A formação inicial dos Boys contava com Tonã (António Vieira Lima, hoje médico) na bateria e Victor Ferreira foi vocalista mesmo antes de Ana Maria, tendo chegado ambos a actuar juntos.
Alexandre Carlos Reboxo Vaz - viola-baixo. Tem 18 anos e frequenta o 2º ano de Direito. É um apaixonado pelos espirituais negros e pelos blues de Ray Charles. Detesta imitações e preocupa-se em criar o seu próprio estilo. Foi, com Luís, o fundador do conjunto. Em banjo e guitarra executavam ambos melodias do folclore americano. Vinha dos Boys.
António Manuel Sousa Freitas - tem 19 anos e finaliza o 7º ano liceal. É o bateria do conjunto, onde gosta de executar solos (fazia o solo de “Little B”, dos Shadows, na perfeição). Adora jazz acima de tudo e detesta cantar. Instrumentos preferidos: órgão e bateria. É o elemento mais recente do conjunto recém-vindo de Lisboa, onde nasceu e onde fez parte, designadamente, dos Gentlemen que gravaram com Daniel Bacelar. Em 1968 foi substituído por Luís Monteiro. É filho do poeta/letrista António Sousa Freitas.
Luís Manuel Bulhões Pimentel Paula de Matos - viola que prefere não eléctrica. Tem 20 anos, estuda engenharia e é a voz mais alta do conjunto. Do seu entusiasmo nasceu o conjunto. As preferências musicais vão para os Four Freshman e Bill Evans. Não suporta fífias, nem mesmo nos ensaios. Interrompe a melodia e manda recomeçar. Vinha dos Boys. É natural dos Açores. Já falecido.
Carlos Manuel Correia (Bóris) - estuda engenharia electrotécnica. Gosta de toda a música em geral, desde que seja bem interpretada, com saliência para jazz e bossa, West Montgomery, Charlie Byrd e João Gilberto. Conta 20 anos, é o solista do conjunto. Compõe melodias e faz arranjos, de acordo com o estilo do conjunto. Também não gosta de imitações. Vinha dos Boys. Nasceu em Chinguar (Angola). Em 1968 foi para os Álamos. Mais tarde foi acompanhante de José Afonso, tendo gravado, designadamente, “Grândola, Vila Morena”. É Doutor em Física e professor universitário em Coimbra.
Ana Maria dos Santos Silva Delgado - tem 17 anos. Aluna do 7º ano liceal, é a vocalista do conjunto e começou a cantar por brincadeira no dia 26 de Março de 1966. Preocupa-a o estilo, tipo Sylvie Vartan. Para isso, grava quase todos os ensaios para poder corrigir defeitos. Preferências: Ella Fitzgerald e Joan Baez. Sempre que os estudos o permitem (e, às vezes, com prejuízo destes) ensaiam. Nasceu em Coimbra e foi a primeira voz feminina do yé-yé português. É doutorada na Alemanha (Literatura Comparada), onde é professora na Universidade de Leipzig.
António Costa Dias Figueiredo, técnico de som, foi o inventor do nome da banda e autor da letra de “Back From The Shore”. Depois de Ana Maria ter entrado para o conjunto, não fazia sentido que continuasse a chamar-se Boys.
Ainda cheguei a cantar ao vivo com o nome “Boys” escrito na bateria, o que não deixava de ser divertido, conta agora Ana Maria.
Noutra versão, o nome do conjunto terá sido sugerido pelo baterista António Sousa Freitas, entretanto chegado à banda, vindo de Lisboa, dos Gentlemen.
Quando cheguei ao grupo sugeri Hi-Fi, porque Boys se confundia com “bois”..., lembra Tó Freitas.
A banda editou o primeiro EP, Parlophone LMEP 1271, em 1967, com três originais de Carlos Correia, "Back From The Shore", "Three Days Of My Life" e “Words Of A Mad" e uma versão dos Beatles, "I Call Your Name", mas na estética dos Mamas and Papas.
Nesta altura, os Hi-Fi eram formados por Alexandre Carlos Reboxo Vaz (viola-baixo), António Manuel Sousa Freitas (bateria), Luís Manuel Bulhões Pimentel Paula de Matos (viola-ritmo), Carlos Correia, Bóris (futuro Álamos, viola-solo) e Ana Maria (voz).
Por vezes, também Rui Ressurreição, já falecido, (teclas, que já vinha do Clube de Jazz do Orfeon de Coimbra) participava, como foi o caso do Festival da Canção do Douro, no Porto (1967) e ou até da gravação do 1º EP.
Os Hi-Fi só editaram mais um EP, Parlophone LMEP 1296, em 1968, com três originais, "Crystals And Trees" (Carlos Correia), "Standing The Scene" (Carlos Canelhas/Carlos Correia) e "Running Away" (Carlos Correia) e uma versão de "I See The Rain", dos Marmalade (na imagem).
Para esta gravação a banda era constituída por Alexandre Reboxo Vaz, Luís Paula de Matos, Bóris e Luís Monteiro (bateria e voz),
Ana Maria, a primeira voz feminina do yé-yé português é licenciada em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra e doutorada em Literatura Comparada pela Universidade Humboldt, Berlim, possuindo diversos outros graus académicos. nacionais e estrangeiros.
Usando o pseudónimo literário de Ana Constança Messeder, a ex-vocalista dos Hi-Fi nunca abandonou as artes, tendo publicado livros de poesia e sido autora do programa UNO, na TSF, entre 1989 e 1993.
Hoje em dia docente universitária em Leipzig, na Alemanha, Ana Maria só gravou o primeiro EP dos Hi-Fi.
Numa das suas memórias, Ana Maria recorda o dia em que, jovem e bela yé-yé, ganhou no Luso um Concurso de Saias em que a sua, feita por si, era estampada com capas da "Salut Les Copains".
O que ouvia na altura? Beatles, Françoise Hardy, Sylvie Vartan...
Ana Maria conta também que num dos muitos bailes que os Hi-Fi faziam, o grupo também tocava Shadows e ela sentava-se numa cadeira a descansar.
Foi então que alguém me veio pedir para dançar e eu fui. Durante a dança, sem me reconhecer, o meu par lá foi invectivando o facto de uma rapariga estar a cantar com os malucos das guitarras.
Ana Maria acabou por abandonar a música pop logo em 1967 por pressão social, ou melhor, segundo confessa, nunca sentiu essa pressão, sobretudo na família, mas sabia que ela existia...
João Cabral Fernandes, actual médico, foi manager do Conjunto Universitário Hi-Fi, onde teve como ajudante Sérgio Ferreira Borges, jornalista em Lyon (França), que se lembra do ar inocente de Ana Maria, de mala ao ombro, na capa do primeiro disco dos Hi-Fi.
Num depoimento transcrito na colectânea comemorativa dos 50 anos do rock português, “Caloiros da Canção”, editado em 2010 pela iPlay, escreveu Ana Maria:
A música é um espaço de liberdade e cantar, tocar é um exercício fantástico dessa liberdade. E isto tem mais significado se pensarmos na época em que estávamos e que era uma época de grande repressão que não era só política, mas também social. No Liceu Feminino, não podíamos usar manda cava nem calças. Sempre de meias, até no Verão. Para nós, a música tinha que ver com todo este Mundo de liberdade.
Colaboração de Luís Pinheiro de Almeida
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