sexta-feira, 11 de novembro de 2011

FESTIVAL DO RIO 1972 (03-FIM)


MOVIEPLAY - SP 20.035 - 1972

Maria, Vida Fria – Canção de Amor (Obrigado)

O VII Festival Internacional do Rio de Janeiro teve um outro representante português: Paulo de Carvalho nomeado, como convidado, pelo "Diário de Lisboa".

Paulo de Carvalho apresentou-se com "Maria Vida Fria", música de José Osório para um poema de José Niza.

Na hora da partida para o Rio, Paulo de Carvalho perguntado, pela reportagem de "A Capital", sobre as suas possibilidades de uma classificação, respondeu:

As minhas possibilidades são tão minhas conhecidas como de qualquer outra pessoa.. Não é necessário dizer mais…

Muita gente gostará de saber por que vou eu ao Rio. Pois bem: vou para não morrer estúpido numa terra onde poucas vezes tenho oportunidade de cantar.

Por imposição da censura brasileira, a letra de "Maria, Vida Fria" teve de ser alterada.

Paulo de Carvalho actuou na segunda noite do festival e "Maria, Vida Fria" não se classificou para a final.

José Ribamar, correspondente do "Notícias da Amadora" no Rio de Janeiro, considerou muito boa a actuação de Paulo de Carvalho e realçou a excelência do arranjo musical de Thilo Krasmann.

Colaboração de Gin-Tonic

10 comentários:

filhote disse...

É complicado chegar aqui e cantar em Português de Portugal...

adt disse...

É preciso criar habituação! Nas novelas brasileiras também não percebemos tudo mas acaba por se perceber pelo contexto. E se não se percebe à primeira pergunta-se! Afinal a lingua é (ainda) a mesma.

Nota: no programa do António Macedo e do António Cartaxo que deu a seguir ao falecimento de José Niza deu esta entre outras canções relacionados com Niza. Não sabia mas esta canção tinha uma outra letra que teve de ser alterada para o "Maria Vida Fria". Penso que não se trata de uma mera alteração de algumas palavras.

filhote disse...

Infelizmente, não é apenas uma questão de habituação, caro adt.

Na generalidade, os brasileiros não gostam do nosso sotaque. Consideram-no até cómico...

É preciso entender que a cultura local é muito forte - especialmente, a musical.

Luis Magalhães Pereira disse...

Pedro,

Essa de considerarem cómico o nosso sotaque também é... cómica!

E essa de não gostarem dele também digamos que estás a generalizar um pouco, não? Só se estiveres a considerar o Roberto leal um genuíno representante da cultura e língua portuguesas!!!???!!

Na realidade os brasileiros ( em especial os cariocas) não fazem o mínimo esforço para entender o nosso sotaque!

É bom recordar que até aos anos 50 e inicio de 60 o português que se falava no Brasil urbano era muito semelhante ao de Portugal!

Em Portugal há variadíssimos sotaques ( Alentejo, Lisboa/Coimbra, Algarve, Porto, Viseu, Minho, Madeira, Açores).
Mas o brasileiro médio é bastante inculto e sofre dum certo isolacionismo cultural no qual acha que o mundo começa e acaba no Brasil - nomeadamente o mundo lusófono. Depois carrega um estigma histórico contra Portugal pelas razões mais óbvias.

Para juntar a toda esta relativização cultural-histórica-linguistica o português foi visto durante muitos anos ( nomeadamente a partir dos anos 60) como o portuga parolo ( o Sr. Manoel e o Sr. Joaquim)e Portugal foi considerado por muitos anos como um exemplo retrógrado, uma pedra no sapato do Brasil e o inverso da modernidade duns EUA que o brasileiro de todas as classes sociais(super piroso e burguês) idolatra!

Creio que nos últimos anos Portugal e os Portugueses já deixaram de ser vistos dessa maneira!

Quando dizes que a cultura local é muito forte deves-te cingir à musica e ficar por aí porque há um enorme desconhecimento da cultura portuguesa e Europeia que é disfarçado com inúmeros clichés de arrogância e novo-riquismo dos brasileiros dos quais as novelas são o reflexo máximo!

E isto escreve um português que adora o Brasil e os brasileiros ( as brasileiras também...)!

filhote disse...

