei da minha sorte começando a fazer fotografias, fui imediatamente cercado pelos empregados e gentilmente convidado a sair ("this is a private property, Mister...").

E nem a justificação de que desejava fazer consumo no célebre bar do hotel me safou...

Deixo-vos com um estranho texto do Sam Shepard, que faz parte do seu livro "Crónicas Americanas". Como isto já vai longo, podem deixar para ler amanhã...

"No Hotel Chateau Marmont, em Sunset Boulevard, ele tentou surripiar um quadro sem o mínimo valor, com um choupo encalhado junto a uma poça seca, no deserto.

"Apanharam-no com o quadro no parque de estacionamento, quando o metia sobre o estrado da camioneta.

"Quando lhe perguntaram porquê, ele disse-lhes que não tinha bem a certeza. Disse-lhes que, ao ver a gravura, não lhe pôde resistir.

"Disse-lhes que se viu a si mesmo dentro da gravura, deitado de costas debaixo do choupo. Disse que reconhecia a árvore de um velho sonho e que o sonho se baseava numa árvore verdadeira da sua infância, há muito tempo, de que tinha uma remota recordação.

"Lembrava-se de estar deitado debaixo dessa árvoree de olhar para cima através das folhas de prata.

"Lembrava-se de vozes que vinham do meio dessas folhas, mas não conseguia lembrar-se do que essas vozes diziam ou a quem pertenciam.

"Explicou-lhes ainda que esperava que aquela gravura fizesse regressar à memória tudo o que estava adormecido".

Colaboração de Luís Mira

1 comentário:

Anónimo disse...

Alto bacanal :)