Amigo Luís,

01. Quando digo que a cultura local é muito forte, não me refiro apenas à música.

Falo de como a miscigenação confere ao Brasil uma expressão única. A espiritualidade, o misticismo, África, Amazônia, etc, etc, etc... e as artes, claro... música, dança, teatro, pintura...

... e, por mais que custe aos portugueses a engolir, falo do progresso que os brasileiros foram capazes de imprimir na nossa Língua... não se trata apenas de sotaques, mas de formas de falar e de escrever... Alô, Chico! Alô, Vinicius! Alô, Caetano! Alô, Drummond! Alô, Clarisse! Alô, Cartola!

filhote disse...

02. Essa questão dos brasileiros - e não apenas os cariocas - acharem cómico o Português de Portugal, nada tem de cómico. No sentido em que esse facto devia ser um alerta para o nosso provincianismo, e crónico atraso em matéria de mentalidade colectiva.

Não são os lisboetas que se riem do sotaque nortenho, de "biseu", ou das "algarviadas" a sul do país?

Aliás, o "sotaque oficial" de Portugal - na rádio, TV, etc - é o de Lisboa... um sotaque que está carregado de tantas incongruências quanto o sotaque carioca! Somos nós, lisboetas, que dizemos "pescina" e "gostava de ir ao cinema"...

O único estigma que existe dos brasileiros em relação aos portugueses está alojado nas cabeças tacanhas da malta do V Império...

... e os brasileiros não têm culpa nenhuma de décadas e décadas de falta (ou mesmo inexistência) de promoção da cultura portuguesa deste lado do Atlântico.

(mesmo assim, foram eles os grandes promotores da obra de Fernando Pessoa, por exemplo)

O resultado da história recente dos dois países está à vista! Quem melhor trabalha, mais colhe no futuro. E, sinceramente, apesar da gigante desigualdade social, das favelas, de uma indigente educação pública, etc, etc, eles estão muito, mas muito, à nossa frente!

filhote disse...

03. Essa do brasileiro médio ser inculto, piroso, e burguês, é de bradar aos céus!

E o português médio, o que é? Culto, de extremo bom gosto, e nada aburguesado?

Eu sei... Portugal é o país onde num minuto dizemos que somos os piores do mundo, e, no segundo seguinte, os outros é que são "bifes", "brasucas", ignorantes, "franciús", e nós somos brilhantes e bonitos!

Para o português médio, de Gaia a Massamá, até os americanos são uns broncos... a gente é que a sabe toda!

Na minha opinião, é neste insularismo crónico que reside o nosso problema... no fundo, somos pequeninos, mesquinhos, invejosos, e racistas... pequenos comerciantes... ou melhor, pequenos, modestos, mas honestos!

filhote disse...

04.

"há um enorme desconhecimento da cultura portuguesa e Europeia que é disfarçado com inúmeros clichés de arrogância e novo-riquismo dos brasileiros dos quais as novelas são o reflexo máximo!"

E o português médio, tem conhecimento profundo da cultura brasileira? Ou fica-se pelas novelas e pela Ivete?

Vejo, diariamente, portugueses a chegar ao Rio... não se misturam... uma pena... arrogância e (falso) novo-riquismo é o que não lhes falta...

filhote disse...

05.

"Só se estiveres a considerar o Roberto leal um genuíno representante da cultura e língua portuguesas!!!???!!"

Para as gerações antigas de portugueses que vieram à procura de uma vida melhor no Brasil, Roberto Leal é um genuíno representante da cultura e língua portuguesas. E é respeitado por todos os artistas brasileiros, sem excepção.

A menos que esses portugueses, para os portugueses de Portugal, sejam considerados de segunda...

Uma pergunta: e o Chico Buarque, é um genuíno representante da cultura e língua portuguesas?...

filhote disse...

06. Terminando... depois de 6 anos a viver no Rio, tenho percebido por que razão se costuma dizer que os portugueses trabalham mais quando vão para o estrangeiro...

... a verdade é que muitos desses povos estrangeiros - incluindo a generalidade dos brasileiros - trabalham muito mais, e os portugueses têm de acompanhar a pedalada para vencer...

Quanto ao resto, aos comentários que não contestei, estou de acordo...

Aquele abraço!